Darker Than Black escrita por MsRachel22


Capítulo 9
Hey, There’s your Golden Ticket?




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9 - Hey, não é o seu Bilhete Dourado?

[09:15] 1/10 — Agora, Muralha, Zona 1, Floresta de Nakanocho

O prédio de dois andares continha no piso inferior quatro compartimentos bem vedados e com janelas limpas e amplas para fins de observação, enquanto o andar superior oferecia um acesso restrito e de medicamentos controlados e simples em prateleiras de vidro. O prédio outrora uma clínica veterinária, agora servia para fins de controle.

As cores opacas e quase mórbidas estavam espalhadas por todo o local, desde as roupas dos médicos até o teto; o cheiro enjoativo de cloro e álcool estava impregnado ali e embora os olhos de Sakura vasculhassem alguma forma de escapar de dentro daquele cubículo esbranquiçado, ela sentia os olhares analíticos sobre si.

— Gire lentamente num ângulo de 360°.

A ordem ecoou da caixa de som acoplada numa vértice próxima à porta soando igualmente mecânica quanto seu dono, num movimento medianamente rápido ela girou e exibiu o corpo nu com o maxilar trincado. Embora estivesse cobrindo seus seios o máximo que podia, tal exposição feria seu orgulho e sua intimidade.

Seus gritos de dor e frustração foram abafados pelo fluxo constante de água que era jogado sobre si em alta pressão, misturada a álcool e cloro. Agachou o mais rápido possível, entretanto a água parecia lhe cortar a pele e perfurar os músculos, durou por mais alguns minutos antes de restar apenas um gotejar irritante sobre sua cabeça.

O corpo todo tremia e ouviu o som duma sirene semelhante à de emergência ecoando dentro do compartimento, a luz vermelha girava e criava feixes que ganhavam volume conforme rodopiavam pelo local. Ergueu a cabeça o suficiente para avistar um par de homens entrando e aparando-a a manter o equilíbrio e caminhar para fora, encurvou o corpo o máximo possível a fim de esconder sua nudez, mas não adiantava muito.

Tremulamente fora arrastada pelo corredor frio e repleto de carrinhos metálicos pelo caminho, girou bruscamente a cabeça quando ouviu a voz clamante de Hinata dentro de um dos compartimentos; o choque atravessou seus olhos e a frustração lhe agitou o corpo. Outra vez com brusquidão foi atirada dentro de uma saleta abafada e mal iluminada, num canto estavam suas roupas agora limpas e algumas toalhas.

Foram movimentos trêmulos e quase desesperados que guiaram suas mãos, por duas vezes teve dificuldades em apenas colocar a camiseta cinza e num reflexo automático cerrou os punhos e os ergueu quando a porta fora aberta abruptamente.

A mulher loira e de olhar compreensivo ergueu as mãos num sinal mudo de rendição, num andar calmo e cauteloso ela aproximou-se e interrompeu o trajeto até Sakura quando ela entrou em posição de luta corporal.

— Ei, calma... Vamos com calma, tudo bem? Eu apenas quero me certificar de que está tudo bem com você, sou enfermeira aqui e... — embora sua voz fosse amena e quase extrovertida, seu rosto estava apreensivo. — Eu só quero saber se você está bem depois dos exames.

— Eu sou médica, garota. Estou perfeitamente bem sem a ajuda de vocês. — retrucou arisca e acuada como um animal em fuga, seu corpo todo descarregava a adrenalina que seria necessária para uma luta seguida de uma fuga e sua mente maquinava sobre onde acertar e como.

— Ei vamos com calma, ok? Ninguém aqui pretende machucá-la. — a loira disse com o mesmo tom ameno e casual, como se a situação toda não passasse de uma manhã comum e agitada num centro médico. — Sei que a experiência não é exatamente desejável, mas entenda que é necessária. Assim como é necessário que você me deixe ver se está tudo bem com você.

O corpo todo tremia, seus punhos estavam cerrados o suficiente para esmurrar sem que seus dedos se esmagassem no processo e seus olhos vasculhavam a distância que percorreria até as grandes portas num tom de branco gelo. Foi em passos calmos e com as mãos erguidas que a loira aproximou-se e começou a examinar seus punhos.

— Toma algum medicamento com frequência? Sente dores ou então febre contínuas? — o tom mecânico e alfinetado com um quê de sentimentalismo vindo da outra mulher fez Sakura arquear a sobrancelha. — Tem algum hematoma ou alguma ferida não cicatrizada? Alguma queda ou luta recentes?

— Acho que você ainda não entendeu que estou perfeitamente bem.

Sakura desviou o corpo em passadas rápidas da loira e saiu apressada pela porta, ouviu os chamados e sentiu os olhares levemente curiosos e desinteressados que lhe lançavam conforme andava em linha reta até a saída composta pelo par de portas hospitalares em madeira branca.

Mantinha a cabeça reta, o orgulho inflava seu peito e a forçava a andar mais rápido como se um alerta de perigo incendiasse seus músculos e lhe forçassem a simular uma corrida até a saída. Seu coração batia rápido demais, seus pensamentos disparavam conforme observava os médicos revestidos de roupas hermeticamente fechadas parando com prontuários em mãos e outros com alguns aventais de açougue revestidos de sangue espirrado fresco e envelhecido.

Se prestasse um pouco mais de atenção podia ouvir os gritos, os urros enraivecidos do andar de cima e notou um par de homens armados posicionados no único lance de escadas que daria acesso ao andar superior. Um deles lhe lançou um sorriso quase amigável e uma piscadela maliciosa, como se estivesse lhe enviando uma mensagem.

O choque de seu corpo trombando com outro a fez soltar um grito assustado e cambalear.

— Aonde pensa que vai? Os testes não terminaram. — a voz dura era acompanhada por um sorriso gentil e feições suaves. O homem de cabelos curtos e castanhos lhe observou de cima a baixo e a puxou pelo braço. — Você nem está com a braçadeira de identificação... Tsc.

Levou pouco mais de meio minuto para Sakura associar aquela informação com os olhares curiosos que lhe eram lançados sem qualquer pudor através de máscaras e óculos de proteção, num movimento brusco e rápido ela se afastou do homem que manteve a postura rígida e repetiu o ato.

— Eu não preciso de identificação, porra nenhuma! — as palavras escaparam num silvo de desespero e confusão enquanto suas sobrancelhas franziam-se. Ouviu a risada seca e sentiu o corpo ser puxado. — Ei! Eu não sou um animal e nem estou infectada!

— Você sabe que há variações do vírus de pessoa para pessoa certo? Nem ao menos temos uma forma de descobrir o desgraçado num hemograma completo, que dirá acreditar no que você acha que sabe... Muitas pessoas começam a rosnar e levar balas porque achavam que não estavam contaminadas. — ele cuspiu para o lado como se a palavra lhe contaminasse o céu da boca e descesse como ácido na garganta. — Então confie em mim: nós sabemos o que estamos fazendo. Você não.

Sakura flexionou os joelhos e curvou ligeiramente o corpo enquanto se livrara dos dedos que agarravam seu braço esquerdo, num movimento rápido e forte ela conseguiu afastar-se dele.

— Eu já fiz testes o suficiente. Colaborei com vocês em tudo o que me pediram. O que quero é espaço. — ela ditou as palavras com a mesma autoridade e arrogância que fora treinada para reter quando ainda trabalhava com Tsunade. Deu dois passos na direção do homem e respirou fundo. — Eu entendo perfeitamente que não sou bem-vinda à rotina de vocês enquanto não estiver totalmente livre de dúvidas, mas vamos deixar uma coisa bem clara: eu sei o que estou fazendo quando digo que não preciso de identificação. Você não sabe identificar níveis de plaquetas, mesmo seu eu desenhasse da forma mais rupestre possível... Então você não é capaz de dizer se estou infectada ou não porque depende de pessoas como eu, os malditos médicos que salvam a porcaria da sua pele de uma infecção urinária.

A tensão que pairava no ar e o desafio lançado entre olhares hostis e palavras rígidas e bem equipadas de verdades mal pronunciadas, apenas acentuava o sentimento de autoridade que ambos disputavam em demonstrar. Ela deu dois passos para trás e logo girou os calcanhares, retomando seu caminho para a saída.

— Você não pode fazer isso! Se não voltar imediatamente eu...

— Vai fazer o que? Contar aos seus superiores como uma garota relativamente menor e com mais cérebro que você diminuiu sua autoridade diante de um centro de testes repleto de pessoas? Acho que isso você não vai querer relatar. — era apenas um punhado de palavras ariscas e arriscadas demais, embora sua expressão fosse contida e quase ilegível Sakura tremia e respirava o mais naturalmente possível.

Ela virou-se e correu o mais rápido possível para longe dali, maquinando o tempo inteiro que havia ultrapassado o primeiro limite da Muralha.

[16:01] 1/10 — Agora, Muralha, Zona 2, Floresta de Nakanocho

Havia uma lâmpada - uma maldita lâmpada - balançando da esquerda para a direita há pelo menos uma hora e uma mulher vestida com seu melhor jaleco branco e um par de óculos com armação escura no rosto. Ela manteve os dedos entrelaçados sobre a mesa de aço e a expressão rígida.

— Você precisa ser bem sincero comigo, Naruto... — ela retomou a discussão com um tom casual e abriu as palmas das mãos em sinal de rendição, o sotaque norte americano era acentuado como seus cabelos ondulados e loiros. Não evitei um riso seco. — Vou perguntar de novo e espero que não fique fugindo das minhas perguntas.

Ela me lançou um olhar áspero e de advertência, respirou fundo e ajeitou de novo a porcaria dos óculos. Fazia um bom tempo que estávamos naquela sessão de interrogatório e fazia um tempo que estava perdendo a paciência. Minha mente apenas se focava em responder o necessário para ficar na Muralha enquanto uma parte da minha cabeça calculava quais seriam os riscos de responder algo errado.

Eu estava sendo testado, observado e rotulado. Não havia nenhuma dúvida disso. Havia uma câmera localizada no vértice da parede, apontada para meu rosto e um ponto no ouvido da mulher.

— Quantos contaminados você eliminou? — ela questionou com um tom mecânico e me encarou com certa curiosidade, como se eu fosse seu mais novo objeto de estudo. Arqueei a sobrancelha.

— É assim que vocês os chamam? “Contaminados” hã? Como se eles fossem apenas uma gripe, uma maldita gripe em escala mundial?! — retruquei e lancei as mãos sobre a mesa com cautela, logo entrelacei os dedos e franzi o cenho rapidamente. — Bem... Matei mais do que me lembro.

— Sob quais circunstâncias?

— Você está me sacaneando, certo? — murmurei baixinho, mas ela soltou um pigarreio de irritação. Era fácil bancar o idiota quando necessário e era bem simples encenar mais um cara que tinha uma arma e não um objetivo. Eu precisava que eles acreditassem que seriam eles a me dar um objetivo. — Tudo bem doutora, vou ser bem paciente e lhe explicar como as coisas funcionam longe do seu escritório: há infectados e há humanos. Eles querem comer sua carne e você não quer morrer. Então é uma matemática bem simples, certo? Você vê um e o mata. Pronto.

— Você sente algum tipo de satisfação pessoal quando elimina um contaminado? Algum sentimento de alívio, por exemplo? — ela se manteve mecânica e analítica. Soltei outra risada seca e balancei negativamente a cabeça, como se fosse a piada mais engraçada do mundo.

De certo modo era.

— O que? Acha que tenho um orgasmo cada vez que atravesso o cérebro deles com uma faca? Ou então, quem sabe, eu tenha uma ereção quando vejo uma infectada de roupas rasgadas e ossos expostos?

Havia se passado três horas desde que cada um foi levado para uma divisão diferente, o que permitiria várias perspectivas a respeito da Muralha e especialmente do Uchiha. Eu precisava ganhar tempo enquanto analisava e memorizava o máximo de informações que a doutora deixava escapar entre um comentário cansado e uma pergunta ríspida.

A luz que dançava da esquerda até a direita permaneceu naquele ritmo irritante até que a mulher cruzou os braços e me encarou com raiva. Vamos lá, apenas banque o idiota. Se espelhe no Uchiha e será fácil fazer o superior dela entrar em contato. Sorri ligeiramente com a ideia.

— Aparentemente você não tem interesse em ficar aqui... Não responde com clareza minhas perguntas e foge do foco rapidamente, o que me surpreende de verdade por você ser o líder de seu grupo e por terem sobrevivido tanto em seu comando. — ela pressionou com certa casualidade a ameaça, como se fosse um modo gentil de cuspir as palavras na minha cara.

— Bem... O que posso dizer? Tive uma vida difícil, entende? Não tenho bons relacionamentos com as pessoas e mal consigo encarar minha sobrinha sem tem vontade de andar armado ao lado dela. — minha voz soou agressiva, quase culpada e alcançou o efeito desejado quando a expressão da doutora se tornou interessada rapidamente e sua postura ficou ereta. Massageei a testa, num reflexo de nervosismo. E ela caiu. — Eu só vi o pior lado do mundo desde que ele entrou em colapso, então não são de palavras de consolo ou de uma droga de análise que eu preciso.

— Do que você precisa Naruto? De uma arma? Drogas? Relacionamentos? — ela curvou ligeiramente o corpo sobre a mesa e senti a confusão mesclar rapidamente meus pensamentos. Sua voz era gentil e amena. — Todos nós precisamos de algo... Então, do que você realmente precisa para começar a viver?

Sorri com escárnio diante daquela pergunta e relaxei o corpo na cadeira, a luz continuava balançando com um ruído semelhante ao de uma dobradura enferrujada; nitidamente era uma pergunta bem colocada e que a partir da minha resposta garantiria minha estadia dentro da Muralha. A ansiedade que pairava no ar e queimava no olhar daquela mulher, embora ela tentasse mascará-la com uma frieza da qual não estava acostumada, começava a me irritar.

— Eu... preciso de um lar. Mas já se foi há um bom tempo. — sussurrei como se as palavras queimassem na minha garganta e fosse difícil encarar aquela necessidade como algo que ganhava prioridade. Mas era uma prioridade bem isolada até então. — Há um bom tempo mesmo.

Enquanto eu assentia lentamente a cada instrução de adaptação e ordens de rotina que existiam dentro da Muralha, minha mente traiu-me com pedaços de tempos melhores, tempos com chutes na canela, gritos enfurecidos seguidos de piscadelas cúmplices e condições para tomar sorvete.

Só haviam restado as cinzas daqueles tempos que escorregavam facilmente pelos dedos quando eu observava as cidades que cuspiam fumaça, o olhar devastado de Karin ou a desilusão que preenchia meu peito ao observar Jun. Não havia nada de bom naquele mundo. Não havia como manter memórias felizes, elas não alimentariam mais do que vãs esperanças de que havia alguma chance de escolher não sobreviver. Tudo foi arrancado num golpe duro.

Franzi o cenho quando senti o toque suave e o afago lento que a mão dela fazia sobre a minha, não escondi a sensação de irritação que o ato me causava ou o quanto era desnecessário.

— Eu lhe disse que não sou bom em relacionamentos.

— É algo que podemos trabalhar. — ela disse convicta de que realmente era uma médica e de que sabia o que estava fazendo além de encenar uma pessoa solidária. Lentamente ela se afastou e sorriu. — Num aspecto geral você foi bem, colaborou o máximo possível sem dar detalhes sobre seu grupo... Isso demonstra um bom senso de lealdade, o que é algo raro. Tem uma personalidade beirando ao fascismo, não consegue expor seus reais sentimentos e até onde sei tem uma família.

A risada que rompeu minha garganta foi curta e irônica, aos poucos ela riu também e relaxou a postura enquanto ajeitava a armação sobre o nariz.

— São apenas suposições, que serão confirmadas ou contrariadas a partir da sua estadia dentro da Muralha, é claro... Você e seu grupo estão sobre observação por mais 32 horas. Aproveite o resto do dia para descansar. Aposto que foi uma longa viagem. — ela disse e caminhou até a porta e me lançou outro sorriso. — Se precisar de qualquer coisa, me procure. Sou Ellie.

Levou pouco mais de meio minuto para ela abrir a porta reforçada de ferro e sair do cômodo totalmente, o ar sugestivo ainda pairava no ar. A ideia soava tentadora de outro ângulo, debaixo de novas características e dissipou-se com a entrada do mesmo homem de cabelos prateados e a cicatriz atravessando o olho direito.

Finalmente, a grande vadia chegou.

— Você durou mais do que eu esperava. A maioria começa a confessar seus crimes depois da primeira hora. — ele iniciou a conversa com as mãos no bolso e olhando ligeiramente para a câmera e depois puxou a cadeira e sentou-se. — Mas aparentemente você não tem nada a confessar ou é inteligente o suficiente para garantir seu ingresso dourado para estes muros.

(Sleep with the Lights On)

— Nunca fui religioso e vocês não têm um padre. O que eu poderia confessar? — retruquei e apoiei a cabeça sobre o punho esquerdo. Ouvi sua risada forçada e ele endireitou a postura na cadeira. — Eu não tenho nada a confessar, seu garoto Uchiha já é outra história.

— Ah. Sim. — ele murmurou e franziu o cenho. — Sasuke Uchiha, um dos meus melhores atiradores de elite. Sniper é o termo popular, mas ainda assim o desgraçado é bom em atirar. Principalmente a longas distâncias, alvos em movimento é parte de sua especialidade... O problema dele é o mesmo da maioria dos soldados: um par de saias.

— Ah. Sim. — respondi e respirei fundo, tentando conter o choque inicial daquelas informações. E ligeiramente não havia sentido em conversar abertamente sobre aquele assunto ou ceder tantas informações tão rápido. Outro teste. Ótimo! — Então quer saber qual é a dona do par de saias para manter seu garoto por aqui?

Ele moveu a cabeça ligeiramente para a direita e semicerrou os olhos, o interesse lampejava em seu olhar e ele cruzou os braços. Aquela magia das palavras sempre dobraria homens e alteraria qualquer situação. Aquela velha e desgraçada magia das palavras sempre funcionava.

— Sabe filho, é fácil de perceber que você é um rapaz direto. Isso é muito bom. Gosto de pessoas diretas e que saibam barganhar. — ele disse e endireito o corpo outra vez, colocou as mãos sobre a mesa. — Eu estou oferecendo comida, remédios, armas e um teto. Você não tem nada a me oferecer, exceto um dos meus melhores atiradores e realmente estamos em falta... Esses contaminados aparecem como baratas.

— O que mais você quer?

Uma salva de palmas foi iniciada por ele. O barulho sozinho de palmas chocando-se e produzindo estalos sonoros ganhava volume e ritmos rápidos e constantes, pouco depois morriam lentamente até desaparecer de vez. Ele me encarou por algum tempo antes de prosseguir.

— Você esteve lá fora por um bom tempo, você tem duas coisas que preciso urgentemente: rotas e informações. Eu as quero. — ele disse simulando uma balança em suas mãos, depois as entendeu na minha direção e as deixou cair sobre a mesa. — Apenas me passe tudo o que você sabe, incluindo sobre a garota que fez Sasuke abandonar o posto, e você pode ficar com seu grupo.

Eu tinha de admitir: ele era bom com a magia das palavras. Minha mente continuava trabalhando sobre os prós e contras, mas havia apenas uma única certeza: estava exposto demais, direto demais.

— Então preciso de uma garantia. Eu passo as rotas e as informações sobre os infectados. Minha garantia é o nome da garota. — impus rapidamente e ele pareceu analisar a proposta, um sorriso cínico estava delineado embaixo da máscara que usava. — Até lá, eu e meu grupo teremos comida, remédios, munição, armas e um teto.

— Você sabe que logo eu posso descobrir sozinho o nome dela.

— É você pode descobrir. Mas isso vai levar tempo, e até lá eu posso decidir distorcer ou omitir algumas informações. Você nunca vai saber e nem mesmo seu grupo inteiro de psicólogos que se cagam de medo de sair desses portões. — imitei seu gesto da balança, depois estendi as mãos e as deixei cair sobre a mesa num baque alto. — Você também está se cagando de medo e é por isso que precisa de mim.

— Ah, eu preciso? Hm...

— Sim. E parem de chamar esses bastardos de contaminados, eles não são uma porcaria de gripe. Eles não passam de um bando de canibais loucos para rasgar sua garganta e roer seus ossos. — o tom da minha voz soava exagerado e me afastei abruptamente da cadeira. Interrompi meu trajeto quando ouvi a risada dele e me virei rapidamente.

— Gosto do seu estilo garoto... Gosto do seu estilo.

— Vai gostar mais ainda quando eu montar você e foder primeiro a sua vida, depois com o seu rabo.

[17:11] 1/10 — Agora, Muralha, Zona 3, Floresta de Nakanocho

Os corredores de piso polido e paredes pintadas de cinza com manchas escuras nas soleiras das portas de madeira eram iluminados por diversas lâmpadas e as câmeras apontavam em direções diversas. Não eram as câmeras que me incomodavam, os testes longos ou a braçadeira vermelha agarrada na minha jaqueta.

Minha mente fervia enquanto tentava distinguir em que parte estava dentro do alojamento enquanto pisava duro e rapidamente até encontrar o Uchiha. Eu estava puto da vida, como em anos não estava e precisava mesmo de uma boa dose de murros e pontapés.

Meu cenho ficou mais franzido e um sorriso de escárnio atravessou meus lábios quando ouvi a voz indiferente e irritante dele. Filho da puta.

Automaticamente acelerei meus passos e o encontrei saindo de uma das portas, mais ao lado dele estava Shikamaru e Karin também os acompanhava. Seus olhos não demonstraram choque ou surpresa quando o empurrei abruptamente de volta ao cômodo, a adrenalina bombeava meu sangue e movia meus músculos de um modo único e viciante.

— Espere um pou- — a voz dele morreu quando acertei o primeiro soco em seu rosto, meu punho não estava cerrado do modo correto e meus dedos se encaixaram contra seu maxilar rápido demais.

— Porra! — urrei sentindo a dor dilacerando meus dedos e injetando-se na minha mão. Assisti o Uchiha recompondo-se e erguendo as mãos, como se estivesse rendendo-se e o agarrei pelo colarinho da camiseta azul. O baque alto de suas costas contra a parede era quase relaxante como o som bruto que foi emitido assim que acertei sua cabeça contra a parede. — Você é um grande filho da puta, Uchiha! Você é!

— Você não sabe que lugar é esse! VOCÊ ESTÁ NOS CONDENANDO PORRA! — tentei acertar meu cotovelo contra seu rosto, entretanto ele foi rápido e bloqueou o ataque. A dor no flanco do corpo era nova, queimava mais rápido os músculos e era aguda. — Você não é o único que sabe brincar.

— Verdade. — sussurrei tentando recuperar o fôlego e desferi rapidamente uma joelhada em sua virilha antes que ele reagisse, logo acertei uma cotovelada em seu rosto e ele se curvou. Lentamente me afastei, sentindo a dor nas costelas ganhando mais domínio sobre meu corpo e o soquei outra vez.

A dor era estraçalhante, o som de ossos contra carne, respirações tortas e o odor de violência regada a hematomas - eu tinha certeza de que o desgraçado não aguentaria ficar em pé por algumas horas - era uma das poucas coisas que ainda valia a pena relembrar em tempos como esse. Minha mão tremia nervosamente, provavelmente havia quebrado alguma coisa, mas eu não conseguia me importar com aquilo.

O som distinto do novo soco que desferi rapidamente contra o rosto do Uchiha, a sensação única de sentir seu nariz moldando-se ao impacto do meu punho era anestesiante. O sangue que manchou o chão também sujou sua camiseta, enquanto ele curvava-se de dor.

— Eu te disse... para não... mentir. Não disse?! — murmurei com dificuldade e segurei minha mão trêmula. Trinquei o maxilar e cuspi na direção do Uchiha. — Só um aviso Uchiha: é melhor se afastar por hora... da porra da sua namoradinha... Faça o que eu digo... Entendeu filho da mãe?!

— O que você...? — ele tentou formular uma frase, mas seu nariz quebrado exigia mais atenção e sorri com aquilo. Não demorou muito e me curvei ante a dor nas costelas, segurei com mais força meu punho e o encarei.

— Não foda com tudo, desgraçado. — murmurei e levantei com certa dificuldade. Eu sentia os olhares surpresos e inquietos de Karin e Shikamaru vindos da soleira da porta. Nenhum dos dois se moveu quando caminhei até a porta. — Você. — apontei para Shikamaru com a mãe esquerda que tremia. — Você, não perca esse filho da puta de vista, entendeu bem? E você sua pirralha... Que... merda!

— O que diabos foi isso?! — ela se limitou a perguntar preocupada e tentou segurar meu pulso esquerdo, imediatamente a afastei e apontei rapidamente para a câmera. Seus olhos ficaram apreensivos. — Não conseguem capturar áudio dos corredores, são antigas demais.

— Merda! Karin, não saia da minha vista entendeu bem? Encontre a porra da Haruno e fiquem juntas! — falei impaciente, entretanto as pontadas da minha mão e das costelas estavam mais constantes. — Filho duma puta! Faça isso até amanhã. Ok?

— Você precisa cuidar da sua mão, senão como você vai bater uma quando estiver precisando? — ela murmurou alto o suficiente para que qualquer um ouvisse e me puxou pela mão esquerda, guiando-me pelo corredor até algum canto. Ela riu enquanto eu gritava de dor e irritação, minhas ameaças saíam falhas e ela apertava mais ainda seus dedos em volta do meu pulso. — Algum problema, bastardo?!

— Eu vou foder com a sua vida! Filha da puta!

— Ei, sem ofensas à mamãe seu filho da puta.

O tom bem humorado e sarcástico na voz de Karin desapareceu e subitamente seus dedos afrouxaram meu pulso, gemi aliviado e encarei acima do ombro dela: havia uma garota loira acompanhada pelo rapaz de cabelos prateados que eu havia ameaçado mais cedo. As unhas de Karin fincaram meu ombro e ela me empurrou porta adentro de um cômodo.

O grito surpreso e o olhar acusador que estava nítido no olhar da Hyuuga me fez encará-la.

— Mas que droga vocês estão fazendo aqui?! — ela questionou enquanto tremia e puxou rapidamente um travesseiro da cama debaixo do beliche, cobrindo o quanto podia dos seios e do tronco expostos. — Não sabem bater antes?

— Sim. Posso chutar sua bunda agora ou depois que você calar a boca? — Karin sussurrou irritada e ainda assim sarcástica, deu alguns passos à frente e me encarou revirando os olhos. — Por favor Hyuuga, ninguém quer ver seus pequenos peitos. Acho que nem tem o que ver... — o rosto da Hyuuga ganhou tons vermelhos nas bochechas, mal senti o sorriso calmo tomando conta do meu rosto quando senti os dois tapas leves no rosto e o olhar curioso de Karin me analisando. — Naruto quebrou a mão e não confio nada nesses médicos. Na falta da oh-toda-poderosa Haruno, me resta você.

— Eu não sou médica e não é problema meu. — ela rebateu rapidamente e apertou com mais força o travesseiro.

(I won’t Back Down)

— Trégua, lembra?

Um suspiro irritado escapou de seus lábios e ela massageou como pôde a testa, equilibrando o travesseiro com o braço esquerdo e o antebraço direito no processo. Ela andou até o foco mais escuro do cômodo e ordenou que eu me virasse enquanto ela vestia algo, Karin resmungava, entretanto seu rosto estava apreensivo.

— O que aconteceu pirralha? — perguntei num murmúrio e ouvi o barulho de algo sendo puxado e itens sendo organizados sobre algum lugar. O rosto de Karin estava preocupado e embora ela se esforçasse para fingir que nada a afetava, ela falhava miseravelmente. Abriu a boca duas vezes e suspirou como se não conseguisse explicar.

Foi em silêncio que a Hyuuga se aproximou, o toque gélido da ponta de seus dedos pressionando minha mão era um alívio súbito que desaparecia quando ela exercia mais força. Urrei quando ela apertou mais próximo aos dedos.

— A boa notícia é que você não quebrou nada, apenas deu um golpe de modo errado. A má notícia é que possivelmente seus dedos podem ter deslocado um pouco e vou precisar colocar no lugar. — ela murmurou sem conseguir conter o tom de represália ou o mínimo de satisfação que atravessou seu rosto. — Apenas olhe nos meus olhos. Você mal vai sentir.

— Ah, sua mentirosa. Ele vai sentir. — Karin balbuciou como se estivesse hipnotizada pela expectativa e ela andou até conseguir outro ponto de vista. Ela riu animada e depois houve apenas o silêncio.

Ouvi o sussurro baixo da Hyuuga, palavras calmas e depois um trecho de uma música antiga. Meu olhar fixou-se ao dela, analisava as formas de seu rosto e o modo como ela mordia o lábio inferior enquanto apertava com mais força três dedos meus, não conseguia ignorar que pouco a pouco a sensação tornava-se prazerosa como se sempre devesse ser assim.

A torção brusca rompeu aquela sensação, entretanto ela não desviou o olhar e afagava minha mão com calma, como se o ato pudesse amenizar a dor lacerante em meus músculos. O toque suave voltou a fazer efeito e senti o ardor do álcool queimando a pele, intrometendo-se argilosamente nos três rasgos superficiais que eu fizera entre as juntas dos dedos. Aos poucos movi minha cabeça um pouco mais para frente e nossas testas chocaram-se suavemente, aquela sensação voltou tão gélida e anestésica, logo senti sua respiração atingindo meu rosto. Fechei os olhos e sorri levemente, meu corpo clamava por mais daquela calmaria, por mais daquele anestésico gélido que a Hyuuga tinha.

Subitamente era uma necessidade, pequena e domável, mas ainda uma necessidade.

— Eu não consigo fazer os curativos desse jeito. — ela disse e limpou a garganta, encerrando o toque e me forçando a abrir os olhos. O mesmo tom vermelho tomava conta de suas bochechas discretamente e se desfez lentamente. Apreciar parecia a coisa certa a se fazer.

— Eu preciso que me faça um favor. — sussurrei discretamente e ela franziu as sobrancelhas enquanto se concentrava em deslizar a gaze entre meus dedos rapidamente. Ignorei a dor quando ela apertou com um pouco mais de força. — Pode me informar o prazo dessa trégua?

— Você é o líder por aqui. Descubra.

O ar de desafio pairava sobre o sorriso torto dela e o olhar arrogante acompanhava seu rosto, tal como a boa e velha magia das palavras exercia seu poder. E eu estava seriamente tentado a ceder e aceitar sua manipulação. Parecia a coisa certa a ser feita e eu faria.


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Notas finais do capítulo

Yoooo!
Mil anos depois... Desculpe a demora em postar, estou retomando as aulas, problemas financeiros e pessoais... Enfim. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. ^^ Espero não ter perdido o ritmo da fanfic após esse tempo todo. Bem, o foco do capítulo esteve em mostrar como cada personagem tem a capacidade de agir fora do padrão e mais algumas explicações adicionais:
— cada grupo chama os infectados de um modo, no caso maioria das pessoas que residem na Muralha os chamam de contaminados, outros nomes podem surgir e vocês podem opinar também;
— a Muralha abriga pessoas de vários países por conta do turismo no Japão e também pelo grupo de cientistas e médicos envolvidos no vírus;
— Sasuke era um atirador de elite (sniper, se preferirem) e isso explica sua habilidade com armas e tiros a longas distâncias ou com alvos em movimento;
— Kakashi quer rotas e informações da situação fora da Muralha pois não tende a arriscar grandes distâncias, geralmente até um quilômetro e meio, mas tem planos pessoais para as rotas e que irão influenciar a rotina da Muralha;
— caso uma pessoa dê um soco/murro sem cerrar direito o punho e alinhar os dedos, ela pode realmente quebrar a mão, no caso de Naruto ele apenas deslocou medianamente.
Essas são algumas informações referente ao capítulo, fiz uma postagem explicando um pouco mais sobre a Muralha e com um mapa também.
Link aqui: http://asmsrachel.blogspot.com.br/2015/02/about-muralha-personagens.html
Bem... NaruHina vai ter esse começo mais calmo e logo alguns detalhes começarão a mudar sobre ambos. Referente aos demais, apenas posso adiantar que o comportamento de todos sofrerá mudanças drásticas em alguns aspectos. Espero que tenham gostado das músicas para o capítulo, o próximo está com a postagem programada para daqui dois dias no máximo.
Espero que perdoem a demora e tenham gostado.
Críticas, sugestões, reviews e recomendações são bem-vindos.
Até o próximo!
P.S: A Muralha tem muitas pessoas boas e ruins, mas há uma do grupo do Naruto que é pior do que qualquer outro.



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