Darker Than Black escrita por MsRachel22


Capítulo 5
Otan




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5 - O.T.A.N

[13:00] 26/9 — Agora, Naniwacho

Dezesseis pessoas mais dois indesejados - agora são dezoito. Entre parênteses inclua uma médica, três bons atiradores, um especialista em rastros e rotas e o cara que toma as decisões difíceis; seis pessoas úteis. O restante é simples de ser substituído.

Números são as bases dos fatos que moldam a realidade conforme a situação. Era isso o que eu mantinha em mente o tempo todo. Uma lição aprendida duramente, mas que tinha grande valor.

Pessoas ou números - não importa a ordem - sempre são simples de substituir. Eu encarava cada pessoa no grupo como peças descartáveis, sempre mantendo em mente quem tinha estar a salvo. Não havia brechas para uma compaixão generalizada.

Seis de dezoito. Ainda era um número alto.

— A comida está acabando, já que não sobrou muito que pudesse ser usado. — Shino informou com a voz cansada. Ele tirou os óculos escuros e suspirou. — A quantidade de remédios é muito boa, a munição está moderada e bem... De um jeito ou de outro vamos ter que sair para conseguir comida.

— Por quanto tempo podemos aguentar... Digo, por quantos dias temos comida? — um dos velhotes perguntou com a voz tão fraca quanto seu esforço para manter-se ereto.

— No máximo, três.

A resposta de Shino fez que todos se entreolhassem, como se fizessem parte de um termo oculto no qual tinham de checar as expressões alheias e afirmar que não eram os únicos assustados.

Aquela pequena discussão ocorria no térreo, a luminosidade moderada proporcionava o máximo de claridade possível aliada à luz solar que atravessava com dificuldade o vidro. Algumas mesas e caixas pesadas estavam contra a porta, apenas por prevenção. Yahiko e Choji guardavam a porta, enquanto os outros estavam espalhados pelo local.

A temperatura morna remetia a alguma normalidade ali. Exceto pelas armas e palavras ditas em volume baixo, aquilo era quase normal.

— A pergunta certa é quanto tempo vamos ficar aqui. — a Hyuuga interveio, tão sobrecarregada de si que quase me retirei. Cada palavra ecoava sua acidez, e seu olhar me fuzilava diretamente, como se ela realmente quisesse fazê-lo.

— Tem certeza de que partir é o melhor a se fazer? Esse lugar parece ser seguro o suficiente. — um rapaz murmurou descontente com o rumo daquela conversa. Se é que realmente lembrava uma.

— Porque nós o tornamos seguro o suficiente. — Karin rebateu dessa vez, sem esconder sua irritação e ironia ao encará-lo. — Gratidão ainda está na moda, garoto.

— Não há como discordar disso, mas isso é um grupo. São pessoas, Karin. E as pessoas também opinam. O plural ainda é eficaz na vida real, garota. — a Haruno interveio e soltei um leve riso.

Karin apertou minimamente sua arma e sorriu tão forçadamente que eu considerei que ela iria atirar na Haruno ou esmurrá-la. E ela estava bem perto de fazer tal coisa.

— Ah, claro... Todos têm seus deveres, não deixe que uma tarefa suba à cabeça. Ainda posso e quero chutar seu pequeno rabo, assim como seu orgulho. — Karin retrucou forçando o sorriso a permanecer no rosto. — Isso sim é eficaz, garota.

A Haruno estufou o peito, como se estivesse preparando um discurso ou uma estratégia de briga altamente eficaz contra o cinismo de Karin. Porém ela simplesmente soltou o ar e ficou em silêncio. Inteligente.

— Discutir como duas adolescentes em crise não vai trazer comida. — Shikamaru comentou entediado; ele soltou o ar e sentou-se sobre o balcão e passou a conferir o pente de sua arma.

— Parece que entramos num dilema, então. — Yahiko se pronunciou calmamente. — Precisamos de mais comida e ao mesmo tempo não sabemos se vamos encontrar outro lugar aparentemente tão... “seguro” como esse tão cedo.

— Ou com um teto. — Hanabi emendou e arqueei a sobrancelha brevemente. Fora tão cínica e direta quanto a irmã.

— Mas não podemos continuar muito tempo sem suprimentos. — Shino repetiu nervoso, dando um passo a frente e encarando-me pedindo por apoio. Enfim houve o silêncio e logo os olhares pulavam entre si até chegar a mim.

Mantive os braços cruzados e encarei cada um deles, mantendo apenas os seis úteis em mente - seria muita estupidez se eu não estivesse nesse selecionado grupo. Joguei o peso do corpo sobre a perna direita e respirei tão calmamente quanto possível.

— Então, o que vamos fazer sobre isso? — uma moça miúda perguntou assustada. Eu queria dar as costas a todos, mandar pessoalmente cada um dos mais fracos testar sua chance na estrada e assistir cada um tombar no primeiro ataque de um infectado.

E estava bem perto de fazê-lo.

— Vocês não precisam do consentimento dele para tudo, ninguém o elegeu como o líder ou coisa parecida. — a Hyuuga rebateu ferozmente, mantendo as mãos pálidas ao redor do corpo e fechadas com tamanha força que suas mãos ficavam mais pálidas ainda. Se fosse possível. — Até onde eu sei, não houve votação ou indicação.

— Então você não sabe de muita coisa... — Kankurou rebateu debochado, relaxando a expressão e o corpo. — Oh, você tem parentes mortos! Junte-se ao clube.

A ironia nas palavras dele surtiu o efeito desejado de enraivecê-la o suficiente para jogar as palavras que quisesse na minha cara e esperar apenas por silêncio em troca. Ela tremeu levemente e apontou um dedo em minha direção.

— Você simplesmente matou o meu primo, não lhe deu nem ao menos uma maldita... — ela esbravejou e simplesmente as palavras morreram. Ela não fraquejou por meio segundo quando a encarei puto da vida - ela havia conseguido -, e nem se moveu quando lhe sorri com escárnio.

Chance. — completei a frase, notando um lampejo de raiva em seu olhar. — Certo, então vamos analisar esse contexto. Seu primo teve uma chance quando saiu para caçar suprimentos — ergui um dedo e mais outro a seguir: —, mais uma em levar comida e remédios. — ergui o terceiro dedo. — Olhe só: mais uma ao te levar com ele.

Desta vez ela estremeceu desconfortável e eu sentia os olhares analíticos a cada passo que eu dava na direção dela.

— Eu te dei uma chance ao aceitar você e sua irmã por aqui, outra quando disse para a namoradinha dele que seu amado Neji estava muito rasgado e com muita sorte, apenas morto, talvez até dignamente. — não contive a pontada de sarcasmo que brotou nas últimas palavras. — Ela podia estar aqui, mas ela ignorou a parte do rasgado.

Sete chances– aquele era o fato. Dois mortos– esta é a realidade. Funcionou assim e todas as chances foram ignoradas. As informações fervilhavam em algum ponto de minha mente e eu sentia a necessidade de despejá-las sobre a Hyuuga e sua convicção.

— Agora não diga que eu o matei ou que não lhe dei chances o suficiente para sobreviver. — avisei levemente irritadiço. Ela levantou a mão e segurei seu pulso com a mesma força que ela usava para manter a cabeça erguida e o maxilar trincado. — Se levantar a mão contra mim Hyuuga, não se esqueça de que está me dando o direito de retribuir à altura.

Ela aproximou o rosto, pouco mais de dois ou três centímetros, e manteve a expressão séria no rosto com orgulho.

— Não me surpreenderia. — ela respondeu num sussurro.

Um sorriso surgiu em meu rosto, lapidado com força e grande cinismo.

— Eu não dou a mínima se você espernear e chorar pelos cantos pelo seu primo. A verdade é que ele estava morto no instante em que foi infectado, e disso você sabe. — retruquei soltando seu pulso e me afastando dela com passos calmos. Olhei-a sem diminuir ou relaxar o sorriso em meu rosto. — Mais alguma nota ou reclamação?

O silêncio se instalou e amenizou por alguns minutos os ânimos. Minha mente ainda dava voltas sobre como tudo prosseguia e a maneira incerta como aquela situação conseguia me irritar. Não deveria afinal todos conheciam as regras.

Mas nada os impedia de ignorar seus próprios erros e jogar o reflexo de suas ações sobre outra pessoa. Nada impediria qualquer pessoa de simplesmente realocar sua culpa para os ombros de outro. Talvez fosse isso o que me incomodava.

Humanos sempre seriam humanos demais. Seria assim até se tornarem infectados.

— Vamos prosseguir ou ficar? — a Haruno interveio e momentaneamente ela chamou minha atenção. Respirei com calma, enquanto o sorriso em meu rosto diminuía para um repuxar suave com os cantos dos lábios.

Por um breve momento, todos se entreolharam e alguns murmúrios vieram a tona e logo foram esquecidos. Poucos defendiam a ideia de encontrar um novo local. A comodidade estava ali, ziguezagueando entre cada olhar cúmplice e ligeiro como um modo de obter o apoio do próximo.

— Temos que continuar mudando de esconderijo, acampamento - chamem como quiser. O que importa é que sempre tem de haver um novo local para se esconder. — o rapaz pálido se pronunciou pela primeira vez, encolhido num canto e com a voz e expressão frias e baixas. — Se quiserem sobreviver por algum tempo, têm que encontrar um novo lugar.

Arqueei uma sobrancelha diante do que ele disse. Era surpreendente e interessante que alguém tivesse tal linha de raciocínio.

— E vamos para onde? — a voz cansada de um velhote soou fraca e breve com um intervalo de tosses e um curto pigarreio.

— Vamos para a Muralha, é isso o que vamos fazer. — informei. — Até onde eu sei, todos estão de acordo com isso... Certo? Se alguém tiver ideia melhor, que tente sua sorte na estrada.

Não esperei por expressões, o burburinho habitual ou por uma série de perguntas já respondidas anteriormente. Somente dei as costas e saí do cômodo. Seis de dezoito. Aquele número voltou a me assombrar, tal como as perguntas sobre o que realmente estava acontecendo ou como eu ainda conseguia dormir à noite.

E mais uma vez, ignorei cada uma vez; tal como suas lembranças e resquícios de humanidade que não podiam sobreviver ao massacre diário de continuar respirando. Havia um preço por cada fôlego, por cada ato simples e quase insignificante de abrir e fechar os olhos. No final, sempre houve.

Ninguém estava atento a isto, até que vidas entraram na barganha e sobreviver se tornou um ato involuntário tão rotineiro quanto respirar. Nunca olhar para trás era apenas outro preço pequeno pago com a certeza vã de que haveria mais um dia para respirar.

Respirei fundo e soltei o ar com pesar; comecei a subir as escadas e parei no segundo degrau ao ouvir a voz de Karin.

— Precisamos conversar Naruto. E é importante. — foi tudo o que ela disse.

— Já não tivemos o suficiente dessas conversar, Karin? — questionei e retrocedi os degraus pouco depois. — O que foi desta vez?

O rapaz pálido, a Haruno e Shikamaru acompanhavam Karin. O primeiro demonstrava certo receio e mantinha os punhos cerrados e rente ao corpo, numa postura ereta e com a cabeça erguida. Karin colocou uma mão na cintura e batia o pé levemente. A Haruno parecia tensa e se mantinha afastada de Karin, enquanto Shikamaru olhava com falsa despreocupação para o rapaz.

— Você quer mesmo levar todos para a Muralha? — ele perguntou sem rodeios, num tom quase tocante. — A maioria vai ser descartada nos portões.

O rapaz parecia levar a sério seu aviso. Forcei minha melhor faceta de espanto e arregalei os olhos, olhei para cada um e suspirei tediosamente.

— E...?

— Você não mencionou como pretende nos levar até lá ou quantos. — Karin disse persuasiva, avançando em minha direção. Ela chutou levemente minha canela, mas sem traços de humor em seu rosto. — Então seja claro, seu bastardo ingrato.

— Educada, como de praxe.

Coloquei as mãos nos bolsos da calça, encarando com certa irritabilidade a Hyuuga escorada na porta do cômodo ao lado. Girei os calcanhares e subi os primeiros degraus. Esperei sem muita paciência para esperar que eles entendessem o ato ou notá-la. Quando Shikamaru terminou de subir a escada, escorei o corpo ante uma parede.

Um meio círculo se formou ali, Karin estava ao lado de Shikamaru - que estava mais à esquerda. A Haruno e o rapaz estavam mais à direita, absolutamente tensos e calados. Encarei-o com cautela, analisando o modo indiferente como ele encarava-me de volta e como ele procurava manter sempre a cabeça erguida.

— O quanto você sabe sobre a Muralha? — perguntei sem desviar meus olhos dele e por meio segundo ele se moveu, como se estivesse desconfortável à pergunta ou situação.

— O suficiente. — ele respondeu vagamente.

— Bem... Eu posso entender que isso significa muito. Afinal, quem diabos é você? Eu o encontrei num hospital cheio de infectados no andar de cima, caçando remédios como se fosse um drogado. — murmurei erguendo os ombros.

Eu queria saber até onde ele era útil, manipulável e perigoso. Todos passaram a encará-lo e Karin se afastou levemente. A ideia era simples: ele poderia estar infectado. Tal ideia era fácil de manipular e eficaz em revelar pequenos e cruciais detalhes sobre ele.

— Eu não estou com o vírus. — ele retrucou num desespero contido e frio. Ele cerrou os punhos com mais força e trincou a mandíbula. Seus olhos brilhavam de raiva com a repugna da cogitação.

Primeira nota: ele estava nervoso.

— Ninguém mencionou isso. Por enquanto. — ressaltei e cruzei os braços. — Mas veja... Eu não posso simplesmente acatar essa ideia de que você é útil o suficiente para costurar pessoas. Seria muito imprudente de minha parte deixar que você andasse por aí com um bisturi, sem saber exatamente o quanto você sabe sobre o vírus ou fechar feridas.

Ele deu dois passos a frente, com os punhos cerrados e a expressão raivosa no rosto. Segunda nota: ele provavelmente me odiava e queria resolver o assunto com o mudo diálogo da violência. Não fazia sentido não responder à altura.

[01:20] 2/6 — Cento e um dias antes, Centro de Controle de Doenças Japonês

Os homens com trajes hermeticamente fechados zanzavam de um canto para o outro na sala. Carregavam seringas e tubos de ensaio com cautela. Somente os olhos eram visíveis na parte superior do traje. Cada câmara revestida de vidro continha cientistas, geneticistas e uma cobaia.

Os líquidos variados e com nomes complexos eram injetados sem grandes explicações de efeitos colaterais ou possíveis reações alérgicas. Não havia diálogos longos, somente os olhares analíticos sob cada ser humano que se submetia a ter em seu sistema variáveis de vacinas e vírus.

A luz vermelha brilhou e girava como uma sirene sobre a câmara 3-D. O corpo inerte estava numa posição fetal sobre a maca branca. O sistema de desinfecção fora acionado instantaneamente, uma varredura minuciosa sobre ambos os corpos dentro da câmara foi feita em segundos e pouco depois uma mistura de químicos pressurizados cobriu o traje do cientista.

Ele deu três passos para frente, chegando à estreita passagem que daria ao corredor do CCD. O cubículo fora fechado e outra varredura iniciou-se, desta vez com água e outro conjunto de químicos. Um jato de ar com álcool o cobriu antes de ser liberado para sair. Na saída, dois homens com trajes hermeticamente fechados amarelos abriram o traje do cientista e o jogaram num carrinho laranja.

Havia dois homens contratados e soldados a frente da câmara, cada um carregando uma AK-47 e uma expressão compenetrada no rosto. Um deles desviou o olhar para o corpo sobre a maca dentro da câmara e trincou a mandíbula, tentando conter a náusea.

— Apenas não olhe para as cobaias. — a voz severa e cansada de um rapaz com o olhar voraz quebrou o silêncio. O rapaz encarou o outro e balançou a cabeça positivamente. — Não se esqueça de que eles estão aqui para morrer.

O rapaz ajeitou o chapéu esverdeado com machas marrom e noutros tons de verde e limpou o suor frio da testa.

— Deveria dar uma folga aos novatos, Sasuke... Eles ainda têm sonhos, sabe disso. — a voz do cientista ergueu-se após ter retirado as roupas de proteção. Recebeu um olhar apático do homem de cabelos espetados e olhar frio. — Se você não fosse um bom atirador... Eu já teria lhe tirado desta equipe.

— Culpe o sistema, senhor... — retrucou encarando o cientista sem qualquer rastro de insegurança em sua voz ou postura. — Fui convocado para esta missão. Se não se sente confortável com isso, discuta com o Presidente.

— Ah, sim. Farei isso. — respondeu ignorando a seriedade dele. Bagunçou os cabelos brancos e bufou cansado. — Mas você é um bom homem. Este país precisa de pessoas assim.

Um sorriso de canto foi ostentado minimamente por Sasuke enquanto o cientista se distanciava. A amargura arranhava sua garganta quando olhou de relance para a câmara vazia. Trincou a mandíbula e retomou a indiferença exigida naquele trabalho.

(Decimation)

O país não precisava de mais homens como ele. Não mesmo.

Logo a calmaria foi abalada pela sirene alta de outra câmara, e logo em seguida mais três soaram pelo lugar. As equipes de desinfecção e remoção de cadáveres corriam apressadas entre os corredores; macas e sacos pretos eram carregados entre as câmaras, contendo corpos ou membros mutilados. Os cientistas abandonavam seus postos, passavam pelas varreduras minuciosas de desinfecção completa e suspiravam cansados a cada fracasso.

Cada soar de uma sirene significava mais um cadáver a ser retirado e queimado. Cada cadáver representava anos de pesquisa em vão.

O sorriso quase orgulhoso no rosto do rapaz vacilou quando a próxima cobaia marchava em sua direção. As roupas camufladas e verdes, tal como o chapéu bem alinhado e as botas pretas e pesadas compunham a imagem do soldado perfeito. Os músculos eram delineados pelas roupas. Medalhas de honra balançavam em seu peito.

O soldado perfeito rumava à morte. Era desse tipo de pessoa que o país precisava.

— Subtenente... — murmurou batendo continência imediatamente; o gesto foi imitado com precisão pelo soldado ao seu lado. O outro apenas lhe sorriu e imitou seu gesto.

— Sasuke. — sua voz soou branda e orgulhosa; sua mente ignorava com maestria que a câmara a sua frente seria sua morte. O fim da linha estava a poucos passos. Mas seu sorriso não diminuiu ao passar pelo rapaz.

O andar quase elegante e preciso foi demonstrado. Sua confiança predominava seus gestos. Seu orgulho o encaminharia para a morte.

— O que diabos você pensa que está fazendo? — grunhiu com raiva e com certa súplica. Seus dedos apertaram a AK-47 com força e as palmas suavam. Seu olhar ainda era duro e não ousou encará-lo, não naquele instante. — Isso é suicídio.

Minimamente o outro sorriu mais ainda. Ergueu a cabeça e respirou fundo, segurando o máximo de ar que conseguia. Deu três tapas camaradas no ombro do cabo e apertou-o suavemente. Quando ambos se encararam a clemência muda e o conformismo era palpável. O conflito interno de cada um acalentava-se diante daquela situação.

— Desculpe... Mas esta decisão não é algo que você vai entender agora... — ele sussurrou calmo e suspirou. Seus olhos negros fitaram o chão e depois o rapaz. — E depois de tudo, como você pretende me superar se não está disposto a fazer alguns sacrifícios?

A raiva fervilhou seus pensamentos e sangue. Ouvia os gritos agonizantes das outras câmaras, o barulho das rodinhas correndo entre os corredores e o som dos corpos sendo jogados e lacrados. O cheiro de químicos e morte assolava-o.

Manteve o olhar fixo à frente rigidamente e camuflando o turbilhão que o destroçava enquanto ouvia os passos do rapaz avançando câmara adentro. Quando a porta fora fechada e a voz computadorizada anunciou o número do protocolo, sentiu os olhos ardendo.

Ele se recusou a virar-se e assisti-lo morrer. Sua garganta estava cheia de nós e não entendia por que estava fraquejando. Não olhe para trás. Não olhe para a cobaia. Apenas não olhe.

O soldado perfeito rumava à morte com um sorriso no rosto.

— É para isso que irmãos mais velhos servem.

[13:24] 26/9 — Agora, Naniwacho

— E então, o que vai ser? — perguntei após algum tempo. Cada movimento dele denunciava nervosismo. Uma descarga de adrenalina começava a correr em minhas veias; uma briga com um ser humano honraria os velhos tempos.

A Haruno o puxou com certa força e murmurou algo. Ele não desviou o olhar de mim e aquilo me fez sorrir cinicamente. Ele também esperava por uma briga.

— Meu nome é Sasuke Uchiha. — ele começou a dizer sério e tentando conter a raiva que, muito provavelmente, o abalava. — Eu vim de Yokota. — ele respondeu por fim após receber o incentivo da Haruno.

Segunda nota: os dois tiveram alguma coisa. Isso era um fato manipulável. Altamente manipulável.

— Nesse lugar tem uma base militar. A base aérea estava fazendo testes há alguns meses. — Shikamaru afirmou cada palavra com desconfiança e acusação. Arqueei a sobrancelha e Karin o encarou com o cenho franzido. — O que você fazia lá?

Novamente ele encarou a Haruno, pedindo seu consentimento e ela acenou em resposta. Ambos estavam nervosos; outro fato.

— Eu... Ajudei o Exército. — ele respondeu e soltou o ar. — Apenas com os feridos.

Avancei mais um passo em sua direção e encarei os dois. Suas expressões variavam do desespero até a raiva. A distância entre eles era quase inexistente, não importava a pergunta, ele sempre a consultaria antes. E isso era outro fato interessante e preocupante.

— Não foi tão difícil assim, foi? — perguntei antes que Shikamaru iniciasse um interrogatório na hora errada. — Sou Naruto Uzumaki. Eu sou de Osaka... Esta é Karin, minha... Educadíssima irmã. — apontei com a cabeça e recebi um leve chute na canela. Suspirei e forcei um sorriso calmo. — Ela é de Osaka também.

— Eu vou chutar o seu rabo se falar com essa maldita ironia de novo. — ela murmurou erguendo o punho.

— Shikamaru Nara, sou de Hirakata. — ele se adiantou com a voz calma. Pouco depois ele e o Uchiha apertaram as mãos e se afastaram. — Naruto é um ótimo líder. Você verá. — ele sussurrou cinicamente.

— Não preciso apresentá-lo à Haruno. Vocês se conhecem de onde mesmo? — soltei a pergunta com falsa casualidade, cruzei os braços e soltei uma meia risada. — Ainda não sei o suficiente para deixá-lo cortar pessoas.

Ele estreitou os olhos brevemente e retomou a postura rígida. Nova nota: ele é observador e estava escolhendo com cautela suas expressões e palavras. Havia algo que ele queria e precisava esconder. Isso era perigoso.

— Faculdade. — a Haruno soltou em resposta rapidamente, adiantando-se e dando alguns passos à frente. — Será que podemos falar sobre como chegar à Muralha agora?

Arqueei a sobrancelha. Ela estava claramente nervosa.

— A pergunta não foi para você. — retruquei e avancei um passo em sua direção. Ela se impôs antes que eu me aproximasse mais, pousando a mão em meu peito e a livre no Uchiha. — Como vocês se conheceram? É uma pergunta simples.

— Na faculdade de medicina. Cursamos os dois primeiros anos juntos. — o Uchiha respondeu de imediato e realmente parecia que ele estaria disposto a resolver a situação doutra maneira. — Depois não nos vimos por um bom tempo. Será que já é o suficiente agora?

— Por quê? — dessa vez foi Karin quem perguntou com clara desconfiança. Ela ergueu os ombros quando ele a encarou irritadiço e a Haruno a censurou com o olhar. — Outra pergunta simples.

Fato: ele chegaria a seu limite logo.

— Mudei de faculdade. — ele tornou a responder com grande convicção, a mesma que mantinha no olhar arrogante. — Basta?

Shikamaru apontou com a cabeça para o terraço discretamente e se retirou após alguns minutos. O barulho de seus passos na escada quebrou por alguns segundos o silêncio e houve a quietude novamente. Ele e a Haruno relaxaram quando o silêncio surgiu.

— Uchiha, certo? — murmurei e ele concordou. — Só há três regras nesse grupo. Se você as seguir, talvez sobreviva o suficiente para cortar alguém por aqui...

Ele meneou a cabeça enquanto eu lhe passava as regras. Karin fingiu que estava entretida com sua arma, mas estava vigiando a postura do Uchiha e da Haruno. Pouco depois, ele relaxou a postura e se aproximou com cautela.

— Mais alguma pergunta ou já é o suficiente? — ele disse sem esconder o sarcasmo na voz. A arrogância ainda predominava o modo como ele se movia e me encarava.

Nova nota: ele era facilmente irritante.

— A Haruno já deixou claro os termos para você, certo? Também acho que ela explicou bem as condições para você ficar aqui. — falei ignorando quaisquer regras de etiqueta ou boas maneiras com pessoas novas. — Então me deixe ser claro: na primeira merda que você fizer, ela vai por uma bala na sua testa. E eu não dou a mínima se tiver que inverter os papéis.

O lampejo de raiva e indignação que brilhou nos olhos dele, tal como o modo como ele se pôs mais a frente da Haruno - tudo isso denunciava o quão ele seria manipulável quando a Haruno estivesse no assunto. E vice-versa.

Namorados eram o segundo tipo de pessoas a morrer. Os justiceiros cairiam primeiro.

— Sasuke, se acalme... Ele só quer te testar. — ela murmurou puxando-o pelo braço e o fez retroceder alguns passos.

Bingo. — Karin murmurou irônica, com um meio sorriso no rosto. — Acho que essa discussão já deu. Vamos ao que realmente interessa: como vamos para a Muralha, Naruto?

— Vamos usar as linhas férreas, já que não há como todos atravessarem o rio. A maioria provavelmente não sabe nadar ou simplesmente se apavoraria caso um infectado aparecesse na margem... — informei relaxando os músculos e a expressão; Karin abriu a boca teatralmente como se realmente tivesse algo a acrescentar. Eu a interrompi nas primeiras palavras. — Shikamaru sabe dos detalhes. Se quiser ser útil Uchiha, fale o que sabe sobre a Muralha.

(The Sweets)

Ele não disse uma palavra e simplesmente se retirou à procura de Shikamaru provavelmente, foi seguido pela Haruno quase automaticamente e ambos sumiram de meu campo de visão. Aguardei mais alguns minutos e imitei o gesto de Shikamaru e subi a escada que dava acesso ao terraço, o ranger sob meus pés era quase irritante.

Karin subiu a escada pouco depois. Sentei sobre um caixote e Karin se escorou na parede mais próxima. O calor do Sol era confortável, a brisa que agitava papéis velhos e jornais manchados era suave e o silêncio necessário.

— Você confia nele? — de praxe foi Karin quem quebrou o silêncio. Sua pergunta estava tão sobrecarregada de ironia que não contive a vontade de rir secamente.

— E o que você acha sobre ele? — perguntei encarando-a sem qualquer rastro de bom humor. Ela abaixou levemente a cabeça e arrastou os pés sobre o chão até minha direção, empurrando algumas folhas no processo.

Ela apoiou um pé sobre a mureta em que eu estava recostando, e agarrou a grade casualmente. Karin soltou um curto suspiro e manteve o olhar fixo no terraço vizinho.

— Ele pensa de forma parecida com a sua, para ser honesta. Mas está bem claro que ele está escondendo alguma coisa e a Sakura sabe o que é. — ela disse e começou a mexer o pé para a esquerda e para a direita. Karin me encarou e ergui uma sobrancelha, esperando que ela continuasse a falar. — Eles tiveram algo e um vai cobrir a merda do outro. Pode ter certeza disso.

— Era isso o que eu temia. — admiti encarando a porta. Franzi o cenho e pouco depois Shikamaru apareceu. Como sempre, ele apenas balançou a cabeça num cumprimento mudo. Ele se escorou próximo à porta e me lançou um olhar severo. — Descobriu alguma coisa?

Shikamaru bufou e se aproximou após conferir se não havia ninguém no segundo andar. Calmamente ele ergueu a cabeça e fitou as nuvens e depois voltou a escorar o corpo na parede.

— Ele está mentindo. E Sakura também está. Eles tiveram alguma relação forte, está na cara. — ele disse com a voz amena e controlada. Ele bufou mais uma vez. — Ela está protegendo o cara, Naruto.

Era a confirmação final que eu precisava para considerar o que fazer. Encarei o chão enquanto as possibilidades eclodiam em minha mente, uma contra a outra. Todas envolviam derramamento de sangue e decisões difíceis. Minha especialidade.

— Se ele estava num lugar cheio de infectados sem chamar a atenção, então é melhor não subestimá-lo. Ele também entende alguma coisa sobre o vírus, senão não teria ficado exaltado com a insinuação. — Shikamaru disse com cautela.

Bufei irritado. Ótimo, há um novato potencialmente perigoso e com conhecimento para abrir uma pessoa. Ah, e não se esqueça: a Haruno vai salvar o rabo dele e cobrir seus erros. Ótimo. Simplesmente ótimo!

— Você tem que levar em conta que ele sabe alguma coisa sobre a Muralha. — Shikamaru me alertou e esfreguei os olhos impaciente. Levantei e comecei a andar para os lados.

— Eu preciso saber o quanto ele sabe sobre o vírus, a Muralha e o que mais for importante. E se ele é tão útil como a Haruno diz ser. — expliquei enquanto as poucas informações que tinha sobre o Uchiha rodavam em minha cabeça. — Karin, avise a Haruno que ela e o Uchiha vão atrás de suprimentos conosco. — disse recebendo um olhar desconfiado dela.

Uma qualidade inconveniente de Karin era sua rapidez em perceber que havia algo por detrás de cada ação. Ela soltou um riso seco.

— Cinco pessoas para um punhado de comida? — ela disparou arqueando uma sobrancelha. — Não é preciso ser um gênio para saber que isso é idiotice e que você quer saber o quanto eles estão mentindo.

— Você quer testá-lo. — Shikamaru afirmou com um meio sorriso nos lábios. Ele balançou a cabeça e me encarou com uma leve censura. — Você realmente quer assistir isso.

Outra vez, bingo.

— Não é bom subestimá-lo, lembra? — repeti suas palavras e lhe lancei um meio sorriso; encarei rapidamente o terraço vizinho e encarei os dois. — Vamos procurar comida e munição, e a rota mais segura até as linhas.

— Isso envolve um bom perímetro. Vamos precisar de Yahiko e Shino também. — Shikamaru ponderou e soltou o ar longamente. — Só espero que isso não nos mate.

— Quando partimos? — Karin perguntou forçando o tédio na voz, mas ela estava nervosa. — Sabe que não vou perder a chance de chutar o rabo da oh-toda-poderosa-Haruno.

Um sorriso zombeteiro cresceu nos lábios de Karin. Mas a verdade era que todos estavam ansiosos pela adrenalina e pela grande possibilidade de haver perdas. Entre a Haruno e o Uchiha, apenas um era substituível.

— Em uma hora. — informei e me dirigi até a escada.

Pequena nota: o Uchiha estava bem perto de testar a sorte na estrada. Ou apenas de levar um tiro na cabeça. Na melhor das hipóteses, é claro.


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Notas finais do capítulo

Yo!
Quinto capítulo postado, perdoem minha demora! ^^'' Espero que tenham gostado do capítulo e do ritmo que a fanfic está assumindo agora.
Bem, o foco esteve sobre o Sasuke (pois ele é o novato) e alguns fatos vão ser explicados sobre ele. Algumas explicações:
— OTAN é uma Aliança Militar (e existe), que inspirou o título do capítulo, e também está associado com o alfabeto fonético da OTAN;
— a base aérea de Yokota existe mesmo, e fica a seis horas de Osaka;
— Hirakata também existe;
— estou me baseando em alguns fatos para explicar melhor a fanfic (exemplo: a placa 8-22 é de uma rua em Osaka e existe o hospital citado no capítulo 2 e 3), pois quero criar um mapa mental, contendo informações de onde eles estão, como é o lugar e todos os outros detalhes.
O próximo capítulo terá uma boa dose de ação e confrontos. Uma nova personagem será inserida e ela terá um perfil interessante e discreto.
Hã... Desculpem-me pela demora mais uma vez, espero que tenham gostado das músicas e se houver sugestões, enviem. ^^
Bem, muito obrigada pelos reviews, os que estão acompanhando, aqueles que favoritaram esta fanfic. ^^ Muito obrigada novamente.
Logo mais, outro capítulo.
Até o próximo!
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