Secret Garden escrita por Bilirrubina


Capítulo 3
Before storm




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Maria Clara estava estendida sobre o sofá da sala, cansada após mais um dia de trabalho. Chegara tarde por causa de um cliente e a casa estava silenciosa, na certa seu marido já havia posto as crianças para dormir, ao menos, era o que esperava. Foi só fechar os olhos por um segundo que pôde ouvir passos rápidos. Não precisava de mais nada para saber que era o filho. Sentou-se e ficou preparada para o impacto, que logo ocorreu.

– Mamãe! Estava com tanta saudade! – disse ao abraçá-la – Promete que não vai ficar mais taaaanto tempo fora? – suplicou o garoto.

– Bê, você sabe que a mamãe não pode prometer isso, mas eu vou sempre tentar voltar o mais cedo pra casa. Hoje foi um dia... Diferente... – explicou enquanto afagava-lhe a cabeça – É que hoje tinha um cliente muito chato, aí só pude voltar agora...

– Acho bom ser isso mesmo! – disse Anya, com os braços cruzados – Por um momento achei que você ia me enrolar e não acabar de contar a história.

– Eu vou contar, querida. Mas ao menos espere um pouco para que eu possa comer, né?

Anya fez uma expressão de enfado e sentou-se no sofá, ou melhor, jogou-se nele. Dimitry, que chegara sem nada dizer, apenas ria da cena. Ele chegou perto de Maria Clara, pegando o filho logo seguir.

– Está na hora de dormir, rapaz.

– Mas papai... – ele protestou, fazendo beicinho.

– Amanhã você conversa mais com a mamãe, tá bom?

– Tá... – disse desanimando.

Eles deixaram a sala e Maria foi até a cozinha. Os empregados já tinham ido embora, porém deixaram uma refeição pronta para ela, bastava que ela esquentasse no micro-ondas. Enquanto fazia isto, Anya entrou no cômodo e sentou-se num banco do balcão e ficou a olhar a mãe pelas costas.

Maria Clara suspirou e disse:

– Está bem... Vou contar pra você, Anya.

A filha mal pode conter a alegria ao dizer:

– Ótimo! Paramos na parte do jardim em que uma pessoa completa a música que você tava cantado.

– The nightmare's just begun...

“O pesadelo só começou...”

Levantei a cabeça e sorri ao ver quem estava ali de pé, perto da entrada do jardim. Com seus característicos fones de ouvido e os olhos verde e azul, Luisa, assim como eu, também gostava de Skillet. Ela sorriu e eu a acompanhei.

– I must confess that I feel like a monster.

“Eu preciso confessar que eu me sinto como um monstro.”

– E eu que você quase me assustou, Luísa... Como sabia que eu estava aqui?

– Todos sabem.

Esbugalhei meus olhos, sequer imaginava que já sabiam das minhas fugas.

– Calma... “Todos”, quer dizer eu, Kateh, Nathalie, e Sophia...

Ao ouvir seu nome, a pequena garota de cabelos roxos apareceu, timidamente, escondendo parte do corpo atrás da loira.

– Luisa, sua má! – pus-me de pé – Você adora me assustar, né?

– Só um pouco... – sorriu, misteriosa.

Elas foram até onde eu estava para me avisarem que o diretor tinha um anúncio a fazer e que precisava que todas as garotas estivessem presentes no auditório e como já me conhecia muito bem, não estranharia a minha ausência, porém isso me traria algumas consequências. E tinha certeza de que não seriam boas...

Agradeci por elas terem ido até mim e depois de ter guardado minhas ferramentas e lavado minhas mãos, voltamos juntas até o prédio principal do Instituto. O dia estava ensolarado, mas eu via ao longe nuvens mais escuras e pelo vento fresco que podia sentir tocando minha pele, sabia que em breve uma chuva intensa cairia sobre aquele lugar. Sorri quando mais uma vez meu cabelo foi bagunçado por aquele vento. Era uma sensação diferente, no entanto me fazia estranhamente feliz em sentir a tormenta chegando.

– Hey, Maria Clara! – vi Sophia abanando a mão em frente ao meu rosto – Está aí? Tá tudo bem?

– Sim!

– Então vamos logo, o auditório está cheio, mas as outras meninas guardaram nossos lugares. – disse ao puxar minha mão.

Sentei-me ao lado de Kateh e assim que me ajeitei na cadeira, o diretor subiu ao palco e mexeu no microfone, o que causou um ruído estridente, levando todas a prestarem atenção nele. A princípio, era a mesma conversa de todo ano, para estudarmos mais, sobre comportamento e etc., todavia, ele estava diferente, não que eu conhecesse Ivan muito bem, mas ele parecia um pouco desconfortável..

Ele passou as mãos por seus desalinhados fios negros e por fim, falou:

– Neste ano nós teremos uma mudança. – umedeceu os lábios – Na realidade, um interno a mais.

Ao ouvirem a palavra no masculino as garotas começaram a se alvoroçar. Então devia ser verdade aquele boato, o sobrinho do diretor estava realmente vindo e pela reação delas, elas esperavam que ele fosse tão bonito quanto o tio.

– Não disse? Eu sabia! – disse uma triunfante Nathalie.

O diretor fez novamente aquele som e todas ficaram quietas.

– Bom, se me deixarem continuar... Meu sobrinho, Dimitry, terminou seus estudos no exterior e enquanto estiver na universidade, ele ficará aqui no Instituto, comigo. – ressaltou a última palavra para não estimular nenhuma menina.

Já era tarde demais... Olhei para Luisa e vi que tinha um sorriso peculiar no rosto.

– Não me diga que ele lhe interessou, Hatake? – provoquei.

Ela deu de ombros e fingiu tentar ouvir o que o diretor dizia, porém eu sabia que sua mente estava longe, estava no herdeiro do Instituto.

O Instituto Francesca de Albuquerque na realidade não era do diretor Ivan, era de seu cunhado, que faleceu há muito tempo num acidente de avião, juntamente com sua esposa. Eles deixaram para trás uma pequena fortuna e um filho pequeno, que Ivan prontamente tomou para si. O dinheiro ele fez multiplicar e a criança, educou muito bem e até onde os boatos diziam, era um rapaz muito inteligente e com um futuro brilhante. Eles eram um exemplo de família que pode se reerguer de uma tragédia e que continuou unida.

Depois de terminar seu discurso, o diretor nos dispensou das outras atividades do dia. Enquanto eu saía do auditório, ouvi que ele me chamava.

– Muito bem, Maria Clara, vi que desta vez você não fugiu do primeiro dia de aula.

– Diretor, você fala como eu fosse uma delinquente, sabe que sou uma aluna exemplar. – fiz uma expressão inocente, fazendo-o rir.

– E você... – deu um passo em minha direção – Fala como se eu não te conhecesse.

Desta vez, eu sorri. E antes que eu pudesse replicar, a secretária dele chegou correndo. Parecia aflita e ao me ver, ficou ainda mais nervosa.

– Aconteceu algo? – perguntou a ela.

– Há uma ligação para a senhorita. – olhou para mim – No gabinete do diretor.

– Mas por que... – peguei meu celular e vi algumas ligações perdidas de minha irmã – Oh não...

Sem pensar duas vezes, retornei a ligação e deu ocupado. Era óbvio que ela estava esperando-me para falar no telefone do diretor. Notando minha preocupação, ele tocou meu braço e levou-me para seu escritório e quando cheguei lá, fechou a porta, deixando-me sozinha para falar com minha irmã.

– Alô? Carol?

– Marie Claire, onde você estava? Eu te liguei tantas vezes que fiquei ainda mais aflita. Você nunca atendia e eu tentava, tentava e tentava... Não sabia o que fazer até me lembrar que o diretor tinha um telefone em sua sala.

Ela falava tão rápido que mal podia entender onde queria chegar...

– Carol? Acalme-se. Por que ligou?

Foram apenas alguns segundos, porém pareceu uma eternidade até que ela pode falar. Quatro palavras.

Quatro palavras que me abalaram tanto que se não fosse o diretor entrar naquela hora seria eu a ir para o hospital.

– Você está bem? – colocou-me em sua cadeira – O que aconteceu?

– E-eu preciso ir pra casa. – disse com um olhar vazio.

Apenas o tintilar que os talheres faziam um contra o outro enquanto estavam sendo lavados era ouvido e Anya logo percebeu que a história havia chegado ao fim, por enquanto.

– Ah não... Você sempre para numa parte dessa mãe... Não é justo!

Maria deu de ombros e sorriu, como se não tivesse culpa alguma.

– Calma, querida, você vai saber... Em breve, sem contar que terá muito material para seu trabalho. – piscou o olho direito.

A filha fez uma careta e levantou-se do banco, arrastando-se para fora da cozinha, mas antes que pudesse deixá-la, virou-se para a mãe e num tom de ameaça, disse:

– Amanhã! Não quero que passe de amanhã.

– Vou pensar no seu caso. – respondeu, divertindo-se com a situação.


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