A Terapeuta escrita por Bellice


Capítulo 8
Capítulo VIII


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! =D



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Capítulo VIII

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Fernando Teixeira de Andrade

Certo. Terceiro dia que eu passava com Isabella. Não que eu estivesse contando. Merda, eu estava contando sim! E o tempo estava passando malditamente rápido! Por quê?!

Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu deveria estar feliz com essa semana passando rápido. No entanto, não estava. Eu não tinha para o quê voltar. Apenas para um trabalho que eu odiava, para uma casa que nunca foi minha e para uma mulher que me odiava. Minha vida estava fodida, sempre esteve assim. As intenções de Isabella eram boas, mas não poderia dar certo, não é?

Nesses dias que estive com ela tudo pareceu mais simples, mais bonito, mais vivo. Mas e depois? E depois que ela desistisse de mim, percebesse que eu era um caso perdido e que não valia a pena ficar por perto? E quando ela começasse a me achar desprezível como Tanya achava? O que eu faria depois que Isabella saísse de minha vida?

Eu estava desesperado. E tremendamente surpreso com meu apego por essa mulher que era uma desconhecida pra mim até pouco tempo atrás.

Não tinha conseguido dormir quase nada nessa madrugada. Ainda estava deitado em minha minúscula cama de solteiro, no quarto ao lado de Isabella, pensando no que ela estaria fazendo agora. Ora, não seja idiota, Edward! São 5 da manhã! Ela deveria estar dormindo. E deveria estar adorável dormindo tranquila em seu quarto...

Ah, diabos! Eu tinha que parar de pensar nela assim. Isabella estava apenas querendo me ajudar e eu estava o quê?! Fantasiando com a mulher? Adjetivando-a como adorável? Eu estava sendo um tremendo babaca.

Decidi levantar-me e tomar um banho rápido. Não sabia o que faríamos hoje, mas era sábado. Será que visitaríamos Mandy no hospital? Eu realmente esperava que sim. Era confuso para mim, explicar o que se passou no primeiro dia que saí com Isabella e ela me levou até aquele hospital para conhecer a sua sobrinha. Mas, não sei... Tinha algo de inocente, de puro naquela pequena garotinha que havia me encantado completamente.

Mandy me lançou um sorriso verdadeiramente sincero naquele dia, não se importando com quem eu era, com o que eu fazia ou com qualquer outra coisa. Ela simplesmente... Sorriu pra mim. E aquele gesto simples aqueceu meu coração há tanto tempo morto. Eu queria conhecer mais daquela pequena princesinha. E queria, de verdade, que ela ficasse bem. Mandy era só uma criança, e de jeito nenhum merecia passar pelo que estava passando.

No entanto, ela não parecia se lamentar o tempo todo. Ficou triste quando o assunto de seus cabelos veio á tona, mas logo depois já estava feliz brincando com as outras crianças do hospital. Aquela pequena menina poderia morrer, e mesmo assim... Parecia ser grata pelo tempo que ainda tinha.

E quanto a mim? Eu não me lembrava de nenhum momento feliz em que tive na minha vida. Eu só lembrava de acatar a decisão de meus pais e os pais de Tanya, assumindo as consequências e fazendo de tudo para agradar a minha esposa. Eu me conformei, mas no fundo eu vivia com pena de mim mesmo. Vivia e ainda vivo com frustração por não ter feito a faculdade que eu sempre quis, de não ter ido para loge dos meus pais, de não ter me apaixonado por uma mulher que me tirasse o ar, e que me deixasse tão louco a ponto de pedi-la em casamento na frente de uma multidão. Não, eu não tive nenhuma dessas oportunidades. E sempre culpei meus pais, Tanya e quem mais estivesse envolvido, mesmo que no começo eu quisesse ter feito meu casamento dar certo. Não deu, porque como Isabella disse, nada forçado dura. Eu estava começando a enxergar que a culpa de tudo isso não tinha a ver com meus pais, ou os de Tanya, mas sim, tinha a ver comigo. Cada um de nós trilha seu próprio caminho, toma suas próprias decisões e colhe suas próprias consequências.

Eu poderia, não, eu deveria ter dito não ao que meus pais e os de Tanya estavam impondo. De que vale uma promessa, se esta fará duas pessoas infelizes? Não eram a vida deles, e sim a minha e a de Tanya.

Merda. Eu perdi muito tempo me culpando e evitando enxergar a verdade. Mas o que eu faria agora? Tanya tinha se apaixonado por outro homem. Um homem que parecia ser exatamente o que ela precisava. Contudo, eu estava fazendo questão de atrapalhar seu romance, por puro egoísmo. Não queria ficar sozinho, por mais que Tanya me odiasse.

Eu também queria ter alguém que se importasse comigo, alguém que estaria lá no final do dia, alguém me apoiaria e me aceitaria como eu sou. Era difícil aceitar que isto tinha chegado para Tanya e não para mim. Porém, o que eu esperava? Tanya tinha suas qualidades. Era uma mulher linda e inteligente, nós éramos amigos antes dessa merda toda. Eu só não tinha desejo por ela, assim como ela também não tinha por mim. Enfim, eu era apenas um egoísta de merda. Era impossível que alguém se apaixonasse por quem eu sou.

Percebendo essa terrível verdade, senti lágrimas correndo por meu rosto e se misturando com a água quente que caía do chuveiro. Nenhuma mulher nunca se apaixonaria por mim, simplesmente por eu ter problemas fodidos demais. Isabella nunca se apaixonaria por mim. Ela deveria ter um namorado, certo? Um que a fizesse feliz e não tivesse problemas como eu. Um que seguiu seus sonhos e que tinha a vida no lugar, sem arrependimentos, remorsos, nem um casamento fadado ao fracasso antes mesmo de acontecer. Ela deveria ter, e merecia ter, alguém que a amasse. Ela merecia, pois era a pessoa mais incrível, doce, e com certeza, adorável que eu já conheci. Não tinha outro jeito para descrevê-la.

Há quanto tempo eu não chorava de verdade? Era estranho, mas me passava uma incrível sensação de alívio, mesmo que eu soubesse que seria por poucos minutos.

Depois de me acalmar um pouco e tentar colocar meus pensamentos em ordem, finalmente saí do banheiro e voltei para meu quarto. Contudo, travei uns dois metros antes da cama, pois vi Isabella graciosamente sentada na ponta da cama. Ela parecia estar distraída em seus pensamentos e não parecia ter me visto ali no primeiro momento. Cogitei a ideia de dar meia volta para que ela não percebesse meus olhos vermelhos e inchados, mas já era tarde demais, Isabella já havia notado minha presença. Só esperava que ela não reparasse que eu estava chorando há poucos minutos.

–Hey, desculpe-me por invadir seu quarto a essa hora, mas ouvi o barulho do chuveiro e pensei que você estivesse, hum, passando mal ou precisando de alguma coisa. –Isabella parecia nervosa, como se estivesse cometendo um erro terrível ao entrar no quarto que era dela, já que eu estava ali de favor. Merda, essa mulher era mesmo adorável.

–Não se desculpe, a casa é sua. Eu estou bem, só... Não consegui dormir. –Isabella me observou com cuidado. Parecia saber que algo estava mesmo errado. O que diabos eu esperava, afinal? Ela era a psicóloga ali.

–Você chorou. –Não foi uma pergunta, mas me vi na obrigação de mentir.

–Claro que não, Isabella. Deve ter caído xampu no meu olho. –Eu sempre fui péssimo em mentir e inventar desculpas.

–Nos dois olhos? Acho difícil. –Ela me lançou um sorriso prepotente, cheia de si. Eu seria o homem mais sortudo do mundo se pudesse ver um sorriso daqueles por todos os dias da minha vida. Não, não um sorriso daqueles. E sim aquele sorriso. Caramba, eu precisava parar de pensar em Isabella assim.

–Certo. Talvez não tenha sido o xampu. Mas há outros motivos para os olhos ficarem vermelhos...

–De fato. Mas você não saiu dessa casa sem mim, então tenho certeza que não está drogado. –Eu ri. Estava com sérias dúvidas sobre o que Isabella era. Minha psicóloga ou minha mãe, afinal de contas?

–Pode dizer às pessoas que eu estava drogado, não que eu estava chorando. Tenho uma reputação a zelar.

–Que reputação? Pensei que ninguém te suportasse, como você me disse. –Eu sabia que Isabella estava brincando. Eu via seu sorriso brincalhão enquanto ela olhava pra mim. Mas, merda, aquilo me atingiu. Ninguém me suportava. Era a verdade. Todos me odiavam, e com razão. Eu sempre fiz de tudo pra tornar a vida de Tanya um inferno, ou melhor, pra tornar as nossas vidas um inferno. Eu era um babaca, um nada, que não merecia nada do que a vida poderia me dar. Enquanto Mandy, a sobrinha de Isabella...

–Para, Edward. –Isabella levantou-se da cama e veio até mim. –Já está na hora de você parar de ter pena de si mesmo, certo? Todo mundo comete erros na vida. Eu não falei que você é insuportável, apenas estava brincando numa situação que você não devia levar a sério. –Eu não tinha a mínima ideia de como ela podia me ler tão bem em tão pouco tempo, mas gostava disso. Aliás, eu gostava de Isabella. Surpreendentemente, eu gostava muito dessa mulher. Acho que enlouqueci de vez.

–Eu sei, mas eu queria que minha vida tivesse sido diferente, sabe... Hoje eu me dei conta de tanta coisa... Eu queria ter dito não pra maldita promessa de meus pais e simplesmente ter vivido a minha vida. Mas não queria decepcioná-los e acabei decepcionando a mim mesmo, e a Tanya... Ela me odeia.

Em um ato inesperado, Isabella me abraçou. Apesar de surpreso, a abracei de volta. Deus, era bom senti-la tão próxima a mim. Muito bom.

–Tanya não te odeia, Edward. Ela me procurou em meu escritório pedindo para ajudá-lo. Eu perguntei a ela o motivo de não ter fugido com o namorado dela se você não a tinha visto sair e sabe o que ela me respondeu? –Isabella estava falando comigo, mas ainda não tinha se soltado do meu abraço e, portanto, estava praticamente sussurrando em meu ouvido. Apesar daquela ser uma sensação extremamente boa, fiquei curioso para saber o que Tanya havia lhe falado.

“Edward é uma boa pessoa, apesar de tudo. Quero vê-lo bem, também. Ele não merece que eu simplesmente fuja, já que ele poderia ter feito isso esses anos que o tratei mal, mas não o fez.”

–Ela disse isso mesmo? Eu não fugi porque não tinha para onde ir, porque não queria ficar sozinho. Isso não faz de mim uma boa pessoa.

Isabella soltou-se de mim, me encarou e, logo depois, colocou suas mãos, uma em cada lado de meu rosto, fazendo com que eu olhasse para ela.

–Você é sim, uma boa pessoa, Edward. Mas não quer ver isso, porque está coberto de auto piedade. Você tem que parar de ser como a vítima. As pessoas passam por situações ruins o tempo todo, fazem escolhas erradas. Uma má decisão não é motivo para uma vida ruim. Nós sempre podemos mudar o caminho, Edward.

–Mas... Mudar o caminho para onde? Eu não tenho pelo que lutar. –Eu estava absolutamente perdido. Eu estava com tanta raiva de mim mesmo que acabei descontando-a em Tanya, impedindo-a de se divorciar. Eu queria que ela fosse feliz. Eu queria ser feliz. Mas como? Onde?

–Para onde estiver a felicidade, oras.

Olhei para Isabella. Com ela, as coisas pareciam tão simples, fáceis. Pensei em como minha vida estaria se eu tivesse conhecido Isabella antes do meu casamento. Será que ela aceitaria sair comigo? Será que ela se apaixonaria por mim? Será que eu me apaixonaria por ela naquela época? Porque mesmo que eu não quisesse, eu estava apaixonado por ela agora. E ela estava tão perto ali, com as mãos em meu rosto, me dizendo para ir à busca da felicidade...

Bem, se eu pudesse definir felicidade... Seria Isabella.

Sem pensar em mais nada, curvei meu rosto em direção ao dela e a encarei. Primeiro olhei em seus olhos, depois minha atenção foi desviada para a sua boca adoravelmente avermelhada. E quase inconscientemente, toquei seus lábios com os meus.

Esperei que ela se afastasse, que ela me dissesse que eu estava confundindo as coisas. Mas nada disso aconteceu. Isabella simplesmente deslizou suas mãos ao redor do meu pescoço e me puxou para mais perto dela ainda. E me deixou beijá-la.

Ter seus lábios nos meus era a sensação mais incrível que eu já havia experimentado nos últimos tempos. Ou melhor, a sensação mais incrível que eu tinha experimentado desde sempre. Nada se comparava àquilo. O seu corpo colado ao meu, sua boca colada a minha... O gosto de Isabella. Era tudo maravilhoso, como se eu estivesse sonhando.

Como se eu estivesse feliz. Plenamente feliz.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam do capítulo? Eu gostei desse! Espero que leiam, que gostem, e que me deixem reviews, apesar da demora!
Beijos pra vocês, e até breve! (Até breve mesmo, porque as férias estão chegando, só digo isso haha ♥)