A Terapeuta escrita por Bellice


Capítulo 21
Capítulo XXI


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ;]



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Capítulo XXI




"De todas as coisas que você me deu, a melhor delas certamente foi a chance de escolher, escolher você, escolher ficar contigo e atravessar com algum alívio os dias que eu quero simplesmente morrer pra não ser intimado a depor sobre o meu sumiço. Você me ensinou muitas coisas, a melhor delas, me ensinou que o amor verdadeiro sempre espera um pouco mais pelos abraços atrasados."

Gabito Nunes



Ponto de Vista por Edward Cullen

Eu não sei o porquê de simplesmente querer ajudar a sobrinha de Isabella. Não foi premeditado, ou algo assim. Só que quando eu vi Isabella chorosa tentando acalmar sua irmã desolada por causa da situação de Mandy, eu só queria poder ajudar de alguma forma. Eu não gostava de ver Isabella sofrendo, e a ideia de não ter Mandy entre nós doía. Eu a conhecia há pouco tempo, mas sem dúvidas era uma criança incrível, inteligente e amorosa, exatamente como Isabella disse. Ela deveria ter a vida toda pela frente! Era injusto se ela não tivesse. Ela era uma criança, e deveria estar correndo por aí com os amiguinhos no parque, e comendo porcarias o tempo todo, mesmo com as reprimendas de sua mãe. Ela deveria ter uma boa infância, uma boa adolescência... Deveria sentir a sensação de se estar apaixonada por um menino qualquer do ensino médio, e sentir a sensação de nervosismo quando fosse apresentá-lo aos seus pais. E depois, talvez, houvesse a faculdade, e toda uma vida que todos têm direito, mas nem todos realmente podem aproveitar.

Eu estava solitário, quebrado, pessimista e amargo antes de conhecer Bella. Na verdade, eu havia me conformado. Eu tive uma infância incrível, e uma adolescência razoável. Infelizmente, a fase boa tinha acabado por aí, pois a promessa se cumpriu e meu casamento com Tanya, minha melhor amiga, ocorreu. Eu sabia que não existia amor, mas eu tinha afeto fraternal por minha esposa e tentei que a união desse certo, porém, não era o que Tanya queria. Não era o que eu queria também, mas eu estava aprendendo a me conformar. Ela não. Ela sempre foi inconformada, sempre sonhou mais alto. No entanto, foi tarde demais quando nos demos conta disso. Tínhamos nossa própria vida, nunca deveríamos ter concordado com aquilo. Tudo poderia ter sido diferente, mas não foi. E essa é a graça da vida, sabe? Agora eu percebo. A graça da vida é poder fazer nossas próprias escolhas, por mais desastrosas que sejam. É a nossa vida, então, foda-se, ninguém mais tem a ver com isso além de nós mesmos.

Eu queria que Mandy tivesse uma vida. Eu queria que ela pudesse tomar suas próprias decisões, também. Queria que ela se decepcionasse, ficasse triste, apenas para perceber que a felicidade é algo que se constrói e conquista, assim como Bella havia me ensinado. Eu não tive escolha sobre meu casamento anos atrás, ou eu quis pensar assim, mas eu tinha escolha agora. Eu poderia ter ficado com Tanya, fazendo nós dóis miseráveis, mas eu não fiquei. Eu escolhi a vida. Escolhi a Bella. E o mais importante: escolhi a mim e a meus sonhos. E agora, eu também tinha uma escolha, e eu escolhia ajudar Mandy. Tudo bem, ao menos tentar. Poderia não dar certo, provavelmente não daria, as chances eram quase nulas, mas era melhor do que nada. Eu deveria tentar, porque Bella estava certa quando me disse que todas as pessoas merecem viver, todas as pessoas merecem recomeçar, porque todo mundo comete erros e más decisões. Só temos que aprender a lidar com elas e consertá-las.

Eu sorri enquanto começava a preencher o formulário que o médico me dera. As primeiras três linhas eram informações básicas, como o nome completo, a idade, endereço e situação civil. Foi um alívio enorme escrever solteiro novamente ali, tanto que nem parecia real. Era um alívio poder mandar na minha própria vida novamente.

–Edward, cara, eu aprecio o seu gesto. Eu realmente aprecio, mas não precisa fazer isso apenas por causa da minha cunhada. Ela já ama você.

Eu desviei meus olhos do formulário e encarei Emmett. Ele parecia ser um homem bom, embora eu não pudesse ter um vislumbre de quem ele realmente era. Quer dizer, ele estava péssimo e abatido por conta da doença da filha. Ninguém consegue supor quem a pessoa realmente é por detrás da dor nesse momento. Ele realmente achava que eu estava fazendo isso por Isabella? Era isso o que parecia? Quer dizer, é óbvio que se Bella não tivesse aparecido em minha vida isso nunca aconteceria, porém, meu gesto não era para que Bella ficasse em dívida comigo, ou gratidão eterna, ou seja lá o que Emmett quis insinuar. Só era o correto a se fazer.

–Eu não estou fazendo isso por Bella.

–Então por quê?

–Bella me trouxe aqui, sabe? No primeiro dia em que começamos nossa terapia. Eu não sei o quanto de toda essa história louca ela te contou, mas a verdade é que, bem, eu estava perdido. Eu levava uma vida horrorosa, com uma mulher que eu não amava, com um emprego numa área que eu nunca quis atuar, em uma casa que eu não ajudei a comprar, construir ou decorar. Eu pensava que não existia mais esperança para mim, mas Bella me trouxe aqui. E aí eu vi Mandy e ela estava lá, naquele quarto, como se nada estivesse acontecendo. Como se ela não estivesse fodidamente morrendo a cada dia que passava. Ela apenas sorriu e disse-me que eu era mais legal do que James, e então depois, ela ficou triste por seu cabelo estar caindo, mas foi brincar mesmo assim. E sabe, Emmett? Ela não me olhou com pena, ou com julgamento. Aquilo me intrigou. Então, na segunda vez que viemos, ela simplesmente pediu para que eu brincasse com ela. E tudo o que eu vi em seus olhos foi uma vontade imensa de viver. De sair daqui e voltar para a escola, para casa, para a sua vida normal. Ela queria tanto aquilo, e ela não se abalou mesmo na situação em que estava, e eu? Eu simplesmente me conformei, sendo que era fácil acabar a merda e recomeçar do zero. Não é complicado, nós é que colocamos empecilhos sempre que algo quer sair de nossa zona de conforto. Para tudo tem solução, exceto para a morte. E mesmo assim, a sua filha não desistiu. Era egoísta da minha parte desistir de viver quando há tantas pessoas como Mandy implorando por uma nova chance da vida. A terapia de Isabella é ótima, mas foi observando aquela criança que eu finalmente me toquei que não podia continuar me vitimando ou vitimando outros pela minha situação. Você entende? Não é por Bella. É por mim. É por Mandy, pois ela me ajudou a recuperar o homem que eu sempre quis ser, mas que se perdeu no meio do caminho. Eu devo muito à essa garotinha, e se eu puder ajudar, da maneira que for, mesmo assim não será o suficiente.

Era a verdade. Eu nunca tinha externado aquilo, no entanto. Nem ao menos para Bella. Contudo, era bom finalmente poder dizer a alguém. Eu sorri fraco ao perceber que Emmett estava com os olhos marejados pelo meu discurso meio que longo demais e, para espantar o clima estranho que pairou no ar, eu apenas disse o que Emmett deveria ouvir muito o tempo todo.

–Você tem uma filha incrível.

–Eu sei, Edward. Obrigado. –O cunhado de Isabella levantou-se e deu um tapinha em minhas costas, e eu apenas sorri sem graça. Não era ruim, eu apenas não estava acostumado a receber olhares ou gestos de gratidão vindo das pessoas.

Rapidamente, voltei minha atenção ao formulário. Isso precisava ser rápido, pois Mandy não esperaria por muito tempo.

E eu não podia deixá-la morrer sem ao menos tentar.

(...)

O formulário já havia sido preenchido há um tempo. Agora, o médico de Mandy tirava uma amostra de meu sangue para que eles pudessem mandar para o laboratório o quanto antes e, então, saber se eu era ou não um doador compatível com Mandy. Segundo o médico, meu sangue seria tipificado por um exame de histocompatibilidade, e o resultado sairia dentro de vinte e quatro horas.

–E então, doutor? Se por uma sorte muito grande isso der certo, eu posso finalmente doar a medula para Mandy?

–Não é tão simples assim, filho. –Eu revirei os olhos. Nunca era simples, eu já devia saber. –Entretanto, ser compatível é a base fundamental de todo o resto. Se você for, teremos que fazer alguns outros exames sanguíneos, alguns testes para avaliar o seu estado geral de saúde, mas isso não levará mais de três dias.

Bem, eu esperava que Mandy tivesse todo esse tempo para esperar. Engoli em seco. Eu realmente não queria que a garota morresse.

Assim que o médico terminou sua coleta, eu saí de sua sala e retornei para a sala de espera esperançoso de que Isabella ainda estivesse lá. Sinceramente, hoje foi um dia cheio. Minha mãe histérica ao descobrir meu divórcio, juntamente com Carmen, meu pai me apoiando dizendo que só queria a minha felicidade, Tanya dizendo que estava grávida... E, por fim, a piora de Mandy. Eu só queria que o dia acabasse, porque agora não restava nada para se fazer além de esperar pelos resultados.

Eu encontrei Isabella sentada em uma das cadeiras nada confortáveis da recepção, com o olhar perdido. Sua irmã e cunhado não estavam por ali, então ao que tudo indicava, eles já haviam ido embora.

–Hey. –Eu cumprimentei sem saber o que falar ao certo. Eu nem ao menos falei com ela antes de tomar a decisão de tentar ajudar Mandy mas, bem, como eu mesmo dissera, era a minha decisão.

–Oi, Edward. –Seus olhos pareceram retomar o foco e ela lançou-me um sorriso triste. –Você está bem?

–Claro. Por que eu não estaria?

–Oh, é que eles devem ter tirado sangue de você. –Eu ri, me sentindo mais leve pela primeira vez desde que cheguei no hospital.

–Bella, são 10 ml de sangue. Acho que ninguém passa mal com uma quantidade mínima dessas.

–Bem, eu posso assegurar para você que qualquer sangue é sangue, mesmo que seja pouco. E não é nada legal quando alguém enfia algo em você para tirar sangue. –Ela fez uma cara de repulsa, como se estivesse lembrando-se das vezes que isso acontecera com ela. Eu ri.

–Quem diria que a grande psicóloga Isabella Swan tem um ponto fraco logo se tratando de sangue?

–Eu tenho vários pontos fracos, Edward. Eu sou toda fraca, nem ao menos consigo ajudar a minha sobrinha, e...

–Ei, não diga isso. Você é forte. É uma mulher incrível. Sinceramente, quase ninguém pode ajudar Mandy. Não é culpa sua não ser compatível, Bella. Você não tem que salvar o mundo, ou algo assim. –Peguei em suas mãos e puxei-a para que se levantasse da cadeira. Já estava na hora de irmos para casa. –Você me salvou. Já não é um grande milagre? –Não que eu estivesse me comparando com Mandy, longe disso. Só queria que Bella sorrisse um pouco e trancasse sua angústia e seus temores por hoje. O resultado só sairia amanhã de qualquer maneira e não havia nada que pudesse ser feito quanto a isso.

–Foi o maior de todos. Sinceramente, eu pensei que fosse mais fácil transformar vinho em água do que conseguir colocar alguma coisa boa dentro dessa sua cabeça louca. –Isabella sorriu. Não foi um sorriso muito feliz, mas já era algo. Era o máximo que eu conseguiria, e eu entendia o porquê. Isabella encarou-me séria, e abraçou-me instantes depois, fazendo com que parássemos de andar. Já estávamos perto da saída do hospital agora. –Eu realmente não saberia o que fazer se você não estivesse aqui por mim hoje, Edward. Independente do que vier no resultado de seu exame amanhã, quero que saiba disso. Você também me salvou de uma vida inteira de solidão, e por mais que você não perceba, eu também mudei nessa semana. –Isabella me beijou, e eu retribuí, apenas apreciando aquele momento tão simples e especial ao mesmo tempo. Eu não estava acostumada com demonstrações de afeto ou com palavras de carinho, mas eu realmente não estava reclamando das de Bella. Longe disso. –Eu acho que não consigo mais viver sem você. –Foi impossível não sorri.

Ah, Bella, eu também, meu bem. Eu nunca mais vou conseguir viver direito sem você em minha vida. Juro.

–Ainda bem que você não vai precisar nem ao menos tentar viver sem mim, então, pois vou estar por perto sempre.

Era uma promessa. Uma promessa que eu queria muito poder cumprir, por mais que eu não pudesse.




(...)



Custou para que Isabella se entregasse ao sono naquela noite, mas ela finalmente cedeu. Ao contrário de mim, que parecia estar consumido pela insônia. Eu estava ansioso pelo resultado, mas havia outra coisa me incomodando também. Agora era oficial: minha semana de terapia com Isabella havia mesmo acabado. E eu não tinha tomado nenhuma decisão concreta ainda sobre o meu futuro e, consequentemente, meus planos. Sabendo que eu só atrapalharia Isabella em seu quarto, voltei para o quarto de hóspedes.

O que eu faria, afinal? Eu tinha um emprego que eu odiava, e eu realmente não queria voltar para lá. Eu não precisava voltar para lá, visto que eu tinha um dinheiro guardado, e visto que Tanya estava decidida a dividir o dinheiro que ganharia com a venda da casa e do carro.

Porém, eu não poderia viver sem uma profissão que eu gostasse, muito menos sem um emprego para sempre. Eu ainda queria cursar Direito. Eu ainda queria ir para Harvard. Porém agora, tudo havia mudado. Tudo havia mudado porque eu também queria Isabella, e mesmo assim, eu sabia que não podia ter as duas coisas. Eu não poderia me enganar mais, apenas protelando minha decisão. A verdade é que eu não queria encarar os fatos: Bella me amava, e o sentimento era recíproco; Bella me amava, mas a vida dela estava toda aqui em Nova Iorque, com seus amigos, seu consultório, seus pacientes, sua casa; Eu amava Isabella, mas havia um caminho a percorrer sozinho. Eu precisava tomar minhas próprias decisões, e ela mesmo havia dito para eu não desistir de nenhuma de minhas metas por ela. Sim. O certo a se fazer era simplesmente mandar um e-mail para o reitor explicando a minha situação, e torcer para que ele se sensibilize e leve em consideração todo o meu histórico escolar impecável. E se ele aceitasse, se eu entrasse finalmente em Harvard, eu teria que ir. Era minha maior meta. Não era? Era o certo a se fazer. Partir, reconstruir minha vida. Ser um homem digno de Isabella, um homem com estabilidade, um homem do qual ela se orgulhasse. Será que ela esperaria por mim? Claro que não. Cinco anos é muito tempo. Será que ela manteria um relacionamento a distância comigo se eu propusesse? Claro que não também. Isso só a prenderia a um cara incapaz de dar a Bella toda a atenção e carinho que ela merecia.

Sim. O certo era deixá-la livre, pelo menos até que eu fosse alguém na vida. O certo era correr atrás dos meus sonhos da adolescência. Era sim. Então, por que, de repente, me parecia tão errado?

–Não sofra por antecipação, Edward. Apenas escreva o e-mail. Talvez, na verdade, muito provavelmente, nem vai dar em nada, então você não precisará deixar Isabella.

Patético. Além de tudo, agora eu falava sozinho. Ótimo. Contudo, essa era a verdade. Eu não podia sofrer por antecipação. Talvez nem desse em nada. Eu esconderia isso de Bella por enquanto. Ela tinha que se preocupar com a sobrinha agora.

Determinado, peguei meu notebook e abri meu e-mail. O endereço virtual do reitor já estava salvo em meus contatos. Rapidamente, comecei a me apresentar e a esclarecer a situação. Depois de um texto enorme, e espero que não muito sentimental ou apelador, anexei meus históricos. Hesitei um pouco antes de apertar o enviar, mas finalmente cliquei. Pronto. Estava enviado.

Enviado. Agora, eu só precisava de uma resposta.

O triste de tudo isso é que, qualquer resposta que viesse, positiva ou negativa, me faria ficar triste por um lado, e feliz de outro. Afinal, o que diabos importava mais para mim? A faculdade dos meus sonhos, ou a mulher mais incrível da minha vida?

Eu me odiava por não saber responder a isso. E me odiava ainda mais por saber que eu teria que tomar uma decisão e escolher entre os dois, em breve, se fosse me dado uma oportunidade.

Decisões têm um preço. E eu pagaria caro demais, por qualquer um dos caminhos que eu descartasse.

Fazer as próprias escolhas não parecia nada legal agora.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Estou prevendo que muitas pedras serão atiradas no nosso Edward depois desse capítulo! Hahaha