A Terapeuta escrita por Bellice


Capítulo 19
Capítulo XIX


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora, mas as provas finais da faculdade matam qualquer um, não é mesmo? Haha
Estou de volta!
Boa leitura.



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Capítulo XIX

“No início, os filhos amam os pais. Depois de certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam.”

Oscar Wilde

Ponto de Vista por Bella Swan

–Não estamos atrapalhando algum momento íntimo entre vocês, não é? Sei como é difícil segurar o marido, filha.

Oi? Momento íntimo entre Tanya e Edward? Segurar o marido? Oh, merda, acho que aqueles dois ainda não tinham contado as novidades para os pais. Isso não ia acabar bem, não ia mesmo. E com certeza ia acabar sobrando para mim e para o coitado do Derek. Enfim, seria divertido conhecer meus sogros. Não era como se eu estivesse nervosa por conhecê-los, afinal. Os dois me odiariam, me colocariam como uma destruidora de lares, falariam absurdos sobre a tal promessa descabia que fizeram há anos luz e tentariam, em vão, reverter o divórcio. Eu não estava nervosa para conhecê-los porque eu não fazia a mínima questão de que aqueles dois gostassem de mim. Tudo bem que se os dois tivessem agido diferente com o filho, talvez Edward nunca tivesse me conhecido e não estaríamos juntos, mas não era o ponto em questão ali. Pais deveriam criar os filhos para o mundo, para que eles pudessem encarar os problemas da vida e enfrentá-los conforme achassem melhor; para que pudessem tomar suas próprias decisões.

Edward, meu Edward, aquele cara tão amável, inteligente, lindo... Tinha sido obrigado a viver uma vida da qual ele não fazia questão de participar. É certo que ele poderia se impor mais na época, mas, sinceramente? Quem toma decisões acertadas quando se é apenas um adolescente? Meu namorado não foi uma das exceções, certamente, mas estava começando a viver sua vida agora, e parecia feliz. Parecia feliz com seus novos planos, que eu sabia que estavam já rondando a sua cabeça. E o mais importante: parecia feliz comigo.

E ninguém estragaria isso. Muito menos os idiotas dos pais dele!

–E então? Não vai nos convidar para entrar, Tanya? Seu velho pai precisa se sentar e beber uma boa cerveja, querida. –Bom, seja lá de quem fosse aquela voz, eu concordava com ela. Eu também precisava de uma boa cerveja, ou talvez duas boas cervejas. Três? Álcool nessas ocasiões nunca é demais.

–Claro, entrem! Que bom que estão todos aqui! Edward e eu temos algo a comunicar!

–Oh, querida, uma novidade boa? –A que eu presumi ser a mãe de Edward falou, assim que entrou pela porta. Tanya balançou a cabeça em afirmação, eu segurei o riso.

Edward ainda parecia meio paralisado, então decidi pegar em sua mão sutilmente, desejando que, assim, eu tivesse sua atenção por um tempinho. Funcionou. Assim que meus dedos tocaram levemente uma de suas mãos, ele olhou para mim. Primeiramente, assustado, mas depois sorriu e pareceu soltar um suspiro de alívio ao me ver ali. Eu já disse o quanto Edward era adorável? Não importa. Eu nunca me cansaria de repetir, porque ele era.

–Eu amo você, Edward. Está tudo bem, certo? Eu estou aqui com você, e eu não vou a lugar nenhum. –Sorri. Parecia fora de contexto, mas eu sabia que Edward estava inseguro. Com medo, talvez. Quem não estaria no lugar dele? Ele nunca havia enfrentado seus pais. E agora, teria que dizer tudo de uma vez. Não seria fácil, mas eu sabia que ele conseguiria.

–Eu sei. Eu também amo você. E isso é tudo o que importa agora, Bella.

Edward retribuiu meu sorriso, todo confiante de si. Deu um aperto sutil em minha mão e, logo após isso, soltou-a, indo cumprimentar os pais.

–Notícia boa, então Tanya? Ah, meu Deus! Não venha me dizer que vocês dois estão esperando um bebê? Eleazar, teremos um netinho, amor! Que coisa linda! Eu esperava por isso há anos.

Isso não podia ser sério, certo? Um bebê? Em que planeta aqueles quatro viviam? Quer dizer, era muito visível o quanto Edward e Tanya estavam infelizes casados. Eles realmente não percebiam, ou só fingiam não ver? Será que não se importavam? De certo não.

–Oi para você também, Carmen, Eleazer. –Edward apertou a mão do casal, seu ex sogros, pelo visto. –Oi, mãe, pai. Bom ver vocês. –Edward deveria aprender a fingir melhor, pois eu tinha certeza absoluta que todos naquela sala perceberam que Edward não estava nada feliz de vê-los ali, mas enfim.

–Que desânimo é esse, rapaz? Você engravida a minha filha e nem comemora? –O mais legal era que nenhum dos quatro tinha notado que eu e Derek estávamos naquela não tão grande sala.

–Pelo amor de Deus, pai! Edward não me engravidou, a notícia boa não é essa!

–Então, qual é? –A mãe de Edward, aparentemente, perguntou, parecendo muito curiosa. Desconfiada até, eu diria. O timer do forno de Tanya apitou, e eu quase suspirei de alívio por ter onde me esconder, mas infelizmente, não fui tão rápida.

–Eu tiro a lasanha do forno, pode deixar! –Derek, o grande traidor, praticamente gritou aquilo e se tocou para a cozinha, enquanto eu tive que me contentar em permanecer naquela sala tensa. Eu não mereço isso, Deus.

–Oh, a boa notícia é que vocês contrataram dois empregados? Isso é ótimo, meus filhos. –A velha nojenta, a tal da Carmen, apontou para mim e em direção à cozinha enquanto falava, e eu quis vomitar em cima dela. Sério, eu sabia que os pais de Tanya e Edward não poderiam ser muito equilibrados para terem feito o que fizeram, mas ia muito além disso. Eles pareciam verdadeiramente detestáveis. E aquilo fez com que meu coração se apertasse. Por que existia gente desse jeito? Por quê? Eu simplesmente não conseguia entender.

–Eu não sou a merda de uma emprega, e Derek com certeza também não é, senhora. –As palavras saíram de minha boca antes que eu pudesse retê-las e, imediatamente, seis pares de olhos me olharam chocados. A diferença era que dois pares deles me olhavam chocados, porém com um sorriso malandro no rosto. Eu retribuí.

–A boa notícia, mãe, pai e queridos sogros: –Foi impossível deixar de notar a ironia no tom da voz do meu namorado lindo. –É que Tanya e eu finalmente nos separamos! –Edward e Tanya chegaram perto um do outro e, num ato de apoio mútuo, eu suponho, Edward passou um de seus braços ao redor dos ombros de Tanya, e ela fez o mesmo, só que com a cintura dele. Ambos sorriram um para o outro, e eu tive vontade de chorar. Não de tristeza, tampouco de felicidade, mas era tão... Evidente que os dois se amavam. Que os dois compartilhavam de um amor totalmente fraternal, puro, especial. Era triste perceber que os dois se afastaram por todos esses anos por causa de uma promessa ridícula, enquanto poderiam estar vivendo bem, sendo felizes, sendo amigos, cada um com sua vida. Era triste ver que, o matrimônio, que teoricamente servia para unir as pessoas, apenas o afastou terrivelmente. Essa era a maior prova de que um pedaço de papel não servia para nada, absolutamente nada, se não houvesse o tipo certo de amor para fazê-lo valer. Os pais de Edward, os pais de Tanya, não importava para mim qual o casal teve a ideia da promessa primeiro. No fim das contas, não passavam de quatro hipócritas.

O silêncio que se instaurou no ambiente após as palavras de Edward foi total. Os pais na sala pareciam em estado de choque, e Edward e Tanya pareciam tranquilos, apesar de ser visível uma certa tensão com o clima que se instalara no local.

–Vocês não podem estar falando sério! Edward, meu bem, você sabe que fizemos uma promessa! Sabe que agora Deus o tirará de nós por termos quebrado o meu sacrifício, não é?

–Tanya, filha, você não estaria aqui, viva, se não fosse a promessa que eu e seu pai fizemos juntamente com os pais do seu marido! Você quer jogar tudo para o alto? E todo o sofrimento que eu passei para te trazer ao mundo?

Tanto Esme quanto Carmen pareciam histéricas. Eu me limitei a revirar os olhos, segurando-me o máximo para não me meter na aparente reunião familiar.

Seu sacrifício, mãe? Eu vivi infeliz por anos apenas por causa dessa promessa estúpida! Eu abri mão dos meus sonhos por este casamento que estava fadado ao fracasso muito antes de começar! Eu fiz uma faculdade que não queria para sustentar alguém que eu não amava desse jeito! Eu que vivi em uma casa que eu detestei desde o primeiro dia em que pisei! Não me venha falar em sacrifício por parte da senhora, pois tudo o que você e o papai fizeram foi arruinar por completo a merda da minha vida!

Edward parecia descontrolado, irritado e completamente nervoso. Contudo, decidi que o melhor a se fazer era deixá-lo falar tudo o que tinha para dizer aos seus pais. Tudo aquilo, todo aquele problema, aquela angústia, estavam guardados por tempo demais. O pai de Edward parecia ter saído de seu estado de choque e, ouvindo as palavras do filho, ia lhe responder, mas Tanya o interrompeu.

–Sofrimento, mãe? Eu fiquei presa dentro dessa casa por anos, não vocês! Não pude sair por aí, não pude me apaixonar como todo mundo normal, não pude aproveitar a vida por muito tempo, tudo por causa dessa promessa que eu nem pedi para ser feita! Se isso não passou pela cabeça de vocês, eu digo agora: eu preferia não ter nascido a ter que viver do jeito que eu vivi até poucos dias! E tenho certeza que Edward pensa o mesmo! Vocês quatro nos manipularam e brincaram com nossas vidas por tempo demais, mas isso acabou. Acaba agora! Nós nos separamos, nós estamos felizes com outras pessoas, e nada do que vocês falem vai poder mudar isso.

Tanya começou a chorar silenciosas lágrimas assim que terminou sua fala, e Edward segurou uma de suas mãos, na certa tentando transmitir algum tipo de apoio para ela. Eu queria expulsar aqueles quatro idiotas daquela casa. Eles não iriam aceitar e só deixariam a situação pior.

–Com outras pessoas? Vocês... Vocês foram infiéis? Ah, meu Deus, Carl! Meu filho vai para o inferno! Onde foi que erramos? Onde? –Esme começou a chorar e se jogou nos braços do marido. Mais uma vez, me limitei a revirar os olhos. Fanatismo religioso, a gente vê por aqui.

–Não fomos infiéis, mãe. Nós nunca nos amamos desse jeito. Nós nunca consumamos o casamento.

Claro. Eles nunca consumaram o casamento. Normal, mas.... O quê?! Edward estava dizendo que ele e Tanya nunca haviam transado? Puta merda. Isso era uma surpresa das grandes. Puta merda.

–Isso quer dizer, então, que vocês não se divorciaram? Pediram a anulação, é isso? –Pela primeira vez, o pai de Edward, meu aparentemente calado sogro, se manifestou.

–Não, pai. Eu pedi o divórcio. Você sabe, anulações levam tempo, e eu simplesmente não tinha mais esse tempo extra. Eu já perdi tempo demais. Anos demais.

–Isso quer dizer que não há gravidez nenhuma? Não haverá neto? –O pai de Tanya, Eleazar, parecia realmente triste ao perceber aquilo e, por um momento, eu me permiti ter pena dele.

–Na verdade, você terá um neto, pai. Dentro de sete meses, mais ou menos. Só que ele não é filho do Edward e, sim, de Derek.

–Eleazar, eu vou desmaiar!

–Você traiu o meu pobre filho?!

–O quê?

Os gritos de choque de, respectivamente, Carmen e Esme não foram surpresa. Entretanto, o último, vindo de Derek, foi o que surpreendeu a mim e a Edward. Tanya não havia contado para ele ainda, então? Meu Deus! Aonde eu fui me meter? Essa gente toda era louca! Não que eu fosse muito certa, mas enfim...

–Isso mesmo, amor, nós vamos ter um bebezinho lindo! Fruto do nosso amor, vida. –Eu reviraria os olhos novamente pelo apelido meloso, mas dessa vez, não consegui. Não consegui pelo simples fato de que a cena que se desenrolava à minha frente era muito mais interessante. Ao ouvir a revelação de Tanya, Derek saiu da cozinha. Com a última frase emocionada de Tanya, ele saiu correndo em sua direção e, depois de lhe dar um suave beijo demorado nos lábios, abaixou-se quase que lenta e delicadamente, colocando a mão sobre a barriga nada proeminente ainda dela. Eu não pude desviar meus olhos da cena. Era lindo. Era amor. Puro amor. Amor quase palpável, eu diria.

–Eu amo você, linda. Obrigado por tudo, principalmente por esse presente. –Derek e Tanya sorriram amorosamente um para o outro, e era como se os dois estivessem em alguma espécie de bolha particular. Os pais neuróticos foram esquecidos, restando apenas a nova e linda família que os dois –ou melhor, os três– estavam formando.

Edward veio para o meu lado e me abraçou. Seus pais continuavam paralisados, chocados, bem no meio da sala de estar. Eu não podia me importar menos. Sem pensar em mais nada que não fosse no quanto Edward me fazia bem, eu simplesmente encostei minha cabeça no peito do meu paciente, namorado e afins, e me permiti relaxar. Joguei meus braços ao redor de sua cintura e o apertei forte, algo como para comprovar que tudo aquilo era real.

–Eu amo você. Mesmo.

–Eu amo você também, Bella. Contudo, você não está grávida, está? –Eu sorri discretamente contra o seu peito. Oh, só se fosse do espírito santo, meu bem.

–Ah, não. Como poderia? Eu com certeza lembraria por um bom tempo se nós tivéssemos feito algo a mais nessa semana que passamos juntos, Sr. Cullen.

Edward riu alto, o que chamou a atenção de sua família, mais uma vez.

–Ah, Carl, não podemos deixar esse erro acontecer! Olha essa mulher que está com Edward! Ela deve ser mais uma rameira qualquer!

–Na verdade, Sr. e Sra. Cullen, meu nome é Isabella Swan, e eu sou uma terapeuta. Aliás, deixem-me dizer que vocês precisam muito de um tratamento. Psiquiátrico. Urgente!

–Ora, sua vadia! Quem você pensa que é para falar conosco dessa forma? Retire já o que disse! O seu lugar é em um cabaré qualquer, sua...

–Esme, já chega! Acho que é melhor nós irmos embora!

–O quê? Você não pode estar falando sério, Carlisle! Nosso filho está vivendo como um pecador, e o diabo está bem do seu lado, abraçando-o, para ser mais exata!

Ignorando totalmente sua mulher, o tal Carlisle virou-se para seu filho.

–Você está feliz, filho? –A resposta de Edward não demorou a chegar.

–Estou sim, pai. Agora eu estou.

–Então eu não vou me opor a mais nada. Quando você nasceu, tudo o que eu pensei foi que eu iria dar a minha vida para fazer você feliz, independentemente de qualquer coisa. Não sei quando eu me perdi e me esqueci disso, afinal. Peço desculpas, Edward. Embora eu saiba que desculpas não recuperam tudo o que você perdeu.

Edward acenou com a cabeça, eu não emiti reação nenhuma. Estava surpresa demais com a inesperada reação do meu sogro. Parecia que ele não era tão absurdo, afinal.

Ainda pude ouvir Esme resmungando e gritando impropérios enquanto seu marido a arrastava para fora da casa de Tanya, mas não me importei. Edward tinha, de certa forma, o apoio do pai agora. E isso era importante para ele. Eu sabia que era.

–Bem, eu vou ter um netinho, Carmen! Nada pode ser feito quanto a isso. Os fins justificam os meios, vamos embora! –Eleazar, pai de Tanya, parecia ter reagido bem à notícia da gravidez de sua filha. Eu não pude evitar de rir. As mamães fanáticas levaram a pior. Dos dois lados.

–Você não terá netinho nenhum, Eleazar! Eu não terei netos bastardos! Pecadora, Tanya! É isso que você é!

Infelizmente, meu telefone celular tocou, fazendo com que eu desprendesse minha atenção dos pais de Tanya. Era Rosalie.

–Rose? Onde vocês estão? Perderam a parte mais interessante do dia de hoje!

–Desculpe, Bella. Mandy piorou, viemos às pressas para o hospital vê-la. Eu preciso de você aqui. Ela precisa. –A voz da minha irmã estava chorosa, e eu me desesperei. Mandy havia piorado. Minha sobrinha tão doce, tão meiga, tão cheia de vida... Havia piorado de sua doença. E ela precisava de mim. Eu precisava ir até ela.

Já com lágrimas nos olhos, eu me apressei a contar a Edward o que estava acontecendo. Suspirei.

Por um momento, eu havia me esquecido o quanto a minha família também era complicada.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que vocês acharam do capítulo? E dos pais dos dois loucos? Hahahaha