A noite já havia caído faziam algumas horas. Eram exatamente 22hrs35min quando Hermione deixou o Salão Comunal da Grifinória para ir de encontro à Sala Precisa. Seu humor não estava dos melhores e sua falta de ânimo era perceptível a quilômetros de distância. O dia seguinte seria o último dia no Castelo e podia-se dizer que era esse o motivo de toda a tristeza de Hermione.

Ela parou em frente à parede de pedra e andou de um lado para o outro, três vezes seguidas. Uma porta de aço materializou-se em sua frente e sem perder tempo, ela entrou.

- Sempre tão pontual... - A voz arrastada e poluída de ironia, que ela conhecia tão bem, penetrou seus ouvidos. 

Ela olhou no relógio e soltou um suspiro resignado. Estava atrasada mais de meia hora.

- Foi difícil sair do Salão Comunal sem ser notada. Todos parecem eufóricos pelo encerramento das aulas. - A última frase saiu mais como uma acusação.

Os dois caíram em um silêncio triste. Era possível que estivessem pensando na mesma coisa. Foi Draco quem resolveu sair na frente.

- Acho que precisamos conversar.

It's not a silly little moment
It's not the storm before the calm
This is the deep and dying breath
Of this love that we've been working on
 

Hermione assentiu e finalmente se aproximou lentamente de onde o loiro estava. Tão perdida em pensamentos como estava, não reparou na decoração totalmente vermelha do cômodo. Diferente das outras vezes, não havia sequer um toque de verde. Isso a teria feito sorrir em outra ocasião, mas não naquele momento. Com um suspiro trêmulo, Hermione sentou no sofá e passou a fitar o próprio pé. Ainda não tinha tido coragem o suficiente para encará-lo.

- Eu vou para a Irlanda no fim de semana. - Hermione começou. - Recebi uma bolsa para um curso de medi-bruxo lá.

Draco, assustado com o som da voz dela depois de um silêncio tão longo, teve pouco tempo para se recuperar e absorver a notícia.

- Diga alguma coisa. - Ela pediu nervosa.

Ele riu, um riso tão anti-Malfoy, tão fraco, seco, triste.

- O que quer que eu diga? - Ele perguntou.

Hermione não respondeu mas ele sabia o que ela queria ouvir.

- Eu não vou te pedir para ficar. Eu não posso fazer isso. - Ele sussurrou para ninguém em particular. - Eu não tenho o direito de te pedir para arruinar sua vida por mim.

- Eu estaria fazendo isso por mim também. - Ela levantou-se, encarando-o finalmente frente a frente.

- Não, você sabe que não estaria. - Ele retrucou.

Can't seem to hold you like I want to
So I can feel you in my arms
Nobody's gonna come and save you
We pulled too many false alarms
 

- Eu não estaria arruinando minha vida. - Ela falou.

- Estar com um ex-Comensal da Morte é arruinar sua vida. - Ele afastou-se, virando de costas e caminhando para o fim da sala.

- Draco... - Ela chamou.

Ele virou-se de frente para ela que já havia tornado a se aproximar dele. Ele segurou seu rosto entre suas mãos e a encarou.

- Sim, Hermione? - Ele sussurrou.

- Não existe nós fora daqui, existe? - Ela perguntou com a voz embargada. Ela já sabia a resposta.

- Não. - Ele respondeu, encostando sua testa na dela.

We're going down
And you can see it, too
We're going down
And you know that we're doomed
 

Com a ponta da língua ele enxugou a única lágrima que escorreu dos olhos de Hermione. Naquele momento, Draco odiava mais do que tudo ser um Malfoy. 

- Por que nossa vida tinha que ser tão complicada? - Hermione questionou retoricamente.

- Porque eu sou um Malfoy e você uma nascida-trouxa. E é uma maldita ironia do destino eu ter tido você e agora ter que deixá-la ir. A vida é mesmo uma vadia. - Ele riu amargo.

My dear, we're slow dancing in a burning room

- Não podemos ter tudo o que queremos, já devia saber disso. - Ela desvencilhou-se de suas mãos e voltou para perto do sofá.

- Eu sempre tive tudo o que quis. - Draco retrucou. 

- Que bom que a vida foi boa para você. - Ela desdenhou.

- A vida será boa para você também. Aceite o pedido do Weasley e siga com a sua vida.

Hermione virou-se bruscamente. Seus ouvidos não acreditavam no que tinha acabado de ouvir.

- Como...como vo- 

- Como eu sei? - Ele interrompeu. - As notícias correm. As pessoas ficaram entusiasmadas ao saberem que o Weasley te pediu em namoro. Era o que todos esperavam, afinal. E era o que você esperava.

- Eu não amo o Rony, eu am-

- Mas você vai aprender a amá-lo. Vai ser tão rápido que nem mesmo você irá perceber.

- Eu não consigo acreditar no que você está me dizendo. - Ela tampou os ouvidos infantilmente. 

- Não seja idiota, Granger, o que estou dizendo é a verdade.

Hermione sentiu uma pontada de dor no peito ao ouvir seu sobrenome, já tão incomum, sair de seus lábios. Ela sacudiu a cabeça tentando clarear os pensamentos. 

- Você não pode fazer isso comigo, Draco. - Ela pediu. - Pelo visto eu não signifiquei nada para você. Então é isso? Depois de ter me usado, me joga fora? O que você pensa que eu sou? - Ela gritou.

Draco se abalou por um milésimo de segundo mas logo se recompôs. 

I was the one you always dreamed of
You were the one I tried to draw
How dare you say it's nothin to me?
Baby, you're the only light I ever saw
 

- Eu sempre soube que você não tinha sentimentos, mas daí a me tratar como lixo... eu não esperava isso de você! Não depois de tudo que passamos juntos. 

I'll make the most of all the sadness
You'll be a bitch because you can
You'll try to hit me just hurt me
So you leave me feeling dirty
Because you can't understand
 

Um silêncio incômodo permaneceu sobre os dois. De um lado, Hermione estava ofegante e chorosa, do outro, Draco não parecia mais tão impenetrável assim. Ambos se encaravam intensamente. Hermione foi a primeira a quebrar o contato visual e virar-se para ir embora. 

- Pra mim já chega. - Ela disse ao alcançar a porta.

Ela agarrou a maçaneta e girou mas a porta não abriu. Segundos depois ela estava encostada na mesma e Draco estava à sua frente. Hermione assistiu suas feições mudarem drasticamente. O Draco inabalável tinha sido substituído pelo Draco cansado. Seus olhos estavam opacos e sua boca estava torcida em um sorriso triste.

- Você não quis dizer nada daquilo, não é? - Ela perguntou e recebeu um aceno de cabeça como resposta.

- Eu seria capaz de matar o Weasley se o visse encostando em um fio de cabelo seu. - Ele disse entredentes, os olhos cerrados, como se estivesse vivendo a cena em sua imaginação.

Hermione sorriu. 

- Não vou aceitar pedido nenhum de Rony. Não seria justo com nenhum de nós. 

- Vou viver melhor com isso.

We're goin down
And you can see it, too
We're goin down
And you know that we're doomed
 

Sem dar espaço para qualquer resposta, Draco a beijou calmamente, do jeito que quisera fazer desde o momento em que a viu entrar por aquela porta. Queria saboreá-la pela última vez e guardar seu gosto na memória para sempre. O beijo era calmo, sem pressa, intenso. Depois tornou-se mais urgente, como se ambos tivessem lembrado que aquele seria o último. Draco enlaçou-a pela cintura com força, impedindo-a de se afastar um milímetro que fosse. Queria sentir cada pedacinho do corpo dela contra o seu. Queria lembrar como era tê-la em seus braços.

O ar tornou-se absurdamente necessário e ambos se separaram para respirar. Draco a soltou e sorriu para ela.

- Nos vemos por aí, Hermione. - E saiu da Sala Precisa sem esperar resposta.

My dear, we're slow dancing in a burning room

Naquela noite, Hermione não dormiu. Quando suas colegas de quarto levantaram animadas para o café-da-manhã, ela as acompanhou mecanicamente. Encontrou com Gina no Salão Comunal e a ruiva não se atreveu a perguntar nada sobre sua aparência ou seu estado de espírito.

As duas entraram no Salão Principal e Gina procurou pelos amigos com os olhos. Depois de achá-los, segurou a mão de Hermione e a puxou até eles. Ela não cumprimentou ninguém. Apenas sentou ao lado de Gina e com os olhos, vasculhou o salão. Ele estava sentado exatamente à sua frente. Embora conversasse com os amigos, parecia distraído. Parecendo sentir o olhar de Hermione sobre ele, virou-se para ela. Os olhares se encontraram e ele sorriu fracamente, Hermione retribuiu.

- Nós vamos sentir sua falta, Mione. - Harry comentou, tentando chamar a atenção da amiga. Desviando o olhar da mesa da Sonserina, ela olhou para o amigo e forçou um sorriso.

- Também vou sentir falta de vocês. Prometam me escrever todo dia. - Ela pediu manhosa.

Go cry about it, why don't you?
My dear, we're slow dancing in a burnin room
 

Ao fim do café-da-manhã, todos começaram a levantar-se para terminar de arrumar suas malas. O trem para casa partiria em breve. Hermione acompanhou os amigos de longe, enquanto conversavam e riam. Assustou-se quando sentiu algo tocar sua mão. Draco passou ao seu lado e piscou, seguindo caminho. Hermione levantou a mão que segurava um pequeno embrulho de cor preta e franziu a testa. Curiosa, abriu o pacote e tirou de dentro um colar.

Ela sorriu abertamente. Aquilo era tão Draco. O colar era prata e tinha um pequeno pingente de uma cobra entrelaçada em um coração. Era lindo. Imediatamente ela o colocou no pescoço.

Don't you think we oughta know by now?
Don't you think we should have learned somehow?
 

Um papel caiu de dentro do pacote que ainda estava em sua mão e Hermione abaixou-se para pegar. Era um bilhete. Nele, estava escrito as palavras que Hermione guardaria consigo pelo resto da vida.

"Você foi a melhor coisa que já tive. Eu te amo."