Dragões E Serpentes - Draco E Hermione escrita por penelope_bloom


Capítulo 22
Maricas.


Notas iniciais do capítulo

*jurosolenementequenãovoufazernadadebom*

Esse capítulo é um dos meus prediletos, por que o Velho Ab foi inspirado 150% na minha avó que faleceu em maio de 2014. Ela morava em salvador e eu estava sem contato com ela, e me arrependo mortalmente de ter perdido tanto tempo longe dela, e não ter dito mais vezes que amava ela.

Para a Dona Maura, que com certeza está nos campos do Elísio, deixando Merlin louco e engordando os anjos com seus doces deliciosos.


ps: ESCREVI ESCUTANDO "POR ENQUANTO" DA DIVA CASSIA:
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
sem saber
que o pra sempre
sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
Quando penso em alguém
só penso em você
E aí, então, estamos bem

Link: http://www.vagalume.com.br/cassia-eller/por-enquanto.html#ixzz3OkRqtNa7




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Vinte e dois)

Quarta-feira chegou, e se passou irritantemente lenta, a manhã tediosa se passou silenciosa, nem Blaise nem Deirdre conseguiram arrancar de mim mais do que monossílabos, no almoço Draco sequer se sentou conosco, fez questão de olhar no fundo dos meus olhos somente para então desviar o olhar e ir sentar com uma se suas vadias no outro lado do refeitório.

POR QUE MINHA VIDA TINHA TANTO DRAMA? Nessa última semana eu começava a me achar mais sofredora que a mocinha de crepúsculo...

Hehe, mentira, pra superar aquilo não é bem assim...Mas de qualquer forma, eu merecia um vida um pouco menos complicada não?

Observei enquanto nos separávamos novamente, eu fui para a minha aula de Fisiologia, e ele se perdeu entre os corredores. Não prestei atenção alguma na aula, minha mente estava agitada, como o mar em dia de tempestade e eu sentia algo diferente, algo que nunca tinha sentido assim tão forte. Meu amor por Draco tinha mudado, eu não o via mais como meu irmão pirralho, tudo que eu podia pensar foi em como suas mãos firmes tinham segurado a minha cintura e como eu quis que suas mãos estivessem ali agora. Sumir em baixo do seu corpo tão mais forte que o meu e sentir toda a minha vulnerabilidade em seus apertos em nossas brigas, quando ele me amarra contra o seu corpo.

Mas então minha mente voltava para os dias de tortura na Mansão, nos terríveis gritos que eu ouvi com horror escaparem pela minha garganta, o nojo no olhar do meu pai, era como se o tapa que ele tivesse dado em mim há tantos anos ainda queimasse em meu rosto. O modo como ele me trocou por Daphne para logo em seguida me beijar no calabouço. E mesmo agora na faculdade, com seus joguinhos de poder, o jeito que ele faz questão de deixar claro como eu sou dispensável para ele.

Esse era Draco Malfoy, ele era o meu torturador, dos mais sádicos, o tipo de torturador que envenena a alma com esperança, apenas para intensificar o desespero. Era quase bruto, arrogante e prepotente, controlador e completamente apavorante.

– Senhorita Greengrass, sua prova. – a professora sacudiu a folha na minha frente nervosamente, observei então a sala de anatomia como se a visse pela primeira vez. Observei o coração humano em minha frente com as bandeiras marcadas.

E mesmo ele sendo esse mostro forjado na dor e no desespero, ele ainda tinha os mesmos olhos azuis conflituosos, e quando ele estava prestes a me beijar, eu via o olhar do verdadeiro Draco, não o de alma quebrada e espírito imundo, o meu Draco, meu menino mimado.

– Senhorita Greengrass! – o professor voltou a me chamar dessa vez eu apenas levantei bruscamente e sem conseguir formular qualquer frase lógica saí correndo pelos corredores como se minha vida dependesse daquilo. E no fundo dependia.

***

CREC.

– Hermione?! – a voz espantada de Narcisa chegou até mim – achei que não viesse querida.

Eu estava de pé, na frente da família Malfoy, estava na casa do homem que um dia eu acreditei seu meu avô. Inúmeros parentes me olharam torto, parentes que eu não conhecia, mas eles pareciam me conhecer. Eu estava com meu cabelo em estado crítico, não mais completamente rente ao couro cabeludo, mas grande o suficiente para parecer que eu tinha saído de uma guerra, eu parecia um garoto afeminado. Minhas calças eram justas, devido aos meus trajes como rainha, minha cara tinha o risco de tinta e eu tinha jogado um moletom velho cinza com bolsos por cima de uma blusa preta e decotada.

– Meu avô chamou por mim. – eu disse erguendo a cabeça e desenterrando meus modos Malfoy – eu já passei tempo demais longe da minha família. – eu disse e olhei diretamente para Draco, que estava de costas para mim, sentado a grande mesa de jantar.

– A general do Potter? – uma cunhada de Lúcio cuspiu em deboche e descrença – da família?

A família começou a rir, exceto por Narcisa e Lúcio que me olhava quase como quem vê um fantasma.

– Qual a graça?! – a voz rouca e forte do meu avô bradou. O silencio se fez enquanto ele adentrava a sala. Pijamas de seda, cabelos brancos despenteados e uma figura sem glória, sua respiração ofegante e a pele tomada por escamas e marcas da varíola de Dragão. – ela vai receber uma herança muito maior do que muitos de vocês, aí veremos quem vai rir.

– Vô. – eu larguei minha mochila no chão e fui até ele, eu não sei como eu tinha sequer cogitado não comparecer à casa dele. – céus como eu senti sua falta.

Ele me abraçou de seu modo rude e desajeitado, como eu me lembrava.

– Você garota – ele tossiu e desceu a bengala que estava atravessada em seu colo na minha cabeça – estúpida! Mulheres não deveriam ir à guerra! Tola, você ganhou a guerra, mas perdeu sua família, perdeu os últimos anos de seu velho avô, não pode ver Draco Crescer. Maldições como esse moleque choramingou quando você nos traiu, um maricas!

Eu quis argumentar, dizer sobre Harry e tudo pelo que lutei: pela libertação de Draco, mas poupei minhas palavras, em uma sala com dez sonserinos e apenas eu, eu certamente perderia esta discussão.

– Sinto por ter perdido meus últimos anos, sinto por ter deixado vocês. – eu disse baixo, mas tinha plena ciência do olhar de Lucio pesando em minhas costas. – se lhe conforta o espírito, eu também tive minhas dores.

– Diga minha jovem, você pegou a burrice dos Grifinórios? Hein?! – ele tossiu mais, seco doloroso, faíscas piscaram em sua garganta – Você acha que eu ficaria feliz com a minha garotinha sofrendo? Hein? Eu orei por você, mesmo quando você estava lutando contra os nossos, eu mandei que te procurassem, te trouxessem para casa a salvo. Mas não importa, o que importa é que você voltou, eu posso contar mais uma história para a minha netinha fácil de impressionar. E para o meu neto Maricas. Draco! Onde está você, você já deu um abraço à sua irmã? – eu então desviei os olhos do velho, e vi Draco se ajoelhar ao meu lado e me esfregar as costas rapidamente. O velho Abraxas apenas ergueu a sobrancelha, a idade o tinha tirado todo seu talento com palavras mansas, ele falava o que lhe vinha à mente, sem tato. Creio que a esta altura ele não ligasse mais para besteiras como essa. – Narcisa, você criou mal esses dois, foi uma mãe terrível eu devo dizer, se eu fizesse isso com meu irmão, pelos céus que meus pais nos colocavam um feitiço siamês até que tivéssemos nos entendido.

– Não é uma má ideia. – Narcisa disse não se ofendendo com palavras rudes e parecendo considerar a idéia.

Draco então me abraçou, ainda não era nada caloroso, foi um rápido envolver de braços.

– Hermione, quero que conheça a família. Aquelas duas bruxas agourentas e o homem com peruca, são meus irmãos. A mulher de grande chapéu é minha sobrinha bastarda, filha do meu falecido irmão mais velho. Você conhece Lucio e Narcisa – ele apontou por ordem o pequeno semicírculo ao seu redor – o homem ali no canto feito um urubu é o marido da minha irmã, o cavalheiro de branco é o meu outro cunhado, gentil, mas bobo demais. E por fim o primo mais velho de vocês, o homem de suspensório. Agora senhores, quero que conheçam Hermione Greengrass, criada como minha neta e incluída no cartório como uma.

– O que? Mas tio isto é loucura, ela é a general do Potter – o nosso priminho cuspiu o nome do mesmo jeito que Draco fazia – ela é...

– Minha neta! – o velho bradou, sua pele escamosa do pescoço brilhava de algo que ou era suor ou era muco. – Céus Benjamin, insulte-a nesta casa e eu o exilo desta família!

– O senhor está velho e caduco! – o homem de suspensório respondeu, nenhum Malfoy se moveu, mas eu esquecendo a etiqueta da família saquei minha varinha e apontei para o homem, minha melhor cara de poucos amigos – e ainda me ameaça?! – ele olhou incrédulo para mim que me pus entre ele e meu avô.

– Lutei em guerras, senhor, é melhor não dar mais um passo para perto dele, e cuidar muito bem o que vai dizer a ele na minha presença. – eu sorri internamente ao ver o homem cambalear um passo para trás. – Não quero dinheiro, se quiser eu passo o meu testamento para você, eu apenas vim por que meu avô me chamou.

– E querem me dizer que ela não é mais legítima do que qualquer um aqui? – senti a mãos ásperas de meu avô em meu pulso, baixando minha varinha. – Não, eu fiz este testamento há anos, quando soube que tinha entrado para a Grifinória. Na época eu não era um velho decrépito caduco, então meu testamento tem validade. Draco, conhaque, por favor.

Draco levantou-se e foi servir o conhaque, eu tentava matar o tal Benjamin com o olhar. Quando Draco trouxe-lhe o copo, o velho limpou a garganta e bebericou o fluido.

– Estão todos aqui pai. O que quer? – pela primeira vez ouvi a voz do meu pai, e senti um calafrio me percorrer a espinha, e eu tive uma leve lembrança do por que eu tinha cogitado faltar a esta reunião de família.

– Bom, a Varíola de Dragão me consumiu o corpo e está consumindo a alma. Meus pulmões estão secretando lava, que me queima por dentro, minha pele sempre dói e os remédios não adiantam mais. Eu tive uma vida longa, com um filho saudável e netos maravilhosos, está na hora do velho Abraxas se juntar a Dona Malfoy nos campos do Elísio. Eu devo morrer, amanhã de preferência, será lua cheia e eu quero partir com a bela imagem da minha família reunida sobre a lua.

Eu crispei os lábios, não estava pronta para perder meu avô, não estava pronta para ser abandonada mais uma vez.

– E quanto aos assuntos econômicos? – a mulher de chapéu grande que era irmã dele perguntou. Fiquei tão brava que quase levantei-me para socar-lhe a cara.

– Lucio assumirá está família, e depois quando for sua hora decidirá quem ficará em seu lugar: Draco ou Hermione. O cofre deve permanecer com seus tesouros guardados e os galeões de lá intocados. – o velho deu um aceno com seu cetro maciço e então ele se abriu e de dentro dele saiu um velho pergaminho enrolado. – É gozando de plenas faculdades mentais, que reparto em vida os bens para os membros de minha amada família. Para meu filho, o poder da família e 52% de todos os investimentos no mundo bruxo e trouxa e o terreno da sua mansão, assim como o terreno da minha mansão. Para Narcisa metades das joias de minha falecida mulher, as joias dos Malfoy, e as propriedades da família em Pantelleria – ele fez uma pausa e deu uma piscadela para minha mãe que torcia as luvas picava lágrimas para longe – Para Benjamin, meu sobrinho, eu deixo um milhão de galeões e a casa no campo, o terreno de cinco acres. Para cada um de meus três irmãos, Lázaro, Morgana e Gisele, deixo um milhão de galeões para cada um, e a liberdade para levarem objetos que lhes tenham significado nesta casa, com a benção e permissão de Lúcio além de 5% nas ações da família para cada um. Para a minha querida prima Tália Dheon que não leva o nome, mas sim o sangue dos Malfoy, 3% nas ações assim como um milhão e meio de galeões, o sítio no interior da Inglaterra e qualquer assistência que ela venha a precisa com futuros filhos, que deverão então ser incluídos no testamento recebendo cada um 2 milhões de galeões...

– Isto é injusto! – um dos cunhados, provavelmente o já citado urubu. O primeiro que tinha rido de mim quando eu cheguei.

– Calado Brad, você carrega nosso nome, orgulhoso, mas não tem nosso sangue. – o irmão de Abraxas, Lázaro disse ríspido.

– Exato. Bem onde eu estava... Ah, Os maridos, e eventual esposa de meu irmão recebem 500 galeões de ouro cada. – o cunhado de melhor coração e não tão espírito de porco suspirou admirado, claramente não esperando estar no testamento. O velho Abraxas sorriu – e para Steve, o homem de bom coração que tem cuidado muito bem da (cobra) da minha irmã, eu lhe presenteio com a minha coleção especial de gravatas.

– Senhor Malfoy, suas gravatas...

– Vejo que tem o mesmo gosto para gravatas do que eu, gostaria que cuidasse bem delas.

– Obrigada senhor. – ele sorriu e foi até o velho na cadeira de rodas, beijando sua mão. De repente eu me senti como em um dos meus filmes de máfia, e o velho Abraxas era o Don Vito em pessoa. E eu, seu cão de guarda.

– E agora, para o herdeiro legítimo dos Malfoy, aquele que vai levar o nome adiante. Draco Malfoy. Deixo-lhe minha coleção de barcos em garrafas e a minha coleção de chapéus, o relógio de cuco que você sempre amou e 15% nas ações da família, assim como acesso ao cofre de Gringotes, os imóveis da Londres Bruxa, os custeios da faculdade e três milhões de Galeões, e permissão para pegar qualquer objeto que queira desta casa sem prestar esclarecimentos a ninguém.

Draco assentiu, ele estava cabisbaixo e desanimado. O murmurinho começou, mas logo todos se silenciaram com o bater do cetro contra o piso de madeira.

– Eu não terminei – ele limpou a garganta e apertou os olhos no pergaminho – Para minha neta, que embora não tenha o meu sangue ou meu nome, conquistou meu coração, eu entrego cinco milhões de galeões, como pedido de desculpas de um velho que não protegeu sua neta. A garantia de custeamento de quaisquer cursos que ela queira, o livre acesso aos cofres da família, minha cristaleira vitoriana que ela tanto amava quando era pequena, seis imóveis já selecionados na parte trouxa de Londres e um imóvel que ela queira comprar no mundo bruxo, qualquer um que seja de seu gosto será bancado pelos cofres da família além de 15% nas ações...

– Mas isso é um absurdo! – as duas irmãs gritaram juntas.

– Ela é uma bastarda e terá tanto poder quanto nós três juntos! – se eu não me engano foi Morgana quem disse.

– Interrompam-me novamente, para questionar as minhas divisões e eu deserdarei o infeliz! E cortarei a língua do próximo que insultar minha neta, apenas eu posso fazer isso. – ele disse bravo – Além de seus pais, que também podem insultá-la, mas eu peço que não o façam na minha frente. – ele disse voltando a se concentrar no testamento. - ...15% nas ações e a outra metade das joias da família Malfoy, e a partir deste momento, se for de seu agrado, há uma papelada pronta para mudar ser sobrenome para Hermione Jean Greengrass Malfoy, e ela será tão legítima quanto qualquer outro da família, mas isso apenas se for de sua vontade. – ele levantou os olhos para mim, eu neguei com um aceno frenético, aquilo era demais, eu não era uma herdeira, eu tinha deixado de ser uma Malfoy por anos, aquilo me soava injusto, mas antes que eu falasse ele ergueu o dedo com um sorriso – E, deixo para ela, Toda a biblioteca Malfoy, assim como todos os meus manuscritos.

As palavras morreram em minha garganta e eu tive dificuldades para fechar minha boca, a família explodia em murmúrios revoltosos conforme ele encerrava o testamento lendo alguns amigos beneficiados, eu andei até ele e me sentei ao seu lado, ele sorriu, tranquilo, como costumava sorrir quando me lia livros. Draco sempre dormia, mas eu ficava acordada até o último ‘the end’.

– Abraxas Malfoy. – eu disse revirando os olhos – é muito.

– Draco. – ele chamou e logo em seguida o loiro estava ao seu lado. – Vamos para a biblioteca, eu tenho que conversar com vocês.

Seguimos pelos corredores de madeira e Abraxas foi enfático ao dizer que queria privacidade. Para um velho moribundo ele soava como um motoqueiro de 19 anos peludo e de jaqueta de couro.

Eu fechei a porta e lancei o Abaffiato enquanto Draco posicionava a cadeira do meu avô atrás da sua mesa. O escritório dele lembrava o escritório do meu pai Lucio.

– Querida, isso ainda é pouco. Não lhe dei mais, pois isso iria atiçar ainda mais nossos parentes gananciosos...

– Por quê? – eu disse me sentando na mesa em sua frente. – por que tudo isso, por que agora? É o que Draco costuma dizer, eu troquei a família por um estranho, eu não...

– Nunca. – ele me interrompeu – nunca diga que você não merece algo, me ouviu? – eu apenas acenei em silencio – A primeira vez que eu te vi, você tinha pouco mais de um ano, foi quando eu fui visitar o meu neto sem avisar e te vi. No inicio eu fui como eu era até então: preconceituoso, bruto, ignorante, quase um animal, eu gritava com Lúcio e com Narcisa que tentavam se explicar, Lúcio com você no colo, como uma leoa protege a prole e Narcisa segurando Draco que se assustou e começou a chorar, mas eu não dava chance, você sabe o que me fez mudar de ideia?

Eu neguei com um aceno.

– Você jogou um chocalho no meio da minha cara. – ele disse rindo – você viu que eu estava assustando Draco e nem pensou duas vezes antes acertar aquela coisa bem na minha cara. Eu te olhei com o meu melhor olhar de mau, mas você não chorou, não emitiu um som sequer, apenas me desafiou com esses lindos olhos grandes.

Ouvi então Draco dar uma risada, como se esquecesse que estava – por algum motivo – bravo comigo.

– É a cara dela fazer isso. – ele disse afastando a franja platinada do rosto sentando-se na estante perto de onde estávamos.

– Imagine! Eu era Abraxas Malfoy, ninguém jogava chocalhos na cara de Abraxas Malfoy. O tempo passou e eu comecei a visitar vocês, Draco era uma porta de tão idiota, garotos são meio lentos para se desenvolverem...

– Ei. – Draco protestou.

– Mas você, você era tão inteligente, e não falava uma palavra sequer, se comunicava com os olhos. – ele disse sorrindo nostalgicamente – até que um dia você e Draco estavam em Pantelleria, tomando banho de mangueira, e eu vi pelo seu corpo, todas as marcas... Ah, o horror que me causou quando eu soube que pessoas que eu tinha como nobres, como elite, tinham feito isso com você. Você sabe seus pais...

– Não. – eu interrompi – eu não quero saber. Eu fiz uma promessa a meu pa... Lucio que não procuraria saber. Por favor, não me conte.

Meu avô me analisou por alguns instantes e prosseguiu com um longo suspiro.

– De qualquer modo, eu estava velho, doente, e quando se está perto da morte, você começa a revisar seus conceitos, suas verdades. Eu tinha proibido dar o sobrenome à você, e era tarde demais para isso. Eu soube dos horrores que tinham te acontecido, e dos horrores que iriam acontecer quando o Lorde das Trevas retornasse, e com o passar dos anos todos os meus medos tornando-se realidades e a minha netinha caindo nos mais horríveis horrores do mundo. Eu não sonhava mais com Lúcio sendo o segundo no comando para o Lorde, nem na glória que nossa família cairia, eu apenas me preocupava com a sua segurança. Eu estava doente e Lucio tentava te afastar dos Malfoy para te dar uma chance de ter uma vida o mais perto do normal possível. Foi aí que eu escrevi o testamento. E quando eu escrevi o que eu deixaria para você, eu me dei em conta de como eu te amava, e de como o sangue não importava para mim. Como o sangue não importa, pois independente das suas diferenciações há um mal irremediável que une todos os seres vivos no mesmo patamar. Morte. Pois independente de sangue, riquezas, amores, tudo que é vivo morre. Eu quis mudar a nossa família, e você vai ser o primeiro pilar, um dia você poderá exibir seu sangue com orgulho e ensinar a todos, como você ensinou a mim, que no fim tudo isso é uma grande bobagem. Eu peço, por favor, que aceite. É meu último desejo.

Eu mordi o lábio em dúvida, eu não queria aceitar, mas o velho era bom com as palavras.

– Seu chantagista barato – eu disse rindo.

– Você deveria aceitar. – Draco murmurou sem olhar pra mim. meu sorriso diminuiu e eu encarei meus sapatos.

– Aceito os bens, mas eu vou recusar o sobrenome. Eu me acostumei assim desde pequena.

Mas então me veio à mente quando Draco disse que se casaria comigo, quando éramos pequenos, e prometeu que eu seria uma Malfoy. Por alguma razão, se fosse assim, eu não veria problema nenhum em aceitar o sobrenome.

– Sua vontade será respeitada. Então, depois da minha morte amanhã, dentro de alguns meses você será uma das jovens bruxas mais ricas da Inglaterra, como se sente?

– Normal, tenho tantas provas e matérias que nem vou ter tempo para gastar esse dinheiro. – eu sorri – isso vai acabar para os meus filhos, ou quem sabe eu construa um hospital, ou invista em pesquisas – eu disse sonhadoramente.

– Bom, vamos voltar para a sala, vamos jantar, antes que eles comessem a devorar uns aos outros. – Abraxas disse se esticando, sua pele escamosa com algo parecido com pedra nas articulações.

– Vô. – eu disse antes de sairmos.

– Sim.

– Eu não sei seu eu deixei isso claro, mas eu te amo. Independente de sangue ou do tempo, eu te amo e vou sentir muito a sua falta.

– Minha pequena Espoleta, qualquer pessoa que puxe uma varinha para me defender em uma sala cheia de Malfoys, prova seu amor por mim.

***

Eu estava quieto, apenas observando Hermione e meu avô em seu momento meloso. Era estranho ver dois seres tão durões se derreterem na sua frente. Eu não consegui manter meu ódio e raiva por ela, quanto mais meu vô falava, mas eu sentia falta dos nossos velhos tempos, de quando eu era tão ingênuo que beirava a burrice e eu realmente achava que eu fosse morar na praia com ela. Ela foi indo na frente, recuperou a mochila dela e seguiu com Narcisa até o quarto onde ficaria. Provavelmente o antigo quarto dela, o velho Malfoy não tinha deixado mexer em nada.

– Draco, o que aconteceu entre vocês? – meu vô perguntou enquanto eu o colocava na ponta da mesa e me sentava do seu lado esquerdo.

– Somos diferentes demais.

– Draco, meu neto, você já foi lamber sabão? – meu avô disse ajeitando o guardanapo em seu colo – eu sugiro que vá. Hermione ficou com os colhões dos Malfoy, e você virou um maricas.

– É complicado.

– Descomplique.

– Eu a amo. – eu disse pela primeira vez em voz alta. Eu nunca sequer tinha me permitido pensar isso, mas assim que eu disse senti o nó em minha garganta – eu a amava, não amo mais. Não vou mais.

– Ah meu jovem, não seja tolo...

– Não vô, eu passei a minha vida sendo apaixonado por ela, ela me abandonou, ela tem um namorado, eu magoei ela, nós só conseguimos fazer isso: nos magoar. É melhor assim

– Como queira. – ele deu de ombros – mas no dia em que ela estiver entrando no altar, caminhando para você, você vai pensar: Ela parece um anjo. E neste momento você vai lamentar não ter dado ouvidos ao seu velho avô mais cedo, lamentar-se ter perdido tempo. Eu já os congratulo agora, vou escolher um presente de casamento... Isso! um presente póstumo, vão dizer que eu era um profeta. – ele disse rindo perdendo o foco.

– Certo seu Malfoy. – eu disse sorrindo. E algum tempo depois Hermione e minha mãe desceram, Hermione estava com um vestido da minha mãe, esplêndido. Ela agora parecia qualquer um dos Malfoy presentes na mesa, os cabelos ajeitados e os olhos cansados.

O jantar se passou bem, algumas discussões e uma tosse do vovô que queimou a toalha rendada a mão pela minha bisavó, mas fora isso, tudo certo. Tudo certo até a ideia brilhante do meu avô de ler uma história para nós, como nos velhos tempos que me fez revirar os olhos. Hermione parecia genuinamente empolgada.

Fomos para o meu quarto que tinha uma cama de casal. Meu vô ficou na cadeira de rodas, com o livro nas mãos, eu encostei-me à parede atrás da cama, Hermione se esticou de bruços aos pés da cama. Meu avô contou a história de James, o orgulhoso. A história de um bruxo orgulhoso que não pedia ajuda e só consegue resolver o conflito – gerado pela falta de conversa – do enredo e casar com o seu amor depois de dizer tudo aquilo que sentia. Era uma das histórias prediletas de Hermione, já eu apenas estava ali por que meu avô tinha pedido como “seu último desejo”. Velho chantagista.

Hermione bocejava quase dormindo, e meu avô passava suas mãos rapidamente pelos seus cabelos. Eu sorri meio sem saber por que.

***

– Hermione. – alguém chacoalhou meus ombros. – vamos, está na hora.

Abri meus olhos e vi Draco, de costas saindo do quarto. Levantei-me e esfreguei meus olhos, a lua estava alta no céu e uma brisa agradável soprava pela janela, era a primeira vez que Draco não dormia em uma das histórias do vovô e eu sim. Draco finalmente se foi, mas eu permaneci olhando para a porta por incontáveis minutos. Eu tinha adormecido no colo do meu avô como antigamente. Quando Draco saiu? Um pensamento bobo imaginou ele me olhando dormir.

Por que ele estava tão frio comigo?

Eu realmente não estava pronta para me despedir, nem de Draco, nem do meu avô. Ele era o único Malfoy, além de minha mãe, que na verdade era uma Black, que me aceitava de fato. Ele tinha me procurado durante a guerra, disse que quase matou Lúcio quando soube o que tinha me acontecido naquela mansão. Ele me amava, e eu tinha perdido meus preciosos anos longe dele.

Minha garganta se fechou e eu quis muito chorar, mas sabia que não tinha esse direito. Ele estava sofrendo, ele queria parar de sofrer, eu iria apoiá-lo, deixá-lo ir com um sorriso no rosto. Eu teria bastante tempo para chorar pelos Malfoy depois.

Fui até meu espelho atrás da porta e arrumei como podia o meu curto cabelo. Minha maquiagem ainda estava boa, e o vestido levemente amassado. Respirei fundo e coloquei a minha mascara de força. Saí do meu quarto e fui até a sala onde todos os Malfoy estavam. Meu avô estava sentado na sua cadeira, e apagava displicentemente um de seus espirros com a manga da camisa. Ele estava vestido formalmente, com um lindo traje verde com fios de platina, abotoaduras lindas, escuras, com o brasão dos Malfoy, a serpente enrolada em um pomposo M.

– Finalmente a bela adormecida! – ele disse revirando os olhos – isso é um evento de morte, atrase-se no seu casamento.

– Perdão, avô. O senhor está muito bonito.

– A coisa boa de escolher quando se morre, é ter tempo para organizar o seu funeral. Sua mãe teria me vestido com um dos meus smokings sem graça e essa belezinha aqui ficaria como coadjuvante no evento do ano... Esse colete vai para Lúcio depois que eu morrer, mas hoje, ele ainda vai enfeitar o velho Ab.

– Avô. – eu ouvi Draco falar e me calei. Nenhum daqueles urubus me intimidava, nem mesmo Lúcio, mas quando eu olhava Draco, simplesmente tinha vontade de me encolher. – o senhor não pode repensar sobre tudo isso?

– Neto, eu tenho 109 anos. Está na hora do seu velho... E parede ser um maricas, Hermione deveria fazer essa cena, não você.

Draco revirou os olhos e soprou uma risada. O velho Abraxas dirigiu-se para fora da mansão, um extenso jardim mais belo que a Mansão Malfoy, com um lindo lago que eu e Draco costumávamos tomar banho.

Eu me aproximei dele e ajeitei seu lenço e seu colete, arrumei seu ralo cabelo e passei o dedo lambido sobre suas sobrancelhas.

– O velho Abraxas tem que deixar esse mundo do mesmo jeito que chegou. – eu disse sorrindo.

– Chorando, pelado e cheio de sangue? – ele disse debochado.

– Fabuloso, charmoso e encantador. – eu disse sorrindo, meus olhos ardendo como o inferno segurando as lágrimas. – não se preocupe, Draco e Lúcio vão cuidar muito bem da família.

– Prometa que vai cuidar deles. Se depender daqueles dois eles se devoram no café da manhã. Lúcio sempre foi terrível, ele não pôde crescer com uma Hermione lhe dando limites. Ele vai lhe dar trabalho, mas prometa-me que terá paciência.

– Prometo. – eu disse sorrindo e o abracei. Ele tinha um cheiro de maçã parecido com o de Draco.

– Aqui. – ele disse então mexendo em seu pulso e desamarrando um cordão verde escuro com uma pequeníssima pedrinha preta. – sua avó me deu isso, uma pedra de um vulcão na Itália. Não é raro, nem tem qualquer valor importante, mas eu queria que você desse isso para Draco quando vocês ficarem juntos. – ele então amarrou o cordão em meu pulso, a bruta pedrinha tão simples. – é o meu maior tesouro.

Instintivamente levei meus dedos até o colar em meu peito. Um dia eu daria esse colar a minha neta, antes de morrer, e contaria a historia dele e confiar-lhe-ia meu mais preciosos tesouro? Tive medo que não. Talvez o colar morresse comigo.

– Vou realmente sentir sua falta. – eu disse sorrindo. – das suas histórias. Nenhum cafuné nunca será tão bom quanto o seu.

– Céus, você deveria ser a neta menos maricas. – ele disse sem jeito. Malfoys não são bons com carinho. – você sabe que eu te amei e amo muito. Sinto muito por não ter dito isso mais vezes.

Eu apenas sorri. Outros parentes se despediram, e aparentemente, suas irmãs não eram de todo mau. Lázaro, seu irmão mais novo, parecia de fato devastado. A de chapéu chorou de verdade eu diria. Benjamin o nojento disse quaisquer palavras as quais meus avô sutilmente respondeu com: Ah, vá cagar!

Narcisa deixou algumas lágrimas escaparem e meu avô a abraçou e ameaçou vir assombrar Lúcio caso ele fizesse sua ‘amada nora’ derramar qualquer outra lágrima que não de felicidade.

Lúcio parecia que nem me vira ali, quando foi falar com o pai, trocou palavras cochichadas, olhos baixos, e pedidos de perdão de ambas as partes. Não ouvi a conversa dos dois inteira. Mas ouvi a declaração de amor entre pai e filho, Abraxas estapeou Lucio umas duas vezes e acertou-lhe a cabeça com sua bengala. No fim Lúcio beijou o rosto escamoso do pai.

Abraxas deu-nos ainda quadros com retratos mágicos dele, não degenerado pela Varíola de Dragão e sim robusto, e corado, como em minha infância, com seu belo colete verde musgo com fios de platina. Um para cada um, exceto para mim e Draco que recebemos um compartilhado.

– Eu passei muito tempo com o quadro de vocês e o de Lúcio. – ele segredou a mim e a Draco – não será a mesma coisa que a minha brilhante presença, mas eu serei capaz de xingar Draco quando ele não se comportar e continuar contando algumas histórias para os meus bisnetos.

Eu sinceramente não sei como não me debulhei em lágrimas. Acho que foi por Draco, ele estava tão miserável que esqueceu sua máscara de frieza e apenas abraçou o avô por longos minutos. Aquilo me fez querer ser forte por eles.

Tiramos uma última foto em família, todos juntos, e depois uma com Lúcio, Narcisa, Draco, eu e o Velho Abraxas. Quase sorridente no meio. Quase.

E então, finalmente, quando o relógio badalou meia noite, meu avô encarou a lua e tomou a poção que o adormeceria para sempre. E com um sorriso de alívio no rosto ele se foi, agarrado aos dedos de Draco e Lúcio seu aperto se desfez enquanto lágrimas de seu filho e neto rolavam e ele dava seu último suspiro:

Dois grandes... Maricas.

E foi assim, na mais estrelada noite do mundo bruxo, com a mais bela lua que meu avô morreu; insultando seus descendentes, com um sorriso de plena paz nos lábios, enquanto a brasa da mucosa de sua boca se extinguia aos poucos.

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Notas finais do capítulo

Por hoje é isso mesmo. AMANHA TEM MAISSSSSS