Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Acho que demorei menos tempo pra postar esse. Espero que esteja bom, e acho que ficou um pouco longo. Enfim, boa leitura!



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Laura olhava para as pontas do cabelo que estavam soltas no final de sua trança. O cabelo estava desarrumado e ela não se importava. Mal tinha conseguido dormir, apesar de estar realmente cansada. Teve um pesadelo terrível, onde estava sentada sozinha, com as pernas presas à uma cadeira, numa sala escura enquanto tentava fazer uma prova muito difícil de matemática com uma goteira insistente, pingando água gelada em sua cabeça, molhando toda a folha de questões. Depois, Laura passou a ouvir gritos que vinham do corredor, e o barulho de alguma coisa caindo, depois passos apressados, algumas piscadas na luz fraca e de repente, ela acordou. Tinha sido realmente apavorante.

Ela e Catarina estavam sentadas em um banco, no pátio do colégio, aproveitando o intervalo observando o movimento e conversando sobre coisas bobas. Laura se sentia um pouco incomodada pelo fato do cabelo estar preso numa trança mal feita, e por as pontas no final dela estarem mais rebeldes do que nunca.

Laura quase perdeu o horário naquela manhã, visto que estava mais sonolenta do que nunca, e por achar que tinha tudo sob controle quando parou para uma conversa rápida com Skylar, sobre o fato de que eles poderiam assistir algum filme quando ela chegasse do colégio, e que ele poderia sair do “cárcere” assim que seus pais saíssem de casa.

– Laura, você está tão esquisita. – Catarina interrompeu seus pensamentos aleatórios sobre dormir e sobre ter um extraterreste em casa.

–Ah? Ah tá.

– Você nem reclamou sobre termos ido comprar nossos ingressos antes da aula começar. E nem quando me irmão fez uma piada comparando o seu cabelo com um personagem de uma série.

– Ele sempre faz isso, não é? Ele fala de você também, arruma apelidos, é coisa de Henrique. E depois, eu teria de ir à festa de uma forma ou de outra, não é mesmo? Nem que você precisasse ir até a minha casa, me empurrar da minha cama quentinha e me arrastar de pijamas até o salão.

– É, eu faria isso mesmo. E meu irmão é um idiota.

Laura deu um sorrisinho como canto da boca. E voltou a encarar as pontas do cabelo. Catarina era uma boa amiga. A única que a acolhera de verdade no novo colégio, inclusive oferecendo carona, já que a mãe dela sempre passava pela rua de sua casa. As duas se tornaram próximas, já que ambas não possuíam muitos amigos, os que tinham, eram daqueles que se veem algumas poucas vezes. Já tinham ido algumas vezes no cinema, mesmo que os filmes se demostrassem insatisfatórios (mas depois rendiam boas piadas internas) e também já tinham passado algumas tardes perambulando pela cidade, quando não tinham nada mais importante pra fazer.

Catarina era também muito sincera e compreensiva com Laura. E dividia com ela seus pensamentos sobre o mundo, mesmo que na maioria das vezes parecesse infantil, a ponto de sair no tapa com o irmão mais velho. Por isso, desde aquela manhã, Laura estava achando que estava sendo injusta com a amiga. Injusta no sentido de estar se mostrando tão mal-humorada nos últimos dias, por ter copiado a lição de casa dela, e por responder que estava tudo bem sempre que a garota lhe perguntava se estava tudo bem.

Mas ela simplesmente não podia contar o que estava acontecendo, podia? Ela suspirou e largou o rosto suspenso nas mãos.

“Catarina talvez me contasse... E eu, sem dúvidas a acharia uma biruta, louca.”

O sinal tocou estridente, e as meninas se entreolharam frustradas. As próximas duas aulas seriam na sala de vídeo, onde teriam de assistir um documentário pouco atraente sobre vermes parasitas, para a aula de biologia, onde depois teriam de responder um questionário sobre as doenças transmitidas por esses seres.

***

Laura chegou em casa quase correndo. As roupas um pouco molhadas por causa de uma chuva repentina que a apanhara á meia quadra de casa. Abriu a porta e largou a mochila no chão, abrindo-a e retirando todo o material, só para ter certeza de que estavam secos. Largou tudo no sofá da sala e depois resolveu procurar Skylar.

– Skylar?- Chamou-o um pouco baixo, passando pelos corredores.

Nenhum sinal do garoto. Subiu as escadas que levavam ao sótão. Passou a mão pelo trinco. Estava aberta. Antes de escancarar a porta, resolveu chamar novamente.

– Skylar? Eu já cheguei.

–Olá.

A garota deu um sorrisinho e empurrou a porta. Skylar estava sentado no sofá, vestindo a camiseta velha se seu pai, aquela das Cataratas de Foz do Iguaçu e uma calça de moletom, lendo um gibi. Era um dos favoritos de Laura.

– E aí? Se divertiu hoje?- Laura quis saber. Depois se arrependeu, afinal, como alguém que se perdeu e não se lembrava de nada podia estar se divertindo?

– Ah, sim. Não é como aquele livro que você me emprestou, mas é divertido sim.

Skylar fez um movimento com a cabeça, mostrando a pilha de gibis que ele provavelmente já tinha lido naquela manhã. Laura se sentiu um pouco melhor com a resposta do garoto, e ficou quieta por um tempo ouvido o som das gotas contra o telhado e a janela.

– Almoço. Nós precisamos de almoço. Você deve estar cansado de me ver dizer que estou com fome.

Skylar fechou o gibi, que aparentemente havia terminado e deu um sorriso para Laura.

–É, eu também sinto fome. - Disse o garoto.

***

Laura estava procurando algum filme, já que ela havia prometido a Skylar que eles poderiam ver um filme naquela tarde, ele concordou é claro, e a garota teve a impressão de que ele nem sabia do que se tratava.

Passou os dedos sobre os títulos. Alguns eram épicos, cheios de cenas de batalhas, outros eram desenhos infantis, que ela fizera os pais comprarem quando era pequena. Alguns dramas policiais e outros românticos, para os quais ela fez uma careta. Encontrou um que ela julgou perfeito.

Era um filme que mostrava as aventuras de um grupo de arqueólogos que tinham descoberto um tesouro absolutamente incrível e precisavam correr contra o tempo para não deixar que este caísse em mãos erradas. Típico das melhores sessões que os canais poderiam exibir no período da tarde.

– Ah, Skylar? Lembra quando eu te disse que as pessoas criam algumas coisas para se divertirem? Tipo, aquela série de ontem, com as explosões? E os gibis que leu hoje?

Skylar que estava em pé, perto da janela da sala a encarou.

–Então... Esse filme é igual. Quero dizer, foi criado para a diversão. Não é uma coisa real, ou seja... essas pessoas filmaram isso para que outras pessoas se distraíssem.

– E esse tem explosões e algumas outras coisas parecidas?

– Tem. Mas nada tão impressionante como as de ontem, ok?

Assim que o filme começou a rodar, Skylar pareceu absorto, olhando para a tela da televisão. Laura, que por sua vez já tinha assistido àquele filme inúmeras vezes, não prestava muita atenção, e então começou a se lembrar do documentário nojento que tinha assistido. Contorceu as feições e resolveu pensar em outra coisa, enquanto o filme ainda estava em uma de suas partes mais monótonas. Lembrou-se de que Catarina tinha implorado para que fossem na tarde seguinte ver se encontravam alguma roupa para a tal festa. Meio a contragosto, Laura tinha aceitado, mesmo sabendo que aquilo poderia levar uma eternidade. Depois, se lembrou de que precisava dar um jeito de escapar da amiga cedo, pois devia voltar para casa para saber como Skylar estava. Laura se encolheu um pouco no sofá, lembrando que também precisava ajudar o garoto com alguma coisa, alguma coisa do tipo o que o fizesse se sentir melhor e que melhorasse os problemas com a memória dele.

Deu um suspiro, e resolveu prestar atenção no filme, que daria uma guinada na história naquele exato momento.

***

– Fiquei feliz pelo fato de terem conseguido proteger os artefatos daquelas pessoas más. - Skylar disse enquanto Laura apanhava mais uma caixa repleta de gibis e livros de literatura de dento de seu armário.

– Sabe que eu também?- Ela disse divertida.

O filme não era longo, durava um pouco mais de uma hora.

Skylar deu um sorriso leve, e passou a observar a estante do quarto de Laura. A garota tinha uma porção de coisas nela: Livros didáticos, de literatura, um quadro com várias fotos pequenas espalhadas... Skylar se aproximou e ficou encarrando as fotos.

Numa delas Laura estava na companhia dos pais, e outras pessoas sentados em uma mesa com um bolo de aniversário enorme. Em outra, a menina estava acompanhado por outra garota, usando o uniforme do colégio. Era Catarina, obviamente. Em outra Dom estava sendo esmagado pela a garota num abraço carinhoso.

Laura parou em frente a janela e ficou encarando o bosque perto dali. Deu um suspiro e ficou tentando imaginar como Skylar estava conseguindo enfrentar tudo aquilo.

“Se pelo menos eu fosse algum tipo de gênio da ciência eu já estaria trabalhando num jeito de fazê-lo voltar para casa. Ele provavelmente estaria bem mais feliz.”

Era uma coisa que a incomodava bastante, mas tinha que voltar ao assunto.

–Skylar... – Laura começou com a voz firme e determinada, mesmo que estivesse nervosa. – Você quer ir até lá?

O garoto que estava de costas para ela a fitou surpreso.

– Até o bosque...?- Laura segurava o tecido da cortina, fazendo com que ele se amassasse um pouco.

***

Pouco menos de dez minutos depois os dois já haviam passado pela cerca em mal estado, e estavam a caminho da Tempestris IV. Laura encarava os pés que estavam quase invisíveis graças ao gramado alto e pelas ervas daninhas que se enroscavam em suas pernas, a vegetação ainda estava um pouco molhada, devido à chuva. Skylar ia ao lado dela, sem dizer uma palavra desde que saíram pelo portão da casa da garota. Quando finalmente pararam em frente à porta do estranho “veículo” ( Pelo menos para Laura) , Skylar passou a frente da menina, que deu um suspiro ao vê-lo entrar pela porta e depois fez o mesmo.

Os olhos de Laura doeram um pouco ao entrar na Tempestris IV devido ao branco presente no local, um contraste e tanto se comparado ao céu cinzento daquele dia. A menina levou alguns segundos para se acostumar com a claridade. Skylar estava com uma expressão calma, os olhos mais azuis do que Laura se lembrava.

A menina desviou a atenção do garoto e olhou para o alto, observando os pontos brilhantes no teto da Tempestris. E ficou parada ali, assistindo os pontos se movimentarem. Skylar se aproximou dela, e passou a fitar o teto também.

– É um mapa, não é mesmo?- Ela quis saber.

Laura deu uma olhada por cima dos ombros com o cantinho dos olhos. Skylar era realmente alguns centímetros mais baixo do que ela.

– É. É um mapa estelar. – Skylar devolveu a olhada com o canto dos olhos. Para ele, Laura pareceu ligeiramente mais alta e um pouco mais animada do que minutos antes, mesmo que ele não entendesse os motivos de tudo isso.

Laura caminhou alguns passos, parando em frente ao painel no qual tropeçou no dia em que encontrou Skylar. Depois ficou imaginando para o que serviam tantos botões. E pensou também que deviam ser bem complicados de se usar. Laura tinha até dor de cabeça só de pensar na quantidade de comandos teria de aprender dali a dois anos, quando finalmente tivesse idade suficiente para dirigir. Foi aí que começou a pensar que idade teria Skylar já que podia dirigir/pilotar aquela coisa.

– Ah... Skylar? Desculpa te perguntar... mas... quantos anos você tem?

O garoto encarou Laura, com expressão confusa por alguns instantes. Depois pareceu pensar.

– Quantos dias em um ano a Terra tem mesmo?

– 365 dias normalmente, exceto nos anos bissextos. Que acontecem a cada 4 anos, e nesses anos temos 366 dias. Faltam dois anos pra isso acontecer.

Skylar contorceu as feições, colocando uma das mãos no queixo, e Laura ergueu uma das sobrancelhas.

“Considerando que em Gliessium Alfa o “ano” como era chamado na Terra possuía exatamente 377 dias terráqueos, tenho 16 anos e quatro meses.”

– 15 anos e 11 meses.

Laura arregalou os olhos. Skylar fizera tudo àquilo de cabeça, coisa que ela nunca se imaginou fazer. Depois analisou a idade do garoto, quase a mesma que a dela, exceto por alguns meses.

– Sou mais velha então, tenho 16 anos e três meses. - Laura cruzou os braços, deixando que seu rosto ganhasse uma expressão meio mandona, mesmo que parecesse divertida com a situação.

A garota marchou até o meio da Tempestris e depois fez uma cara de decepção.

– Mas mesmo assim eu não posso dirigir ou pilotar, como preferir chamar. E mesmo que eu pudesse não sei se o faria com tantas coisas do tipo para aprender. - Laura apontou os dedos para todas as direções da Tempestris.

Os dois começaram a rir.

– Não é tão difícil. Só precisa prática.

–Vai me dizer que é igual a andar de bicicleta? E que é uma coisa que nunca se esquece e coisas do tipo?

– É mais ou menos... o que é uma bicicleta?

***

Laura tinha passado uma tarde até divertida com Skylar, mesmo que estivesse totalmente preocupada com a situação do menino. Aprendera algumas coisas sobre o mundo dele, pelo menos do que ele se lembrava. Agora ela sabia quantos dias Gliesse 667 c tinha em um ano e também que lá as pessoas podiam pilotar a partir dos 14 anos terrestres. Para Laura isso era realmente estranho. O garoto lhe contou também um pouco sobre se como se localizar através das estrelas e até se lembrou de uma historinha que ele ouvia quando criança, que era sobre um menino que queria pegar estrelas e guarda-las nos bolsos e por mais que tentasse não as alcançava. O que lembrou Laura vagamente das fábulas que sempre ouvia ou lia quando era menor.

No momento ela estava descendo as escadas que levavam ao sótão, e indo em direção ao portão, esperando pela mãe, que chegaria em instantes.

Skylar estava novamente trancado no sótão, com uma nova pilha de gibis e livros para ler. Mas naquele mesmo minuto ele espiava pela fresta da cortina Laura sair pela porta da casa e ficar andando de um lado para o outro pelo jardim da casa. Dom estava no colo da menina, e parecia bem à vontade, até o momento em que ela o soltou. Depois disso, ele pareceu reclamar, pulou para o muro e passou a lamber uma das patas peludas. Laura se virou e olhou em direção ao sótão e viu que Skylar espiava por um pequeno espaço através da cortina. Deu um sorrisinho e depois colocou as mãos na cintura, como se o advertisse. Skylar retribuiu o sorriso e depois fechou a cortina por completo, sentou-se no sofá e puxou um dos gibis. Em pouquíssimo tempo, Skylar ouviu um ruído do lado de fora. Provavelmente eram os pais de Laura chegando, como nos dias anteriores, e então, o menino voltou a se concentrar na história em quadrinhos.






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Notas finais do capítulo

É isso aí por enquanto, vou agilizar os próximos antes que minhas férias acabem de vez. :)



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