Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Peço mil desculpas pela demora, tive alguns contratempos durante o semestre na faculdade, sem contar as incertezas sobre os rumos da história, mas agora eu pretendo retomar a fic e me dedicar à ela.

Quero muito agradecer a nicolaslanzoni por todos os comentários na história e pela recomendação, coisas que por acaso me deixaram muito feliz.



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“Skylar Yoav”- Laura achou que aquilo tudo muito surreal. Mas também sabia que era verdade, pois há dois dias ela tinha mesmo ouvido uma explosão, e no dia anterior encontrado o garoto mais esquisito que já tinha visto (com a exceção talvez, do cara que ela sempre via no ponto de ônibus, com os cabelos desarrumados e que parecia desconfiar de tudo).

Ela ficou calada por algum tempo, tentando processar tudo. Skylar ainda estava encarando-a com uma expressão curiosa, enquanto a garota observava as pontas dos pés, calçados com as pantufas fofas e com garras de urso. Depois de pensar em o que dizer sobre tudo aquilo Laura deu um longo suspiro e finalmente se dirigiu à Skylar.

–Isso tudo é realmente louco. E incrível. – Laura agarrou as próprias pernas e passou a se balançar.

O garoto a sua frente franziu a testa e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompido por Laura, que largou as pernas e jogou as mãos para o alto.

– Você sabe o que isso tudo significa? Tipo, somos tão diferentes, quero dizer, o lugar de onde você vem, e veio cair logo aqui... e qual era a chance disso acontecer? Meu Deus. Eu não sei mais o que dizer...

Laura teve vontade de falar tudo o que queria dizer, mas então se calou novamente, colocando as mãos sobre a boca, sentindo o coração se chocar contra o peito, de forma quase dolorida, assimilando o impacto que tudo o que estava acontecendo.

Não faço ideia. - O garoto disse quase num sussurro.

***

Laura abriu as cortinas da janela do sótão, deixando que a luz entrasse e iluminasse todo o recinto. Empilhou os gibis que retirou do sofá sobre a mesa, e apanhou um dos brinquedinhos que ganhara quando pequena naquelas embalagens de chocolate.

O garoto estava sentado no chão, encostado no sofá, lendo o livro de História de Laura.

– Você gostou mesmo desse. - Ela disse enquanto dava corda no cachorrinho marrom, colocando-o no chão e imediatamente ele saiu andando pelo sótão, parando antes do sofá.

– História, é muito interessante. Eu gosto de entender porque algumas coisas aconteceram, de saber o que as sociedades foram e fizeram...

“Ele é um nerd dos estudos.”- Laura pensou enquanto batia os dedos das mãos sobre a mesa.

– Eu precisei dele hoje, no colégio. - A garota comentou de maneira despreocupada.

– Me desculpe... - Skylar pareceu constrangido.

– Sem problemas, eu consegui um emprestado.

– Você vai até lá todos os dias?

Laura se sentou sobre mesa, olhou pela janela e viu Dom se espreguiçando na calçada, antes de se virar e responder ao seu hóspede, um tanto quanto incomum.

– É. Cinco dias na semana, que mais parece durar uma eternidade. E fico dois dias no fim de semana em casa, no sábado fico sozinha durante o dia, e no domingo meus pais estão em casa, e geralmente fazemos “almoços de domingo,” com frango assado, maionese ou alguma outra coisa do tipo.

–Parece bom.

Laura deu uma risadinha afetada, e depois, resolveu perguntar. Ela precisava saber mais. Muito mais.

– E você...? Quero dizer, o que você faz? Consegue se lembrar?- Perguntou cautelosamente.

O garoto fechou o livro de História, no qual ele não parecia mais prestar atenção há pelo menos dez minutos. Olhou para um ponto fixo na parede à sua frente, e pareceu se perder por alguns minutos.

– Eu também tinha de ir para a aula. Seis dias. Às vezes eu ficava alojado, só voltava para o lar nas cessações. Nas cessações me lembro de um jogo, alguma coisa bem boba, mas divertida. Não me lembro com quem ou as regras, apenas que era bom.

Laura se sentiu incomodada, pois o garoto estava com um problema, que não o deixava se lembrar claramente das coisas, e isso parecia bem frustrante para ele.

– Eu não sei por que, mas não me lembro. É difícil, são fragmentos confusos e soltos. Me lembro do meu nome, de onde eu sou, me lembro de estudar, mas não me lembro de nenhum rosto claramente, nem de outras coisas concretas.

Laura encolheu os ombros, e o garoto passou a fita-la com aqueles olhos azuis brilhantes que Laura julgava ao mesmo tempo bonitos e assustadores.

– Eu sinto muito. Eu queria ajuda-lo. Mesmo, eu juro. – Suspirou e passou a balançar as pernas no ar.

– Você já me ajudou. Eu fico muito grato pelo o que fez, Laura. Você realmente é muito nobre...

– Não imagina o quanto eu posso ser horrível às vezes. Ao ponto de não querer me levantar e ir ao colégio, ou simplesmente me recusar a fazer ou a aceitar algumas coisas. - Laura riu baixinho e se levantou da mesa.

– Não posso imaginar mesmo. –Skylar pareceu confuso, unido as sobrancelhas.

Laura pareceu não ligar para o comentário do garoto, apenas se dirigiu para o meio do sótão, olhando para o teto, e pensando no que deveria fazer. Ela precisava ajuda-lo. Não poderia simplesmente manda-lo pegar um táxi para o seu planeta, galáxia, seja lá o que for. Também não achava justo manda-lo de volta para a tal Tempestris alguma coisa, sem ao menos saber como ele poderia ficar bem lá.

Imaginou também na reviravolta se alguém descobrisse a verdade, afinal, era uma coisa surpreendente, há muito se especulava a respeito de alguma coisa dessas acontecer. E a chegada do garoto era um rompimento de uma fronteira, um marco. E também um risco. Foi o que Laura considerou, depois de alguns segundos de imaginando tudo o que poderia acontecer, desde ter a casa cercada por curiosos, repórteres e cientistas e até mesmo o exército.

– Skylar... - Laura começou, um pouco receosa. – Eu vou te ajudar. Você pode ficar aqui na minha casa, o tempo que precisar para se recuperar... Eu só não sei direito se devo contar aos meus pais. Não sei se eles entenderiam, é que... é uma coisa realmente inimaginável ( Laura se surpreendeu com uso da última palavra, mas ignorou e voltou a se concentrar no que dizer), sabe o que quero dizer?

O garoto encarou Laura com uma expressão indecifrável, e ela voltou a falar.

– Você vai precisar confiar em mim. – Laura se sentia nervosa. - Pelo menos por enquanto, vamos ter que fazer as coisas desse mesmo jeito. Você vai ter que ficar escondido aqui no sótão durante o tempo em que meus pais estiverem em casa. Durante o tempo que não estiverem... vai ser mais tranquilo. Eu vou dar um jeito, sério...

– Laura, obrigado. - Skylar disse, e deu um sorriso quase imperceptível e a garota deixou que os ombros tensos relaxassem um pouco.

–São quase quatro da tarde... acho que a gente pode comer alguma coisa e assistir televisão.

***

Laura se sentou na sofá da sala, colocando um prato de torradas com geleia de morangos e manteiga, e duas canecas de achocolatado sobre a mesinha de centro. Skylar parou na entrada da sala, e Laura, já abocanhando uma torradinha revirou os olhos e fez um sinal, indicando o lugar vago no sofá.

– Espero que goste de torradas... e de geleia. E de achocolatado também. - Laura agarrou o controle da televisão, e começou a passear pelos canais.

Skylar se sentou e ficou olhando estático para a televisão. Laura observou com o canto do olho enquanto sorvia o conteúdo de sua caneca.

– Ei cara, tome o seu, antes que esfrie!

O garoto apanhou a caneca e tomou um gole. Desajeitado, contorceu a face, e depois lambeu os lábios, voltando a tomar o conteúdo da caneca, quase que de uma vez só.

Laura parou de passear pelos canais, parando em um filme infantil, que misturava pessoas e animais. A garota alcançou mais uma torrada com manteiga e Skylar encostou as costas no apoio do sofá, parecendo relaxar um pouco, apesar de sua expressão parecer um pouco concentrada demais.

Assim que mudou de canal novamente, Laura parou num canal onde só passavam filmes de ação e séries igualmente cheias de sequências explosivas. E era bem uma dessas que passava no exato momento. Um carro estava em alta velocidade, sendo perseguido por outros dois, e de repente, todos eles se chocaram, causando um grande acidente de trânsito, com direito ao estrondo de estilhaços e fogo. Depois, policiais entravam em cena, portando armamento pesado. Skylar deu um pulo no sofá, deixando uma torrada cair no chão.

– O que é exatamente isso?- O garoto arregalou os olhos, enquanto encarava a tela.

– Ah, é uma série de televisão. As pessoas assistem isso por diversão. É inventado, sabe? Quer dizer, é uma ficção, mas bem, poderia acontecer...

– Diversão? Isso é diversão?- O garoto perguntou num tom incrédulo e voltou a encostar a cabeça no sofá.

Laura deu de ombros e voltou a trocar de canal.

– Eu particularmente não gosto muito.

Finalmente encontrou um documentário sobre os inventos de Leonardo Da Vinci, o que para ela pareceu mais interessante do qualquer filme ou série de televisão naquele momento, e ao que pelo menos parecia, Skylar também estava mais a vontade.

Quando o documentário chegou ao fim, Laura deu uma espiada no relógio da sala.

– Ah... Skylar?- Laura se sentiu um pouco incomodada. - Minha mãe chega daqui a pouco.

O garoto analisou Laura por alguns segundos e depois se levantou. Laura fez o mesmo, e se dirigiu ao sótão.

– Hum, eu acho que podemos dar uma ajeitada em algumas coisas por aqui, pra ficar mais aconchegante. Mas só vou conseguir isso amanhã. E eu acho que vou ter que encontrar alguma outra roupa do meu pai pra você usar, esse macacão e coturnos são bem legais, mas não parecem muito confortáveis... E comida, você vai precisar de comida.

Skylar ficou calado, contorcendo as expressões, parecendo desconfortável com a situação, o que era verdade, já que odiava estar causando transtornos à Laura.

Laura desceu as escadas correndo, deixando Skylar para trás. A garota entrou no quarto dos pais e procurou mais algumas roupas velhas do pai, e acabou encontrando algumas camisetas promocionais e uma daquelas de souvenir de viagem, escrito “Estive em Foz do Iguaçu e me lembrei de você.” em letras redondas e azuis escuro. Pegou uma calça, daquelas de malha esportiva, bem macia e voltou correndo para o sótão. Depois foi até a cozinha, apanhou um pacote com biscoitos, uma lata de suco de uva e uma garrafa com água.

– Bom, acho que por enquanto é isso, depois do jantar vou tentar trazer mais alguma coisa.

– Me desculpe. - Skylar disse, depois de ficar calado por vários minutos, só observando Laura trazer as coisas e ajeitar o sótão. – Estou atrapalhando. Eu posso voltar para a Tempestris, eu...

– Nem pensar! Lá não é seguro... - Laura disse quase ríspida. – Eu é que tenho que pedir desculpas, te trancar aqui não é legal. Nem um pouco legal. Mas é o que eu posso fazer por enquanto, até... sei lá, até darmos um jeito. Amanhã eu juro que penso em alguma coisa, sério.

Skylar abaixou o olhar, e franziu a testa. Laura ficou trocando o peso de uma perna para a outra, até o momento que viu o carro da mãe pela janela do sótão.

–Eu vou ter que descer... te vejo mais tarde.- Ela disse por fim, se dirigindo a porta.

– Até mais tarde...- Skylar disse baixinho, no momento em que a menina fechava a porta.

***

Laura teve de correr até a porta e destranca-la, para que a mãe entrasse, carregando uma caixa cheia de papéis. O pai chegou logo em seguida, e todos fizeram o que sempre faziam no final de tarde, conversaram sobre o dia que tiveram, e Laura claro, omitiu a parte que dizia a respeito de ter escondido um garoto no sótão de casa, e principalmente, o fato de que ele era de outro planeta. Jataram e se reunirão na sala para assistir ao jornal, e foi nesse momento em que Laura escapou para a cozinha e preparou um prato para Skylar. Subiu as escadas cautelosamente, abriu a porta e encontrou o garoto sentado no sofá, vestindo as roupas de seu pai e lendo uma revista. Não conversou muito com ele, apenas deu um sorriso e disse que de manhã estaria lá, antes de sair para a aula.

Quando se deitou em sua cama, Laura apanhou o celular que estava jogado no criado mudo, e com uma dificuldade causada pelo sono percebeu que Catarina havia mandado cinco mensagens, na primeira, ela queria saber se as duas poderiam comprar logo os ingressos da festa e as outras perguntando onde Laura estava e porque não respondia as mensagens. A garota ia responder, pedindo desculpas, mas no meio da mensagem que digitava, acabou dormindo.

Skylar acabou de ler a revista em pouco tempo, então passou as outras, até que terminou de ler a pilha toda. O menino estava cansado, e ainda se sentia confuso, por mais que tentasse não lembrava como havia chegado ali e nem o porquê de ter saído de Gliessium Alfa. Estava frustrado, e se sentindo um inútil. Resolveu ir até a janela, e olhar para o céu, tentando enxergar alguma coisa além da neblina que cobria a maioria das estrelas. De repente, um flash curto e confuso de memórias invadiu sua mente.

Fragmentos de conversas. Vozes alteradas discutiam sobre alguma coisa que não estava indo de acordo com os planos. Um corredor mal iluminado, uma sala vazia.

O garoto se esforçou para tentar se lembrar de mais coisas, coisas que fizessem sentido. Não conseguiu. Decidiu dormir, seus olhos estavam pesados, e o corpo cansando. No seu subconsciente, a esperança de que no dia anterior as coisas pudessem melhorar fazia com que ele pudesse se sentir quase tranquilo.


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Notas finais do capítulo

Por enquanto é isso, logo mais posto os próximos! :)



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