Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Bom aqui estou novamente. Desculpa pela demora, e bem, espero de coração que esse capítulo tenha ficado bom...

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/406440/chapter/6

A música do despertador se fez audível, e Laura, um tanto quanto sonolenta o alcançou no criado mudo. Rolou um pouco antes de se levantar e depois, com uma rapidez rara para aquele horário, saiu do quarto na ponta dos pés. Ela havia planejado tudo depois do jantar. Iria acordar exatamente quinze minutos antes do normal, passaria pela cozinha, escolheria alguma coisa para levar para o garoto que estava secretamente alojado no porão de sua casa. Laura deu um longo bocejo ao abrir o armário da dispensa, e analisar o que podia pegar. Decidiu que levaria alguns biscoitos, suco de abacaxi e duas fatias de pão com manteiga.

“Será que ele gosta dessas coisas?”- Laura pensou enquanto lutava para equilibrar tudo em uma das mãos, enquanto agarrava uma garrafa com água mineral e um copo descartável.

A menina subiu as escadas lentamente, tentando não fazer barulho. Teve que fazer uma bela manobra para pegar a chave de baixo do tapete velho, que ficava bem em frente à porta do sótão. Destrancou a porta com cuidado e com certa apreensão. Estava tudo muito escuro, e Laura decidiu acender a luz, mesmo que estivesse com receio de acordar o menino bruscamente. Para seu alívio, o garoto estava sentado no sofá, escorado no braço do móvel. Ela odiaria tê-lo acordado com a luz forte. Ela odiava quando isso acontecia com ela...

–Bom dia... espero que tenha dormido bem. – Laura disse baixo, e começou a considerar se aquele sofá velho poderia ser confortável mesmo.

O menino não disse nada, e Laura nem esperava que ele dissesse. Colocou o café da manhã improvisado sobre a mesa. Recolheu o pote vazio que deixara na noite anterior. Laura percebeu que o livro de História estava aberto, bem ali num cantinho. A página da direita iniciava um novo capítulo: “A Queda do Império Romano”. Ela ficou imaginando o porquê do interesse do garoto naquele livro didático, e então se lembrou de uma caixa que ele havia separado com coisas do seu quarto e mandado para o sótão. Abriu um armário baixo e empoeirado, e de lá puxou uma caixa de papelão. Lá dentro ela observou todos os seus gibis velhos, algumas edições antigas de uma revista sobre assuntos curiosos, e uma porção de brinquedos que ela ganhou nas embalagens de um chocolate. Levou a caixa para cima da mesa.

– Cara, se você ficar entediado... Eu gosto bastante desses gibis.

O menino se esticou no sofá, ficando mais para frente, encarando Laura. E Laura por sua vez, cruzou os braços e franziu a testa.

“O que eu vou fazer com esse cara?”

Ela trocou o peso de uma das pernas para a outra, e decidiu que devia dizer alguma coisa importante, uma orientação.

–Bom, eu preciso ir para o colégio. Fico lá até o começo da tarde, mas eu volto, é verdade. Preciso mesmo que fique aqui.

O menino a olhava atentamente.

– Bom, eu não sei se você gosta de suco de abacaxi... Mas depois eu acho algum que você realmente goste. Trouxe esse pacote de biscoitos, tomara que dure até eu voltar. E bem, eu preciso ir. Te vejo mais tarde.

Laura acenou para o garoto, que se levantou e andou até metade do sótão. Se sentiu mal por trancar a porta de novo, e pensou se não estaria mantendo o menino em cárcere privado. Depois de analisar a ideia, concluiu que, de alguma forma, estava fazendo o certo. Desceu as escadas rapidamente, e foi se arrumar para a aula.

****

Pelo menos uma meia hora depois, Laura estava sentada no banco de trás do carro da mãe de Catarina, e dessa vez, estava ao lado de uma das janelas, ouvindo o que a amiga dizia, mas sem muito interesse. Henrique estava sentado folgadamente no banco do passageiro, com uma expressão zombeteira no rosto, e ás vezes espiava as meninas por cima do ombro.

– Mas eu não acho que ele vá durar muito sabe? É sempre assim com os melhores. - Catarina dizia à Laura, enquanto gesticulava freneticamente. – O destino dele vai ser a morrer ou coisa pior.

– Coisa pior?- Laura respondeu a amiga com um pergunta.

–É. Pode acontecer alguma coisa horrível, uma situação irremediável. Foi assim na última temporada...

Catarina começou a descrever a temporada anterior de um tal seriado, onde um de seus personagens favoritos sofreu por longos episódios, e no final, se meteu numa enrascada , que só ficou para ser resolvida na nova temporada.

– Dá pra acreditar nesses roteiristas? E ele nem apareceu nesses primeiros episódios de agora, e é provável que ele sofra mais do que antes. Apenas irritada com isso.

–Cale essa boca Catarina, ele é um babaca. Tem mais é que morrer logo, daí a série fica boa.- Henrique provocou a irmã mais nova, que o teria ignorado por completo se não tivesse feito uma careta.

As meninas chegaram ao colégio, e trataram de entrar direto para a sala de aula. Laura ainda ouvia tudo o que a amiga dizia, e esta, ainda reclamava sobre a maldade dos roteiristas com seus personagens favoritos. Se sentaram em seus lugares, e Laura abriu a mochila para pegar seus materiais.

– Ai, ai. Mas e então amiga, consegui estudar ontem?

–Ah, sim consegui. - Laura respondeu num tom um pouco afetado. E pensou em tudo o que havia acontecido na tarde anterior. – Fiz as atividades...

Catarina apenas sorriu, e puxou de sua mochila os seus materiais.

Laura se concentrou no caderno a sua frente. E depois de alguns minutos, a professora de História entrou na sala de aula.

“Ah, droga. Eu esqueci que tinha História hoje.”

A menina suspirou pesadamente, e lembrou-se de seu livro aberto em cima da mesa do sótão.

– Cat, me diga que não vamos usar os livros hoje. - Laura sussurrou.

– Vamos. A gente sempre usa. Você esqueceu o seu?

– É.

– Vamos bem rápido pegar um emprestado com alguém de outra turma.

–Não, deixa pra lá. Eu...

Catarina já estava em pé, e puxava a amiga pelo pulso. Pararam bem na frente da porta da sala da outra turma de 2º ano.

ano. Algumas pessoas passavam por ali.

–Licença. - Catarina pediu para um grupo que chegava. - Será que algum de vocês pode nos emprestar um livro de História? É caso sério.

A maioria do grupo não disse nada. Um garoto apenas murmurou algo como “Tem História hoje?”. Catarina ainda insistiu mais um pouco.

–Vamos devolver assim que nossa aula terminar.

Um menino baixinho, usando óculos grandes abriu a mochila e tirou de lá um exemplar igual ao que Laura havia largado em casa.

– Eu tenho História na terceira aula. Vou esperar aqui na porta. Por favor, não demorem.

– Não se preocupe, estaremos aqui. Obrigada! - Catarina pegou o livro e o empurrou nas mãos de Laura.

As duas voltaram depressa para a sala de aula, onde a professora já anotava no quadro tópicos sobre o conteúdo do dia.

– Agora você já tem mais um amigo. - Catarina sussurrou para Laura assim que se sentou.

– Você tem um amigo. Eu tenho apenas um livro emprestado.

–Deixa de ser chata! Você precisa socializar, temos uma festa para ir lembra? Você vai devolver o livro sozinha...

Laura apenas emitiu um ruído baixo, e ignorou Catarina, que se ajeitou na mesa e começou a anotar o conteúdo.

As duas aulas de História passaram bem rápido. O assunto da aula foi sobre o Renascimento, e Laura se sentiu mais interessada do que em qualquer outra matéria que teve no dia. E entre uma explicação e outra, a menina ficava pensando no quanto àqueles pensadores eram geniais. No final das contas, Catarina foi incumbida de levar o livro para o menino da outra turma.

Quando voltou, Catarina olhou de esguelha para Laura, que rabiscava alguma coisa no caderno.

– O nome dele é Emílio.

Laura iria responder alguma coisa, mas antes que ela tivesse tempo de pensar algo, o professor de Química entrou na sala.

Depois de passar o intervalo inteiro na fila da cantina, Laura teve de assistir a mais três aulas cansativas. Duas de Português e uma de Geografia. O sinal que dava aos alunos o anúncio do final da manhã de aulas tocou, e Laura se levantou rapidamente, jogando tudo o que estava na mesa para dentro da mochila. Catarina apenas deu um muxoxo, ao perceber que teria que se apressar para alcança-la.

Laura já havia esquecido tudo sobre as fórmulas para resolver as matrizes. Só queria chegar em casa o mais rápido possível.

–Laurie! – Catarina ofegava um pouco, e tentava arrumar a presilha de flores que escorregava de sua franja. - Que pressa toda é essa?

– Eu quero ir pra casa logo... - Laura pensou numa desculpa. – Trabalhos e lição de casa. E minha mãe me pediu um favor... tenho que organizar uma papelada dela.

– Então tá amiga. Eu te vejo amanhã então. E vê se não esquece nada, hein!

–Ok. Beijo.

Laura se despediu de sua amiga, e seguiu sozinha até o ponto de ônibus. Quando já estava dentro do coletivo, se sentou perto da janela, colocou os fones de ouvido e tentou se concentrar em suas músicas favoritas. Acontece que ela não conseguia aproveitar nem as primeiras estrofes das melodias que entravam em seus ouvidos.

E quando já estava no portão de casa percebeu que aquilo estava a irritando. Desligou o player do celular e tirou os fones. Entrou em casa, largou a mochila no sofá, e livrou os pés dos tênis parcialmente gasto. Levou alguns segundos até decidir subir as escadas que levavam ao sótão. Laura abriu a porta devagar, e procurou encontrar o garoto que estava hospedado no cômodo. Encontrou-o em pé, perto da janela, que estava praticamente toda coberta pela cortina, exceto por uma fresta, por onde a luz do sol entrava, deixando que uma faixa estreita de luminosidade se formasse no chão. Laura deu alguns passos pelo sótão, e seus pés, mesmo descalços fizeram barulho, e o garoto se virou rapidamente.

Laura teve de segurar o riso. Mas ela realmente achou engraçado o fato de que o garoto estava com o seu cobertor rosa e com desenhos um tanto quanto infantis jogado sobre os ombros. Seus cabelos estavam parcialmente molhados, e ele não vestia mais o moletom de seu pai. Ele estava trajado novamente com o macacão branco e seus coturnos. Laura percebeu também uma pequena poça de água e alguns pingos que iam do pequeno banheiro até o armário velho.

– Eu disse que voltava... - Ela disse se aproximando da mesa de madeira.

Seu livro de História estava ali, mas não estava mais nas mesmas páginas que antes. Percebeu que algumas das revistas estavam empilhadas ali perto e a maioria dos brinquedos estavam na mesa também. Os gibis estavam todos no sofá, e a garrafa de água vazia, e alguns biscoitos ainda estavam dentro do pacote.

– Com fome? Eu estou. Eu sempre estou pra falar bem a verdade. - Laura pegou o livro de História para dar uma olhada nas figuras no fim da página.

Andou até a metade do sótão, de costas para o garoto, ainda com o livro nas mãos.

– Acho que minha mãe deixou maionese...

Laura se concentrou na legenda de uma das imagens do livro.

– Eu... eu queria aquilo. Aquilo que você comeu ontem.

Laura sentiu os músculos travarem. Seu coração começou a bater tão rápido e forte, parecia que ele estava prestes a deixá-la e correr em uma competição de 100 metros rasos. E era impossível não ouvir o barulho que ele fazia ao se chocar contra a sua caixa torácica. O livro que estava em suas mãos escorregou, e foi parar no chão. Com um pouco de dificuldade, Laura girou o corpo, ficando de frente para o garoto.

– Você... Vo-cê... Fa-fala?- Ela gaguejou e sua voz saiu mais baixa do que ela esperava.

O garoto se encolheu um pouco e sua expressão se tornou um pouco assustada.

–Você FALA! – Laura disse mais alto e apontou para o garoto, num tom quase indignado.- E ficou calado esse tempo todo!

Laura passou os dedos sobre a franja repicada, que estava caindo sobre os olhos. Seus pensamentos saíram de ordem, e seu coração continuava batendo forte, só que agora, descompassado.

– Meu Deus, você fala...

O garoto abaixou os ombros e ergueu a cabeça, até que seu olhar encontrasse com o de Laura, e a garota se sentiu desconcertada. Suas bochechas queimavam, e ela ficou lembrando todas as vezes que tentou conversar com o menino e ele simplesmente a ignorou.

– Acho que não tem mais empadão. Mas deve ter batatinhas fritas. - Laura disse por fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até que enfim hein? Laura já estava cansada de falar com as paredes...

E aí?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Constante De Laura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.