Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

E agora Laura?



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Laura demorou alguns bons segundos até conseguir abrir a porta de casa. Correu diretamente para o seu quarto, jogando a mochila de qualquer jeito no chão. Enquanto andava de um lado para o outro, tropeçou em Dom, o seu gato de estimação, que fez um barulho esquisito. A garota pegou-o no colo, e depois se jogou sentada sobre a cama. Ficou uns dez minutos encarando o nada, sentindo o coração bater alto e forte contra o peito.

–O que eu devo fazer?- Perguntou a si mesma, mas ainda assim em voz baixa.

“ Chamar a polícia?”

– Como se eles se importassem mesmo com a ligação de uma garota de 16 anos, que viu um objeto não identificado no bosque perto de casa. - Voltou a dizer com a voz baixa, e Dom se mexeu em seus braços.

“Mãe e Pai?”

Laura começou uma lista mental.

“Não. Definitivamente não. Catarina? É, acho que não também.”

– Droga!- Laura resmungou, e Dom, que não estava muito no clima para aguentar resmungos, pulou do colo da garota, e sumiu pelos cômodos da casa.

Laura então se levantou e caminhou até o espelho de parede que ficava pendurado em um dos cantos do quarto e começou a encarar seu rosto que no momento estava pálido e continha uma expressão assustada. Um arranhão em sua bochecha se destacava, e assim que a menina colocou os olhos nele, começou a arder. Laura instintivamente passou as pontas dos dedos por cima dele, e teve um surto repentino. Sua expressão passou de assustada para uma mais dura, determinada. E em pouco tempo, a garota já se encontrava na rua, batendo os pés no meio fio e olhando fixamente para o final da rua.

Laura desceu a rua quase tão depressa como quando veio correndo minutos antes. E em pouco tempo já tinha atravessado novamente a cerca mal conservada do bosque e se dirigia a passos firmes para o local onde ela encontrou a “coisa” e o garoto. A menina analisou por alguns longos segundos o objeto ao qual ela nomeou mentalmente como “coisa”, e percebeu que ele se parecia com um micro-ônibus.

“Um micro-ônibus, só que diferente. Bem diferente. Mas parece um micro-ônibus”.

Laura negou levemente com a cabeça, achando que sua definição ficou um tanto quanto confusa.

“Quem se importa? Quase tudo o que eu vi desde ontem não faz sentido mesmo.”

A menina deu um suspiro, tomando coragem para voltar a entrar no micro-ônibus que não parecia exatamente com um micro-ônibus, mas estava perto disso.

E assim que adentrou na “coisa” Laura já correu os olhos pelo chão, mais precisamente para o ponto onde havia visto o garoto estirado. Mas acontece que ele não estava mais lá. A menina se sentiu um pouco nervosa, e com cuidado resolveu dar uma espiada ao seu redor. O local era extremamente branco, exceto pelo teto, que era cortado por um azul escuro, muito escuro, quase negro, salpicado por pontinhos brilhantes, Laura se aproximou devagar do painel, no qual ela havia tropeçado e tentou decifrar alguma coisa daquele emaranhado de símbolos. Mas acontece que para ela, aquilo não passava de um monte de cores aleatórias e desenhos sem sentido. Um barulho oco fez com que Laura sentisse seu sangue praticamente se congelar, e como num reflexo, girou seu corpo na ponta dos calcanhares, virando-se em direção ao som.

Do lado oposto de onde Laura se encontrava, o garoto estava sentado no chão, meio encolhido, abraçando os próprios joelhos e encarando o nada. Laura arregalou os olhos, e levou uma das mãos até a altura da boca. A menina ficou parada naquela posição por um bom tempo, até se dar conta de que também sentia vontade de se sentar e abraçar as próprias pernas. E foi o que ela fez, quase que involuntariamente.

Ao contrário do que esperava, o chão não era gelado, na verdade, estava morno e aconchegante, como nenhum outro chão, exceto talvez, por aqueles emborrachados, próprios para crianças. Mas Laura não teve muito tempo para ficar pensado e decidindo qual dos dois era melhor, porque o garoto finalmente levantou o olhar e passou a encara-la atentamente. A menina pode enfim prestar atenção nos olhos do garoto, que eram de um tom de azul incrível e um pouco assustador, na opinião dela.

Laura recuou um pouco, e desviou o olhar, pois ao fitar os olhos do garoto ela quase ficou perdida nas incertezas que eles transmitiam. Ao abaixar seus olhos em direção aos seus próprios pés, viu seus tênis sujos de terra, e isso a incomodou. Mas não incomodou tanto quanto o desfiado em sua jaqueta do colégio, que a fez sentir uma vontade urgente de voltar para casa e ajeitá-lo. O menino também começou a se mexer, largando os joelhos e esticando as pernas, parecendo um pouco nervoso.

A menina levantou-se lentamente, e ajeitou o uniforme, tentando deixa-lo pelo menos um pouco mais alinhado. Cruzou os braços na frente do corpo, e passou a observar o teto novamente, com os pontinhos brilhantes que com certeza, deviam significar alguma coisa. O garoto, que ainda estava sentado no chão, acompanhou o olhar de Laura que passeava pelo teto, e se concentrou ainda mais que ela, e especificamente em um dos pontinhos em particular.

Laura começou a sentir uma euforia se apoderar de si. Não que ela fosse uma pessoa que fica por aí, tendo ataques de histeria. E ela não sabia explicar o que estava acontecendo com ela naquele exato momento. Começou a andar de um lado para o outro, fazendo com que o garoto desviasse sua atenção do teto e voltasse a encara-la. Parou em frente à ele, mantendo ainda um boa distância. Ficou imaginando como ele teria parado ali, o que ele estaria pensando nesse mesmo momento e se ele tinha ideia do que estava acontecendo. Laura pensou que se fosse com ela... Bem, ela no lugar dele... Com toda certeza ela não saberia dizer o que estava acontecendo. Ela não sabia o que estava acontecendo desde que fora obrigada a mudar de colégio.

“Preciso me comunicar com ele. Mas como?”

Laura franziu a testa, tentando pensar numa solução.

“Será que ele fala inglês? Ou mandarim? São as línguas mais faladas no mundo, certo? Talvez espanhol, quem sabe. Espera, ele sabe onde ele está?”

A menina bateu o pé contra o chão, coisa que ela sempre fazia quando ficava impaciente. O garoto estampou uma expressão no rosto, unindo as sobrancelhas. Laura percebeu que ele a observava, e então parou com o tique. Resolveu se aproximar cautelosamente dele, se abaixando um pouco e apoiando as mãos nos joelhos. O menino mudou de expressão, arregalando os olhos e erguendo uma das sobrancelhas, que antes estavam quase grudadas uma na outra. Mas Laura não disse nada. Teve medo de parecer idiota. Pensou se não devia ir embora dali e fingir que não viu nada. Depois se repreendeu mentalmente por ter pensando naquilo. Então fez a única coisa que lhe ocorreu no momento: Estendeu-lhe a mão.

Laura ficou com a mão estendida, e o garoto apenas desviou os olhos de seu rosto e passou a analisar o braço esticado da garota, e não passou disso. Laura abaixou o braço rapidamente depois de uns segundos sem ser respondida, e sentiu seu rosto começar a queimar.

“Fui deixada no vácuo.”

–Ah...- Laura começou a falar, sem saber o que dizer.- Olá.

Mas novamente ficou sem resposta. Pensou em tentar em inglês, em tão lembrou também que mal consegui formular uma frase completa em inglês. Optou por arriscar em português novamente.

– Tudo bem? – O menino contorceu os lábios e por um momento, Laura achou que ele ia falar- Ah, você precisa de alguma coisa?

Nada de novo. Laura começou a se sentir a maior idiota da face da Terra e tratou de enfiar as mãos nos bolsos da jaqueta desfiada, dar as costas para o “carinha” e se dirigir para a saída. Laura já visualizava o capim mal cortado e o rastro de queimado do lado de fora da “coisa” quando um barulho logo atrás dela chamou sua atenção. O garoto havia se mexido, se arrastado um pouco para frente e estava com as mãos apoiadas no chão. Laura fitou-o por um tempo e depois colocou um dos pés para fora.

E então, o menino se coloco de pé, fazendo com que Laura se espantasse quando o viu seguir sua em direção.


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Notas finais do capítulo

E então? Espero que tenha gostado!



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