Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Mais um saído do forno!



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O sinal que anunciava o término das aulas daquela manhã se fez audível, e Laura automaticamente começou a empurrar o material para a mochila. Levantou-se quase num pulo de sua cadeira e passou a dar passos apressados pelos corredores do colégio. Sua cabeça parecia pesada demais, e seus pensamentos insistiam em ficar fora de ordem.  A menina estava tão fora de órbita que acabou, mesmo que sem querer, deixando sua única amiga, Catarina para trás. Esta chamou por Laura apenas uma vez, e depois resolveu apenas observar o que a garota estava fazendo enquanto a acompanhava em passos menos rápidos. E quando decidiu que devia alcançar e questionar a amiga quase fez Laura levar uma trombada.

- Desculpa... - Laura já ia dizendo.

-Ei! Terra para Laurie! Terra para Laurie!- Catarina passou a palma da mão repetidas vezes na frente do rosto de Laura, que desviou por reflexo. - O que está acontecendo? Você está estranha hoje.

-Ah? Acontecendo? Nada. Estou com sono, só isso. Estranha?

-É, nem reclamou do seu apelido.

Laura apenas rolou os olhos, mas não disse nada. E então voltou a caminhar para a saída do colégio.

- O que foi sua maluca?- Catarina quis saber, irritada, enquanto voltava a se esforçar para acompanhar Laura, que dava passos longos e decididos. – Você podia ir ao shopping almoçar comigo e ir me ajudar com o meu vestido...

-Ah,  desculpa amiga...eu quero chegar logo em casa, eu... - Laura pensou numa desculpa. - Vou terminar o resto das coisas, os trabalhos... E Cat, muito obrigada, você livrou minha pele hoje.

Catarina fez uma expressão de cachorrinho sem dono, deixou o ar escapar pela boca e então respondeu:

-Ah Laurie, não foi nada. Vai pra casa, estude muito e fique linda, temos um mês para a festa.

-Festa?

-É! A festa. “Festa de integração entre alunos”. - Catarina quase bateu palmas de tanta animação. - Laurie, é para daqui quase um mês!

Laura contorceu os lábios num ângulo de desaprovação. Deu um aceno leve com as mãos e saiu pelo portão principal.

A menina precisava caminhar a quadra toda para chegar ao ponto de ônibus, onde apanhava um dos famosos articulados que rodavam pela cidade de Curitiba. Ao enxergar o final da rua percebeu que o bendito alimentador já fazia a curva, então, teve de correr.

Por sorte, Laura conseguiu um lugar no ônibus, um daqueles bancos solitários com uma vista bem legal pela janela. E enquanto ela cortava os infinitos bairros antes de sua casa, ia tentando encontrar uma resposta plausível para o que presenciara na noite passada.

Primeiro, concentrou-se em lembrar do que estava fazendo na noite anterior.

“Estudando. Ou quase isso.”

Depois começou a se lembrar do sonho absurdo que teve, com as células gigantes, e quase deu uma risada ao analisar o que sua imaginação fértil era capaz de fazer.  E então, lembrou-se com nitidez do clarão.

“Ok. Como explicar uma coisa daquelas? Tipo, uma razão, coisa lógica.”

O tempo que passou no ônibus não foi suficiente para a garota chegar à uma conclusão. Teve que se levantar e apertar o botão, para descer quase na rua de sua casa.

A cada passo que Laura dava, a garota sentia que devia, com uma necessidade extrema, descobrir o que tinha acontecido. Por isso, quando passou pela frente de casa, decidiu dar uma volta pela rua para ver se encontrava alguma coisa.

Nada. Nada pelo menos ali, nas calçadas.

“No meu quintal talvez... Quem sabe não encontro uma pista.”

Laura deu mais uma olhada pela rua. E então um friozinho envolveu seu corpo quando ela observou bem lá no final de sua rua, o pequeno bosque, que por incrível que pareça, sobreviveu em meio à cidade grande.

Alguma coisa fez Laura andar em direção à ele.  Quase nem sentia seus pés, de tão decidida que estava. Quando chegou até a metade do caminho, sem saber explicar o porque, sentiu um friozinho na barriga, que a fez parar onde estava.

Por alguns segundos a garota ficou hesitante, e os carros que passavam ao lado dela pareciam borrões. Mas a coragem voltou a tomar conta dela, fazendo com que terminasse a trajetória.

Encontrou-se de frente com a cerca de madeira, meio velha, que cercava o bosque, e quase sem mesmo perceber, estava se esgueirando por ela, tomando cuidado para não enroscar sua mochila ou desfiar seu uniforme.  Seus tênis sumiram no meio da grama alta, o que a incomodou um pouco, mas não a fez desistir.

Laura se embrenhou por entre algumas árvores, sem saber ao certo o que estava fazendo.  E depois de desviar de algumas pedras que encontrou no meio do caminho, ela viu.

Ela viu. Mas quase não acreditou. Na verdade ela não chegou nem a entender. Esfregou os olhos uma ou duas vezes, e franziu a testa.

“Ah?”

Deu mais um ou dois passos para frente. Depois, sentiu os joelhos fraquejarem, o estômago se transformar em gelo e seus músculos se contraírem.

Laura ficou paralisada. Apenas observando a coisa mais bizarra que ela já tinha visto em toda a sua vida. O que ela nunca cogitou ver estava ali, bem à sua frente, no meio do capim seco.

Seus pés voltaram a se movimentar, em direção à coisa.

A menina estava um tanto quanto curiosa. E confusa. Deu uma volta pelo lado do objeto, que por acaso era bem alto, e comprido.

“Beleza. O que isso está fazendo aqui?”

Laura cruzou os braços e apertou ainda mais os olhos.

“ O que raios é isso afinal?”

Parecia ser feito de ferro. Aço talvez. Laura baixou os olhos e percebeu que a grama em volta da coisa estava queimada, e logo mais atrás, parecia que um rastro de grama queimada se estendia à uns bons metros.

Laura resolveu contornar o resto do objeto, e então seu coração deu uma acelerada e tanto.

“Uma porta...? Ahn, é... parece uma porta. E está aberta. Aí Meu Deus.”

Vacilou uma ou duas vezes, mas quando se deu conta, estava se enfiando pela abertura. Estava mesmo decidida ao descobrir alguma coisa.

Ao entrar na “Coisa” percebeu que seu interior era mais quentinho que o ambiente lá fora, aconchegante, e era tudo branco. Laura olhou para o alto, e lá em cima, o teto parecia meio arredondado.

- Estranho. - Disse baixinho. - Muito estranho... Aquilo é um mapa? Um mapa estrelar?

Mal havia terminado de murmurar e bateu os olhos em alguma coisa caída no chão.

“Uma coisa não. Alguém. Ó meu Deus.”

Laura considerou sair correndo. Seu cérebro gritava para ela sair correndo. Mas seu pés, teimosos como eram,  acabaram não cedendo aos seus instintos que preferiam  mantê-la segura. E seus pés a levaram até o alguém.

Quase caiu sentado ao ver do que se tratava.

“É um garoto? Bom, pelo menos parece um garoto. E um garoto com roupas estranhas”.

A pessoa que Laura encontrou era realmente diferente. O menino estava deitado no chão. Desacordado talvez. Suas roupas também eram bem esquisitas, considerando que usava um macacão de mangas compridas, de um tecido que parecia grosso e ao mesmo tempo confortável,  quase todo branco, exceto pelas listras laterais, que eram azuis de um tom marinho, bem vivas e quase brilhantes. Na altura do peito, um símbolo, ao qual Laura não conseguiu se lembrar,  talvez ela nem nunca o tivesse visto. Voltou sua atenção para o rosto.

“É um garoto com certeza!”.

Parecia ser um pouco mais novo do que ela,  como a menina não pode deixar de acrescentar. Seus cabelos, loiríssimos, cacheados e a pele também clara, mas de um tom que Laura não consegui explicar.

“Nem tão pálido, mas não exatamente bronzeada.”

Laura ergueu uma das sobrancelhas.

“Será que...”

Resolveu se aproximar só mais um pouquinho, só para observar mais de perto. O menino começou a se mexer, e abrir os olhos. Laura se assustou e deu um salto desajeitado para trás. Com a surpresa, deixou-se tropeçar em  algo atrás dela. Endireitou o corpo e tentou descobrir no que havia trombado, e percebeu que se tratava de um painel, cheio de mais outros símbolos e coisas que pareciam expressões matemáticas. Rapidamente voltou a olhar o garoto, que continuava caído, apenas havia se mexido um pouco, de maneira que conseguiu ficar a encarrando com os olhos arregalados.

Então, Laura pensou na coisa mais sensata a se fazer. E dessa vez, até seus pés insistentes resolveram colaborar. Saiu e disparada por onde entrou, correu tão rápido pelo bosque que nem acreditava em sua velocidade, e nem que suas pernas eram capazes de aguentar tanto. Alcançou a cerca do bosque como um raio, e sentiu que a jaqueta de seu uniforme foi desfiada. Quando finalmente chegou novamente à rua, correu ainda mais.


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Notas finais do capítulo

E então?



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