Laura estava do lado de fora da casa. Estava girando o guarda chuva colorido no ar enquanto cantarolava uma música meio chiclete, mas que ela adorava.

– It’s easy being with... – Ela deixou os versos incompletos quando viu que o carro preto estava parando na frente de sua casa.

Ela caminhou rapidamente e saiu pelo portão. Quando se aproximou da porta e a abriu encontrou Catarina extremamente sorridente e isso a fez sorrir também.

– Adivinha quem está de volta?-Catarina abriu os braços. - EU!

– Eu estou feliz por te ver logo de manhã. - Laura brincou.

– É eu sei que suas manhãs não são as mesmas sem mim.

Laura deu um sorrisinho e se ajeitou no banco puxando o cinto. Foi então que viu que Henrique estava dirigindo. Ela ergueu uma das sobrancelhas.

“Ah, então é por isso que estamos ouvindo música no carro.”

Ela engoliu em seco e se virou para Catarina de novo.

– Porque sua mãe não está mais dirigindo?

– Oi Laura. - Henrique disse parecendo afetado.-Eu dirijo tão mal assim?-Riu mas sem parecer estar realmente divertido.

– Oi, não. Laura ficou sem graça. - Quero dizer que não...você dirige muitíssimo bem.

– Minha mãe achou que é uma boa ideia deixar que Henrique dirija. Assim ela não precisa se preocupar com o trânsito. Bom, em partes, já que ela continua dirigindo, mas ela sai bem mais cedo. O que eu não acho justo é o Henrique ficar livre para poder usar o carro antigo.

– Porque não seria justo?-Henrique olhou pelo espelho. - Eu tenho 18 anos, tenho carteira de motorista e tenho boas notas...

–Você é chato, irritante e gosta de refrigerante de uva.

–Está vendo Laura?-Henrique disse.- Ela é uma invejosa, como podem ser amigas?

Catarina fez uma careta, que Henrique certamente não viu, pois estava concentrado no trânsito. Laura começou a rir, e depois encostou a cabeça no apoio do banco. Catarina se mexeu ao seu lado, e depois fez menção de que iria começar a falar, mas parecia não muito certa de como começar.

– Amiga... -Ela fez uma expressão estranha.- Está tudo ok? Tipo...

– Tudo okay. - Laura pensou um pouco.- Bom, você sabe.

Elas ficaram em silêncio.

– Amanhã é sábado... e depois domingo, e bem...-Laura continuou.

– É eu sei. - Catarina respondeu. - Precisamos dar um jeito nisso.

– Acho que depois nós podemos conversar melhor.

Catarina assentiu e escorregou um pouco no banco. Depois colou o rosto no vidro do carro e fechou os olhos, aparentemente tentando tirar um cochilo. Laura ficou observando o lado de fora, analisando as ruas pelas quais passava quase todos os dias. Depois desviou a atenção para o espelho e para-brisas. O carro parou um sinaleiro vermelho e ela viu quando os olhos de Henrique a fitaram pelo espelho.

– Oi... -Ele disse, depois engoliu sem seco. - Tudo bem?

– Oi Henrique.

– Eu acho que já te disse oi hoje.

Laura não respondeu, apenas sorriu, tentando não rir.

– Eu... Me desculpe. - Ele olhou por cima do ombro e sorriu. -Eu acho que estou nervoso, tenho prova de microbiologia hoje.

– Tudo bem. Tudo bem quer dizer que eu estou bem e também quer dizer que tudo bem você estar nervoso... Eu sempre fico nervosa quando tenho provas, apesar de que eu acredito que as suas devam ser bem piores.

– Eu odiava minhas provas de ensino médio. Ele disse parecendo divertido. - E agora odeio as minhas da faculdade.

– Mas a faculdade deve ser mais divertida que a escola... Não? Por exemplo, você escolhe um curso, não precisa fazer matérias que não dizem nada sobre você... tipo, matemática, física, biologia...

– Biologia?- Henrique deu uma gargalhada. - Não gosta de biologia?

– Aí meu Deus. - Laura tapou a boca, com vontade de rir. Henrique cursava Biomedicina. - Me desculpa. Bom, digamos que não simpatizo.

– E o que a senhorita vai cursar?

– Eu ainda não faço ideia.

– Bom você pode ir até a feira de profissões... Ajuda muito.

Laura sorriu, e então não soube mais o que dizer. Henrique também ficou em silêncio. A garota desviou a atenção para a janela do carro novamente e escutou o volume da música se acentuando levemente. Era a mesma música que ela cantarolava antes de entrar no carro.

Minutos mais tarde ela e Catarina saiam do carro. A amiga de Laura coçava os olhos, ainda parecendo sonolenta. Ela ajudou a amiga com a mochila e depois resolveu ir até a janela do motorista.

–Ei Henrique, boa prova.

–Obrigado. Seu eu me sair bem, vamos comemorar com balinhas azedas.

Catarina revirou os olhos quando o irmão mostrou a língua pra ela e as duas garotas entraram no pátio. Catarina deu um sonoro bocejo.

– Ei Cat, parece que se esqueceu como é vir para a aula de manhã...

– Aí, eu fiquei agitada ontem à noite... Tipo, nervosismo de primeiro dia.

– Eu não acredito. - Laura começou a rir.

– Vamos na coordenação? Preciso levar os meus atestados.

– Vamos lá.

– E depois precisamos pensar no que fazer no fim de semana.

– Eu estava pensando em irmos à Biblioteca.

– Biblioteca?- Catarina pensou por um instante. - É me parece bom. Preciso mesmo pegar aquela saga épica rara.

– Aquela que você tenta todo mês?

– Essa mesma.

***

Laura correu escada acima, ela tinha que contar as novidades para Skylar. Ela estava com os fones de ouvido e se balançava um pouco ao ritmo de uma de suas canções favoritas. Estava musical naquele dia, como ela mesma tinha notado. Catarina dissera que ela tinha cantarolado pelo menos quatro músicas diferentes naquela manhã. Laura se preparou para bater na porta do sótão e então viu o rosto de Skylar surgir bem a sua frente. Ela sorriu e ficou parada na porta. Ela analisou o rosto aparentemente alegre de Skylar por alguns segundos, até se dar conta de que precisava desligar a música que estava ouvindo. Assim que ela o fez, entrou no sótão. Skylar acompanhou de perto os passos da garota que parou e deu um suspiro, sentando-se por fim no sofá.

– Tenho novidades... Já sei o que vamos fazer amanhã e depois de amanhã.

Skylar abriu um largo sorriso e se sentou ao lado de Laura.

– Bom, amanhã vamos até a Biblioteca Pública. E no domingo vamos dar um passeio numa exposição de arte cibernética... Acho que vai gostar dos dois.

O garoto concordou. Depois deu uma risada baixa.

– Eu com toda certeza irei gostar.

Laura se sentiu bem com a afirmação de Skylar e se aconchegou mais no sofá. Skylar se posicionou mais a sua frente, esticando uma das mãos e puxando um dos fones de ouvido que pendiam do pescoço da garota.

– O que é?

– São fones de ouvido. Servem para reproduzir músicas.

Laura percebeu que nunca tinha mostrado suas músicas favoritas para Skylar. Nunca tinha pensado em mostrar qualquer música para ele. Ela engoliu em seco meio receosa com a ideia de mostrar a alguém seus gostos musicais, mas depois de engolir em seco resolveu que precisava fazer isso. Desenrolou os fios e os tirou do próprio pescoço, passando-os pelo ombro de Skylar e posicionando os fones nos ouvidos do garoto, que observava a ação atento. Puxou o celular do bolso e resolveu encontrar uma playlist que a deixasse confortável, ajustou o volume e deu play.

A garota viu quando gradativamente Skylar passou de uma expressão confusa e um pouco espantada para uma de completa admiração. Ela sorriu e ficou empolgada.