Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Bom, ninguém mais lê. Mas aqui estou.



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Laura olhava a janela embaçada sentindo um amargor terrível na boca. Catarina disse que não ia demorar. Não conseguiu se concentrar nas aulas naquela manhã, e só se lembrava do choque e da expressão apagada no rosto de Skylar desde o momento em que descobriu o rastreador na Tempestris. Ela escutou o sino da porta da cafeteria tocar e logo depois pode ver os cabelos loiros de Catarina parcialmente molhados. A chuva tinha aparecido novamente, e insistente deixava o céu cinza e clima gelado. Laura gostava quando o tempo esfriava, mas aquilo estava deixando tudo mais melancólico e tenso demais, na opinião dela.

Catarina ainda estava mancando, usava a bota ortopédica, mas parecia bem melhor. Melhor no sentido de estar se movimentando com mais equilíbrio e rapidamente. Laura percebeu que a expressão da amiga não era das melhores. Suspirou e sentiu seus ombros pesarem.

Catarina puxou o banco a frente de Laura se sentou. Seu rosto se contorceu levemente e ela olhou para o pé machucado.

–Laura... Eu estou mesmo preocupada, mas não sei o que dizer. Tipo... E agora?

Laura abriu a boca diversas vezes e não conseguiu dizer nada. Ela desviou o olhar de sua amiga e fitou a porta, que se abria novamente. Ela reconheceu o garoto de cabelos castanhos que estava com a cara amarrada. Henrique se sentou ao lado da irmã, empurrando as mãos dela de cima da mesa. A garota resmungou e empurrou Henrique de volta. Ele ignorou a irmã e se dirigiu à Laura.

–Oi Laura, como vai?- Henrique deu um sorriso

–Oi.- Laura respondeu , quase de um modo automático, depois se perguntou se tinha sido grossa ou algo do tipo.

–A gente está tendo um conversa importante... Dá pra você... Ah, sair?- Catarina estava irritada.

–Eu preciso ir para o estágio. Quanto tempo vai demorar a conversa importante?- Henrique franziu as sobrancelhas.

Catarina fechou a cara, e pegou o cardápio a sua frente e não disse nada. Laura se sentiu mal, e achou que aquilo era abusar da boa vontade e paciência de Henrique, mas a amiga insistia que deveriam ir até a cafeteria para depois irem até a casa de Laura. A garota olhou para o grande relógio de madeira ponteiros dourados no centro da parede principal.

–Podemos comprar para viagem.- Ela disse por fim. Laura não conseguia pensar em tomar um café e comer aquelas guloseimas todas enquanto admirava a beleza do local.

–Ótima ideia.- Henrique se adiantou.-Eu estava pensando em um grande copo de smoothie de morango e um pedaço de torta.

–Vamos levar alguma coisa pro Skylar... Acha que ele gosta de smoothie? Ou prefere outra coisa?-Catarina disse.

–Espera, vocês vão ver aquele carinha estrangeiro? Porque?- Henrique olhou de Catarina para Laura.

–Ele está no nosso grupo. Marcamos de fazer o trabalho na casa da Laurie!- Catarina disse...

–Ah, ok.- Ele disse parecendo despreocupado.- Ele é bem estranho. Eu quero um smoothie. E quero me livrar da Catarina.

Laura ergueu as sobrancelhas e depois desviou o olhar.

–Eu também te amo muito Henrique. Você é o melhor irmão que alguém poderia ter.

O rapaz ignorou a irmã e continuou.

–Laura, acho você vai gostar dessa torta de limão e chocolate branco...

***


Laura estava um pouco nervosa. Ela e Catarina não puderam tocar no assunto durante o trajeto até sua casa e permaneceram caladas boa parte do caminho. Ela tinha acabado de colocar o lanche que tinham trazido em cima da mesa, enquanto Catarina estava puxando uma cadeira para ela descansar o pé.

–Eu vou subir e chamar o Sky...- Laura disse.

–Ok amiga.- Catarina deu um meio sorriso e depois voltou a deixar que a expressão preocupada transparecesse.

Laura subiu as escadas com pressa. Bateu na porta com os nós dos dedos e antes mesmo que pudesse chamar o garoto, Skylar já tinha aberto o sótão. Ele estava com uma expressão ilegível que Laura não conseguiu decifrar, mas em questão de segundos Skylar deixou que seu rosto se suavizasse e um sorriso se formou em seus lábios. Laura cruzou os braços, balançou um pouco o corpo pra frente e para trás, e depois retribuiu o sorriso. Sem trocar uma única palavra, Laura agarrou o braço dele, o puxando para fora do recinto. Os dois desceram as escadas, e juntos encontraram Catarina sentada na cozinha, espetando a torta com a ponta de uma faca.

–Oi Skylar!- Catarina disse, largando a faca na mesa.- Me desculpem, mas acho que furei um pouco a torta.

Laura se aproximou da amiga, olhou para a torta e viu que Catarina tinha desenhado várias carinhas felizes na cobertura de chocolate e chantilly. Tentou segurar a risada, mas não conseguiu. Catarina ergue uma das sobrancelhas e começou a rir logo depois disso. As meninas se recuperaram e Laura viu que Skylar ainda estava em pé.

–Ei Sky, venha aqui, se sentar e comer alguma coisa.- Laura disse.

Skylar estava parecendo divertido, o que de alguma forma era reconfortante. Laura apanhou os pratos e começou a cortar a torta, tomando cuidado para não destruir as carinhas sorridentes.

–Laurie, o meu pedaço é esse, com essa carinha grande e duas gotas chantilly espiralado!- Catarina disse séria.- Esse dia chuvoso pede por isso.

–É, eu estava mesmo pensando nisso.

Catarina sorriu e esticou-se para apanhar seu copo de smoothie. Laura empurrou o prato para ela e depois se voltou para Skylar.

–Qual das carinhas você quer?

Skylar olhou sério para a garota, depois olhou atônito para a torta. Depois de algum tempo ele apontou para um dos pedaços. Laura cortou e entregou para ele, para depois pegar um pedaço para si.

***

Laura estava inquieta, como Skylar pode notar. Catarina estava sentada no sofá, e olhava de Laura para ele como se estivesse esperando por alguma coisa.

–Tá, eu já entendi que o rastreador ainda estava ligado. Mas o que exatamente devemos esperar?- Catarina disse tudo rápido, parecendo engasgada com as próprias palavras.

Skylar sentiu os músculos retesarem. Respirou fundo e então começou a falar.

–Eu sou um prófugo... e esse é melhor modo de me reencontrarem, e também todos os documentos que comprovam o golpe.

Laura olhou fixamente para ele, e Skylar a encarou de volta.

–Prófugo?- Catarina disse.- Ah, desculpa. O que isso quer dizer?

– Um fugitivo.- Skylar olhou para o piso de madeira do sótão.

–Sky, você não é um... um prófugo. - Laura disse.

–Eu fugi de Gliesse.- Skylar encarou Laura. -E eles provavelmente estão atrás de mim.

Laura se sentou no chão, ao lado dele, e abraçou as próprias pernas.

–Podemos dar um fim nos documentos.- Catarina disse enquanto tirava a franja loira dos olhos.- Queimar, talvez.

Skylar olhou para a garota, deu um suspiro e respondeu.

–Não, não podemos. São as provas que incriminam a ordem. E mesmo sem elas eles viriam até mim, e depois...

Laura largou as pernas e fitou o garoto.

–Não, tem que ter outro jeito.- Ela disse enquanto se levantava novamente, andando até a janela.

A chuva ainda caia do lado de fora. Skylar viu Dom se espreguiçar em cima do sofá. O gato desceu do móvel e desapareceu atrás da mesa e das pilhas de coisas que Laura tinha arranjado. Skylar pensou no quanto era bom ser Dom. Ele desviou o olhar e viu Laura curvada sobre a janela, de costas, enquanto observava o lado de fora. Ela deu um suspiro e Skylar se sentiu mal por isso.

–Então vamos encontrar um jeito. - Catarina disse.

–É, nós vamos.- Laura se virou para os dois novamente e deu um sorriso encorajador.

***

Catarina estava descendo as escadas dando pulinhos, e fazia caretas quando seu pé tocava o chão. Seria engraçado se não fosse triste. Pelo menos foi o que Laura pensou. Skylar estava com Dom no colo, que ronronava preguiçoso, logo atrás delas. Quando Catarina terminou de descer, ela jogou os braços para cima e fez uma comemoração silenciosa. Laura soltou um risinho, e depois se sentou no sofá. A amiga estava segurando o celular, e parecia irritada.

–Ah Laurie, acho que o mala do meu irmão está vindo... Eu preciso ir.

Laura fez uma cara de desapontamento. E depois olhou para o relógio na parede. Realmente já estava tarde. Depois olhou para Skylar, que estava em pé, ainda segurando Dom nos braços.

Meio minuto depois uma buzina cortou o silêncio que se instalara no cômodo. Laura ficou nos joelhos para poder enxergar o portão da casa pela janela.

–Ele já está aqui.- Laura disse por fim.

Catarina andou até o sofá e viu o carro preto.

–Ah, que saco.- Ela reclamou.- É, eu preciso ir.

Laura abraçou os ombros da amiga e descansou rapidamente a cabeça ali.

–Eu te levo até lá.- Laura disse.

Enquanto vestia novamente seus tênis ela escutou o barulho de passos do lado de fora. Correu até a porta principal e a abriu. Lá estava Henrique, a chuva tinha parado, mas seu cabelo estava levemente molhado e com uma cara de desgosto. Ao ver que a garota abriu a porta ele deu um meio sorriso e ficou ali, parado.

–Oi Henrique.

–Ah, oi...- O garoto trocou o peso de uma das pernas para a outra.- A minha irmã está? É claro que sim.

Laura piscou algumas vezes e abriu espaço para o irmão de sua amiga. Henrique entrou e encontrou Catarina sentada no sofá. Passou por Skylar e o cumprimentou.

–E aí?- Ele disse com as mãos no bolso da calça.

Skylar ainda segurava Dom, e apenas respondeu com um olá que para Laura pareceu ser uma tentativa de ser indiferente. Ela andou até a amiga e estendeu a mão par que ela pudesse ficar em pé.

–Bom. É isso gente, acho que amanhã nos vemos no colégio.- Catarina disse com naturalidade.

Ela abraçou Laura e colocou uma das mãos no ombro de Skylar.

–Nosso trabalho está ficando ótimo. Vamos arrasar!- Catarina fez uma expressão animada e levantou os polegares para o alto.

Laura sorriu e agradeceu mentalmente por Catarina saber como lidar muito bem com tudo aquilo.

Henrique olhou para Laura e depois para Skylar. Deu um tapa de leve nas costas da irmã e pareceu pensar em alguma coisa.

–Acho que vamos indo.- Ele encarou Laura por alguns segundos com as sobrancelhas franzidas e depois se dirigiu à Skylar.- Ei, você precisa de carona? Onde você está morando?

Skylar abriu a boca e depois fez uma expressão estranha. Dom pulou de seu colo e caiu no chão praticamente sentado, e começou a lamber uma das patas como se dissesse que não estava nenhum pouco preocupado. Laura resolveu responder.

–Ele está esperando um táxi.- Ela engoliu em seco, Skylar ficou olhando para ela.

–Vamos?-Catarina cutucou o irmão.

Ele demorou para esboçar uma reação e então esticou o braço e bagunçou o cabelo de Laura, que ficou incrédula.

–Nos vemos amanhã.- Ele disse por fim.

–Tchau Laurie, tchau Sky.

Laura ficou atônita, olhando para os dois até que passassem pela porta. Ela viu Skylar com uma expressão esquisita, no mesmo ponto em que Catarina e Henrique estavam antes. A garota sorriu para ele e depois disparou até o portão da casa, tentando ser cordial, e escutou as reclamações da melhor amiga antes que a mesma entrasse no carro.

–Você precisa parar com isso, está ficando feio.- Ela disse e depois viu Laura acenar do portão e retribuiu com entusiasmo e fechou a porta.

Henrique ignorou a irmã e fitou Laura, depois deu um aceno rápido e entrou no carro. A garota sentiu a chuva fina despencar sobre ela de repente, e então voltou correndo para casa.

Skylar estava sentado no sofá, com o rosto apoiado nas mãos que descansavam nas próprias pernas.

–Você está a fim de detonar aquela torta?- Ela perguntou.- Acho que ainda temos uma meia hora.

Skylar sorriu e seus olhos azuis cruzaram com os de Laura.

–Eu acho que sim. E eu acho que tenho uma ideia.



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Notas finais do capítulo

É isso, por enquanto. Até a próxima.



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