Constante De Laura escrita por Renata


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura.



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Laura já havia perdido a noção de quanto tempo estava ali sentada diante da pilha de livros e trabalhos de seu novo colégio. Dois de português, um de geografia, um de história e mais um de espanhol. Sem mencionar a longa lista de exercícios de matemática, que por um acaso valia nota.

A garota deu um suspiro cansado, e tentou sem sucesso ler mais uma linha do texto de apoio que fazia parte do trabalho de geografia. Mas nada daquilo fazia sentido. Assim como não fazia sentido ser obrigada a participar de uma festa do colégio, organizada por alguns alunos com o pretexto de interação entre os alunos.  E também como não fazia sentido mudar de colégio em pleno segundo semestre do ano letivo. Mas é claro que para os pais de Laura era absolutamente normal escolher um colégio que lhe proporcionasse uma melhor oportunidade, como passar no tão concorrido vestibular da Universidade Federal do Paraná.

Laura estava se esforçando para acompanhar o ritmo das coisas, mas não estava sendo fácil. Na verdade ela estava apenas conseguindo pensar em quantas bombas levaria naquele bimestre, nas broncas que receberia em casa, e o quanto seria ignorada numa festa que ela considerava inútil.

E naquela noite ela estava particularmente cansada. E não tinha como evitar que o cansaço tomasse conta de seu corpo. A vontade de dormir deixava a garota um pouco irritada, e seus olhos que se fechavam constantemente numa tentativa insistente de coloca-la num sono quase tranquilo não estava ajudando muito.

Sem perceber, Laura deixou que seu corpo escorregasse até a altura da escrivaninha, e automaticamente, depositou a cabeça sobre alguns livros que estavam ao seu alcance. Não eram seus favoritos, talvez porque não fossem sobre lugares incríveis e personagens cativantes, mas sim livros de matemática, química e biologia. De toda forma, não deixavam de serem bons na função à qual eram destinados no momento: a de apoio para a cabeça.

A garota não sabia ao certo a razão de ter chegado àquele ponto. Suas notas não eram as melhores da turma, e ela tampouco era uma aluna brilhante. Mas ela sempre conseguiu se virar de alguma forma. Mas seu desempenho no novo colégio tinha caído, e isso era visível em apenas um mês e duas semanas de aula. Laura se lembrou de como seus primeiros dias de aula tinha sido difícil, uniforme azul escuro com listras vermelhas, uma professora de literatura raivosa pelo fato de ela ter criticado de forma negativa um clássico da literatura, e as encaradas que recebeu de seus colegas de classe durante quase uma semana.

Nem percebeu que enquanto ficava divagando, caía um sono um tanto quanto perturbado, deitada, com o rosto enfiado entre o material escolar. Teve um sonho um tanto quanto esquisito, que fazia com que seu consciente parcialmente adormecido tentasse entender a razão de células serem coisas vivas, que comem, adoecem e morrem e um amontoado delas se transforma em você. Estranho. Realmente estranho.

Foi piorando gradativamente, e Laura parecia ter noção disso, pois em seu sonho não parava de fazer questionamentos sobre a autenticidade de tudo aquilo. Percebeu que não podia ficar parada no meio da rua pensando nas possíveis respostas quando células gigantes saltaram sabe Deus de onde e passaram à persegui-la pelo centro histórico da cidade, que se encontrava anormalmente vazio. Enquanto corria pela calçada de paralelepípedos tentava descobrir que tipo de células poderiam ser aquelas que estavam em seu encalço. Descobriu da pior maneira que se tratavam das procariontes, bem aquelas que com um tipo de divisão celular maluca podiam se multiplicar em duas, três, sabe-se lá quantas. Laura percebeu que enquanto corria, a paisagem parecia mudar muito rápido, e se via em diversos pontos de Curitiba, e quando se deu conta, a estufa do Jardim Botânico já estava bem visível em seu caminho.

“Uau! Eu devo correr muito rápido”. – Laura pensou em seu sonho.

Mas assim que ela se esticou para encarar a estufa um pouco melhor se deu conta de que as células já eram muitas, e se moviam igualmente rápidas. A garota se sentiu assustada, e acabou por tropeçar num obstáculo logo à sua frente, viu que ralou as palmas da mão, contudo, não sentiu nenhuma dor, mas não teve tempo de se levantar, seus pés pareciam muito pesados, fazendo com que sua única alternativa fosse se encolher e esperar.

Uma luz muito forte fez com que Laura abrisse um pouco os olhos, que instantes anteriores ela havia escolhido fechar, preferindo nem ver o momento em que as células do mal se aproximavam. Seus olhos ardiam, e as células começaram a se dissolver bem na sua frente, ao mesmo tempo em que sua bochecha começava a doer e algumas formas de seu quarto se tornarem mais nítidas diante de seus olhos. Com um pouco de dificuldade, Laura percebeu que ainda estava em seu quarto, e que havia dormido sentada, com o tronco deitado sobre a escrivaninha. Ela sentiu um pouco de dor ao se remexer na cadeira e ajeitar a postura. O quarto estava realmente muito claro, o que a incomodava. O abajur à sua frente estava ligado, mas a lâmpada do abajur era bem fraca, não passava dos 20 w. Laura alcançou o celular abandonado num canto da escrivaninha e olhou a hora.

00:37.

- O quê?- Laura pousou a mão na bochecha dolorida e marcada pelos livros, enquanto desligava o interruptor do abajur, na tentativa de se livrar da claridade excessiva.

Ao ouvir o “click” do botão do interruptor, Laura esperava que o quarto se tornasse escuro e aconchegante. Mas a claridade continuava ali. Com um pouco de dificuldade por causa do sono, a menina girou a cabeça lentamente em direção às janelas do quarto, que por um acaso eram cobertas por blackouts grossos. E se assustou ao perceber que uma luminosidade extremamente clara invadia o cômodo. Se levantou, com passos pesados se dirigiu a mais próxima.

Quando seus dedos se firmaram em torno das cortinas e do blackout um estrondo relativamente alto fez com que ela se desiquilibrasse e caísse sentada no chão, ao passo que a luz pareceu se intensificar.

Laura se sentia confusa, e admitia para si mesma que também estava com um pouco de medo. Não que ela fosse medrosa, mas aquilo estava realmente ficando bizarro. Nesse meio tempo, preferiu segurar a cabeça que rodava um pouco e encarar seu pijama grosso com estampa de ursinhos, e quando a luz desapareceu por completo, mergulhando o quarto numa escuridão profunda, é que ela teve forças para se sentar lentamente em sua cama.

Depois de alguns poucos segundos Laura decidiu se aproximar novamente de uma das janelas, e com um pouco de indecisão puxou um pedaço das cortinas para poder espiar o lado de fora.

Nada. E o clima em Curitiba também não ajudava muito, por conta da neblina. Neblina? Ou fumaça? Laura não sabia dizer. E o que havia feito aquele barulho? Não, o barulho não era nada se comparado à luz.

Laura não sabia o que havia acontecido, e também odiava quando não sabia o que estava acontecendo. Tentou achar os chinelos que estavam perdidos em algum lugar do quarto, mas diante de sua impossibilidade de se lembrar aonde os tinha colocado, seu corpo cansado e com um pouco de dor a fez se sentar novamente na cama. E antes que percebesse, já estava puxando um cobertor grosso e se enrolando em baixo dele, assim como sua cabeça já havia se recostado no travesseiro macio. Laura lançou um último olhar perito pelo quarto, ainda buscando seus chinelos, mas foi vencida por uma força invisível e incontrolável, e simplesmente apagou.


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Notas finais do capítulo

E aí? :)



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