Caos. Não havia palavra melhor para definir o início da semana.

— Então é verdade que aquela tal de Yamanaka quase morreu no luau? - Uma menina pergunta.

— Sim! Soube até que ela entrou em coma! - A amiga respondia.

Era ridícula a forma como boatos exagerados se espalhavam por Konohagakure. Ouvir tais comentários pelos corredores me causava repulsa. "Ino drogada?!" ,"Bêbada!", "Como ela pôde fazer isso?", "Que baixaria!". Meu ódio subia a cada palavra dita por pessoas que não tinham noção do que aconteceu de verdade e nem imaginam o pânico que é ver uma amiga naquela situação. Acelerei o passo para sair o mais rápido que conseguia dali e acabei trombando em alguém sem querer.
— Olha por onde anda garo- Ah é você, Hinata. - Um Uchiha mal humorado passava tão apressado quanto eu.
— Desculpa Sasuke. Também não precisa ser tão grosso... O dia já está caótico o suficiente!
— Você acha que sabe o que é um dia caótico! Troque de lugar comigo e principalmente com a Sakura e ai sim vai ter motivos para reclamar.

Sem me dar qualquer oportunidade de resposta ele seguiu pelo corredor com cara de poucos amigos, dando fora até em quem lhe disse-se "Bom dia".

Já era previsto que dezenas de curiosos cercariam Ino de perguntas sobre o incidente. Meias palavras foram o que conseguimos trocar antes das aulas começarem até o sinal do intervalo tocar. Reparei que Naruto não havia chegado até agora. E a nossa conversa?

***

O jardim dos fundos nunca foi tão perfeito para um "esconderijo" como agora. Esperei pela chegada da Yamanaka que parecia aflita quando se aproximou.

— Meu Deus, que inferno! Não consigo dar um passo sem que alguém venha me perguntar o que aconteceu!

— Imagino... Fica tranquila que aqui ninguém vai nos encontrar. E então, como foi com seus pais?

— Quase me engoliram viva! Minha mãe reclamou tanto por eu ter bebido, disse que eu era uma irresponsável e achou que eu estava realmente usando drogas. Discutimos o dia inteiro e parecia que minhas tentativas de me defender não funcionavam de jeito nenhum. Chorei e implorei para ela entender o meu lado, mas ela não deu ouvidos. Por sorte meu pai é mais compreensivo e disse que confiava na minha palavra, mas que eu fui totalmente descuidada. Por muita insistência eu consegui vir pro colégio hoje.

— Nossa, que situação péssima... Me desculpe, mas não tiro a razão dos seus pais em achar que exagerou na bebida, agora de resto eu confio na sua palavra. Por mais que esteja um clima ruim na sua casa, não deveria ter vindo pro colégio hoje. Você ainda está palída de tão fraca... Me prometa que continuará de repolso.

— Hinata, não dá!

— Mas você tem que fazer isso! Prefere piorar e me deixar ainda mais preocupada com você? Deixa essa situação acalmar aqui e com seus pais. Dê um tempo para você mesma!

— Tá bem! Tá bem! Talvez sumir por um tempo não seja uma má ideia. Olha, vou seguir o seu conselho porque tenho total confiança em você. Só me prometa que vai me ajudar a descobrir quem fez isso comigo!

— Claro, eu te prometo.

— Obrigada. - Ela me abraça forte.

Decidimos voltar para o pátio principal, onde olhares perseguiam cada passo que dávamos. Tentamos procurar nossos amigos, mas parecia que todos estavam ocupados nos clubes ou terminando trabalhos. Presumi que Sakura havia faltado hoje, já que não conseguia encontrar ela em lugar algum para esclarecer as coisas. Resolvi voltar para sala antes do sinal tocar, quando fui interrompida por alguém já conhecido.

— Ei, Hinata.

— Oi... Neji?

— Tem outro?

Ríspido como sempre. Lancei um olhar de reprovação para ele e acabei sendo surpreendida por um pedido de desculpas.

— Sua amiga... Aquela loirinha, Yamanato... Yamamo-

— Y-A-MA-NA-KA! O que tem ela? - O interrompia.

— Soube do que aconteceu no luau com ela...

— E vai ser mais um a zombar dela também? Já escutei idiotisses o suficiente por hoje, Neji. Estou dispensando qualquer comentário desnecessário seu agora.

— Só queria saber se está tudo bem com ela.

Por mais que eu odeie admitir, Neji me deixou sem palavras. Quem é você e o que fez com aquela pessoa que só liga pro próprio umbigo?

— Como?

— Você é surda? Perguntei se ela está bem. Soube que vocês foram pro hospital com ela, deu maior confusão.

"Hinata, como você é lenta! Esqueceu do jantar? A conversa entre os velhos Hyuuga e a promessa de que Neji seria uma nova pessoa? Mas é claro! Essa é a única explicação lógica para a mudança repentina dele." Me punia em pensamento até me mancar de que ele ainda esperava uma resposta.

— Sim, ela está bem. Deram alta para ela no dia seguinte e hoje mesmo ela veio para a aul-

Meu celular vibrou no bolso do casaco do uniforme, interrompendo o assunto com a mensagem que acabava de chegar. Era de quem eu mais esperava.

"Não esqueça da nossa conversa. Te espero no terraço ao pôr do sol ;)"

Não pude esconder o sorriso besta nos lábios. Era estranha a forma como ele fazia eu me sentir.

O sinal toca e a realidade cai à tona. Neji e eu entramos na sala sem trocar mais palavras. Notei que ele ficou um pouco envergonhado por conversar comigo. Não o julgo porque me senti da mesma forma. Queria muito conversar com as meninas sobre o encontro com o Uzumaki, mas preferi manter isso em segredo por enquanto. Meu coração batia forte a cada "tic tac" do relógio. Via a sombra do prédio tomar cada vez mais a quadra conforme o sol ia embora pela janela. Era torturante, mas eu gostava de sentir isso.

***

16:30 e o sol de Tóquio desaparecia minuciosamente no horizonte. Ino esperava minha companhia na volta para casa, mas disse que meu tio iria me buscar. É errado manter isso só para mim? Não queria mentir, odeio fazer isso. Porém sentia que ainda precisava guardar esse grão de felicidade com muito cuidado. Enchi o peito de coragem e entrei de volta ao prédio. Subi os degraus com calma até chegar na porta do terraço. Não o encontrei por lá. Confesso que o sentimento de preocupação me invadiu, mas após uma volta a sua procura eu finalmente o vi. Perto da grade de segurança ele olhava em direção oposta a cidade grande, onde casas simples tomavam pequenos espaços de uma província antiga. Pude ouvir a música alta vindo de seus fones quando me aproximei e ele sequer notou minha presença. Um vento toma o ar e ele fecha os olhos apreciando a brisa gentil que bagunçava seus cabelos dourados. Era reconfortante vê-lo tranquilo de uma forma tão simples. Toquei seu ombro e ele virou-se surpreso.

— Oi! Hinata... - Ele tirava os fones ligeiramente.

— Oi... Naruto-kun. Sabia que é errado matar aula quando as provas se aproximam?

­- Sei disso. - Ele me dava o seu sorriso bobo. - O problema é que... Mesmo se eu tivesse vindo, não conseguiria me concentrar em nada.

Ele se aproximava e me olhou tão sério como nunca fez antes.

— E... qual seria o motivo da sua distração?

— Você.

Foi tão direto como uma flecha que acerta o alvo e quem acabou sendo atingida fui eu. Esqueci como se respirava por um minuto e notei que ele tentava decifrar o que meus olhos diziam, já que minha boca era incapaz de fazer isto. Quando ele percebeu , fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo antes de começar a falar.

— Eu sei que de alguma forma... Você conseguiu fazer eu me sentir tão bem naquela noite e em todos os dias desde que nos falamos pela primeira vez. Não consigo parar de pensar em cada momento, cada sorriso seu.. - Ele mantinha os olhos no chão. - É estranho, mas tão bom sentir tudo isso. Não sei como você se sente, mas para mim as coisas entre nós dois tem sido muito especias. Não quero te assustar e vou entender se você não sentir o mesmo. É só que... Eu não gosto de esconder o que sinto e tenho enfrentado uma batalha no meu coração para ter coragem de te dizer a verdade.

Ele finalmente me encara com olhos esperançosos, aguardando uma resposta. Ainda não encontrei palavras. Não sabia como começar a dizer o que sentia, se é que sabia o que era esse sentimento. Senti um toque gentil envolver minha mão. Era quente e calma a forma como ele me trazia de volta ao mundo agora.

— Eu quero começar do jeito certo com você. Quero que tenha certeza de que está disposta a se arriscar. Se puder me dar a chance de tentar ser o cara certo, eu prometo te dar toda felicidade ao meu alcance. Sei que tudo está acontecendo tão rápido, mas sentimentos não escolhem a hora certa pra chegar. Ele vem crescendo dentro de mim e eu estava incerto até aquela noite. Mas assim que eu te beijei e olhei nos seus olhos, tive certeza do que sentia e não parei mais de pensar em você...

— Naruto... Eu também venho pensando muito em você. Desde o nosso encontro na cafeteria, o luau e o apoio que você me deu quando eu mais precisava. Eu me sinto bem na sua presença, quando escuto sua risada e... Eu não paro de pensar no nosso beijo, o jeito como foi gentil... - Eu podia sentir meu rosto corar quando ele acariciou meu queixo, fazendo meus olhos encontrarem os dele quando não tive mais palavras.

— Estaria disposta a me dar essa chance, Hina-chan?

Estávamos próximos sem perceber. Aquilo era um sonho? Um vento sopra e bagunça meus cabelos. Ele coloca uma mecha atrás da minha orelha sem interromper nosso contato visual. Sinto seus dedos correrem do glóbulo até o meu rosto, segurando minha bochecha com delicadeza. Nossos lábios estavam perigosamente próximos agora. Ele encarava minha boca esperando o que ambos queríamos ouvir.

— Estou.

Pude ver um sorriso perfeito profanar de lábios tão doces quanto nosso beijo quando ele ouviu minha resposta. Sentia o coração acelerar a cada sensação de nossos lábios juntos. Calmo e delicioso. Esse o sabor da paixão?

***

Kiba POV

Hinata e eu não nos falamos depois daquele dia no hospital. Pensei em ligar, mas imaginei que ela não gostaria de tocar no assunto por um tempo. Vi como toda aquela situação a deixou exausta. Na sala mal trocamos palavras e ela parecia mais distraida do que nunca. Decidi que conversaria com ela na volta para casa. Saí de sala antes dela, pois vi que conversava com Ino e não queria atrapalhar.

— Hey, Kiba! A galera está querendo ir em um karaokê aqui perto. Vem com a gente! - Rock Lee me convidava totalmente entusiasmado quando já estava no portão principal.

— Desculpa, mas dispenso o convite, obrigado.

— Ah vamos! Vai ser divertido! Ou está com medo de perder para o dono da voz mais bela de toda Tóquio? - Lee fazia poses e movimentos estranhos, como um pavão querendo exibir suas plumas.

— Não enche! Até meu cachorro canta melhor que você. Já disse que não quero ir.

— Tudo bem então, menos concorrência. Até mais!

Lee foi embora com outros garotos enquanto eu esperava Hinata sair. Alguns minutos se passaram e todos já haviam ido embora. Onde está ela afinal? Pensei que viria com a Ino, mas a própra foi embora sozinha... Será que eu não vi ela passar? Nâo é possível. Entrei no prédio na esperança de encontrá-la, mas a porta da sala já estava trancada. Confirmei que ela havia ido embora e nem a vi. Já fora do prédio, notei uma movimentação estranha no terraço. Observei a silhueta de cabelos longos e escuros e tive certeza de que era ela. O que Hinata estaria fazendo lá? Resolvi conferir. Tive cautela ao subir, não queria que ela me visse até então. Escuto vozes antes de abrir a porta. Estava certo de que uma delas era masculina, mas quem seria? Me acalmei por alguns instantes e pude reconhecer seu dono. Naruto Uzumaki! Sim, é ele mesmo! Meu coração acelerou quando finalmente prestei atenção nas palavras. Ele estava.. Se declarando?! Não pode ser, é impossível! A razão me dizia para ir embora, não ouvir mais nada. Bisbilhotar era errado, não importa qual fosse o assunto. Mas a emoção me levou a fazer a pior escolha. 3 passos para o que eu mais temia assistir. A garota que eu amo se rendia a um beijo que não era meu. E o pior, ela queria aquele beijo onde os sentimentos eram nítidos. Eu queria impedir, sair dali o mais rápido que conseguisse, porém meu corpo não se movia. Peso de um coração partido faz a mente paralizar e a alma congelar. Fechei os olhos e me afastei com a sensação de um nó na garganta. Deus, que agonia é essa que eu sinto no peito? Quando me dei conta já estava tropeçando nos degraus que tentava descer. Eu corri para longe daquilo, como se minha vida dependesse disso. Era eu quem devia estar no lugar dele! Eu que deveria me declarar e ter os sentimentos aceitos, ter lhe dado o beijo perfeito. Mas eu perdi... Meu tempo acabou.

***

Hinata POV

A noite chega, mas eu não consigo dormir. Minha mente insiste em repetir aquele momento. Cada frase, cada olhar, cada beijo... São flashs que correm em meus pensamentos. Voltamos juntos para casa e ele me convidou para um encontro. Disse que pensaria em um lugar bonito para me levar. O celular toca em cima da cama. Quem estaria me ligando a essa hora? Atendo sem dar atenção ao nome.

— Hinata? - Um voz triste fala do outro lado da linha.

— Sakura, é você? - Reconheço sua voz.

— Sim, sou eu. Me desculpa ligar essa hora, mas eu preciso conversar com alguém. Te acordei?

— Não tem problema, acabei de deitar. O que aconteceu?

— Muitas coisas! Estou vivendo um verdadeiro inferno. - Sua voz começa a ficar trêmula.

Acendo o abajur no criado mudo e sento na cama assustada.

— Me conte Sakura, está me deixando preocupada agora!

Ela dá uma pausa e respira fundo, segurando o choro.

— Depois do problema no luau, responsáveis e os próprios alunos estão me pressionando muito querendo satisfações, me falando coisas horríveis e difamando meu nome por aí. Eu me esforçei tanto para fazer uma coisa bacana. Só queria que todos se divertissem naquela noite. Quando eu voltei pra praia e expliquei o que aconteceu, a maioria das pessoas se revoltaram contra mim, me acusando até de traficante. Obviamente ligaram para os pais e pediram para ir embora de lá e tive que escutar desaforos de cada um que chegava. Falaram que nunca mais deixariam eles irem para qualquer evento meu e isso tem acabado comigo. - Ela começa a chorar baixo. - Parece infantil demais eu falar isso, mas é uma coisa importante para mim, sabe? Não tive estrutura para ir no colégio hoje. Sasuke anda irritado com a cobrança que estão fazendo com ele também... Olha, me desculpe por encher sua cabeça com um assunto desnecessário como esse.

— Sakura, não chora! Olha, eu nem consigo imaginar o quanto está difícil pra vocês dois no momento, mas você precisa enfrentar isso. Quando se é responsável por uma coisa, infelizmente tem que arcar com estresses. Todos adoraram sua festa, acredite! Uma hora ou outra a verdade vai aparecer e eu sei que se pudesse você nunca deixaria isso acontecer. Precisamos investigar com calma o que aconteceu. Alguém foi responsável por isso. Fizeram mal a minha melhor amiga, ela sofreu muito e eu não vou engolir isso. Ninguém é cego! Com certeza alguém deve ter visto quem fez isso ou ter alguma pista. Tente se acalmar um pouco e saiba que tem meu total apoio. Seus verdadeiros amigos vão estar do seu lado.

Escuto ela respirar fundo mais uma vez antes de me responder.

— É... Você está certa. Preciso ter postura em um momento como esse. Tenho que pensar no que vou fazer agora. Hinata, obrigada por me ouvir e me desculpe qualquer coisa.

— Sem problemas. Quer me encontrar alguma hora para conversarmos melhor?