LEIAM AS NOTAS DO CAPÌTULO

Já estávamos de volta à estrada e quase adormecia novamente quando Ian me chamou à realidade:

– Peg, eu sou assim tão desinteressante para estares sempre a adormecer, é? – Ele fez cara de cachorrinho abandonado e ligou o rádio – talvez assim não adormeças.

Ele sintonizou numa rádio qualquer que eu não conhecia.

– Você sabe que isso não é verdade amor! Eu só adormeço facilmente. – Acariciei sua cara e depois sua mão que estava sobre a caixa de mudanças. Depois começou uma música qualquer que eu não conhecia mas ele se empolgou e começou a cantar.

– if you want my body and you think i´m sexy, come on, sugar, let me know.if you really need me, just reach out and touch me. Come on honey, tell me so baby…

http://www.youtube.com/watch?v=s-8QJXqjRng

Ele estava amando aquela musica e eu apenas rindo de toda a empolgação dele. Após uns longos minutos com Ian cantando bem alto e a abanar-se todo ao ritmo da musica, esta termina e Ian volta a silenciar-se como se nada tivesse acontecido.

– Ai meu Deus, Ian. Desde quando é que tu cantas? De quem é essa musica? Eu nunca a ouvi.

– Ah, eu não canto – ele me olhou por uma fracção de segundo e sorriu – Eu só canto ESSA música. Eu não sei realmente de quem é esta música, ela é muito mais velha do que eu. Mas olha só, não adormeceste! Tenho de cantar mais vezes pelos vistos…

– Precisas sim, não para me manter acordada mas porque simplesmente é hilariante. – ele voltou a fingir –se de ofendido e eu mudei de assunto, ficando mais séria – como está o teu irmão?

Kyle havia resgatado o corpo de sua amada, Jody, ainda com a alma que lhe correspondia, a Sunny. No entanto, quando retiramos a alma do corpo, este não reagiu, pelo que recolocamos Sunny de volta, para não matar o corpo. Kyle, ainda se sentia dividido, pois pelo o que eu percebia, Sunny era diferente de Jodi, não pior, apenas diferente.

– Eu sinceramente não sei… Eu acho que ele já se conformou mas por vezes o apanho a olhar para Sunny de um jeito… parece raiva, como se ela fosse culpada por Jodi já não estar ali. – ele se calou, para retomar apenas num sussurro quase inaudível – do jeito que Jared olhava para você no corpo de Melanie.

Eu congelei no meu lugar. Eu não gostava de falar no assunto, ele tampouco, a menos que fosse estritamente necessário. Eu bem sabia o que ela sentia. Eu tinha sentido o mesmo e ainda restava um pouco desse sentimento em mim. Ela estava apaixonada pelo namorado da sua hospedeira. Ela podia ver nos olhos de Kyle que ele, apesar de tudo, gostaria que fosse Jodi que estivesse ali, e a magoava sem intenção por isso, era inevitável. E eu podia ver nos olhos de Sunny a dor de não ser amada como amava.

Em pouco tempo chegamos à comunidade. Agora ninguém me vendava os olhos como faziam. Eles argumentavam que eu já tinha provado minha lealdade por inúmeras situações. Mal Ian parou a carrinha, saltei logo para fora. Melanie já ali estava, como era esperado. Me abraçou rapidamente mas com força e se atirou para os braços de Jared, quase fazendo cair os dois ao chão. Eu ri bastante e alto perante aquela cena e os dois riram junto. Eu já tinha superado os sentimentos indesejados pelo namorado de minha melhor amiga pelo que não me incomodava de modo algum os carinhos que trocavam à minha frente.

– Vá, matam saudades depois, temos de descarregar as carrinhas, pelos vistos elas não querem descarregar-se sozinhas – disse Jeb ironicamente. Eu nem tinha reparado nele ali, dei-lhe um breve abraço e comecei a descarregar, quando estava com uma caixa um pouco pesada nos braços, dirigindo-me para a sala de armazenamento, senti o lado esquerdo do meu corpo ser puxado para trás e eu caí com a caixa que espremia meu peito e eu deixei de conseguir respirar ou pedir ajuda. Rapidamente senti o peso ser tirado de cima de mim e inalei uma grande porção de ar até retomar minha respiração.

– Ei, Não vais pedir desculpa a Peg, não? – ouvi Melanie perguntar para alguém irritada mas não conseguia ver quem era. Tentei me sentar, mas uma dor agoniante na coluna me mandou outra vez para o chão. Gemi de dor.

– Eu? Ela que não se meta no meu caminho e nada acontece. A vadiazinha que se limite a ficar aqui na comunidade com o resto das MULHERES e deixe de distrair os homens aqui. Agora ela insiste em contrariar, é o que dá. – Quando reconheci a voz, voltei a ficar sem ar, mas desta vez de medo. Ai, Ian vai quebrar a cara de Carl dessa vez, tenho a certeza. Oh , meu Deus!

– O que acabaste de chamar à Peg? Estás louco? Do que estás a falar? – essa voz não era de Ian. Era de Melanie, e ela estava a gritar e ouvi Jared a pedir-lhe para se acalmar.

– ah, não se meta, rapariguinha! – ouvi o idiota sair dali para fora.

– anda, eu te ajudo – Jared disse pegando em mim ao colo. Jared?

– Ian? – não obtive resposta alguma – onde está Ian?

– Peg, não se preocupe, vamos levá-la á enfermaria. Ian saiu com Jeb. Não sei para onde foram, mas eu vou procura-lo, está bem? Volto já, irmã. Melanie me deixou sozinha com Jared que já caminhava em direcção à enfermaria. Senti o seu cheiro e isso me trouxe memorias, agora não dolorosas, apenas memórias.

Chegamos à enfermaria e logo Doc se ocupou de mim. Mandou Jared colocar-me numa das macas de barriga para baixo e começou a massajar-me as costas de modo a conseguir encontrar o problema.

– Peg? Peg, você está bem? O que aconteceu? – Ian chegou a correr acompanhado de Melanie. Ele parou ao meu lado e se aninhou. Sua cara era de profunda preocupação.

– Eu acho que estou bem. Eu apenas caí e me magoei – eu respondi as suas perguntas simplesmente.

– Ah, peg, não minta – Melanie bufou e se virou para Ian – Ela estava a descarregar quando Carl passou por ela e a deitou ao chão com seu corpo. E ainda teve a lata de dizer que a culpa era dela e a chamou de vadia.

– O que? Outra vez? Ele só pode estar a pedir para eu o espancar – Ian ficou nervosinho outra vez, como no quarto de hotel.

– outra vez? – Melanie olhava de mim para Ian confusa - Ele já te bateu antes?

– Ian, tem calma, por favor, não faças nada, eu te peço – falei desesperada, eu odiava brigas, ainda mais se meu Ian estivesse envolvido – Melanie, ele não me bateu antes, ele já me havia chamado vadia antes – expliquei, e ela arregalou os olhos – te explico mais tarde.

Doc me sentou com a ajuda de Ian, que logo me abraçou e beijou meus cabelos carinhosamente. Ainda bem que ele me segurava caso contrario eu cairia outra vez dado as vertigens que ainda sentia.

– Muito bem, Peg, estás apenas dorida, nada de grave. Nada partido. Agora, recomendo que descanses por uns dias, para não agravares o teu estado, tá? – eu bufei, detestava ficar quieta sem nada para fazer.

Mas por outro lado, teria muito tempo para pensar. Chega de ser burra Peg! Chega de ser amigável! Eu pedi a Ian para não fazer nada a Carl. Queria ser eu a ter esse gosto. Ah pois, essa vai ter troco, ou não me chamo Peregrina!