Nessa noite iríamos todos dormir no salão de jogos visto que estava a chover, coisa que era rara aqui no meio do deserto. Enquanto nos dirigíamos para lá, tinha Ian me levando numa espécie de abraço de um lado, Mel do outro, Jamie e Jared atrás de nós, o último muito próximo de Melanie, parecendo apenas um só. Melanie estava tagarelando entusiasticamente sobre sua ideia de dormirmos todos juntos, que seria divertido. Não seria, seria embaraçoso, para todos nós e ela sabia-o mas achava que seria uma excelente forma de ultrapassar todo este constrangimento. Apesar de eu realmente amar Ian e lhe ter garantido que era a ele que eu queria, o que era verdade, Jared continuava a mexer comigo, eu ainda sentia atração por ele. E Melanie sabia-o.

- Eu sei o que se passa, Peg – ela disse suavemente – Após tanto tempo em meu corpo, com meus pensamentos, com minhas emoções, desejos e memórias, é perfeitamente normal que os tenhas transportado contigo em tuas próprias memórias para o teu novo corpo, eu acho. Não te preocupes, eu não te vou dificultar a vida, afinal somos irmãs, certo? Com certeza que tudo se vai resolver – ela afirmou quando trabalhamos as duas na cozinha a amassar o pão.

Eu queria que fosse verdade, que tudo se resolvesse, que minhas memórias de Jared de desvanecessem, a sensação de seu corpo em minhas mãos, bem, nas de Mel, o seu cheiro… Eu tinha de conseguir. Por Ian. Ele não merecesse isto! Ele merecesse que eu me entregue a ele a cem por cento, sem interferências de ninguém porque eu sei que ele se entregou a mim de corpo e alma e eu ainda não conseguia fazê-lo. Parte da culpa era deste novo corpo. Candy provavelmente não teve boas experiencias com humanos masculinos porque sempre que Ian me tocava, mesmo de forma não romântica, meu corpo estremecia e retraia-se. Isso me irritava! Mas o que me irritava mais que tudo era eu estar sempre comparando os meus dois corpos humanos: como o de Melanie era forte e desinibido e como o de Candy era tão frágil, tão ligeiro e tão tímido e acanhado. Não me dava a chance de compensar Ian por tudo o que o tenho feito passar. Agora, para além de lutar contra minhas emoções e memórias, terei de lutar também contra meu próprio corpo.

Quando entramos no salão, Jeb estava direccionando as pessoas para os respectivos lugares onde iriam ficar para pernoitar, e tal como Melanie queria, ficamos todos juntos. Subtilmente, fiz com que Jamie ficasse entre os dois casais e depois dei minhas costas para ele, ficando muito próxima a Ian, sentindo sua respiração na minha face. Meu corpo tentou puxar-se para trás de novo mas lutei com ele como havia prometido e aproximei-me ainda mais dele, tanto que já não havia espaço algum entre nós e então passado uns minutos, meu corpo aceitou a aproximação e começou a relaxar. Dei uma risadinha de vitória. Ian se afastou um pouco e olhou em meus olhos, confuso.

- O que foi Peg? – Perguntou ele ainda a tentar ler-me a expressão. Eu estava tão entusiasmada com a minha conquista que em vez de lhe responder, meus lábios se lançaram à procura dos seus, urgentes. Após ambos ficarmos sem fôlego Ian deixou seus lábios deslizarem até meu pescoço. Foi então que vi, por cima do ombro do meu adorado que vi o grupo de humanos que tínhamos encontrado na estrada, quer dizer, eles é que nos encontraram. Nós os tínhamos trazido até à gruta para Nate o seu líder ter oportunidade de conhecer Jeb. Eles tinham cá ficado desde então, desde há uma semana mais ou menos. Com todos nos seus devidos lugares Jeb se tinha juntado a eles junto à parede, falando com eles, trocando informações extasiado, sorrindo mas todos eles sem nunca olhar para qualquer outra pessoa na sala. Todos menos um. Cal, a alma do grupo de Nate olhava directamente para mim e Ian. De repente eu me afastei de Ian, embaraçada por estarmos a ser observados tão atentamente.