“Você está sendo idiota.” Mia diz.

“Ah é claro, idiota por não gostar que minha noiva fique grudada em homens o tempo todo.” Grito.

Ela me olha com raiva e me dá as costas.

“Eu tenho amigos, algum problema?” Pergunta.

O que eu poderia dizer? Todos os problemas. Na verdade o problema não era Mia ter amigos e sim ela ser tão efusiva e próxima de todos eles. Não falo mais nada, deixo o bistrô e vou para a rua emburrado.

O casamento se aproximava cada vez mais, Mia logo seria minha esposa, mas nem a certeza disso fazia meu ciúme diminuir. Eu sempre tentava disfarçar, mas era inútil.

Lembro da primeira vez que me vi com ciúmes dela, foi depois de vários desentendimentos, admito que por culpa minha, na época que eu tinha medo de me envolver com ela. O fato é que estávamos brigados e eu ainda estava remoendo de culpa por isso, então decidi ir a balada com alguns amigos, tentar espairecer. Mas ao invés disso encontrei Mia se esfregando em um cara.

Dou alguns passos em sua direção, mas paro quando me lembro que da ultima vez que nos vimos ela mandou eu me foder. Fico só observando mesmo, vendo até onde ela irá com a cena.

Não acho que Mia seja esse tipo de garota, mas talvez eu não a conhecesse tanto quanto imaginava. É isso que certifico minutos depois quando ela me vê e provocativamente beija o rapaz a quem está abraçada, me olhando como quem diz “É isso que está perdendo.”

Dou as costas para a cena e me afasto.

Acabei descobrindo assim que não era imune aos joguinhos de conquista de Mia como costumava ser a outras mulheres. Menos de dois meses e ela conseguia me tirar do sério. Afinal, eu estava com ciúmes.

Fico de olho em Mia lá de cima do camarote, ela não se aproxima mais daquele cara, o que é um bom sinal.

É tarde quando vou para o estacionamento. Vejo em um canto um grupo de amigos e outra garota corre de volta para dentro do clube. Reconheço Lily entre os que ficam, portanto, são os amigos de Mia.

Entrar no carro e ir embora ou ir até lá? Se eu fosse embora me preocuparia se era algo com Mia, mas se eu ficasse estaria assinando meu certificado de idiota.

Talvez eu fosse mesmo um idiota, porque é isso que faço. Uma garota se debruça sobre a mureta, vomitando. Pelos cabelos curtos e escuros sei que é Mia.

“Droga.” Penso.

Corro até lá e a seguro.

Os momentos que se seguem são de carinho e proteção, quem visse não acreditaria que há alguns minutos estávamos com raiva um do outro. Arrisco dizer que esse foi o primeiro instante de cumplicidade entre nós, pena que acaba rápido.

Ela precisa ir e o cara do beijo diz que a levará, mas seguro Mia com mais força em meus braços, para impedir. Rapidamente ela entende o recado e pede para uma das amigas levá-la. Era bom saber que ela podia obedecer as vezes.

Quanto ao Sean (descobri sue nome depois) tive que suportar muitas cenas com Mia até que eles se afastaram definitivamente. Mas por falta de Sean existe o Luke, Nate, Josh, Pieter, Louis, todos que aprendi com o tempo a considerar. Diferente de Sean eles eram pessoas legais.

Só que a razão da briga de hoje era alguém novo o que me faz sair do meu estado racional. Era um funcionário novo, que estava sozinho com ela no bistrô quando cheguei para buscá-la.

“Amor entra aqui, para de graça.” Ela pede da porta.

Entro de novo só para não começar uma briga em publico, mas fico em silêncio enquanto ela termina de arrumar suas coisas para irmos.

“Eu não fiz nada errado e você sabe disso.” Ela murmura.

Eu sabia disso, o problema é que me irritava quando alguém ficava perto demais dela. Mia nem percebia, mas ela atraia os homens com esse jeito espontâneo, sua espontaneidade poderia ser interpretada de maneira errada e era isso que me preocupava.

Ela pega o celular e disca para alguém.

“Boa noite, eu preciso de um táxi...”

“O que você está fazendo?” Pergunto.

“Indo para casa.” Diz.

“Achei que ia comigo.” Falo.

“Não vou mais.”

“Então, boa noite.” Digo indo para a porta.

Fingindo não me importar do mesmo jeito que ela estava fazendo, mesmo sabendo que não vamos muito longe com isso.

Começo uma contagem regressiva mentalmente enquanto ando para a saída.

“4... 3... 2... 1.”

“Ethan.” Mia fala quando termino.

Viro de volta para ela e ficamos nos encarando por alguns segundos, aqueles olhinhos negros me pedem silenciosamente para não ir e na verdade eu não quero ir.

“Desculpa.” Peço. “Eu sou um idiota.” Assumo em seguida.

Era assim que eu me sentia depois desses ataques de ciúmes.

“Sim, você é.” Ela concorda. “Mas eu ainda te amo.”

E então corre para os meus braços.

Eu realmente sou um homem de sorte, apesar de ficarmos de birra um com o outro quando isso acontece, alguns minutos depois estamos bem. Mia poderia fazer um discurso enorme sobre como preciso confiar nela e outras coisas, mas ela nunca o faz. O que me faz sentir ainda mais culpado.