Eu, Você E Nossa Vida A Dois escrita por Mnndys


Capítulo 22
Razão para viver




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“Aquela.” Aponto uma pulseira delicada no balcão.

“Essa?” A vendedora puxa e me deixa vê-la melhor.

É algo que combina com minha esposa, delicada, mas que se faz notar.

“Vou levar.” Afirmo.

É um presente para marcar a data em que nos conhecemos, o dia em que nossas vidas mudaram.

Eu e Mia vamos jantar fora essa noite. Já posso imaginá-la em um vestido curto, mas elegante, os cabelos caindo sobre os ombros com cachos indisciplinados que mesmo com muito esforço não durarão mais que meia hora, e com um grande salto, daqueles que Mia adora, e que compensam sua estatura não muito alta.

Começo a dirigir até nossa casa.

“Está pronta?” Pergunto assim que ela atende o celular.

“Estou. Ana já pegou Joseph.” Ela conta.

Agora que Joseph está com seis meses estamos nos acostumando a ficar longe dele.

“Ótimo. Eu vou chegar logo, me atrasei um pouco.” Me desculpo.

“Você está dirigindo?” Mia pergunta.

“Viva-voz.”

“É melhor desligar, não quero que se distraia.”

“Eu estou atento.” Afirmo.

Porém, é uma questão de frações de segundos para eu ver a luz forte que invade o carro, o caminhão avança rapidamente em minha direção, sem me dar nenhuma chance de tomar alguma atitude.

O impacto dele sobre o carro é tudo que consigo assimilar e depois mais nada. Tudo depois é um amontoado de lembranças desconexas sobre Mia.

“Mia este é Ethan, irmão de Kate.” Minha amiga Ana diz para a garota de cabelos curtos que acabava de entrar graciosamente no prédio.

“Acho que estou com saudade da sua cama.” A mesma garota sussurra baixinho para mim no sofá de sua casa. Em seguida leio um bilhete dela. “P.S.: Você não deveria dizer que ama alguém quando na verdade ela não passou de uma distração enquanto você esperava a vadia que te machucou voltar.”

O próximo pensamento me leva a casa dos meus pais. “Se serve de consolo, você me faz sentir acima das nuvens com freqüência.”

São vários lugares e momentos que se intercalam desesperadamente, sem que eu possa controlá-los. Mia está gritando “Foda-se você, foda-se suas complicações com relacionamentos, e foda-se essa droga de amor que eu estava sentindo por você.” na porta de meu apartamento, e em seguida está na minha cama dizendo “Eu quero te beijar.”

“Você está fazendo isso só para me fazer ir. Não é justo, nem comigo e nem com você. Por favor, Ethan.” Mia fala entre lágrimas quando digo que ela deve ir para Nova York, pobre garota, ninguém nunca a ensinou antes que a vida não é justa. De repente, é como se eu sentisse aquele vazio de novo quando ela partiu, ou de quando a ouvi dizer “Eu não sei como vão estar às coisas quando eu voltar, mas quero que saiba que eu sempre estarei aqui para você e que eu te amo.”

Eu te amo. Todos especiais, mas nenhum mais significativo que o primeiro. “Tem mais uma coisa que você precisa saber. Eu te amo Ethan.” Ela disse no corredor do hotel. E então as lembranças só me permitem ouvir Mia pelo telefone dizendo “O que você sente por ela é maior do que o que sente por mim?” Lembro-me de pensar o quão absurdo a pergunta soava.

Então depois só coisas boas de me lembrar.

“Ethan você enxerga dentro da minha alma, é como se de alguma forma você tocasse algum lugar dentro de mim que ninguém nunca mais tocou e sei que não irá mais tocar, porque independente se a nossa história tiver um ponto final agora, o que nós tivemos será especial para sempre.” A voz de Mia é tão afobada, mas nesse momento é o que me prende.

“Sim! Sim! Sim! Eu quero ser sua esposa e ter uma família com você.”

“Eu prometo te fazer feliz e fazer com que cada um dos nossos dias juntos, seja sempre o melhor.”

Logo em seguida, todas as coisas sobre Joseph.

“Eu estou grávida!” Diz. “Vamos ter um bebê.” Ela anuncia sobre olhos curiosos de nossa família. “Nós também te amamos.” Mia sussurra durante a ultrassom.

Lembro do meu medo de ser pai, medo do futuro, e ela me passando toda a confiança. “Ethan nosso filho é um amor novo, não vamos transferir nosso amor um pelo outro para ele. Como eu disse o Joseph vai acrescentar.” E quando enfim Joseph nasceu senti que éramos completos. “Oi Joseph, sou sua mãe e te amo muito.” Mia diz baixinho a ele. “E esse moço do nosso lado é seu pai, e ele ama muito a gente.”

Estou inconsciente, não ouço ninguém, não vejo, não sei o que está acontecendo ao meu redor, mas de alguma forma posso sentir a dor, dói muito, e nem consigo saber aonde dói.

Mia e Joseph estão servindo como válvula de escape, eu queria correr até nossa casa para abraçá-los e ter certeza que ficaremos juntos. Em um instante é lá que estou, nossa casa. As paredes da sala estão com cores diferentes e alguns móveis estão em outros lugares, mas, sem duvidas, é nossa casa.

“Joseph temos que ir querido.” Mia diz em algum canto da casa.

Sigo a voz dela até o quarto de Joseph.

É uma surpresa encontrar o quarto todo mudado. Um garotinho de mais ou menos cinco anos brinca com alguns carrinhos.

“Vamos Joseph, guarda isso, os seus tios estão esperando.” Mia pede docemente ao garoto.

Joseph? Oh Deus, ele é tão parecido comigo, com exceção dos cabelos da mãe.

“Eu quero brincar.” O garoto resmunga fazendo bico para Mia.

“Seus primos estão lá, você pode brincar com eles.”

Por alguns segundos consigo desprender meu olhar de Joseph e me volto para Mia. Ela está mudada, parece abatida, seus olhos não brilham mais. os cabelos estão presos e as roupas tem cor neutra como nunca antes.

Ela vai até a cômoda e pega um porta-retrato.

“Sinto tanto sua falta, eu sempre te amarei.” Ela sussurra.

Então era isso que iria acontecer? Eu partiria, não veria meu filho crescer, deixaria Mia tão só a ponto de se tornar uma mulher sem vida?

Eu deveria ter alguma chance de escolha. A vontade que sinto de lutar por Mia e Joseph é tão grande que sou levado para longe dali.

A dor passou. As lembranças se foram. Por alguns segundos chego a acreditar que morri, mas percebo que não quando posso escutar vozes.

“Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance, agora precisamos ver como ele responde.” Um homem diz.

“Quanto tempo até sabermos? Já se passou muito tempo.” A voz de Mia é quase um sussurro de tão fraca.

“O normal é 48 horas, mas pode ser mais, ou pode ser menos. No caso do seu marido isso está se estendendo.”

Se estendendo quer dizer quanto tempo? Há quanto tempo estou assim?

“Eu quero ficar com ele um pouco.” Mia diz.

“Nesse momento não é aconselhável senhora Kavanagh.”

Quero que ela fique, mas não consigo mover meus lábios, não consigo sequer mexer qualquer parte do meu corpo. Algo está errado.

Adormeço em poucos minutos. Quando volto a acordar não faço idéia de quanto tempo se passou.

“Por que está fazendo isso com a gente Eth?” Kate está chorando.

Não me lembro a ultima vez que vi Kate chorar, quando Ava nasceu, talvez. Quero gritar para ela que estou bem, mas não sei se estou bem e não posso gritar.

“Mamãe está arrasada e papai não sabe como consolá-la. Nós precisamos de você Eth, eu posso ter crescido, mas você ainda é meu irmão mais velho.”

A seqüência de dormir e acordar, se segue com mamãe, papai, Grace, Elliot, Ana e Christian, a cada vez ouço algum deles. E por fim, Mia.

“Joseph não para de chorar, ele mal dorme, é como se ele percebesse quão erradas as coisas estão.” Ela conta. “Estou dando o meu melhor por ele, cuidar dele tem me mantido com a mente ocupada e não quero ficar fora da vida dele de novo, nós já estamos sem você.”

Tento imaginá-la dizendo isso, seu olhar, seus gestos.

“Não há um só dia em que eu não acorde com a esperança que você esteja acordando também, sei que já se passaram dezesseis dias, mas eu sei que qualquer dia desses você vai acordar. Você não vai nos deixar, eu sei, eu sinto. Logo estaremos em casa discutindo o que comer no jantar, ou onde levar Joseph para passear, ou qualquer outra coisa banal.” Ela diz esperançosa. “Então eu vou poder dizer que te amo mais do que eu pensava e te dizer que serei uma esposa melhor, que tentarei te fazer mais feliz, que vamos envelhecer juntos e ver Joseph crescer, porque é com isso que sonho desde que te vi pela primeira vez no prédio da SIP.”

Mia chora compulsivamente ao final de seu monólogo. Quero dizer coisas para ela também, preciso que ela saiba o quanto eu preciso dela.

As palavras “dezesseis dias” ainda martelam em minha cabeça. Como é possível eu ter perdido a noção do tempo?

As lágrimas de Mia tocam minha mão e tenho vontade de secá-las, de cuidar de Mia, de dizer para não chorar, e mesmo sabendo que não posso eu tento fazer.

“Mia.” Digo enquanto tento erguer minha mão.

“Ethan.” Ela sussurra.

Então ela pode ouvir aquilo? Eu realmente falei algo?

“Amor fala comigo, talvez eu esteja louca, então eu preciso ter certeza que te ouvi falar.” Ela diz.

Faço um esforço e abro meus olhos antes de dizer algo mais.

”Oi.” Murmuro.

Os olhos dela estão radiantes sobre mim.


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