“Eu já disse que amo esse sorriso?” Pergunto assim que Mia passa pela porta da sala acompanhada de Ana, Kate e muitas sacolas.

“Sim, mas eu gosto de ouvir sempre.” Ela fala. “Vou levar isso no quarto já volto. Minha mãe está no quarto com Joseph?”

“Está.”

Mia deixa a sala e tenho minha chance de conversar com Kate e Ana sobre o estado dela.

“E então, o que acham?” Pergunto.

“Ela parece bem melhor.” Ana diz. “Falou do Joseph com muita empolgação, comprou mil roupas para ele, acho que agora só ficou mesmo a insegurança em cuidar dele.”

“Mas fica tranqüilo, ela já é a Mia de novo.” Kate fala. “Com uns defeitinhos de configuração, mas é a Mia.”

Fico conversando com elas mais alguns minutos antes que Mia volte para a sala.

“Olha titias e papai como eu fiquei lindo.”

Ela está com Joseph no colo, a princípio eu me preocupo um pouco, há semanas ela não fica com ele no colo. Grace, Ana e Kate se revezaram em ajudar quando conseguiam uma folga em seus trabalhos.

Mia o vestiu com uma das roupas novas.

“Oh que coisa linda.” Ana elogia. “Saudades de quando o meu era um bebezinho.”

“A Phoebe ainda é um bebezinho.” Kate lembra. “Mas eu concordo que essa fase é muito gostosa de aproveitar. Eles crescem tão rápido, Ava já vai fazer um ano.”

Kate e Ana passam algum tempo babando Joseph.

“Ela o pegou por vontade própria?” Pergunto a minha sogra.

“Sim, o trocou sozinha, eu fiquei por perto, mas ela foi bem. Já faz um mês, ela começou o tratamento logo, está indo ao psicólogo, e além do mais a médica disse que poderia ser passageiro.” Ela analisa.

Não demora muito para Kate e Ana se despedirem, acompanhadas de Grace.

“Se quiserem volto depois.” Ela se oferece.

“Não, eu acho que posso ajudar Ethan hoje.” Mia a dispensa.

Grace lhe dá um sorriso animador antes de ir.

É a primeira vez que Mia se oferece por vontade própria a cuidar de Joseph.

“É bom te fazer sorrir de novo.” Ela fala quando nossos olhares se encontram.

Não percebi que estava sorrindo, mas é bom sorrir por ela de novo.

“Vai tomar um banho, quando ele acordar vai querer mamar.” Digo.

Mia abre a boca para falar algo, mas desiste, e então sai em direção ao quarto.

“Pode deixar que eu vou!” Ela grita quando Joseph começa a chorar e eu estou no banho.

Minha vontade é sair do banho e ir até ele, mas Mia merece um voto de confiança de minha parte. É um alivio quando saio do banho e o choro cessou.

Pelo jeito deu certo.

Caminho até o quarto de Joseph.

“Isso dói.” Mia resmunga brincando quando a encontro com nosso filho mamando ferozmente em seu seio. “Mas eu meio que estava com saudade de tê-lo assim.”

Ela abaixa a cabeça na direção dele e o cheira.

Cheguei a pensar que isso nunca aconteceria. Nas ultimas quatro semanas ela amamentou Joseph umas três vezes por semanas, por insistência de Grace, e sempre precisava do auxilio de alguém.

“Estou me sentindo melhor, de verdade, sei que você deve estar se perguntando se estou bem mesmo.” Ela fala. “Tenho vontade de cuidar dele, estava me sentindo tão mal por ter esperado por ele tantos meses e depois não cuidar.”

“Bem vinda de volta.” Digo feliz. “Você é a mulher mais forte que conheço.” Me aproximo da poltrona em que eles estão. “Isso poderia durar meses e olha só, esta se tratando há um mês e está muito melhor.”

“Eu não estou curada.” Mia lembra.

“Sei disso, vai precisar de um tempo, mas está avançando muito.”

Joseph fica mais dez minutos pendurado em Mia. Ela o passa para mim e o faço arrotar. Em seguida ele enche as fraldas.

“Pela quantidade de leite que você tomou garotão isso deve estar bem melecado.” Brinco.

“Eu troco.” Mia fala.

Coloco Joseph no trocador e ela se aproxima dele.

De repente, ela o olha e seu olhar não é mais o mesmo de minutos atrás, ela parece assustada ou intimidada. Mia está com medo.

Ela dá um passo para longe do trocador, mas assim que o faz esbarra em mim que estou atrás dela.

“Calma.” Sussurro em seu ouvido. “Você não precisa fazer isso agora, mas se quiser eu sei que vai conseguir, sei que é uma ótima mãe, e Joseph precisa de você.”

Ela relaxa em minhas mãos que estão a segurando.

“Eu vou fazer.” Ela olha para trás e me dá um sorriso.

Deslizo minhas mãos até as dela e a levo até a fralda de Joseph e faço com ela passo a passo até que se sinta segura para eu soltá-la.

Joseph praticamente não se move, ele sabe quando precisa colaborar.

“Você fez.” Afirmo quando ela termina.

O sorriso que Mia dá é o maior em muito tempo, é um misto de alivio e felicidade.

“Agora vamos fazer esse garoto dormir.” Ela diz.

Conseguir uma etapa a fazia se sentir pronta para outra.

Sento-me na poltrona e a observo caminhar com Joseph pelo quarto, cantando cantigas de ninar por mais de meia hora.

“Joseph é hora de bebês dormirem.” Ela fala.

Joseph está relutando em dormir, sempre que seus olhos estão prestes a se fechar ele os abre de volta.

“Acho que ele está adorando a voz da mamãe.” Digo.

“Você gosta?” Ela pergunta a ele.

Claro que ele gosta, quem seria o louco que não gostaria da linda voz de Mia?

Mais dez minutos e Joseph é vencido por seu sono.

Vou até a sala. Talvez eu ainda pegue o final do jogo. Ligo a TV e me jogo no sofá, fecho os olhos por um instante, a fim de recuperar energia.

Sinto o corpo de Mia se projetar sobre o meu.

"Obrigada por não desistir de mim." Ela fala.

Abro os olhos e encontro aqueles grandes olhos negros de frente para mim.

"Eu te amo." Digo.

"Eu também te amo." Mia diz e em seguida alcança o controle em minha mão e desliga a televisão. "Nada de Mariners essa noite e pelo menos por uns três meses até recuperarmos o tempo perdido." Ela anuncia.

"Começando em 3...2...1." Falo e rolo com ela para o tapete  da sala.

"É macio." Mia diz. "Ainda não estreiamos ele."

"Não seja por isso."

A noite, ou pelo menos o que aproveitamos dela até Joseph acordar, é muito intensa. Acho que nós eliminamos dois meses e meio de saudade em poucas horas.

Mas agora que esse lado de Mia está de volta quero aproveitar, mais e mais.