Eu, Você E Nossa Vida A Dois escrita por Mnndys


Capítulo 2
Escova de dente




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Era uma manhã de quarta-feira como outra qualquer, quer dizer, mais ou menos, porque Mia está aqui esta manhã. Ela tem dormido aqui pelo menos três vezes na semana.

"Bom dia." Ela murmura sonolenta, acordando pelo barulho de meu despertador.

"Bom dia, dorme mais." Digo.

Afinal só eu precisava ir trabalhar cedo. Deixo a cama e vejo roupas da Mia espalhadas pelo quarto, as quais eu vou recolhendo no caminho até o banheiro. Abro o guarda-roupa para deixar elas lá, mas não tem espaço. Outras várias roupas da Mia estão ocupando o espaço.

No banheiro tem perfumes e cremes ocupando toda a bancada. Na cozinha a geladeira está repleta de coisas que ela ama comer.
Normalmente eu não ficava me incomodando, afinal Mia devia estar acostumada, sempre teve empregados na casa para fazer tudo, e eu apesar de ter uma família de ótimas condições financeiras sempre me virei sozinho. Mas ela estava ficando extremamente bagunceira e espaçosa.

Volto para o quarto para me trocar e não encontro Mia na cama, me troco e então vou ao banheiro me despedir, supondo que ela estivesse lá. Ela estava. E eis que aconteceu a gota d'água, usando a minha escova de dente. Não dava mais para continuarmos aquela situação.

"Porque está usando a minha escova de dente?" pergunto.

"Não achei a minha, é só uma vez, não tem problema." Ela fala com ar inocente.

Abro o armário e pego a escova de dentes dela, que ela não procurou direito.

"Droga Ethan, não precisa ficar bravo com isso." Ela fala percebendo minha irritação.

"Acontece que eu não estou bravo com isso." Grito. "Estou bravo por tudo, eu não tenho mais espaço." Despejo.

Ela me olha surpresa.

"Eu estou tirando seu espaço?" Ela pergunta.

"É só olhar em volta, meu banheiro, meu guarda-roupa, meu quarto, minha geladeira, nada mais é meu." Falo.

"Achei que gostasse de me ter aqui." Mia faz drama.

Ela era assim, sempre que alguém dizia algo que ela não gostava fica sentimental e no fim todo mundo cedia. Inclusive eu.

"Eu gosto, mas nós ainda não somos casados." Digo.

"Talvez nós não devêssemos casar." Ela diz.

Ah não! Isso estava saindo de controle, era melhor eu ter me calado. Penso em mil coisas para falar para ela, mas acho que poderia piorar a situação. Era óbvio que eu a amava e queria casar com ela, mas quando tivéssemos uma casa maior com espaço para colocar todas as coisas dela, e também não seria nada mal ela ser um pouco mais organizada.

Saio sem dizer mais nada.

Mas no meio do dia a consciência pesa, mesmo sabendo que eu não estava errado, só que eu poderia tê-la magoado. Pronto, eu não conseguiria me tranquilizar enquanto não me desculpasse com ela. Perco a conta de quantas ligações faço, e quantos e-mails e mensagens envio sem respostas.

Talvez fosse melhor dar um tempo a ela.

Entretanto, para minha surpresa, quando chego em casa encontro Mia juntando todos os seus pertences.

"O que você está fazendo?" Pergunto.

"Te dando espaço."

Droga, ela estava mesmo magoada.

"Não foi isso que eu quis dizer." Falo.

Parece que todo homem fala isso quando faz algo errado para tentar se safar, mas na verdade quase sempre nós não quisemos dizer aquilo mesmo, ou quisemos, mas vocês mulheres interpretam de forma diferente daquela que pensamos.

Fico ali na porta olhando ela tirar as roupas do guarda-roupa e atirar em uma mala em cima da cama.

“Para com isso.” Peço, mas ela não para. Então me coloco na frente da porta do guarda-roupa.

“Sai Ethan.” Ela grita. “Eu só estou fazendo o que você quer.” Diz.

Então parado ali eu reflito sobre o que eu quero, será que eu quero que ela leve todas aquelas coisas embora? Acho que não. Porque nos dias que ela não aparece e sou obrigado a ficar sozinho naquele apartamento aquelas coisas são quase como a presença dela, suas cores, seu cheiro e seu jeito. A verdade é que amo aquelas coisas quase tanto quanto amo aquela garota magoada.

“Eu não quero isso.” Murmuro. “Eu odeio sua bagunça, eu assumo, mas se eu te deixar levar essas coisas vamos fugir da realidade e prefiro encarar, ceder, e esperar que você ceda também.”

Mia anda até a cama e se senta lá no meio de suas coisas.

“Por que a gente briga?” Ela pergunta.

Ando até ela, me agacho no chão e seguro seu rosto entre minhas mãos.

“Porque relacionamentos são assim, uma hora você adora, em outra você odeia. Mas a única coisa que eu quero longe de mim é a possibilidade de estar longe de você.” Digo.

“Me desculpe pela bagunça e pela escova.” Ela murmura timidamente.

Naquela altura eu nem me lembrava da escova, mas provavelmente para ela a escova ainda era um problema. Tenho vontade de puxá-la para meu colo e fazer carinho em seus cabelos, mas achei que isso soaria meio paternal no momento.

Seguro o cabelo e a deito na cama, ficando por cima dela, enquanto jogo todas as roupas para o chão.

“O que está fazendo?” Ela pergunta.

“Suas roupas a partir de agora ficam no antigo quarto da Kate entendeu.” Digo como quem dá orientações. “E nada de escovar o dente com a minha escova, se quer trocar saliva comigo tem jeito melhor, ok?” Ela assente.

Ver Mia calada e obediente é no mínimo divertido, me contenho para não rir.

“Você dando ordens é muito excitante Dr. Kavanagh.” Ela comenta.

Naquela noite eu entendi que a pessoa que amamos as vezes é insuportável, e que as vezes temos que ceder, mas que ceder não significa que não possamos tomar a rédea da situação.


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