Eu, Você E Nossa Vida A Dois escrita por Mnndys


Capítulo 19
De repente tudo parece não se encaixar




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“Ai droga!” Mia grita.

O dedo dela está pingando sangue, mas ela permanece imóvel.

Ligo a torneira da cozinha e coloco seu dedo indicador embaixo d’água.

“Eu sou uma idiota.” Ela diz irritada com si mesma.

Não vou contestar senão as coisas pioram. Vou até o quarto buscar alguns curativos.

Quando volto, ela ainda está lá com a mão embaixo d’água.

“Já pode tirar a mão daí.” Digo.

Ela olha para mim e anda lentamente até onde estou me esticando o dedo.

Essa mulher desanimada está longe de se parecer com a minha esposa, no começo achei que fosse só pelo cansaço, mas agora tudo parece mais sério.

Ver Mia usando jeans velho, camiseta e tênis não é algo comum. Muito menos se ela combina isso com uma cara totalmente limpa e o cabelo preso num coque mal feito.

Limpo o dedo dela e faço um curativo no local do corte e aproveito para analisá-la de perto.

“Me desculpe.” Mia pede.

Isso me desconcentra.

“Está se desculpando por se cortar?” Pergunto.

“Por ser um desastre.” Ela fala.

Mia sendo tão punitiva com ela mesma me corta o coração.

“Você não é.” Digo. “Você está sendo tão correta em tudo isso, parece que é tudo tão fácil para você.”

“Eu estou cansada.”

É claro que ela está cansada, faz mil coisas ao mesmo tempo, cuida de Joseph, cuida de mim, cuida do restaurante, só não consegue cuidar dela.

“Vamos combinar uma coisa, a noite você vai tirar o leite antes de dormir e eu acordo durante a noite para trocar e amamentar Joseph.” Proponho.

“Eu não sei, é meio como se eu estivesse deixando minhas obrigações de lado.”

“Para com isso Mia, Joseph é meu filho também, eu tenho que fazer essas coisas também.”

Ela sorri em concordância.

As coisas ficam bem estranhas nos dias seguintes.

Mia dorme feito uma pedra todas as noites, fazendo parecer algo relativamente fácil. Para ser bem sincero, ela dorme o dia todo sempre que Joseph também dorme. Ela parou de comer outra vez, o que me faz temer que seu leite volte a empedrar. E mesmo durante o dia sou eu que cuido de Joseph porque ela sempre tem uma desculpa.

“Você andou chorando?” Pergunto quando entro no quarto e a encontro cabisbaixa.

“Não.” Ela é taxativa. “O que quer?”

“Preciso ir ao mercado comprar algumas coisas que acabaram.” Aviso. “Joseph está dormindo.”

Mia assente com a cabeça, mas não parece dar muita importância ao que lhe digo. Nada tem parecido lhe importar nos últimos dias.

Cada segundo a mais que passo com ela, mais preocupado fico.

Saio e vou ao mercado como falei.

Encho o carrinho com comida congelada, Mia não tem feito nem um ovo, e quanto a mim, passo o dia todo com Joseph. Comida congelada parece uma alternativa rápida e fácil.

Lembro-me que não perguntei a Mia se ela queria algo. Ligo para ela.

Ela não atende. Deve ter dormido outra vez.

E se Joseph tivesse acordado e ela não tivesse escutado? Se ele estivesse com fome? Ou se estivesse com dor? As idéias me fazem correr até o caixa e acelerar minha volta para casa.

Não demoro mais que dez minutos para estacionar o carro em nossa garagem e ouvir Joseph espernear.

Corro para dentro. Mia não está na cozinha ou na sala, vou até o quarto de Joseph e ele está lá sozinho, vermelho de tanto chorar.

“Hey o que ouve?” Retiro-o do berço. “Está tudo bem, o papai já vai cuidar de você.”

Ajeito-o nos meus braços e vou a procura de Mia.

“Mia!” Chamo. “Mia onde está você?”

Não obtenho uma resposta. Entro em nosso quarto e escuto o barulho do chuveiro ligado.

Banho? Mia só podia estar louca.

Coloco Joseph em nossa cama entre dois travesseiros e vou ao banheiro. A porta está trancada.

“Mia!” Volto a chamar. “Mia abre essa porta!”

Ela não abre ou responde. Talvez ela não pudesse.

Me distancio da porta, pego o impulso e me jogo contra ela fazendo que se abra.

Encontro Mia sentada na banheira de cabeça baixa e entre lágrimas. Seus soluços são to altos que chegam a ecoar nos ouvidos. Do lado de fora do banheiro Joseph volta a gritar.

Não sei o que fazer ou quem acudir primeiro. Volto até a porta e dou uma olhada em Joseph, que apesar dos gritos permanece sem rolar.

Vou até a banheira e passo meus braços ao redor do corpo de Mia tirando-a dali. Ela não se opõe, pelo contrário, se agarra ao meu pescoço. Sua boca em meu ouvido deixa seu choro ainda mais nítido.

Sento-a na cama ao lado de Joseph que mantém seus agudos.

“Fala comigo amor.” Peço. “O que foi? Fala Mia.”

De repente ela fecha os olhos e tapa os ouvidos com a mão.

“Tira ele daqui!” Ela grita.

Me afasto surpreso.

“Agora Ethan!” Mia manda. “Tira essa droga de bebê daqui!”

Ela parece descontrolada, algo grave está acontecendo com Mia. Pego Joseph e o levo para a sala comigo.

Deixo-o em seu carrinho enquanto esquento o leite que ainda tem na geladeira. Joseph finalmente para.

Lhe dou o leite, troco-o e faço-o dormir outra vez.

Agora é a vez de fazer algo por Mia.

Ela continua imóvel sentada na cama, nua e chorando.

“Amor.” Murmuro.

Sento-me na cama e puxo-a para o meu colo.

“Eu não queria dizer aquilo, sinto muito, mas não consigo mais, estou cansada. Não tenho vontade de ficar com você ou Joseph. Achei que seria uma boa mãe, mas eu não sou.” Explica entre lágrimas.

Nesses poucos minutos de surto que presenciei já consegui compreender o que está acontecendo: depressão pós-parto.

Odeio que ela tenha que passar por isso. Depois da hiperêmese gravídica, dos hormônios alterando drasticamente seu humor, das longas horas em trabalho de parto, ela ainda precisa enfrentar outro problema.

“Me ajuda Ethan!” Ela pede. “Toda vez que eu olho para Joseph acho que vou machucá-lo.” Conta.

Lembro de casos de depressão pós-parto entre as pacientes de Rebekah. Algumas conseguiam se recuperar rapidamente, outras demoravam meses.

“Não é culpa sua.” Digo. “E eu vou te ajudar, vamos fazer esse sentimento ir embora, eu prometo.”

“Eu vou precisar de ajuda, nós vamos precisar, e você tem que manter Joseph longe de mim.”

Mia fala como se ela fosse uma ameaça a Joseph, e nesse momento desconfio mesmo que seja.

Espero Mia ser vencida pelo cansaço e dormir para então telefonar para Dra. Greene e em seguida para Grace. Se existem duas pessoas que vão poder me ajudar nesse momento são elas.

Deito-me no sofá da sala exausto. Lágrimas começam a escorrer por meu rosto, mas as enxugo rapidamente, não quero que Mia acorde e veja que estou assustado com isso tanto quanto ela. Preciso ser forte por nós.


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