Eu, Você E Nossa Vida A Dois escrita por Mnndys


Capítulo 12
Desejo de grávida




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Desejos. No começo você não se importa de sair e ir atrás do bolo de chocolate que só tem do outro lado da cidade, ou de uma pizza quatro queijos. O problema é que nada com Mia era muito normal e os desejos vinham passando por fases.

Semana passada era comida mexicana. E esta é comida brasileira. Na segunda foi desejo de feijão duas da manhã e ela quer que eu me levante e vá atrás de brigadeiro.

“Você quer brigadeiro agora?” Pergunto.

“Sim Eth. Em algum lugar deve ter isso.” Ela diz.

“Não podia ser nada mais simples.” Resmungo.

“Eu não tenho culpa. Estava me lembrando da nossa viagem para o Brasil e me lembrei do doce.”

“Vou precisar fazer mesmo isso?” Me certifico.

Ela balança a cabeça afirmativamente com seu ar de criança pidona.

“Ta, eu vou procurar brigadeiro.”

Entro no carro e esfrego os olhos me forçando a deixá-los bem abertos. Coloco um CD do Pearl Jam para tocar torcendo para que seja o bastante para me manter acordado.

Não faço idéia de para onde ir. Ligo para Kate. Sei que é tarde, mas é uma emergência.

“Eu tenho que acordar cedo amanhã, sabia.” Ela resmunga quando atende.

“Me desculpe, preciso de um favor.”

“Fala.”

“Onde eu acho sobremesas brasileiras em Seattle?” Pergunto.

“A essa hora provavelmente em nenhum lugar. Mia está com desejo?”

“Sim.”

“Boa sorte.” Ela fala e desliga.

Tenho que me lembrar disso na próxima vez que ela me pedir algum favor.

Tem um mercado brasileiro no centro, duvido que esteja aberto a essa hora, mas não custa tentar.

Fechado.

Fechado.

Fechado.

É o que encontro em todas as lojas brasileiras possíveis.

São quase 3:30h. Quero minha casa. Quero dormir.

Meu celular apita.

“Achou?” Mia envia em uma SMS.

Resolvo ligar para ela e falar que não encontrei. Quem sabe ela entenda ou o desejo tenha passado.

“Amor eu juro que procurei, mas não consegui encontrar.” Explico.

Um suspiro de decepção atinge a ligação.

“Ta, se acha que não vai achar pode voltar.” Ela autoriza.

Mas a voz dela é tão triste que fico na duvida se devo realmente fazer isso.

“Nós podemos tentar fazer.” Proponho.

“Não vai ser a mesma coisa.”

“Qual é Mia? Você é uma chef que adora se arriscar e eu prometo te ajudar.”

“Ta, podemos tentar isso. Mas vai precisar passar em um mercado e comprar algumas coisas.”

Ela me passa o nome dos ingredientes. Juro que não faço idéia do que seja leite condensado ou achocolatado, mas me informo quando chego lá.

Não existe nada por mais difícil que seja que eu não faria pela minha garota e pelo meu garoto.

Cerca de quarenta minutos depois estou finalmente entrando em casa.

“Mia cheguei a gente já pode fazer seu brigadeiro!” Falo enquanto entro.

É então que vejo Mia deitada no sofá dormindo. Pobre Mia! Deve ter se cansado de esperar.

Coloco as coisas devagar sobre o balcão da cozinha, evitando barulhos, em seguida vou até o quarto, puxo o edredom da cama e levo-o até a sala para cobrir Mia. Eu deveria ir dormir também. São mais de quatro da manhã e tenho que estar de pé as sete.

Enquanto guardo as coisas no armário vejo um livro aberto na pagina de receita de brigadeiro. Não é tão difícil, eu acho. Coloco tudo de volta no balcão, pego uma panela e começo a minha experiência.

Leite condensado, manteiga, achocolatado e só. Mexer talvez seja a parte chata, que dura longos dez minutos. Mas enfim está pronto e felizmente parece estar bom.

Deixo esfriando no prato e vou tomar um banho rápido.

Já que não vou dormir essa noite depois do banho levo meu notebook até a cozinha e fico relendo algumas anotações sobre os pacientes dessa manhã.

Ouço Mia resmungar alguma coisa na sala. Espero que ainda esteja dormindo, só quero que ela acorde quando os brigadeiros já estiverem enrolados.

Tento fazer isso sem me melecar, mas é praticamente impossível. Não importa muito. Por fim, os brigadeiros estão prontos, enrolados e passados no granulado. Experimento um e aprovo, mas o gosto de Mia é mais apurado que o meu.

Acabo de terminá-los quando ela entra na cozinha.

“Achei que estivesse dormindo. Obrigada por me cobrir.” Ela diz.

“Perdi o sono.” Conto. “Vem aqui.”

Ela se aproxima e eu a coloco sobre minhas pernas.

“E então a vontade passou?”

“Um pouco. Dá pra deixar para amanhã.”

Eu devia ter adivinhado isso e ter ido dormir quando cheguei.

“Vamos pra cama.” Ela chama e vai se levantando.

“Quero te mostrar uma coisa antes.”

Descubro os brigadeiros que estão na bandeja em cima do balcão. O rosto de Mia se ilumina.

“De onde saiu isso?” Pergunta.

Dou um sorriso orgulho para ela, o suficiente para que entenda.

“Você fez? Eu não acredito! Obrigada amor.”

Mia se joga em cima de mim para me abraçar, fazendo quase esbarramos na mesa.

“Provavelmente não estão tão bons, mas eu não queria que você tivesse que esperar.”

Ela vai até a bandeja e come um, depois outro, depois outro.

“Vai com calma Mia!” Digo.

“Desculpa, mas é que é muito bom.”

“Está bom mesmo?”

“Claro que está. Foi você quem fez, com carinho, não tinha como não ficar bom.”

Mia constata.

Devo dizer que ela vomitou tudo menos de uma hora depois, mas bem pelo menos a vontade havia saciado. E eu não iria precisar ouvi-la reclamar por uma semana do brigadeiro que ela não comeu.

Quem me dera o brigadeiro tivesse sido o ultimo dos desejos.

É claro que depois da fase brasileira veio a japonesa, a francesa e sei lá mais quantas.

As vezes era algo estranho, mas simples de fazer em casa como banana com catchup, abacaxi com sal, pipoca com ovo, biscoito de chocolate e picles, gelo. Coisas que nunca tinham fim. Outras eram coisas tão extravagantes e caras que achei que ia a falência com tantas exigências, mas é como dizem, desejo de grávida a gente tem que cumprir.


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