Mia tem esse jeito livre, espontânea e muito segura de si, mas a verdade é que é a pessoa mais carente que existe, é alguém que se faz de forte, mas que precisa ser cuidada e protegida, principalmente agora que está grávida.

Houve um tempo em que deixei de cuidar de Mia, quando ela esteve em Nova York. Ela voltou de lá e eu estava com Rebekah, e eu achei que Mia ia ficar bem, afinal ela parecia tão madura e segura que pensei que não precisasse mais de mim.

Eu estava errado.

E foi só quando briguei com Rebekah e Mia me levou com Nova York que percebi que eu queria estar do lado dela quando as coisas estivessem pesadas, para dividir isso com ela.

Mia disse que fomos pra lá para que ela pudesse passar um tempo comigo, na verdade acho que fomos porque lá não existiam problemas, não havia a história da mãe verdadeira e nem a atual namorada do ex-namorado. Ela só queria fugir.

Percebi isso naquela noite depois de contar a Mia que havia dado um tempo com Rebekah.

Estávamos deitados no colchão na sala do apartamento de Marie e Enzo e deslizo meus dedos pelo cabelo dela. Já fazia muito tempo desde a ultima vez que estivemos assim.

“A gente deu um tempo.” Digo. “Eu e Rebekah.”

Mia fica em silencio por um instante.

“Um tempo?” Pergunta.

“Quando eu resolvi dar outra chance para Rebekah eu esperava que ela tivesse mudada, mas acho que ela por sua vez, esperava que eu ainda fosse o mesmo.” Explico. “Aquele dia no hospital você me disse se eu ainda me lembrava do que ela havia feito. É claro que eu me lembro, mas faz anos, ela realmente se arrependeu e quando eu dei outra chance a ela foi em nome das coisas boas que nós tivemos. E também, porque Rebekah amadureceu em muita coisa e eu também amadureci, mas eu acho que é exatamente o problema. Nós não somos mais aqueles de antes, não pensamos e nem queremos as mesmas coisas de antes e isso fez a gente estagnar nossa relação.”

Era estranho contar tudo aquilo para Mia, mas ela despertava minha sinceridade, era a única pessoa para quem eu não sentia necessidade de mentir.

“E o que vai fazer agora?” Ela pergunta.

“Eu preciso pensar mais um pouco, o que sei é que não posso dar esperança a duas pessoas.“

Os braços de Mia me apertam com mais força, sei que ela tem medo, eu também tinha, mas eu estava confuso e não podia decidir nada enquanto estivesse assim.

Era obvio que o que sempre houve entre Mia e eu era muito especial, mas eu também havia vivido algo especial com Rebekah no passado e havia chegado o momento de pesar as duas coisas e avaliar meus sentimentos.

Mia e eu conversamos sobre Rose e a família dela por alguns minutos até que ela adormece.

Não consigo pegar no sono tão rápido. Não é fácil colocar a cabeça no travesseiro e dormir quando tem que tomar uma decisão tão importante.

“Você não vai tocar em mim!” Mia grita de repente.

Viro-me para olhá-la e ela continua a dormir, estava tendo um pesadelo. Parece apavorada.

“Mia!” Chamo, mas ela não acorda.

“Me solta Jack!” Ela grita de novo.

Jack Hyde?! Achei que Mia tivesse superado isso há muito tempo. Depois do que aconteceu ela teve pesadelos por algumas noites, mas depois passaram. Eu sequer cheguei a comentar isso com ela.

Devia ser o stress todo do momento que estava fazendo aquelas lembranças voltarem.

“Eu não vou com você Lindsay! Você não é minha mãe!”

Ou o pesadelo está misturando muitas coisas ou ela está oscilando de um para outro.

Tenho pena dela. Tento acordá-la, mas não adianta. De repente Mia abre os olhos.

“Hey, calma, eu estou aqui.” Digo, ficando mais próximo dela.

Sei que amanhã de manhã ela não vai lembrar-se disso. Mia é meio sonâmbula, pode acordar e trocar até algumas palavras, mas se perguntar para ela depois é como se não tivesse acontecido.

“Eu te amo.” Sussurro.

Mia fecha os olhos, para de se mexer e finalmente se acalma, como se minhas palavras tivessem algum efeito.

Eu não falava “Eu te amo” há oito meses e usar essas palavras naquele instante me fez perceber uma coisa. A mesma calma que meu amor proporcionava em Mia, era a calma que eu sentia por saber que ela me amava.

Será que eu suportaria não ser amado por Mia? Ou pior, será que eu suportaria não poder amá-la?

A resposta é clara para mim. É claro que eu não suportaria. Eu precisava de Mia como sabia que ela precisava de mim.

Na manhã seguinte quando vamos embora estou certo de que Mia é minha escolha, tenho vontade de beijá-la, de tomá-la em meus braços e amá-la como nunca, mas não posso. Tenho que terminar com Rebekah, ser definitivamente livre para a mulher da minha vida.

Sei que demorei demais para perceber isso, mas talvez todo esse tempo serviu para crescermos e termos certeza dos caminhos que seguiremos de agora em diante.

“Queria poder ler seus pensamentos.” Mia diz.

Está sentada a minha frente no jato de Christian.

“É uma sorte que não possa.” Retruco.

A primeira coisa que faço depois que Mia me deixa em casa é telefonar para Rebekah. Foi o primeiro passo para a conquista da felicidade plena.