Enquanto todo esse preconceito acontecia e todo o destino se vingava, no décimo andar um bebê chorava e deixava seus pais loucos. Era o primeiro filho do casal, ambos não tinham experiência alguma. Ele teve muita sorte, se querem saber. A mãe queria colocar algo como Willyara, o que não seria legal porque a garota ia ter um belo de um apelido. Seria a Willy Wonka, e teria um futuro muito ruim por causa do trauma. As crianças da escola onde ela estudaria seriam muito malvadas, e ela não seria feliz. Mas o pai a salvou, e colocou um nome um tanto quanto melhor: Alice. Ela também teria apelidos com esse nome, A Alice no País das Maravilhas, mas seria algo mais diferente.

Ela não iria ser segurada pelos cabelos e os meninos não enfiariam chocolate na boca dela chamando-a de Willy Wonka, e eles também não jogariam chocolate nela na hora do recreio, e também não ficariam chamando-a de gorda. Não. Ela seria distraída e eles a chamariam de Alice no País das Maravilhas, falariam gírias do filme e do livro para ela, ficariam apertando a bochecha dela e sempre que ela acertasse alguma resposta eles diriam "Ah, Alice" que nem o gato Cheshire na versão do Tim Burton. Não que o nome Willyara fosse ruim, na verdade era um nome muito bom, mas... Não para aquela escola, aquela escola era pra a Alice e não para a Willyara. Era uma escola Alfa e não Omega. Mas, se você não entender, não se aborreça. Ninguém entende o destino.

Os pais se conheceram na faculdade, se apaixonaram nas aulas de Literatura, Português, Letras, Latim. O primeiro beijo foi na biblioteca, atrás de um livro de poesia. Nunca mais se desgrudaram desde então. São unha e carte, papel e capa. Um casal diferente dos demais. Não que não houvesse a mesma probabilidade deles se separarem que a dos outros casais, ou que houvesse mais ou menos amor, fossem mais ou menos românticos. É só que eles fugiam do tradicional. E se sentem orgulhosos por isso.