Enquanto toda essa raiva existia, no primeiro andar um cachorro ouviu um barulho alto e se escondeu debaixo da cama. O barulho alto, acho que vocês já imaginam o que é. Já imaginam que o barulho de um corpo caindo em uma alta velocidade é algo meio ensurdecedor, até mesmo memorável. O cachorro não tinha culpa de nada, mas sentiu medo. Todos os parentes de Adam sentiram um arrepio, uma tontura, como se estivessem morrendo junto. E a mulher que Adam tanto amava, simplesmente estava nesse momento se entregando a outro homem. E a garota que amava Adam estava nesse momento escrevendo seu nome no pulso sonhando que um dia eles pudessem namorar. Que ilusão. Se Adam não tivesse se jogado, tudo ficaria igual. Nada mudaria, absolutamente nada. O pedreiro ainda iria danificar o vazamento-goteira, o casal ainda iria se beijar escondido, as mulheres fofoqueiras continuariam falando mal do casal do décimo quinto andar, a garota do décimo quarto andar continuaria gostando do garoto do décimo terceiro andar. Mas a garota do décimo segundo andar não se recuperaria tão facilmente do trauma. É óbvio que o nosso adorado suicida Adam não sobreviveu a queda e teve sua foto no noticiário, sua família chorava horrores e alguns até tinham pavor de passarem perto do prédio. Mas essas pessoas, desde o décimo sétimo ao primeiro andar, continuaram vivendo suas vidas normalmente, apenas com a diferença de que alguns preferiram se mudar.