Os Dezoito Andares escrita por AAJ


Capítulo 1
Décimo Oitavo Andar




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Adam se odiava.

Odiava seu nome, sua história, sua vida.

Queria acabar de uma vez por todas com toda a vergonha e remorso que sentia de si mesmo. Odiava sua carne, seu espírito, seu nome e seu ser. Seu namoro com Melissa havia chegado ao seu término recentemente, e ela era uma garota tão doce, tão meiga, tão perfeita que o fazia delirar de paixão!

Mas isso o fazia muito mal.

Adam não conseguia mais viver ouvindo-a chamar o nome de outro, rir das piadas de outro, estar nos braços de outro, e o pior de todos: ser de outro. Ele não agüentava mais aquela dor de existir sem estar junto de sua paixão, e isso era completamente imprudente já que o mesmo não pensava em sua família, sem seu futuro, ou na garota do décimo segundo andar que o amava e podia muito bem o consolar com mimos e muito amor.

Não.

Adam preferiu sentar na janela e ouvir todas as músicas deprimentes que podia antes de se entregar para a morte. Fumava pacientemente seu cigarro da sua marca predileta, sem se importar com as exclamações de susto e pavor que as pessoas sentiam ao ver o homem sentado no parapeito da janela com o corpo inclinado para fora.

Eram dezoito andares de pura queda, mas a mente perturbada de Adam não estava processando isso no momento. Ela estava ocupada demais relembrando-o da última vez que beijara Melissa, dos doces momentos que passaram juntos e de como ela não parecia estar infeliz consigo.

Mas a culpa era toda sua, no final.

Tudo isso só estava acontecendo, pois o outro era mais engraçado. Essa foi a exata desculpa que ela usou para quebrar o coração do nosso suicida, sem saber que se ele tivesse a chance faria um curso de piadas só por ela. Seria o melhor comediante do mundo só por ela!

Mas o tamanho da paixão de Adam não cobria o interesse de Melissa e isso o estava matando por dentro (mesmo que cobrisse o da garota do décimo segundo andar, mas ele não sabia disso).

O cigarro estava quase em seu fim, assim como sua vida medíocre. Decidiu se permitir um último grito, o mais alto que dera em toda sua vida, para extravasar sua dor e expressar sua agonia. Queria Melissa de volta, como antes, como sempre deveria ser em seu ponto de vista apaixonado.

Mas isso era impossível

E por esse motivo, quando o cigarro acabou, Adam estendeu seu braço para frente e o soltou. Observou pacientemente todo o seu percurso até perdê-lo de vista, quando chegou ao térreo. Os polícias já haviam sido chamados por alguns vizinhos que haviam notado o homem suicida, mas eles não chegariam a tempo. Adam só precisaria de três segundos para tomar coragem.

Um.

Adam olhou uma última vez para a foto de sua amada: seus cabelos ruivos artificiais que faziam par com sua pele bronzeada e sorriso meigo.

Dois.

Esperou pacientemente a música que dominava o ambiente findar-se: era a favorita dela.

Três.

E tomou o impulso que mudara todo o rumo de sua vida.

Sua pior decisão, sua pior derrota, seu maior erro. Talvez se não tivesse sido tão imprudente, as coisas pudessem ser diferentes e até melhores. Adam tinha inúmeras possibilidades de melhora, mas não se lembrou de nenhuma quando pulou do seu apartamento no décimo oitavo andar.

Havia o escolhido pela esperança de uma vida nova e feliz. A vizinhança parecia ser simpática com exceção das senhoras antipáticas do sexto andar, finalmente havia conseguido a promoção que tanto queria e tinha a namorada perfeita. O que mais um homem poderia querer, não é mesmo?

Bom... Ele conseguiu uma vida nova.

Literalmente.

Sentiu a última brisa acariciando-lhe o rosto antes de um baque surdo ecoar por todo o bairro. O barulho alto de carne batendo com força contra o asfalto. Muitos viraram o rosto, mas alguns não conseguiram. Fosse por espanto, por indignação ou por curiosidade, era impossível não olhar a piedosa e trágica cena de Adam (ou o que havia restado dele) estirado no chão.

Um suicida que pulara do décimo oitavo andar por uma mulher que, nesse momento, estava se entregando aos beijos a um homem que logo viria se tornar seu marido.


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