Capítulo IX: A Imortalidade Se Fora

“E meu mundo girava, e eu nem acreditava que aquilo era tão bom.”

Annabeth imaginou-se participando de uma corrida de obstáculos, tamanha a pulsação de seu coração. Somente ela sabia o quanto desejou poder sentir aqueles lábios novamente.

– Eu nunca quis deixar você, Sabidinha.

Aquela frase ecoou em sua mente, dando-lhe consciência da besteira que acabara de fazer.

Um estalo soou. Annabeth havia desferido um tapa certeiro no rosto de Percy.

– Annabeth, o que foi isso? – O moreno perguntou atordoado.

– Nunca mais ouse me beijar, está ouvindo? Nunca mais. – Ela disse histérica.

Percy esperava qualquer reação da loira, menos essa. Esperava ela perguntar o porquê dele ter terminado com ela. Esperava ela dar-lhe outro beijo com a notícia, qualquer coisa. Quando ela disse que nunca tornaria as coisas fáceis para ele, não precisava levar ao pé da letra.

– Você ouviu o que eu disse? Que eu nunca quis deixar você? Qual o seu problema?

– O meu problema, Percy? Meu problema foi que mesmo você não querendo, você me deixou!

– Eu não tive escolhas, Annabeth!

– Ah não? Você simplesmente decidiu me dar um pé na bunda, você nem imagina o quanto eu sofri. E aí decide que quer voltar comigo? Nada mais te impede agora? O que te impedia antes, hein? – Annabeth disse, lançando em cima de Percy tudo o que lhe estava entalado na garganta à tempos.

– Você acha que eu não sofri? Além de ter que deixar a menina que eu sempre amei, eu estava fazendo-a sofrer. Não foi fácil. – O moreno disse, com os olhos cheios de lágrimas.

– Então me diz Percy. Diz o porquê terminou comigo. – Annabeth implorou, com os olhos também marejados.

– Eu só queria te ver feliz. Ela disse que eu te impedia de ser feliz. Disse que eu a impedia de sair do acampamento e fazer sua faculdade. E eu queria te ver feliz. – Falou apressado, tropeçando nas palavras.

– Ela quem, Percy? Quem lhe disse isso? – Annabeth perguntou confusa.

– Sua mãe. – Ele disse num fio de voz.

Por um instante o silêncio reinou, seguido de uma gargalhada cética de uma Annabeth enfurecida.

– Ora essa, é isto mesmo que eu ouvi? Você terminou comigo porque minha mãe disse que você me impedia de ser feliz?

Percy assentiu com a cabeça.

– Você é mesmo um idiota. Enfrenta o deus da guerra, mas não enfrenta a deusa. Quantas vezes ela já não havia lhe dito para não ficar perto de mim, isso nunca te impediu antes. Tem certeza que foi só por isso? – Annabeth indagou.

A raiva dominava-lhe completamente. Como ele pode se deixar levar assim. Atena sempre foi contra esse namoro. Como ela seria feliz, se não tivesse Percy ao seu lado? O garoto era um acéfalo mesmo.

– Claro que foi só por isso, Annabeth. Entenda que eu amo você e se fiz isso foi porque eu queria ver você feliz, nem que isso custasse a minha felicidade. Fui um fraco, admito. Você não sabe o quanto senti sua falta. E agora, que a ficha caiu, estou disposto a enfrentar Atena e qualquer obstáculo que nos impeça de ficarmos juntos.

A loira queria jogar-se aos braços do moreno e dizer o quanto sentiu sua falta e que o perdoaria por aquilo, mas ainda tinha seu orgulho, que era maior. Além de estar uma pilha de nervos e querer ter uma conversa séria com Atena. “Como ela pode?”

– Muito simples, não acha? Decidir isso. Talvez você não tenha percebido, mas muitas coisas mudaram. Sou uma caçadora agora.

– Quem você quer enganar, Sabidinha? Ártemis ou você mesma? Quando vai perceber que você nunca esteve realmente na caçada?

Os olhos de Annabeth se encheram de lágrimas. Ela sabia disso melhor do que ninguém. Sabia que desde o começo, a caçada sempre fora um tipo de fuga, para ficar longe do acampamento e principalmente de Percy.

– Você não tem o direito de falar sobre minha vida. Você não sabe de nada! – Disse e saiu correndo no que imaginou ser a direção da saída da ilha.

– Annabeth volte aqui! – Percy gritou e foi atrás dela.

[...]

– Peixinho insolente! – Bradou Atena.

– Mas quem está rindo agora? – Afrodite cantarolou.

– Como ele ousa dizer que vai me enfrentar?

– O amor sempre vence querida Atena. Sempre.

– Não desta vez, minha cara Afrodite. Se você pode intervir no meu caminho, eu também posso intervir nos seus. – Falou Atena casualmente.

– Não ouse. – Afrodite disse lentamente.

– Espera para ver. Beijos cor-de-rosa. – Atena disse, se postando para sair dali, mandando beijos no ar.

– ARRUME ALGUÉM PARA DAR UNS BEIJOS SUA MAL AMADA. – Berrou Afrodite.

Atena revirou os olhos e saiu. Afrodite conseguia ser bem infantil às vezes. Já tinha um plano em mente, precisava apenas descobrir qual seria o destino final daquela jornada. Há muito tempo notara que não conseguiria separar Percy de Annabeth. Mas ainda podia intervir e se divertir um pouco.

[...]

– Até que enfim te achei. Annabeth, você está chorando? – Percy perguntou olhando para a loira a sua frente.

– Não e isso não é da sua conta! – Ela disse, enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

– Pare de dizer que não é da minha conta. – O moreno falou alterado e então se ajoelhou em frente a Annabeth e segurou suas mãos – Olhe nos meus olhos Annie e me diga o que está havendo.

– Eu... – Annabeth suspirou pesadamente. Desta vez não era o orgulho que impedia ela de perdoar Percy. Era o medo. Medo de ser tomada como fraca.

– Você...? – Ele encorajou-a.

– Eu sou uma fraca, Percy! Caçadoras não se apaixonam, eu não quero aceitar isso. – Ela abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada por aquilo.

– Caçadoras não se apaixonam e você não se apaixonou... – Percy falou calmamente. Annabeth ergueu uma sobrancelha em protesto – Você já estava apaixonada. Você sempre esteve. E não ouse dizer nunca mais que você é fraca. Já pensou em tudo que você enfrentou? Aposto que eu não estaria aqui se não fosse você.

O moreno parou e observou-a, e então percebeu que Annabeth já não emanava certo brilho. Sua imortalidade se fora.

– Você não faz mais parte da caçada. – Percy declarou e foi nesse momento que Annie o surpreendeu. Agarrou-lhe a nuca e deu-lhe um beijo.

Não saberia descrever o que realmente estava sentindo naquele momento. A surpresa era de longe o mais importante. Ela o havia perdoado? Poderia chamá-la novamente de sua Annie?

– Isso não quer dizer que eu o perdoei, Cabeça de Algas. Vamos buscar o azulão para sairmos logo daqui, já que não encontramos semideus algum. – A loira levantou e adentrou novamente a ilha.

Percy estava tão confuso, que não conseguiu sequer se mover. Ele enfrentaria o mundo para protegê-la e disso não tinha dúvidas. Depois de tantos anos, ainda se surpreendia por amar Annabeth cada dia mais. Aquela garotinha de nariz empinado e orgulhosa que conhecera, mas que tornara o elixir de sua vida, a dose que precisava todos os dias para se manter vivo.