Capítulo I: Prólogo
 

O futuro é imprevisível. Em um dia temos certeza de algo e no outro, tudo está diferente.

Uma vez, aos catorze anos, Annabeth pensou em se juntar à lady Ártemis e suas caçadoras, mas ela não podia. Ela estava ligada a um herói. Ela o amava, e sem dúvidas, era recíproco*. Um dia, porém, tudo acabou, sem explicações, ou ao menos um motivo específico.

Assim sendo, decidiu se juntar à deusa da caça. O amor romântico já não lhe surtia efeito. E, há dois anos, ela havia se tornado uma donzela eterna.

[...]

Haviam passado o dia atrás de um monstro, que segundo Ártemis, necessitava ser caçado o quanto antes. Ao fim da tarde, a deusa ordenou que levantassem acampamento para que assim, pudessem descansar.

– Caçadoras, tenho algo para dizer-lhes. – Falou Ártemis.

– Algum problema, senhora? – Perguntou uma das caçadoras.

– Ah, não minha querida! Apenas queria dizer a vocês que como amanhã passaremos perto do estreito de Long Island, nos hospedaremos no chalé 8 por uma noite.

Annabeth estremeceu, Ártemis acabara de dizer que irão para o Acampamento Meio-Sangue?

As caçadoras começaram a protestar.

– Donzelas, acalmem-se!

– Mas minha senhora, sabe o quanto detestamos aquele local. – Protestou uma delas.

– E aqueles campistas! – Completou outra com desdém.

– Será apenas uma noite, minhas queridas. E também, Quíron enviou-me uma mensagem de Íris, dizendo que tinha um assunto de importância para debater comigo.

– Qual tipo de assunto, milady?

– Ele não disse, todavia falei que passaria por perto no dia seguinte e ele pediu para que passássemos por lá.

As caçadoras aceitaram a decisão da deusa e continuaram em volta a fogueira. Então, a loira pronunciou-se:

– Posso ir para a tenda, senhora? – Perguntou e com permissão se retirou dali.

Annabeth estava morrendo de saudades de Quíron, mas digamos que a idéia de voltar para o Acampamento depois de dois anos não lhe agradava. Havia muitas lembranças lá, boas e ruins, e algumas que ela detestava lembrar. “Ah! Mas qual é Annabeth? Onde está sua coragem?” Neste momento, Thalia entrou na tenda.

– Annabeth? – Chamou Thalia.

– Hum?

– Como se sente? – Ela perguntou, o tom de voz soando preocupado.

– Estou bem e você? – Respondeu indiferente. Ela sabia o porquê da pergunta. Thalia arqueou as sobrancelhas antes de responder.

– Desculpe Annie, Ártemis pediu para que eu viesse, além do mais somos melhores amigas, sabe que me preocupo com você.

– Que minha senhora me perdoe, mas... Vocês pensam que eu não sou forte o bastante? Pensam que ao chegar lá irei me atirar aos braços de Percy, é isso?

– Não, Annabeth! Não foi isso o que eu quis dizer, eu sei o quanto você é corajosa.

– Então por que viestes aqui? – Thalia pareceu absorver aquelas palavras e por um momento não disse nada. – E, então? – Incentivou para que a outra respondesse.

– Ah, desculpe! O modo que você falou lembrou-me Zoë. – Falou lastimosa.

Lançou-lhe apenas um olhar triste.

– Mas não desconverse. – Apressou-se em dizer.

– Deixe de besteira, Annabeth! Esqueça... É que nos preocupamos com você, de verdade. – Dizendo isso, deu as costas saindo da tenda, mas não antes de lançar a amiga um olhar de afeto, de quem só queria seu bem.

Fora isto, a noite passara tranquilamente. Aos primeiros raios de sol, levantaram acampamento e partiram em direção a Long Island. Durante o percurso, Thalia tentou conversar com a amiga, mas não obteve sucesso, já que esta ficara aborrecida demais com o acontecimento da noite passada.

[...]

O café da manhã ocorria normalmente no Acampamento Meio-Sangue. A mesa mais agitada como de costume era a de Hermes.

O céu estava claro, como sempre. O aroma de morangos invadia o refeitório.

Percy desfrutava tediosamente de seu café da manhã. De repente, murmúrios tomaram conta do local. Quando finalmente retirou os olhos da comida, seu coração falhou uma batida.

Garotas com parcas de esqui prateadas e jeans, lideradas por uma de cabelos castanho-avermelhados adentravam o Acampamento. Subitamente seus olhos pararam sobre a que parecia ser a mais velha entre elas.

Seus inconfundíveis cabelos louros, não estavam trançados como os das demais. Não havia mudado nada desde a última vez que a vira, a não ser a pele que tinha um leve brilho. De qualquer modo, parecia ainda mais linda e jovial.

Annabeth ao notar que Percy a olhava, sustentou o olhar. Foram os segundos mais longos de todas as suas vidas. Ela o olhava indiferente, com a expressão rígida, porém reparara em como ele estava mais atraente, ainda sim com os cabelos emaranhados e olhos verdes penetrantes. Ele a olhava tentando decifrá-la, porém nem ao menos seus incríveis olhos tempestuosos lhe davam uma pista.

Ártemis – que ele ainda dificuldades de ver como uma deusa – instruiu para que as caçadoras se sentassem a mesa 8 enquanto ela iria para a casa grande conversar com Quíron.

Assim que a deusa as deixou, ele levantou-se da mesa indo em direção a Annabeth. Quando estava próximo a elas, sentiu o rosto arder. Sabia que as demais caçadoras lançavam-lhe olhares nada amigáveis.

– Annabeth. – Ele tentou abraçá-la, mas esta o interrompeu, colocando uma das mãos sobre seu peito, afastando-o.

– O que quer Jackson? – Ela respondeu fria.

Percy alternou o olhar da mão da loira para a dona da mesma algumas vezes, antes de soltar um muxoxo e sair dali, cabisbaixo.

As caçadoras ficaram surpresas com a atitude da irmã.

[...]

– Isto é um insulto contra meus valores! – Bradou Ártemis.

Ela andava de um lado para o outro no alojamento de Quíron, as palavras que ele acabara de lhe dizer martelando em sua mente.

Quíron tentava – devo ressaltar que inutilmente – acalmar a deusa.

– Mas Ártemis, a profecia foi clara “O filho do deus dos mares e a filha da deusa da sabedoria que renegou o amor romântico”

– A profecia está errada. – Ela falou revirando os olhos teatralmente.

– Sabe muito bem que ela nunca erra.

– Não vou deixar que Annabeth vá com este campista em uma missão. – Falou dando ênfase na palavra este.

– Tens de deixar com que ela mesma decida.

– Tenho certeza que ela dirá não a esta missão tola. – Respondeu Ártemis, implacável.

– Espero que esteja errada, lady Ártemis.

A deusa deu as costas para sair dali, não sem antes lançar um olhar de reprovação a Quíron.