Sakura remexeu a tigela de lamen, mordendo o lábio inferior com força. Podia sentir o olhar inquisidor dele sobre si, mas preferiu continuar prestando atenção em sua comida. Empurrou o macarrão goela abaixo, não tinha a menor vontade de comer, mas se esforçava para isso. Não queria que Naruto notasse o quanto os eventos dessa manhã tinham perturbado-a, mesmo sendo quase impossível esconder isso, além do que, comer mantinha sua mente ocupada. Não queria voltar aquele assunto, não queria mesmo.

Naruto largou os hachis sobre o balcão em um baque sonoro, olhando para Sakura por um bom tempo, as pessoas em volta já estavam estranhando o fato da comida está quase intocada e do garoto está quieto. Agora a reação brusca e atípica do ninja hiperativo número um de Konoha apenas alarmava ainda mais os cidadãos.

– Você deixou que... – Sakura gemeu no banco ao lado, voltando a se virar para ele e o interrompendo.

– Foi só um beijo! – Olhou as pessoas em volta, todos pareciam prestar atenção na conversa deles. – Pare de agir dessa forma e coma. Estamos nos tornando o centro das atenções por aqui.

– De que forma? – Esbravejou a fitando. Sakura crispou os lábios e depois suspirou desviando o olhar do dele.

– Como um namorado... – Dessa vez foi ela quem largou os hachis, apoiou os cotovelos sobre a bancada, não adiantava mais fingir que estava tudo bem.

– E nós não somos? – A pergunta dele a pegou desprevenida, Sakura virou-se e fitou os olhos claros e intensos de seu melhor amigo, as palavras morreram em sua garganta.

Uma sombra surgiu nos olhos cristalinos, ele se virou, depositou o dinheiro da comida sobre o balcão e se levantou sem falar nada, sem chama-la. Sakura sorriu meio sem jeito para o tio da barraca e foi atrás dele.

– Naruto, por favor... – Disse a garota andando alguns passos atrás dele, Naruto nem ao menos se virou. – Eu não disse que a gente tava namorando... E...

– Então nada mudou? É isso? – Ele parou abruptamente, virando-se para ela. – Depois de ontem, depois do que disse a ele. Depois do que me disse! Eu esperava mais. – Disse tudo de uma vez, a decepção palpável em suas palavras.

– As coisas mudaram sim, mas... – Foi novamente interrompida por ele.

– Vai continuar saindo com ele também? – As palavras saíram muito raivosas, raivosas demais para Naruto. – Não acredito. Continuo fazendo papel de idiota.

– Não! Não. – Sakura cruzou os braços em frente ao corpo desconfortável, estava discutindo sua vida conjugal com dois garotos no meio da rua, quanto drama. – Você nunca fez papel de idiota. Eu escolhi você Naruto, isso não mudou. Qualquer coisa que eu tenha tido com Sasuke acabou. – Ele a fitou por um tempo antes de falar qualquer coisa

– Achei que tinha terminado ontem, mas veja só: Ele ainda pode invadir seu quarto e te beijar e eu nem ao menos posso dizer que namoro com você, ou andar de mãos dadas. – Suspirou desviando o olhar e voltando para o caminho a sua frente. – Não vejo a menor diferença do que era antes.

Sakura se aproximou um pouco cautelosa, tocando em um dos ombros dele, apoiou seu rosto nas costas largas, enquanto a outra mão ia à cintura de Naruto.

– Tudo mudou, hoje foi só uma despedida. Não queria beija-lo. Ele me beijou. – Suspirou sentindo o cheiro dele. – Sinto que tanto eu quanto ele precisávamos dessa conversa definitiva. E... – A mão sobre o ombro deslizou pelo braço forte e bronzeado até chegar à mão calejada do garoto, segurou-a com ambas as suas mãos, ficando ao lado dele. – Você pode andar de mãos dadas comigo.

– Mas não posso namorar com você. – Ela suspirou.

– Não agora, vamos com calma. Eu ainda to muito confusa. – Sorriu, fitando-o, passou a ponta dos dedos sobre as marquinhas na bochecha dele. – Não fique com raiva de mim.

– E eu consigo? – Um pequeno sorriso surgiu nos lábios dele, fazendo com que outro surgisse nos dela, os braços fortes e protetores a envolveram em um abraço reconfortante. – Vamos passear de mãos dadas então, quero mostrar para todos que mesmo não sendo minha, é minha. – Sakura sorriu dando um tapinha em seu ombro.

– Você é muito bobo. – Mas não protestou quando teve sua mão pega, e seguiu sendo arrastada pela vila.

(...)

Naruto parou de andar, observando o parquinho à frente deles enquanto Sakura degustava seu sorvete de baunilha, o garoto desvencilhou suas mãos e passou os braços em volta dos ombros dela, apertando-a contra seu peito. A Haruno sorriu e o fitou.

– O que foi? – Ele a olhou voltando a tomar o seu sorvete.

– Eu nunca te disse... Mas às vezes eu acho que ninguém no mundo me faz tão bem quanto você. – Não a fitou em momento algum enquanto dizia tal frase, seus olhos se mantinho nas crianças correndo pelos brinquedos, ao sorvete em suas mãos.

– O-o que quer dizer com isso? – Por um momento o ar de seus pulmões tinha sido tirado de uma vez, mantinha os olhos esverdeados sobre o rosto bronzeado.

– Que... – Ele a fitou sorrindo, dando um beijo na ponta do nariz fino e arrebitado. – Nada... Não entenda errado, mas é que quando eu to com você, nada precisa de muita explicação, até quando você briga comigo, eu sinto algo quente, não preciso de muito, nem de abraços, nem de beijos, só preciso saber que você ta aqui. – Sakura abaixou o olhar desconcertada demais para dizer qualquer coisa.

Girou a casquinha sobre seus dedos, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e voltou a fita-lo, pondo-se frente ao loiro e por falta de palavras, decidiu que beija-lo seria a melhor opção. Com uma das mãos tocou a maçã do rosto dele, inclinando sua cabeça para frente, mas antes que seus lábios se tocassem, enquanto seus olhos se fechavam uma sombra azulada surgiu, reabriu-os a tempo de ver Hinata aparecer na esquina. Abruptamente se afastou de Naruto que ficou aturdido com a estranha reação de Sakura.

– É que...

– Naruto-kun? – A voz doce e musical de Hinata chegou até eles, Sakura fitou sua casquinha, levando o sorvete até a boca desviando o olhar, enquanto Naruto se virava um pouco sem graça.

– Hinata... Chan... – A relutância do loiro em pronunciar o sufixo costumeiro fez com que o semblante suave e delicado da garota tremesse, fitou ambos os jovens a sua frente, abaixando a cabeça, os rumores pareciam reais.

– Como você está? Espero não ter atrapalhado nada... – E as palavras dela vacilaram por um momento. Sakura se sentiu péssima, a pior de todas as pessoas do universo. E antes que Naruto falasse algo foi ela quem se pronunciou.

– Não. Não atrapalha nada, eu estava indo atrás do Kakashi-sensei. – Sorriu fitando a rua sobre o ombro de Hinata, não conseguia olhar para nenhum dos dois, virou o corpo na direção contraria deles. – Vou indo nessa. Tchau! – E antes que Naruto a parasse apressou o passo tentando se afastar deles.

– Sakura! – Ele chegou a chama-la, mas ela não voltou, virou-se para a menina constrangida a sua frente, colocou uma das mãos no bolso e fitou o sorvete meio derretido. – Então... Eu vou... Estou bem e você? – Deu uma pequena risada a presença dela o deixava desconfortável.

Hinata ergueu a cabeça e o fitou, passou ambas as mãos pelos longos cabelos, jogando-o para um dos lados, sorriu discreta.

– Vou bem também... Eu... Eu... Q-qu-ue... Hmmm... Queria... – E ela precisou parar e respirar fundo, em partes não se sentia mais tão tímida perto dele, mas aquele assunto era tão delicado que ela voltava a ser a Hinata boba e insegura de outros tempos. – Queria falar com você sobre o que ocorreu depois da quarta grande guerra. – A mandíbula de Naruto travou e ele deu alguns passos para trás, coçando a nuca.

– Sabe, acho que nós podemos deixar isso para lá... – Deu mais alguns passos para trás sem encara-la. – É que eu não to com muito tempo agora, sabe... Mas... Nós podemos fa...

– Você gosta dela? – O questionamento dela o parou, Naruto a fitou e viu o semblante de Hinata tão sério, convicto e triste, por alguma razão as palavras lhe faltaram e ele realmente não quis responder aquela pergunta. – Gosta muito dela? – O som musical de sua voz foi quase uma facada, como a mais triste das canções. Não poderia ser ele a partir o coração dela, não podia.

Naruto virou apenas maneando a cabeça.

– Depois falamos sobre tudo isso Hinata, agora preciso ir. – Afastou-se da morena, deixando-a no meio da calçada com os olhos cheios de lagrimas, ele não precisava responder, ela sabia a resposta. Sempre soube.

(...)

Sakura andou apressada por um bom tempo até mesmo depois de já está bem afastada da praça, as palavras de Kakashi voltavam em sua cabeça, o tom de Sasuke, o tom de Hinata. Quantas pessoas ela machucava com seu egoísmo? Com sua indecisão?

Escorou-se em um muro, dois quarteirões afastados do centro de Konoha em um bairro familiar, jogou o resto de seu sorvete em uma lixeira, limpando as mãos na própria blusa, não estava ligando. Levou ambas as mãos a cabeça, tentando desanuviar seus pensamentos.

– O que foi tudo isso? – Sakura quase gritou ao ouvir a voz de seu antigo sensei. E ao abrir os olhos ele estava a alguns metros dela, aparentemente vindo do mesmo caminho que ela tinha feito. Sakura gemeu baixo, Sasuke estava certo, ela estava muito desatenta.

– Acabei de magoar a Hinata. – Kakashi fechou seu livro e fitou sua aluna.

– Eu vi a sua fuga, mas não acho que isso tenha magoada a Hinata.

– Como não? Ela é apaixonada pelo Naruto desde sempre. – Sakura encolheu os ombros, sentindo-se tão vulnerável.

– Vocês só estavam tomando sorvete. – Kakashi trocou o peso de uma perna para a outra.

– Ela pode ter visto a proximidade, a forma como estávamos. Ela gosta dele pode ter deduzido o que estava acontecendo. Eu faria isso caso visse o... – E a frase morreu antes de sair de seus lábios, assim que ela teve noção do que diria, virou para o outro lado, bagunçando os cabelos e mordendo o lábio inferior.

– Visse o... Sasuke? – Kakashi soltou uma risada abafada. – O Sasuke com outra. – Ele fitou a parede em que sua pupila estava escorada, enquanto Sakura fitava os próprios pés. – A, Sakura, por que continua tomando as decisões erradas?

– Decisões erradas? – Sakura se empertigou afastando o corpo do muro. – Eu não entendo você. Primeiro me diz que tenho que tomar uma decisão e escolher o melhor para mim, quando eu faço isso você vem aqui e diz que tomo as decisões erradas. Qual o problema?

– Por que você não pergunta isso a si mesma? – O copy-ninja a fitou. – Não fui eu que pensei no Sasuke agora.

– O Sasuke não é o melhor para mim. Ele não é o melhor para ninguém. – Sakura fitou as pedrinhas sobre o asfalto. – É tudo tão errado com ele, tão estressante, tão inquieto e perturbado. Isso não é o amor.

– E o que é o amor? – Ela fitou seu sensei encostado sobre o muro despreocupado e despretensioso, fitando as nuvens. – Não existe uma formula correta para se amar alguém, não existe o certo quando estamos falando de amor. Cada um ama a sua maneira.

– Eu amo os dois. – A garota voltou a escorar no muro. – Eu posso amar os dois?

– Pode. Pode amar até mais, só precisa saber por qual deles você é apaixonada.