Sakura saltava do local onde estava sentada a cada choque de corpos, armas e jutsus. Aquela luta estava tão séria que ela ficava assustada só de pensar no final que poderia vir a ter. Volta e meia seu olhar se destinava para seu velho sensei que parecia indiferente ao fato de que seus companheiros de time estavam quase se matando.

Em uma investida mais dura e profunda de Sasuke, Sakura pulou do gramado, pondo-se em pé e dando alguns passos em direção aos meninos. Isso tinha que acabar.

— Nem ouse fazer isso, Sakura. — Disse Kakashi folheando seu livrinho sem olha-la.

— O que? – Gritou a menina. — Mas sensei, eles vão se matar! – Kakashi ergueu por alguns segundo a cabeça para observar a luta a sua frente, mas logo voltou à atenção ao seu livro, muito mais interessante.

— Não, não vão. — Sakura gemeu. Ele só podia estar brincando.

— Como pode ter tanta certeza? — Perguntou amuada e cheia de inseguranças, completamente descrentes das palavras do mais velho, era tão obvio que aquilo acabaria mal, até um cego notaria.

— Eles não são loucos de fazer isso. Matar um colega de equipe em um treino é quase tão grave quanto fugir da vila e ambos sabem disso. — Sakura ficou incrédula, não era possível que aquele homem realmente acreditasse nisso: que Naruto e Sasuke no ápice do seus descontroles emocionais iam se lembrar de uma regra do livro de conduta ninja.

— Sensei, isso só pode ser uma piada sua. Olha para eles, estão nem ai para as regras. — Em um suspiro Hatake fechou o livro. Não se virou para a luta a sua frente e sim para sua aluna parada há uns bons dois metros dele, a analisou com cautela.

— Sakura, você tem que entender como os homens funcionam. — Disse com calma, sem desviar o olhar e viu a menina contrair os ombros sem compreender o que ele queria dizer.

— Hã? O que isso tem a ver, sensei? — Sakura cruzou os braços em frente ao corpo, Kakashi estava ficando gaga de tanto ler pornografia.

— Simples, eles estão extravasando suas frustrações, suas raivas, seus rancores, é assim que homens extravasam nada mais que isso. Quando estiverem aliviados vão parar e pronto. — Sakura ficou encarando o copy-ninja por um bom tempo, achando aquela explicação tão ridícula.

— Não consigo por fé nisso. — Suspirou, coçando a cabeça.

— Pode por fé no que eu falo ao menos. — Sakura o fitou por um longo tempo antes de manear a cabeça e voltar à atenção para luta. Mordendo o canto do lábio inferior. Kakashi mantinha seu único olho exposto sobre a garota.

— E você? — A atenção dela se manteve na luta.

— O que... — Não tinha entendido o questionamento, ia perguntar mais foi cortada.

— Quando vai extravasar? — Piscou algumas vezes, aturdida pela pergunta, virou assustada. Ela não tinha o que por para fora. Tinha? Não, não tinha. Ela estava bem, indecisa, mas bem. Na maior parte do tempo.

— Eu não tenho o que falar ou o que por para fora. — Respondeu baixo e um pouco incerta.

— Certeza? Em minha opinião tem. Acho que você guarda tanta coisa que uma hora vai estourar. — Ela riu, mas ele se manteve apático as reações nervosas dela. — Ao menos sabe o que está fazendo?

Ela abriu a boca algumas vezes para respondê-lo, mas a verdade é que, não sabia o que falar, nem por onde começar. Ela era tão idiota, como poderia ficar sem resposta com uma pergunta tão simples? Sem perceber a luta terminou e um Naruto suado e aos farrapos correu até ela.

— Sakura–chan, você pode me curar? — Ela sorriu amarelo, abaixou a cabeça e começou a curar o loiro, ainda sentido os olhos pretos de seu sensei sobre ela.

Assim que terminou de curar Naruto, ele se levantou, espreguiçando-se e no mesmo instante Sasuke se pôs em seu lugar. Naruto rodou, sorrindo, até ver Sakura curando o moreno, sua cara fechou na hora.

— Hey! O que você ta fazendo, seu idiota? — Questionou o Uzumaki com as sobrancelhas unidas.

— Não esta vendo, seu imbecil. — Sasuke nem se dignou a olha-lo, mantinha os olhos fechados apreciando a sensação de ter o contato das mãos de Sakura e de seu chakra aliviando as suas tensões musculares.

— Não ouvi você pedindo... — Sibilou um furioso Naruto

— Não preciso pedir. — Sasuke sorriu de canto ao ver o rosto de Naruto retorcer em fúria. Sakura mordeu o lábio, não era isso, não mesmo. Se fosse ao contrario se Sasuke pedisse e depois Naruto apenas sentasse a sua frente ela também o curaria.

— Chega. Eu sempre curo os dois Qual o problema? Quem pede ou deixa de pedir não importa, no fim sobre para a única médica do grupo, eu. — E finalizou a conversa fazendo com que Sasuke e Naruto ficassem quietos apenas trocando olhares azedos.

Após todos estarem curados e bem, Kakashi os tirou do campo antes que os meninos caíssem em outro confronto, todos foram para o Ichiraku. Sakura entre os dois garotos e o Hatake mais ao fundo observando a interação dos meninos. Sempre que Naruto se aproximava um pouco mais da menina, Sasuke se tornava presente, como uma sombra da Haruno, mesmo que não falasse nada. Um olhar altivo demarcava seu território, não só ao loiro, mas a todos que passavam em volta e davam olhares a rosada, mas Sasuke não era o único a fazer isso, Naruto também distribuía olhares imperativos aos demais, sua carranca não era como a de Sasuke, mas deixava a todos um aviso bem claro.

Enquanto Sakura estava no meio, encolhida, aparentemente, submissa à vontade de ambos os seus companheiros. Esse quadro remeteu o grisalho ao passado, quando seus alunos ainda eram crianças e Sakura era a menina que todos do time precisavam defender, mas a situação atual era tão diferente. A Haruno não precisava mais de proteção, aquele tipo de atitude de ambos era até mesquinha e desdenhosa, enquanto a de Sakura passiva demais, ela estava deixando Naruto e Sasuke terem a desforra. Provavelmente por algum tipo de culpa interna, com relação a ambos. Seus alunos voltaram a ser crianças e nem ao menos notaram, suspirou sabia que no final algo acabaria caindo sobre seus ombros.

O almoço no Ichiraku ocorreu como sempre, mas dessa vez Kakashi realmente pagou. Reclamando bastante sobre a enorme conta de Naruto e antes que uma briga se iniciasse ele se ofereceu a levar a medica–nin até em casa.

Naruto observou Kakashi e Sakura desaparecerem aos poucos no meio da multidão enquanto Sasuke caminhava por outro caminho, o caminho do bairro Uchiha. Permaneceu sentando na barraquinha de lamen até não conseguir ver o moreno. Sem pensar duas vezes o Uzumaki saiu correndo o mais depressa possível a procura da rosada e de seu sensei, os encontrou em uma conversa amena e se interpôs entre eles, puxando a Haruno pelo braço.

— Só um instante, sensei. Preciso falar algo muito importante com a Sakura–chan. — Disse Naruto, o Hatake suspirou, pegou seu livro e começou a ler, virando de costas para o casal. O garoto voltou seus olhos azuis para Sakura, sorrindo, o que a fez sorrir de volta. Sorrisos combinavam demais com o rosto dela pensou o loiro, corando. — Então, o que eu falei hoje cedo ainda está de pé... Eu quero sair com você, jantar... Porque você sabe, hoje fazemos um ano. — A menina corou e para o Uzumaki ela nunca parecia tão perfeita como quando estava corada, seja de vergonha ou raiva, ela ficava linda de ambas as formas. — Eu quero passar com você essa data.

A garota mordiscou o lábio inferior, olhou para seu antigo sensei que parecia alheio a conversa de seus alunos, depois voltou a observar Naruto, cheio de expectativas e ansiedade. Ela sorriu ainda mais e maneou a cabeça em sinal de sim, abaixando-a logo em seguida.

— Passe lá em casa as oito e não se atrase. — A garota depositou um casto selinho nos lábios de Naruto antes de voltar com Kakashi a seguir o caminho rumo a sua casa.

O silêncio prevaleceu entre eles e por mais que não tivesse interesse, Kakashi havia escutado a conversa entre seus alunos. Envolvidos em uma trama tão boba e complexa ao mesmo tempo, talvez devesse escrever sobre eles, ganharia um bom dinheiro com toda certeza.

— Então, vai passar a noite com Naruto? — Ela corou e não respondeu. — E a manhã com Sasuke? — Sakura parou de caminhar e observou seu sensei, incrédula, ele parou alguns passos à frente, encarando-a. — O que? Você sabe que eu sei. Ou achou que vocês três são ótimos atores e me enganaram esse tempo inteiro?

— Não, mas essa é a primeira vez que fala algo. — Ela encolheu os ombros constrangida, evitando encara-lo.

— Alguém tinha que falar você não acha? — Questionou o mascarado.

— Kakashi–sensei... Esse é um tipo de assunto que eu não quero ter com você. — O olhou um pouco temerosa, mas essa era a verdade. Muito desconcertante conversar sobre sua vida particular com o homem que a viu crescer, que ela enxergava quase como um pai e não como um amigo para se ter conversas triviais.

— E vai ter com quem? Com eles? — Sakura mordiscou o lábio inferior, nervosa demais e então ele prosseguiu. — Olha, no começo eu achei que era complicado você decidir sozinha, que precisava de um tempo. Depois achei que se afastaria do Sasuke; depois achei que se afastaria dos dois, mas seis meses se passaram e vocês continuam nessa. Você tem noção de quantas pessoas estão envolvidas nessa trama? Não são só vocês três, e principalmente essa falta de decisão ta acarretando mais problemas do que se você decidisse algo tão simples.

— Simples? Simples. Como pode dizer que isso é simples? — Parou de andar, irritada pelo aparente descaso dele.

— É simples, você só tem que escolher um. — Ele a encarou, ela parecia tão perdida que teve vontade de abraça-la, mas era esse tipo de comportamento de deixar tudo para depois que a tinha metido nessa confusão, precisava ser duro.

— Não é fácil escolher, eu tenho que...

— Na verdade escolher é muito simples, o difícil é abrir mão. De qual você não quer abrir mão é que eu não sei, talvez desconfiei. — Olhou para frente como se a resposta estivesse ali, mas era apenas a parede de um hortifruti que em nada ajudava Sakura.

— Eu os amo. — Confessou bem baixo, mas ele pode ouvir claramente.

— Eu não duvido disso, não mesmo. Mas não pode viver com os dois para sempre, Sakura. — E ambos ficaram em silêncio, encarando-se, mas por fim o Hatake falou. — Vamos, você precisa descansar e se arrumar para o seu jantar. Depois continuamos essa conversa, porque nós vamos continuar, mas talvez essa noite seja realmente importante para lhe clarear as ideias.