A Onda escrita por Duda Bitar


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Não vou amolar você aqui, então leia as notas finais por favor.



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Eu e meu pai estávamos no mar, pescando. Era dia de maré alta, então não fomos muito longe. A água estava batendo na minha cintura, até a altura que fomos. Estava de tarde, eu ainda era novo e estava aprendendo. Tinha em torno de meus sete ou oito anos.

— Pai, como você consegue acertar os peixes tão rápido? – perguntei curioso.

— Anos de prática, meu filho. Um dia você também vai conseguir. Agora se concentre e tente pegar algum, nem que seja com a rede – disse, tirando o pequeno tridente de minhas mãos e me dando sua rede, a qual ele não tinha uma cópia menor como a arma.

— Tudo bem – disse, tentando me acostumar a gigantesca rede.

*Duas horas depois*

— Pai, eu já cansei. A gente tá aqui a tanto tempo... E não aparece um peixe! – disse, indignado. Eu estava de pé com a rede, e meu pai ao meu lado com um tridente enorme, fazia duas horas que estávamos assim e nada de peixe.

— Finn, pescaria se trata de paciência – ele me diz calmo, aparentemente cansado, mas relaxado.

— Mas já fazem duas horas! – insisti, me mexendo.

— Finnick fique parado! Hoje já está difícil, e desse jeito você só vai piorar as coisas. Os peixes sentem as pequenas ondas que você faz quando se move, então se afastam – ele me explicou.

— Argh. Tudo bem – disse, cansado de ficar em pé e parado, mas decidi perguntar uma última coisa. – Mas pai, porque o senhor não vai atrás dos peixes como os outros pescadores? Não é mais fácil?

— Sim, é mais fácil. Mas esse é um meio mais inteligente, se eu tivesse outra rede, estaria usando agora. Pegar o peixe com o tridente não é nenhum crime, mas já reparou que os homens que pescam assim são hipócritas? Eles sempre fazem algo ruim ou errado em sua vida. Eles acham que são melhores que os outros e acham que podem conseguir tudo de primeira, sem nenhuma dificuldade, mas não é bem assim – ele me disse, tentando me ensinar algo importante.

— É sério?

— Sim. Eu conheço algumas pessoas assim, por isso estou te falando. Não seja assim também Finnick.

— E o que eu tenho que fazer? – perguntei sobre a pescaria.

— Apenas seja paciente e calmo. Respire profundamente, se conecte com o mar e você saberá que os peixes estão vindo. Não vá atrás deles, espere que eles venham até você e os prenda na rede do melhor jeito que puder.

— Tudo bem – respondi, determinado.

Fiquei um bom tempo ali, parado com meu pai, observando o mar e o horizonte. Até que algum tempo depois, peixes se aproximaram. Fiz exatamente como meu pai me mandara. Fui mais inteligente. E ao final do dia, nossos baldes estavam tão cheios e pesados que seria difícil voltar com eles para casa. Mas se bem que eu não queria ir embora. Queria ficar na praia, no mar. Queria nadar e conseguir mais alguns peixes. Apenas para treinar. Tenho a intenção de soltá-los depois, afinal, já pegamos mais que o suficiente hoje.

— Então, Finn, vamos pra casa? – meu pai me chamou, já na areia pegando os baldes e guardando as armas e a rede.

— Pai, eu posso ficar mais um pouco? – resolvi pedir.

— Tudo bem. Mas venha antes do anoitecer – ele me jogou a rede.

— Pode deixar – prometi. Em seguida, voltei para a água, antes deixando a rede pendurada numa árvore, junto com minha mochila.

Eu amava o mar. A praia era meu local favorito no distrito. Eu também amava nadar. E era exatamente o que estava fazendo, eu estava nadando e mergulhando. Curtindo os últimos instantes do dia. Já era pôr-do-sol e o céu estava naquele bonito tom alaranjado, se misturando com o azul. Estava tudo calmo e silencioso.

De repente, ouvi gritos. Uma menina será? Sim, era uma menina. Rapidamente voltei até a superfície e a avistei. Estava se afogando, um pouco mais a minha frente. Nadei o mais rápido que pude até lá, e demorei um pouco a chegar. A maré estava forte demais, as ondas também dificultavam isso. De repente a alcancei e a peguei, fui nadando até a areia da praia, lá dei um jeito de puxar ela, que estava com dificuldades para respirar e estava quase inconsciente, me sentei e a puxei para meu colo. Ela começou a tossir, e pude ver que muita água saiu de seu pulmão. Foi sorte não ter desmaiado. Ela tremia também.

— Hey, tudo bem? – perguntei depois de alguns minutos de silêncio.

Ela apenas assentiu com a cabeça e se encostou em mim.

— Qual é o seu nome? – perguntei agora reparando no rosto da menina. Ela tinha cabelos longos e castanhos, caindo em ondas, olhos tão verdes como o mar, pele branca porém bronzeada, e os traços de seu rosto sugeriam uma pessoa gentil, delicada. Era linda. Não sei porque, mas eu senti uma coisa diferente a partir daquele momento. Uma coisa estranha, porém boa.

— Annie... Annie Cresta – me respondeu, quase num sussurro.

— Eu sou Finnick Odair.

— Obrigada, Finnick – ela disse depois de um longo tempo, e parecia um pouco melhor.

— Não há de quê. Mas Annie, me desculpe perguntar, por que você estava se afogando?

— É que eu não sei nadar – disse olhando meu rosto e corando logo depois.

— Como pode isso? Você mora no Distrito 4! Todos sabem nadar aqui.

— Meus pais são os que fazem as redes de pesca, eu não preciso entrar no mar como os outros. Nunca tive necessidade de aprender a nadar... Mas como é? – Annie disse devagar.

— Como é o quê?

— Isso, nadar. – Ela parecia curiosa.

— Parece como voar, só que na água.

— Hum, queria aprender a nadar, todos falam que é legal.

— E se eu te ensinar?

— O quê? – ela me olhou surpresa.

— Você que falou, ué. Mas eu posso te ensinar. – Dei de ombros.

— Sério?

Assenti com a cabeça.

— Não – Annie respondeu firmemente.

— Por quê?! Eu não vou deixar você se afogar, sem falar que eu nado muito bem! Caso contrário não teria conseguido te salvar.

— Não é por isso, é que eu tenho medo.

— Já disse que não vou deixar você se afogar.

— Tudo bem, mas... E se nós fizéssemos um trato?

— Que tipo de trato? – perguntei desconfiado. O que será que aquela garota louca poderia ter na cabeça?

— Se um dia você fizer uma rede bem feita, eu deixo você me ensinar a nadar. Se você tiver inteligência, paciência, habilidade e delicadeza suficiente para fazer uma rede, vou acreditar que vai ter o mesmo para me ensinar a nadar.

— Hum – pensei um pouco, – tudo bem, então. Trato feito.

Eu nunca desperdiçaria essa oportunidade, sem falar que poderia parecer que eu estava amarelando. E eu também ganharia uma vantagem, aprenderia a fazer uma rede decente com Annie me dizendo como tudo deve ser.

Ela sorriu, em seguida olhou no céu, como se finalmente estivesse percebendo como estava tarde. O anoitecer já caindo sobre nós. Eu também tinha que voltar para casa, mas fui tirado dos meus pensamentos quando Annie se levantou, em seguida cambaleou para trás e quase caiu. Se eu não tivesse levantado em um segundo e a segurado, ela estaria no chão.

— Calma. Você ainda está fraca, não vai conseguir andar direito. Eu sei como é. Se você pensa que eu também nunca me afoguei, pensou errado – expliquei.

— Obrigada de novo – ela sorriu levemente para mim.

Eu ri, em seguida tive uma ideia.

— Annie, aonde exatamente fica sua casa?

— Pra lá. – Ela me apontou o lado oposto ao qual ficava o caminho para a minha casa e me explicou o caminho todo.

— Vamos pra lá, então – disse e a peguei no colo. Ela era leve, dava para carregar.

— Finnick! Tá fazendo o quê?

— Te levando pra casa, ué – disse.

Em seguida parei para pegar minha rede e minha mochila, e fui carregando Annie até sua casa. Ela acabou dormindo no caminho, sorte que já tinha me explicado como chegar lá. Não queria acordá-la.

Finalmente chegamos e a noite já tinha aparecido. Parecia que dentro da casa de Annie tinha alguma confusão... Decidi que deveria ser por causa do sumiço da filha. Então, resolvi bater à porta. Alguns segundos depois uma mulher jovem, provavelmente sua mãe, abriu a porta.

— Oh meu Deus, Annie! – Assim que ela disse isso, pegou-a de mim e em seguida, um homem veio até a porta. Deveria ser o pai dela.

— O que aconteceu com ela?

— Annie estava se afogando no mar, mas eu a peguei. Não se preocupe, ela só está dormindo agora, senhor – expliquei.

— Ah, meu rapaz, muito obrigado! Muito obrigado mesmo!

— Não há de quê, senhor Cresta.

— Qual é seu nome?

— Finnick Odair.

— Ah, o filho do Odair, aquele pescador? Meu menino, como posso te agradecer? Eu faço questão.

— Ah, bom... – Eu não sabia o que pedir, mas então me lembrei do trato. – O senhor poderia me dar algo para fazer uma rede?

— Claro! Mas vou avisando, não é pouca coisa! E é uma coisa difícil... Ainda mais se for fazer na mão.

— Tudo bem. Eu quero aprender – disse, determinado.

— Espere um minuto.

— Tudo bem.

Depois, uma Annie já seca e com os cabelos desembaraçados, e que já podia andar também, apareceu.

— Obrigada, Finnick. – Sua voz era mais suave, mais doce. O sorriso em seu rosto só a tornava mais fofa.

— De nada, Annie – falei.

Em seguida, ela me deu um sorriso e saiu.

— Aqui está, Finnick. – O pai dela voltou, e me deu todo o material.

— Obrigado, senhor! – disse, pegando tudo e guardando o que podia na mochila.

— Não há de quê, filho. Eu é que te agradeço.

Em seguida voltei para casa, mas com uma felicidade enorme no peito. Não pela rede, mas por ter conhecido aquela doce e estranha menina que não sabe nadar.

Mal sabia eu que aquela menina, Annie Cresta, que daqui a alguns anos eu ensinaria a nadar, iria se tornar hoje a minha esposa, mãe do meu único filho... Em seguida vieram flashes do mar, da última arena, imagens da Mags sorrindo, do meu casamento com Annie, dela me contando a notícia de que ia ser pai, daqueles olhos verdes. Isso foi tudo o que me veio à cabeça, o único filme da minha vida que voltou na minha mente. E antes que o bestante pudesse me atingir, sussurrei:

— Eu amo você Annie, me desculpe. Cuida bem do bebê.

Em seguida, tudo o que veio, foi uma dor castigante e segundos depois uma onda de escuridão.


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Notas finais do capítulo

E aí, te fiz chorar? Para ser sincera, eu mesma chorei quando estava revisando.
Enfim, espero que tenha gostado!
E deixe um review, eu preciso saber o que achou. Isso é importante para os escritores.
Desculpe qualquer erro.
Xoxo