“Quanto maior o desejo por desvendar um mistério, maior valor será atribuído à descoberta”
Danilo Gomes

Na casa da Sue, depois de se servir de cobaia para suas experiências, Mônica mexia no computador fazendo algumas pesquisas, olhando o facebook e também o blog da Irene. Ela pretendia saber o que tinha lhe acontecido realmente. Nos últimos dias ela pensou muito, construiu teorias, elaborou uma lista de suspeitos e seus motivos.

Era óbvio que havia alguma relação entre Irene e Capitão feio que ela não conseguia descobrir logo de cara.

- Por que insiste nisso? – Araci lhe perguntou ao ver sua persistência.
- Eu já sei por que tudo isso me aconteceu. Agora quero saber o que aconteceu, exatamente. Ainda tô sem entender nada.
- Acha mesmo que precisa entender alguma coisa?
- Preciso. Eu não quero brigar com ninguém e já aceitei o que me aconteceu, sério! Mas acho que preciso saber e se for possível, fazer alguma coisa. Alguém me prejudicou e pode prejudicar outras pessoas também!
- Então você quer justiça.
- É errado?
- Claro que não! Temos todo o direito de nos defender das pessoas que podem nos fazer mal. Não podemos deixar que a crueldade e a injustiça vençam. Mas você precisa saber se está lutando pelos motivos certos. Se é por justiça ou vingança.
- Não quero ir a forra com ninguém. Já vi que isso não leva a nada. E tem outra coisa, sabe...
- O que?
- Meus pais ficaram muito sentidos com tudo o que aconteceu. Se eu pudesse provar minha inocência, ia deixar eles felizes. Eles são muito bons, não mereceram passar por tudo isso. Além do mais, o Capitão Feio tá solto por aí e pode aprontar de novo. Não quero que ele machuque meus amigos outra vez.

Os olhos da sua patroa brilharam.

- Então você está lutando pelos que ama. Isso sim é um bom motivo. Sendo assim, todo o universo vai conspirar a seu favor. Enquanto suas intenções forem boas, tudo ficará bem.

Essa conversa lhe deu mais segurança para continuar pesquisando e investigando. Depois que passou a tempestade e toda a dor, ela se sentia mais apta para raciocinar e ligar os fatos.

- O que você já tem? – Sue perguntou.
- Eu tenho aquela briga que a Irene simulou e os ataques do Capitão Feio. E também suspeito de que ele tenha mandado aquelas mensagens desaforadas, por isso ela resolveu se vingar de mim.
- Faz sentido. Só que eu tava pensando... parece que alguém fez a maquiagem pra ela
- Mesmo?
- Fazer aquilo sozinha ia ser muito difícil.
- Faz sentido. Aliás, eu não vi nenhum apetrecho de maquiagem por ali. Pelo menos não me lembro. Vai ver ela escondeu na moita ou a outra pessoa levou embora. E sabe o que mais? Eu acho que ela fez tudo ali mesmo. Se tivesse feito em outro lugar e ido pra lá daquele jeito, todo mundo teria notado.

O único material que tinha disponível para investigar era o blog da Irene que Mônica acessava procurando por pistas. E ela começou a ver coisas estranhas que não tinha visto antes já que se interessava apenas pelos posts que falavam do Cebola.

- Um vídeo sobre Paris? Que coisa estranha...
- Parece que ela tá de cabeça virada por causa dessa cidade.

Mônica ficou muito desconfiada com aquela mudança de layout, colocando tudo com o tema de Paris e até usando palavras e expressões em francês.

- Escargots de Bourgogne? O que é isso? – Sue perguntou ao ler o título de um post. Ao acessar, as duas se depararam com a foto de um prato cheio de conchas com uma espécie de creme verde por cima.
- Escargot é um tipo de lesma que eles comem lá na França. Dizem que é um troço muito chique!
- Mesmo? E onde ela arrumou isso?

As duas leram o texto onde Irene explicou que tinha provado a iguaria na casa de uma amiga. Que tipo de amiga teria dinheiro para comprar esse tipo de coisa? De repente, ela sentiu um estalo dentro de si. Tudo pareceu se encaixar na mesma hora. Ela levantou-se da cadeira, andando de um lado para outro esfregando os cabelos com as mãos.

- O que foi?
- Eu pensei numa coisa aqui, mas não pode ser possível! Ou é?
- Pensou no quê?
- Penha!

Aquilo era louco demais para ser verdade e ao mesmo tempo fazia todo sentido. Por que ela não pensou nisso antes?

- Penha? É aquela doida de pedra que queria se vingar de você?
- Ela mesma! Só que ainda não faz sentido! Desde que ela caiu de cabeça naquele barco, nunca mais ouvi falar dela.
- Bem, para tudo o Google tem uma resposta, né?
- Claro!

Ela pesquisou pelo nome da Penha e levou algum tempo até encontrar algum resultado. Ela teve que ler vários sites de notícia até encontrar a peça que faltava no quebra-cabeça. A notícia era meio antiga e mostrava a foto da Penha ajeitando os cabelos. Olhando melhor, Sue viu que aquilo era uma peruca. E a notícia confirmava isso dizendo que ela teve que fazer uma cirurgia na cabeça e para isso precisaram raspar os cabelos. Agora elas tinham a suspeita e também os motivos. Pura e simples vingança daquela maluca.

- Paidocéu! Então era ela esse tempo todo?
- Parece que sim. Mas e aquele doidão que atacou sua turma?
- Eu aposto que ela deve ter contratado ele pra fazer aquelas coisas.
- Ela é rica?
- Rica? Milionária! O pai dela é um político e dono de empresa muito importante e tem mansões pelo mundo inteiro! Não ia ser difícil pra ela arrumar dinheiro pra pagar o Feio. E aposto que ela deve ter pago o mega hair pra Irene também, não duvido nada!
- Um mega hair daquele não deve ter saído por menos de dois mil.
- Então é isso! Foi a Penha quem armou tudo! Eu achei que o Feio tivesse mandado aquelas mensagens pra Irene, mas pensando bem acho que a Penha é a mais provável!
- Aí a tal Irene pensou que você mandou tudo aquilo e armou aquela vingança!
- Que deve ter sido com a ajuda da Penha, claro! Ela deve ter se aproximado da Irene depois e jogado seu veneno contra mim.  

Mônica foi fazendo mais anotações com os fatos que tinha descoberto. Quando voltasse ao limoeiro, ela pretendia investigar tudo por conta própria.

- E o que você vai fazer agora?
- Por enquanto nada. Eu não posso provar que ela aprontou essas coisas. Se ao menos desse pra achar o Feio, ainda vá lá. Só que ele sumiu e ninguém acha ele. Então vou esperar. Se a chance aparecer, aí eu aproveito.

__________________________________________________________

Quando o último satélite foi lançado, Capitão Feio se deu por satisfeito. Seu plano estava indo muito bem. Com aqueles satélites cercando o globo, ele ia controlar o clima de todos os países e colocar o planeta inteiro aos seus pés.

- O plano de dominação vai se iniciar agora?
- Ainda preciso fazer alguns testes e saber se os satélites estarão seguros o suficiente. Pode acontecer de lançarem mísseis e eu não posso deixar isso acontecer. Eles precisam ficar invisíveis a todos os radares da Terra.
- Está bem. Quando poderei raptar a Penha? Não agüento mais ver aquela cretina feliz.
- Acalme-se, garota. Sua hora vai chegar. A espera também pode ser tão prazerosa quanto a vingança em si. Quando meu plano estiver encaminhado, você terá mais tempo livre para brincar com sua amiga.
- Mal posso esperar!
- O que pretende fazer? Vai matá-la ou deixá-la viver?
- Deixá-la viver. Você está certo. Viver mutilada e deformada será para ela um castigo muito pior do que a morte.
- Com certeza. Talvez eu tire um tempo para assistir de camarote. Será muito interessante!
- Não sente pena dela? Afinal, ela te pagou muito bem.

Ele deu de ombros.

- Foi ela quem resolveu brincar com fogo. Agora tem que agüentar as queimaduras.