La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 36
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho...




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“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão...”
Mateus Capítulo 7 Versículo 5

Cebola estava sentado na praça com os cotovelos apoiados nos joelhos e cabeça entre as mãos. Ele parecia imerso em seus pensamentos a ponto de não perceber o que se passava ao seu redor.

- Você tá bem, cara? – uma voz perguntou e ele olhou para cima, dando de cara com o Xaveco.
- Mais ou menos...

O outro estava indo embora quando Cebola o chamou.

- Escuta, você falou que as garotas sempre te procuram quando brigam com o namorado.
- Pois é. Sou o ombro amigo pra elas. – ele respondeu sentando-se ao seu lado.
- Me diz uma coisa: por acaso tem um jeito de terminar o namoro com uma garota sensível e delicada sem magoar?

Xaveco levantou uma sobrancelha e quis saber.

- Você tá querendo terminar com a Irene?
- Pois é. Acho que não tá dando mais...
- E por quê? Ela é tão legal e faz tudo pra te agradar!
- Mas é sensível demais, delicada demais!
- Achei que você gostasse assim!
- Mas não tãaaaao assim! Sei lá, tá cansando ter que ser sempre o herói protetor dela! Não quero ter que carregar ninguém nas costas a vida inteira! Quero uma garota que saiba se cuidar sozinha!
- Você tinha a Mônica.
- Que também era cheia de defeitos!
- E agora você tá achando defeito na Irene também.
- Entende o problema? Cara, por que as garotas da vida real não podem ser como as do jogo?

O loiro balançou a cabeça e disse.

- Quer saber de uma coisa? Estou começando a achar que o problema aqui não é nem a Mônica, nem a Irene.
- É o quê então? – Cebola perguntou surpreso.
- Você.
- Como é que é? Eu? Como?
- Lembra quando reclamou dos defeitos das nossas amigas? Esse é o seu problema! Você só sabe apontar os defeitos dos outros, só sabe criticar e reclamar! Você reclamava de Mônica, agora reclama da Irene que é o oposto dela e vai continuar reclamando de qualquer garota que aparecer na sua frente porque nenhuma será boa o suficiente pra você!

Chocado com a fala do amigo, Cebola levantou-se e falou indignado.

- Que culpa eu tenho se elas tem um monte de defeitos?
- E você conhece alguém que não tenha defeito nenhum? Larga de ser manezão, cara! Todo mundo tem defeitos, até você!

Ele voltou a se sentar, mais chocado ainda.

- Eu... eu tenho defeitos?
- Não vai dizer que você pensava que era perfeito? Só faltava mais essa!
- Nunca percebi isso... não achava que tivesse defeitos...
- E esse é o maior de todos sabia?
- ???
- Quem se considera perfeito nunca fará nada pra melhorar porque acha que não precisa, que já atingiu a perfeição. Aí você para no tempo, não cresce e nem evolui. Agora, os que admitem seus defeitos se esforçam pra melhorar e seguem em frente.

Certo, aquilo tudo estava dando um nó na sua cabeça. Ele certamente não conhecia o Xaveco tão bem quanto imaginava.

- Todo mundo tem defeito, cara. Se você ficar nessa de só querer a garota perfeita, vai ficar sozinho pelo resto da vida.
- Então eu não tenho o direito de querer uma garota com muitas qualidades e poucos defeitos?
- Depende. Por acaso você satisfaz pelo menos a metade daquilo que exige nelas?

O queixo do Cebola caiu no chão. Não foi preciso responder nada.

- Então tá. Como você pode querer que elas sejam perfeitas se você nem chega perto disso? É justo ficar exigindo das pessoas aquilo que você não é capaz de dar? Pense nisso.
- Caramba, como você aprendeu essas coisas?
- Me achando menos e observando mais. – Xaveco respondeu lhe dando uma piscada e foi embora dali deixando o Cebola com a cabeça dando voltas e mais voltas.

Que situação! Além de não ter respondido sua pergunta inicial, ele tinha lhe deixado com várias outras na cabeça!

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Quando Capitão Feio lhe deu uma folga, Agnes foi até seu casarão preparar tudo para sua vingança. Ela levava um pacote debaixo do braço e foi até o porão da casa, onde ficavam as gaiolas dos seus bichos.

O lugar estava escuro, úmido e frio. O buraco que Mônica havia aberto no chão ainda continuava ali, mas ela não se importava porque ele não ia lhe atrapalhar em nada. No lugar, ao invés das várias gaiolas, havia somente uma bem grande pendurada no teto, do tamanho certo para caber uma pessoa. No canto da sala, uma espécie de cama com correias para amarrar os braços, pernas e a cabeça de uma pessoa de forma a deixá-la imobilizada. Tudo estava quase pronto.

Em cima de uma mesa ali perto, Agnes foi colocando o conteúdo do pacote que havia trazido. Agulhas, bisturis, tesouras, pinças, afastadores, facas e estiletes. Também havia álcool, potes de sal e vários outros apetrechos destinados a causar o máximo de dor.

Ela não pretendia acabar com Penha de uma única vez. Pretendia acabar com ela aos poucos e bem devagar, destruindo aquela beleza pedaço por pedaço e da forma mais dolorosa possível. Aquela cretina quebrou sua promessa porque não queria fazer um simples corte na mão. Por isso Agnes pretendia cortar seu corpo inteiro.

- Vejo que já arrumou alguns brinquedos. E confesso que gostei desse lugar. Escuro, frio, desolado e tem um belo esgoto aqui em baixo!
- Estou pronta para me vingar daquela traidora.
- Mesmo? O que pretende fazer?
- Torturá-la até a morte.
- Até a morte? Que pobreza... você devia saber que morrer não é a pior coisa que pode acontecer com uma pessoa.
- E qual seria a pior coisa para ela?
- Viver. Desfigurada, mutilada, totalmente despojada de sua beleza.

Agnes deu um largo sorriso.

- Sabe, acho que ainda tenho muito que aprender com você.

Feio também sorriu.

- E você aprende rápido, bem rápido!


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