La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 35
O fraco jamais perdoa...




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“O fraco jamais perdoa: o perdão é uma das características do forte”
Mahatma Gandhi

Com alguns cadernos debaixo do braço, Cascão bateu a campainha da casa da Magali.

- Entra! – ele ouviu a voz dela chamando e abriu a porta, levando um susto ao vê-la jogada no sofá vendo televisão com um grande pote de sorvete no colo e um pacote de biscoitos recheados do seu lado.
- Credo, Magá! Ficou doida?
- Doida por quê?
- Você tá comendo um pote inteirinho de sorvete! E ainda com biscoito? Você sempre fala que esse troço é cheio de gordura sei lá o quê!
- Ah, bobagem! Deixa eu comer porque tá muito bom! Eu adoro esse sorvete. Foi a Irene quem trouxe pra mim.

O rapaz logo estranhou.

- A Irene?
- Ela é tão legal e vive me dando coisas gostosas pra comer.
- E você come tudo.
- Ué, o que posso fazer? Jogar fora?

Ele sentou-se do seu lado e falou muito sério.

- Olha, eu acho que você não tá percebendo, mas eu reparei que anda exagerando um bocado com a comida. Igual quando você era criança!
- Exagerando? Claro que não!
- Peraí! Qual foi a última vez que você devorou um pote inteiro de sorvete?

A moça ficou pensativa e lembrou-se de que só fazia tais extravagâncias quando era pequena.

- Cascão... você acha que eu tô comendo demais?
- Acho. E a Irene tá contribuindo com isso te enchendo de comida.
- Ela só quer ser legal comigo...
- Sabe o que eu tô achando? Que ela tá te subornando com essas coisas de comer pra ter sua amizade.

Magali arregalou os olhos.

- Credo, que exagero!
- Exagero nada! Eu reparei que ela tá bajulando todo mundo da turma e agora sei que é pra tomar o lugar da Mônica.
- Ninguém vai tomar o lugar da Mô! Ai, eu tô morrendo de saudade dela! – a moça começou a chorar e Cascão colocou um braço ao redor do ombro dela para lhe dar conforto.
- Eu também, Magá. Acho que todo mundo da turma tá sentindo a falta dela.
- E tá mesmo! Desde que ela se foi, a gente nunca mais deu uma festa do pijama. Não é a mesma coisa sem ela.
- Isso é verdade. Até o Cebola ficou esquisito. Não bola mais planos e nem fala mais em conquistar o mundo. Nem parece ele mesmo!

Ela deu um longo suspiro e colocou o sorvete em cima da mesa de centro.

- Queria tanto ir visitar ela...
- Não vai dar. Ela tá morando lá nos cafundós do Judas. São três horas de ônibus. É por isso que os pais dela só vão lá uma vez por mês.
- Então a gente podia ir com eles!
- Dessa vez não vai dar. Eles foram hoje e voltam de noite.
- Ai, que droga! Então só vai dar mês que vem?
- Pois é. O jeito vai ser esperar.

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Eram sete horas da noite quando Souza e Luisa entraram no carro após uma longa despedida cheia de beijos, abraços e recomendações.

- Se cuida, viu? A gente vai ligar toda noite. – Luisa falou, sendo acompanhada pelo marido.
- Nós vamos sentir saudade. Mês que vem nós viremos te visitar de novo.
- Tá bom, vou estar esperando.

Quando viu o carro dos seus pais sumir na estrada de terra, ela voltou para casa com o rosto triste e perdida em seus pensamentos. Foi duro rir para eles e fingir que estava feliz com sua visita sendo que ela não estava realmente. E por que estaria? Quando ela mais precisou, eles não acreditaram em sua palavra. Só souberam recriminar, dar bronca e ela não conseguia esquecer quando sua mãe desejou que ela fosse como outras garotas e seu pai perguntando por que ela causava tantos problemas.  

Seus amigos e o Cebola terem virado as costas ela até entendia, embora isso a magoasse também. Mas seus pais fazendo isso? Era difícil de aceitar.

- Por que julga as pessoas tão duramente? – Araci perguntou sentada na cadeira de vime que ficava na varanda.
- Como é?
- Não devia ser tão severa ao julgar as pessoas. Cada um sabe o que se passa em seu íntimo e não podemos dizer o que elas sentem ou pensam.
- Mas podemos ficar magoados com o que nos fazem.
- Cada um age de acordo com seu grau de entendimento. Quer dizer, as pessoas só dão o que tem condições de dar.

Ela sentou-se no degrau da escada e perguntou.

- E o que isso quer dizer?
- Isso quer dizer o que isso quer dizer, ora! Não tem nada de complicado aí!
- Tem sim! Eles me magoaram muito!
- Muitas vezes queremos que as pessoas ajam de determinada forma, sejam de um jeito, façam as coisas de outro... queremos que elas sejam aquilo que achamos certo e não é assim que a vida funciona.
- A senhora já falou isso.
- Pois bem: entenda que seus pais fizeram o que estava dentro da limitação deles, aquilo que sabiam e podiam fazer. Não é justo cobrarmos das pessoas aquilo que elas não podem nos dar. Chega a ser crueldade até.
- Então por que elas não aprendem a fazer melhor?
- Porque cada um evolui no seu ritmo, menina. Nem você, nem ninguém tem o direito de determinar qual deve ser o ritmo e a velocidade que cada um aprende.

Mônica calou-se, sentindo um pouco de vergonha da sua atitude impulsiva e controladora. Araci continuou.

- Não se sinta magoada com seus pais. Eles fizeram o melhor dentro do que sabiam. Nunca foi a intenção deles machucar você, lembre-se disso.
- Não tinha pensado nisso.
- Pois pense, menina. E entenda que cada um dá o que pode dar. Nós nos decepcionamos com as pessoas porque esperamos delas mais do que elas podem nos dar e não entendemos que todos têm suas fraquezas e limitações. E quando vemos essas limitações, só sabemos julgar e condenar sem levar em conta a vida e a história dessa pessoa.
- Olhando por esse lado, julgar é muito cruel!
- Sim, pode ser muito cruel porque somos implacáveis com os defeitos dos outros enquanto ignoramos ou escondemos os nossos.
- Só que todo mundo tem defeito, né? Mas o Cebola nunca entendeu isso e só sabia apontar os MEUS defeitos! Isso é certo por acaso?
- É como eu disse: cada um no seu nível de entendimento. Ele ainda não tem maturidade para entender essas coisas e acha que deve julgar os defeitos dos outros para compensar a própria fraqueza. É o jeito dele e cada um deve aprender por si mesmo. Não cabe a nós mudar as pessoas.
- Acho que não. Puxa... agora que a senhora falou isso, deu até um peso na consciência não ter aproveitado a visita deles hoje!
- Não se recrimine por isso. Afinal, você fez o que sabia fazer, certo? Não tinha o entendimento que tem agora.

As duas ficaram em silêncio, contemplando o céu estrelado. Mônica aspirava o ar frio da noite sentindo-se muito bem. Aos poucos, a mágoa em seu coração estava sendo dissolvida. Araci estava certa, não era justo guardar toda aquela mágoa dos seus pais e nem dos seus amigos.

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Penha tagarelava com alguém no celular quando a empregada entrou para guardar algumas roupas que tinham sido lavadas e passadas. A moça ignorou sua presença e continuou conversando. Ao passar perto do computador, algo chamou sua atenção.

Era o vídeo onde Penha aparecia juntando algumas coisas no chão e saindo correndo, deixando para trás uma garota com o cabelo desalinhado, as roupas rasgadas e com cara de quem tinha saído de uma briga. Pouco depois, apareceu outra de cabelos curtos. A de cabelos longos começou a gritar e partiu para cima da outra. Logo em seguida, outros alunos apareceram e a de cabelos compridos se jogou no chão.

- O que está olhando, sua intrometida? Vá cuidar do seu trabalho! – ela ouviu a voz estridente da Penha lhe dando bronca e saiu dali rapidamente ainda cismada com aquele estranho vídeo. 


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