La Revenge escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 2
Quem vive nas trevas...




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Quem vive nas trevas não consegue ser visto, nem vê nada
Kahlil Gibran


No dia seguinte, bem cedo, Penha seguia de carro pela rua estreita levando um pedaço de papel na mão indicando um endereço. O chofer dirigia lentamente enquanto ela olhava ao redor com imensa repulsa, pois nunca estivera em um lugar tão feio em toda sua vida. Será que aquele sujeito não poderia ter arrumado coisa melhor do que aquele depósito de lixo?


Sacrebleu (maldição), aposto que es outro charlatón. - Ela resmungou olhando a paisagem pobre. Se aquele homem tinha tantos poderes assim, era de se esperar que morasse em um lugar decente, pelo menos.

Finalmente ela encontrou o endereço ao ver o número pintado de tinta preta num portão bem enferrujado. A casa era tão feia e pobre quanto as outras, não estava rebocada e era coberta por um telhado que já precisava ser trocado. O quintal estava sujo, com lixo espalhado aqui e ali e vários excrementos de cachorro. Como não tinha campainha, ela precisou bater palmas para chamar o dono da casa e levou um susto quando três cachorros magros e sujos vieram latindo até o portão. Pouco depois uma mulher que parecia beirar quarenta anos de idade veio atendê-la, aparentemente não estranhando a presença daquela mocinha rica e bem vestida no portão da sua casa.

– Eu preciso falar com monsieur (senhor) Antonio. – ela falou com seu sotaque francês carregado.
– O pai Antonio só atende com hora marcada.
– Eu tenho horra marcada com ele. Diz que es Solange. – ao marcar a consulta por telefone, Penha tinha dado um nome falso para proteger sua identidade.
– Ah, tá. Deixa só eu prender os cachorros.

A mulher levou os cães para o quintal dos fundos e depois voltou até o portão.

– Pode vir que o pai Antonio vai te atender.

Penha, juntamente com o chofer, foi introduzida numa sala pequena e com a mobília desgastada. O chão era de taco, que estava se soltando em vários lugares, a pintura estava descascando e um cheiro irritante de mofo invadiu suas narinas, fazendo-a prender a respiração várias vezes. Apesar de a mulher ter lhe convidado para se sentar, ela preferiu ficar de pé a sujar sua roupa cara naquele sofá infectado. De qualquer forma ela não precisou esperar muito.

– O pai Antonio vai te receber. Pode entrar. – a mulher falou abrindo a porta de um quartinho. – Mas tem que ser sozinha.

O quarto era meio escuro, iluminado apenas pela luz das velas, e cheirava a incenso. Num canto ela viu um altar com imagens de santos e divindades e por toda parte havia amuletos e talismãs. Alguns ela conhecia, outros eram novidade. Também havia uma prateleira tosca com muitas garrafas cheias de líquido e ervas.

No fundo da sala, sentado atrás de uma mesa, havia um homem que parecia beirar os quarenta e cinco anos, talvez cinqüenta. Ele tinha a pele morena, era magro e se vestia de preto. Sua aparência por si só não era grande coisa, mas havia alguma coisa naqueles olhos bem pretos que a intimidava.

Bonjour (bom dia), monsieur. Eu marquei una entrevista ontem, meu nom es Solange e... – ele a interrompeu falando com a voz grave e pausada.
– Esse não é seu verdadeiro nome, certo?

Ela levou um susto.

– Bem... isso não importa muito para mim. Muitos clientes escondem sua identidade.
– Como você sabe?

O sujeito se concentrou por um tempo enquanto Penha só observava sem dizer nada.

– Vejo que você está com muito ódio por uma certa pessoa e deseja se vingar a qualquer custo.
– ... – a boca dela se abriu, sem pronunciar nenhuma palavra.
– E para isso você quer ajuda de alguém que não se encontra mais nesse mundo. Sim, eu vejo tudo isso.
Mon Dieu (meu Deus)! Como você consegue ver tudo isso sem eu falar nada?
– Porque ela está aqui do meu lado e me disse essas coisas.
– Ela quem?

Ele fechou os olhos e se concentrou novamente.

– É uma loira bonita, de olhos verdes e segura uma bíblia nas mãos. Ela foi sua amiga de infância.
– Agnes! Ela está aqui?
– Sim. Parece que ela foi banida para o outro lado por um anjo e por isso está presa sem poder se comunicar diretamente.
– Você acertou. Eu preciso convocá-la parra me ajudar no meu plano.

Pai Antonio a olhou bem nos olhos e perguntou.

– Você sabe que está mexendo com forças ocultas e desconhecidas, não sabe?
– Isso non me interressa. Farrei qualquer coisa parra me vingar daquela desgraçada que estragou con mi vida! Se o problema é dinheirro, non se preocupe. Tenho bastante.
– Não é somente o dinheiro. Até onde você estaria disposta a ir com esse seu plano?
– A qualquer lugar!
– Estou perguntando isso porque ela foi exilada para o outro mundo por forças superiores. Trazê-la de volta não será nada fácil. Irá exigir muito de mim e de você também. Sem falar que será preciso fazer um ritual muito difícil.
– Como assim?
– Se ela apenas estivesse no outro lado, tudo seria mais fácil. O problema é que ela foi exilada e está sendo mantida presa sem poder voltar. Isso dificulta muito as coisas.
– Mas non es impossible.
– Não, não é. Acontece que esse ritual só pode ser praticado em determinadas épocas do ano. Se você tivesse vindo há uns três meses ainda teria jeito. Agora teremos que esperar mais uns seis meses até que...
– Seis meses? C'est absurde (isso é um absurdo)! Eu non posso esperrar seis meses!
– Paciência. Para fazer esse ritual é preciso que haja um alinhamento planetário muito especial que não acontece o ano inteiro.

Penha entrou em desespero. Esperar seis meses para a sua vingança era absurdo demais. Acostumada a ter tudo o que queria e quando queria, ela não pretendia esperar nem um único mês, quanto mais seis!

S'il vous plaît (por favor), non há outro jeito? Eu non preciso de nada complicado, apenas alguém que seja mes olhos e ouvidos! Ela non precisarrá fazer nada além disso!
– Ah, sim... você a quer somente para espionar.
Exactement!
– Há um ritual mais simples, que permitirá que ela venha a esse mundo, mas sem poder interagir com ele diretamente.
– Perfeito, é isso mesmo que eu querro!
– Mas não é o que ela quer. Viver preso entre esse mundo e o outro costuma ser muito sofrido e nenhum espírito gosta dessa situação.
– Como? Agnes, como se atreve a me desobedecer? Eu preciso da sua ajuda!
– Se precisa da ajuda dela, então ofereça algo em troca.
– Estou oferrecendo dinheirro!
– O dinheiro será para mim, não para ela. Se quer receber alguma coisa dela, vai ter que dar outra em troca. É assim que a vida funciona, moça. Ninguém dá nada de graça.

Não foi preciso pensar muito para saber qual era o preço que Agnes pedia.

Oui, je comprends (sim, compreendo). Em troca da sua ajuda, ela quer que eu faça o ritual completo.
– Isso mesmo. É pegar ou largar. De graça ela não vai trabalhar mesmo.

Então não tinha jeito. Se aquele era o preço para destruir a Mônica, então que assim fosse. Além do mais, Penha achou que não lhe custaria nada fazer o ritual completo e até que seria útil ter alguém como Agnes trabalhando para ela.

– Está bem. Eu aceito. Ela me ajuda e quando chegar a horra, farremos o ritual completo parra convocá-la.
– Ela concorda.


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