Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 70
Livros de Biologia Servem Às Vezes...


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, meus cotocos! Como estão vocês? (pera, pausa para o meu momento):
62 RECOMENDAÇÕES, PRODUÇÃO? MAIS DE 1600 COMENTÁRIOS, PRODUÇÃO? NÃO, NÃO PODE SER! MAS É A REALIDADE DESSA HISTÓRIA AQUI! A autora que vos os fala está morta e enterrada, só para constar. Gente. Vocês não podem imaginar minha felicidade, sério. Quando eu acordei e vi aqueles númerozinhos mágicos, comecei a espernear. Sabem quantas fics originais chegam até onde GG chegou? Dá para contar nos dedos.
Vocês são os melhores leitores que alguém pode ter. Amo todos, de verdade.
Obrigada.
AGORA, vamos ao capítulo, hihi. Sei que ele demorou, mas é porque eu tenho uma suuuuuuuuuper novidade para vocês, vou explicá-la direitinho nas notas finais… Pois bem, fiz uma pequena pesquisa e achei as seguintes reações para este capítulo:
— Pera, quê?
— Tá de brincadeira, Claudia. Não pode ser! (cara de espanto).
— TÔ MORTA, ROSANA.
— PQP!!!
(e a minha preferida):
— CARALHOOOOOO
HUEHEEHUEEUEUEEUUEHE (todas são reais, hehe). Não se desesperem, não há coisas tristes AHAHUHUAUAHUA É SÓ FELICIDADE, GIOVANNA, SEGURA ESSE FORNINHO!
Capítulo dedicado à Marcelita, hihi, obrigada por me ajudar nele! xD
CHEGA DE ENROLAR, BIA! Meus onigiris, espero meeesmo que aproveitem o capítulo e gostem tanto dele como eu!
Boa Leitura! xD



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Jantei na casa dos Marconni aquela noite.

Não vou mentir e dizer que não havia sido estranho, porque foi sim. Dona Isabel ainda se recuperava do fato de que a vizinha desbocada que ela odiava estava namorando seu filho, mas não vetou nada; talvez ela estivesse esperando eu ir embora para brigar com eles.

A mesa estava repleta de comidas típicas, como lasanha, risoto, ravioli e alcachofras cozidas. O cheiro era simplesmente destruidor e eu tive realmente vontade de voar em cima dos pratos, enfiando tudo na boca de uma só vez.

Pedro, Enzo e dona Isabel é quem haviam preparado tudo - e devo ressaltar que o molho, feito por Pedro, estava uma coisa de outro mundo. A família, enquanto comia devagar, falava sobre coisas agradáveis; obviamente eu fiquei quieta sem me entrosar, só observando-os enquanto enchia a cara.

Já tinha detonado a geladeira deles uma vez, podia fazer de novo e de novo.

– Então, Katrina… - Enzo começou a dizer do nada, fazendo todo mundo olhar para mim. - Como vai a escola?

– Bem. - Respondi, pousando o garfo no prato e tomando um gole de refrigerante.

– E as notas? - Perguntou de novo, parecendo preocupado.

Aquele cara era meu pai ou o quê?

– Sempre altas. Se eu abaixar minhas notas, minha mãe pode até me matar. - Arrepiei só de pensar no assunto. - E, em parte, eu sinto vergonha de tirar vermelha também.

Enzo assentiu, fazendo uma careta de satisfação.

– Olha só, bonita, inteligente… Como você está com o Pedro? - Soltou a pérola, parecendo realmente incrédulo.

Pedro, que estava tomando refrigerante, engasgou-se e começou a tossir. Dei risada, surpresa com o fato de que o pai dele achava justamente o contrário da maioria.

– Obrigado pela parte que me toca… - Grunhiu, tentando normalizar sua respiração. Sorri mais uma vez, acariciando meu abdome.

– Bom… - Comecei, batendo uma palma. - Foi muito legal vocês terem me convidado para o jantar e tudo mais, tava tudo muito bom, mas eu preciso voltar para casa. - Encerrei, levantando-me devagar.

– Já, megera? - Pedro perguntou, parecendo levemente chateado.

– Sim, minha mãe tá para chegar e tudo mais. - Expliquei, vendo a família toda se levantar (até mesmo Valentina, mesmo que parecesse a contragosto).

– O.k. então, menina, dá um abraço no seu sogro! - Enzo instruiu, todo risos, vindo para cima de mim com os braços abertos e me apertando logo em seguida.

Fui completamente esmagada por aqueles braços de chumbo. Saí meio tonta do aperto, e logo Pedro passou seu braço sobre meus ombros, sorrindo.

– Te acompanho até a porta. - Falou enquanto eu acenava estranhamente para o pessoal, que retribuiu com uns “tchau, tchau”.

Chegamos até a porta e o italiano abriu-a para que eu passasse, segurando minha mão antes que eu realmente fosse para casa.

– Então… Você, sei lá, se divertiu? - Perguntou, mordendo as bochechas por dentro e se apoiando no batente.

– É, sim. - Respondi, sentindo que a situação estava estranha. A noite estava quente, com apenas um ventinho refrescante. Dava para ver claramente a Lua de onde estávamos, o que me fez ter calafrios desnecessários de “tá romântico essa porra”.

– Tudo bem, então… Nos vemos amanhã?

– Aham. - Confirmei, deslizando meus dedos dos dele. - Até amanhã.

Pedro abriu um sorrisinho de canto, dando uma piscadela para mim enquanto fechava devagarinho sua porta. Atravessei a rua rapidamente, logo esticando a mão e abrindo minha casa com um solavanco.

Marcela e Jonas estavam sentados no sofá, com Hércules sentado entre ambos, assistindo a um desenho envolvendo cachorros amarelos que se esticavam. Os três viraram a cabeça para trás, para poderem ver quem era. Jonas e Marcela abriram a boca quando me viram.

– E AÍ? - Berraram ao mesmo tempo, com Marcela levantando-se e vindo na minha direção e Jonas ficando de joelhos; me encaravam com expectativa.

– E aí… O quê? - Perguntei, confusa, quando a garota agarrou minhas mãos.

– Rolou alguma coisa, não rolou?! - Jonas perguntou, cheio de esperança, torcendo os dedos.

Aaah, vishe. Como eu iria contar a eles que Pedro e eu estávamos namorando sem eles armarem um escândalo? Era impossível, já estava vendo, mas não custava nada tentar…

– Hã… - Tentei, engolindo em seco. - Pedro e eu, hm, estamos… Namorand-

Nem precisei terminar a frase para que ambos começassem a gritar, histéricos. Pressionei os olhos com força quando Hércules começou a latir, rouco e alto, balançando o rabo, não fazendo a mínima ideia do que estava havendo, mas querendo participar. Jonas ficou em pé no sofá, inclinando-se para frente enquanto gastava seus pulmões gritando.

Até berrei um “CHEGA!” mas não dava. Aqueles dois estavam dispostos a acabar com seus pulmões gritando em plena felicidade - era como se eles estivessem namorando com o Pedro, não eu.

E foi aí que o universo disse “cabou a palhaçada, putos”. Jonas e Hércules estavam completamente inclinados para frente do sofá, que, como eu era uma boa observadora, também havia se inclinado um pouco…

É, o sofá tombou.

Jonas soltou um grito de susto desta vez, caindo junto com o móvel. Hércules também se assustou, começando a chorar quando os dois se esborracharam no chão. Marcela soltou algumas exclamações desesperadas, indo ao socorro de ambos.

E, como se a situação não estivesse bizarra o suficiente, Isadora desceu as escadas vestindo um roupão azul bebê, com uma vassoura nas mãos, os olhos fundos arregalados.

– É LADRÃO?! - Berrou para nós, empunhando a vassoura.

Comecei a rir desesperadamente, me curvando e apertando o abdome. O ar me faltava, e eu sentia que a qualquer instante desabaria.

Marcela tentava ajudar Jonas a se levantar, que ria fraco da sua própria situação.

– Caramba, nem quando eu fiz sexo pela primeira vez doeu tanto meus quadris! - Falou em protesto, esfregando suas juntas enquanto se mantinha em pé.

– Não é ladrão? - Isadora perguntou novamente, olhando para a cozinha de forma suspeita.

– Não, não é. Apenas ocorreu uns acidentes técnicos… - Marcela explicou, calma, olhando para mim logo em seguida.

Eu estava jogada no chão, encostada à porta, tentando recuperar meu ar. Hércules chorava, manco, vindo na minha direção de forma penosa. Ele apoiou sua cabeça no meu joelho, fungando como se pedisse para ser acariciado.

Isadora suspirou e apoiou a vassoura na escada.

– Ainda bem que a bebê já dormiu. E fiquem quietos agora, se ela acordar, vocês a botarão na cama! - Falou ameaçadoramente, subindo as escadas devagarinho, resmungando que não foi feita para isso.

Jonas riu nasalado, se virando e se abaixando para pegar o sofá.

– Me ajudem com isso… - Pediu, fazendo força para cima. Marcela o socorreu, também pegando o móvel e puxando-o para cima.

– Vocês são uns idiotas mesmo… - Resmunguei, ainda me recuperando da crise de risos, passando os dedos sobre o pelo negro de Hércules. Acariciei a parte onde faltava uma orelha, sentindo que havia sido uma mordida que a arrancara. - E o outro cara? - Perguntei a ele, recebendo um latido alto e rouco bem na cara. - SHH! - Censurei-o de forma bruta, recebendo um olhar choroso de volta.

– Mas, menina, me conta tudo! - Marcela retornou ao assunto que ocasionou toda aquela confusão. Ela chegou bem perto de mim e me estendeu a mão para que pudesse me levantar. Peguei naquela mão pálida e me projetei para cima com sua ajuda. - O que houve?! Rolou alguma coisa?

Andei até o sofá com o cachorro e com Marcela nos meus calcanhares, me sentando ao lado de Jonas, que também me olhava com expectativa. Hércules pulou para o sofá e se jogou entre mim e a garota, mais folgado impossível.

– Bom… - Comecei, sem jeito. - Eu disse a ele que o amava… - Antes de concluir, os dois deram gritinhos de empolgação. - Mas não de maneira convencional, sabem… Não soltei na lata um “amo você”, e sim… Ah, sei lá, foi umas paradas meio loucas que não dá para explicar.

– Aaaaaaaaaaaaah, meu Deeeus! - Jonas exclamou de repente, batendo no rosto. - Isso é impossível, estou sonhando! Para tudo que eu quero descer! - Ele ergueu os braços, uma reação completamente exagerada. - Tá tudo lindo, maravilhoso, finalmente estão juntos, obrigado, Jesus!

Revirei os olhos, girando-os em direção à tela da TV. Marcela ria enquanto tirava seu celular do bolso, posicionando-o no alto logo em seguida.

– Essa situação pede um registro! Let’s take a picture!– Sorriu de maneira natural enquanto ajeitava o ângulo para que Jonas, eu e Hércules aparecêssemos. Vi minha cara na tela do celular: olheiras, cabelo bagunçado, cara de morta.

No, no, no, no, no!– Jonas foi na onda do “inglês”, protegendo seu rosto com os braços. - No fotos, no, no!

– Yes, yes! - Entrei na brincadeira, concordando com ele enquanto também me tampava. - Let’s go parar de fire na ass!

Marcela abaixou o aparelho e nos olhou, séria.

– Vocês são tão chatos! Vamoooos, por favor! É só uma foto inocente, o que custará a vocês?!

E, quando eu fui responder a ela: “tira com o cachorro, então”, bateram à porta de maneira brusca e rude. Nós três viramos a cabeça, olhando hesitantemente para a porta.

– Quem é? - Marcela sussurrou, como se estivesse com medo.

– Deve ser minha mãe, ué… - Respondi, me levantando do sofá para atendê-la.

– Sua mãe não bate tão forte desse jeito! - Jonas murmurou novamente, me puxando pelo braço.

Revirei os olhos; aqueles dois tinham medo até de suas próprias sombras. Me desvincilhei de Jonas e fui até a porta. Caso fosse alguém mal intencionado, eu daria um jeito, oras bolas. Abri a porta rapidamente, dando de cara com Chris.

Ele sorria embaraçado, com um braço da minha mãe em torno de seu pescoço, segurando-a pelo pulso e pela cintura - obviamente ela estava muito bêbada.

– Boa noite, Katrina… Alguém bebeu vinho demais… - Explicou, olhando de esguelha para mamãe. A mulher levantou a cabeça, mas não é como se ela estivesse consciente de verdade.

– Filha! - Falou meio embolado. - Cheguei!

– Oi, mãe… - Sorri, escancarando a porta para que ambos passassem. Chris ajudou ela a não tropeçar no caminho enquanto entrava em casa. O homem tirou o braço dela de cima de seus ombros com delicadeza, encarando-a.

– Toda vez que olho para sua barba, eu lembro de ferrugem… - Disse Serena de maneira embolada, metendo a mão na barba alheia, começando a puxá-la de maneira carinhosa, como se estivesse acariciando um coelho.

Chris olhou para mim, aflito, como se estivesse pensando “o que faço agora?”; abanei o nada, não ligando realmente para aquilo. Mas, deixa eu enfatizar aqui, não é como se eu fosse levá-la lá para cima. Talvez eu fosse mesmo trocá-la e tirar sua maquiagem, mas carregá-la eram outros quinhentos.

Olhei para o homem à minha frente, que possuía braços consideráveis.

– Ó, o quarto da minha mãe fica no corredor lá em cima, segunda porta à esquerda. A bebê tá dormindo, então tome cuidado para não acordá-la. - Fiz um positivo com a mão. - Boa sorte.

Chris olhou para a escada, depois para mim, e logo em seguida para Serena, que agora enrolava os fios ruivos em seus dedos com encantamento. Então ele deu de ombros, topando com facilidade.

Cruzei os braços, olhando de maneira duvidosa para o Chris. Eu estava sim duvidando de sua força em relação à minha mãe, porque ela é, querendo ou não, pesada. Ele não iria simplesmente carregá-la como se fosse uma criança…

Foi aí que eu levei um soco na cara. Chris simplesmente passou o braço esquerdo por baixo das pernas dela e ergueu-a como se ela fosse uma espécie de noiva. Meu queixo bateu nos meus pés quando ele começou a subir as escadas, Serena resmungando coisas incoerentes de bêbados.

Olhei para Jonas e Marcela, ainda boquiaberta. A oxigenada começou a rir baixinho da minha expressão.

– Agora eu tô vendo… Os dois realmente se gostam, huh?

Assenti concordando, com Jonas soltando um “será que a Katrina herdou a habilidade no sexo da mãe dela?”. Ignorei o comentário, dizendo aos dois que iria trocá-la - não é como se fosse confortável dormir de vestido, sutiã e usando maquiagem.

Assim que cheguei no andar de cima, vi Chris saindo do quarto da minha mãe, apagando a luz e sorrindo para mim.

– Oi, Katrina… - Cochichou, fechando a porta atrás de si.

– Oi… - Cochichei de volta, me aproximando. - Ela dormiu?

– Sim. - Sorriu, parecendo feliz. - Você tem uma mãe maravilhosa, Katrina. - Ele colocou uma mão sobre meu ombro, gentil. - Na realidade, todos vocês são. É incrível perceber que agora, faço parte da sua família. Me deixa muito feliz, de verdade. Tenha uma boa noite.

E saiu andando, me deixando com uma cara de tapada de quem não recebia elogios profundos há séculos. Suspirei, relaxando os ombros e ouvindo os passos dele nos últimos degraus. Andei um pouco, entreabrindo a porta e espiando no quarto.

Lá estava minha mãe: deitadinha de lado, ressonando baixinho e com os cabelos vagamente presos para trás, impedindo-os de voarem em sua cara enquanto dormia. Tinha um lençol cobrindo-a até sua cintura, e ela parecia estar no décimo quinto sono.

Expirei baixinho e fechei a porta, sem ter coragem o suficiente para ir lá trocá-la, tirando-a do sono profundo. Sorri sozinha; a coisa estava boa para nós duas.

Agora vai.

*

Um mês se passou desde tudo aquilo. E, por incrível que pareça, pouca coisa havia mudado. Jonas, Marcela e eu estávamos cada dia mais próximos, passando cada vez mais tempo juntos. Às vezes saíamos, tomávamos sorvete, íamos para a praça com Hércules e conversávamos (ainda me recusava a entrar em shoppings).

Chris vinha com frequência na nossa casa, e todos nós assistíamos a alguns filmes de terror - ele simplesmente odiava, ficando apavorado muito fácil e gritando de vez em quando de maneira meio duvidosa quando algum bicho aparecia e berrava na tela, quebrando o gelo de todo mundo, fazendo-nos rir.

Pedro e eu ainda namorávamos - eu sei que você estava esperando uma separação só para dar drama na história, mas nunca brigávamos (tá, admito: brigávamos sim, mas só vez ou outra, quando ele dizia que pizza de rúcula era ruim, e aí eu debatia dizendo que não havia pizza ruim, só pizza mal feita. Então Pedro dizia com falso convencimento que “é impossível, outro dia eu fiz uma pizza de rúcula, megera, e saiu ruim… Eu nunca cozinho coisas ruins”, e então eu jogava em sua cara o fato de que ele já havia queimado miojo enquanto estava ocupado demais tentando me agarrar).

Nada conseguia me deixar puta de verdade. Eu também não estava jubilosa, mas pelo menos não expulsei Hércules de casa à base de chutes na bunda quando ele cagou embaixo da minha cama.

Então, resumindo: tudo estava muito bem, não chorei quando a prova de história mais difícil do bimestre pousou graciosamente nas minhas mãos, com um “8,0” e um “parabéns!” orgulhosamente dispostos. Já Marcela entrou em desespero quando viu aquele “4,0” gigantesco na folha, começando a chorar logo em seguida.

– N-não era para ser assim… - Ela começou a dizer, rouca e com os olhos marejados. A oxigenada tapou a boca, olhando de forma triste para a prova. - E-eu… Como eu vou me olhar no espelho depois disso?!

– Chega de drama, pelo amor. - Revirei os olhos. - Todo mundo tira uma vermelha na vida, é impossível ficar longe dessas notas. Ó, pelo menos você acertou as questões que eu errei… - Tentei consolá-la, apontando para as questões seis e dois. - Por exemplo, você conseguiu dizer qual país teve sua independência reconhecida em mil novecentos e oito, que foi a Bulgária.

– Isso não é o bastante! - Exclamou inconsolável. - Odeio tirar nota vermelha, me dá uma sensação horrível! Será que vou ficar com nota baixa no boletim?!

Quanto exagero, quanto drama, quanto tudo.

Dei um tapa estalado na nuca dela, fazendo a garota soltar um resmungo e massagear o local com cara de cachorro que caiu da mudança.

– Para, na boa. É só uma nota vermelha, você faz todas as lições de história, não tem como você ficar com nota baixa no boletim. Relaxa, você já vai recuperar.

Ela ainda ficou resmungando sobre não ser boa em história enquanto o professor terminava de passar as provas nas mãos dos alunos. Assim que ele voltou à sua mesa, guardando as provas daqueles que haviam faltado, o sinal do intervalo soou, com toda aquela gentalha saindo da sala o mais rápido possível.

Marcela se grudou no meu braço esquerdo, ainda chateada, enquanto descíamos as escadas, encontrando com Jonas lá embaixo. Ele saltitou na nossa direção, parecendo preocupado.

– Cês não sabem o que aconteceu. - Já começou dizendo, olhando para os lados como se estivesse sendo procurado pelo FBI.

– O quê, Jonas? - Perguntei, não levando muito a sério, já que Jonas não tinha muitos assuntos sérios a dizer conosco.

– Davi me defendeu hoje… - Ele contou, suspirando logo em seguida. Espremi as sobrancelhas, perdida.

– Quem é Davi?

– O garoto do time de basquete! - Marcela me explicou toda risos, já recuperada do dramalhão feito há cinco minutos. - Como ele te defendeu?

Jonas suspirou, sentando-se no banco que costumávamos sentar.

– Hoje eu entrei na sala e mandei um beijo para uma colega minha. Aí um cara que eu nunca falei antes me chamou de bicha nojenta. - Revirou os olhos, como se estivesse entediado. - O Davi acabou por ver e meteu um soco na cara dele.

– Wow… - Exclamei, arregalando os olhos enquanto me sentava entre os dois. A escola estava dando uma espécie de mingau com cara de AIDS, por isso decidi não comer. - E ele foi punido ou algo do gênero?

– Levou uma advertência. - Falou sonhador, apoiando o queixo no punho. - Ele se arriscou por mim… Sabe, quando a gente saiu aquele dia, não rolou nada físico, por incrível que pareça. Eu obviamente fiquei chateado, já que tinha feito um enemazinho e no fim foi tudo à toa… Mas, sei lá, eu senti que foi o suficiente. Fazia um tempo desde a última vez que me senti amado romanticamente.

– Owwn, que bonitinho! - Marcela exclamou, coraçõezinhos exalando de sua cabeça. - Mas por que não estão juntos?

– Fogo na bunda. - Traduzi, erguendo o olhar inocentemente, muito interessada no teto. Jonas me acotovelou logo depois no baço, me fazendo soltar uma exclamação de dor enquanto acariciava o local atingido.

E foi aí que as coisas ficaram estranhas. Do nada alguém cutucou o ombro do Jonas, fazendo-o se virar, ainda sorrindo por causa da acotovelada que tinha me dado. Também virei a cabeça para ver quem era, e percebi que era o jogador de basquete. Ele ainda tinha aquela expressão de tédio, o cabelo escuro e os olhos claros, além da altura absurda.

– Oi, Jonas. - Cumprimentou-o, deixando o garoto mudo. - Tudo bem contigo? - Ele tinha um leve sotaque, se eu não me enganava, pernambucano. Quase fiz a piadinha mental do “Tilambuco”.

– Hm, tudo sim… - Jonas cumprimentou-o de volta, meio confuso. Então Davi, do nada, se sentou ao lado de Jonas, obrigando nós três a nos mexermos para o lado para que ele possa se acomodar no banco. Entreolhei Marcela, que tinha um olhar de “o que tá acontecendo?” no rosto. - Então, o que você…

Davi riu, olhando para baixo.

– Você tem umas cambitas duras aí, hein… Cuidado para não levar um carrinho e quebrá-las… Porque, sabe, você tem um jogo de futebol hoje… - Falou, pigarreando logo em seguida.

Jonas encarou-o como se ele estivesse ficando louco.

– Por que você não me diz o que realmente quer dizer? - Perguntou entediado e bruto, olhando em seus olhos.

Jonas nem acabara de dizer, quando Pedro apareceu, mordendo um cachorro quente. Ele não conseguia dizer nem um “oi” por conta da boca completamente cheia. O garoto arrastou o banco de frente para nós, sentando-se, as bochechas salientes.

– Te faço a mesma pergunta! - Davi devolveu, parecendo ignorar todos que estavam ali. Pedro olhou para nós, agora confuso, caindo completamente de balão na coisa. - Por que você não me diz o que realmente quer dizer?!

Jonas arquejou, pego completamente de surpresa. O clima começou a ficar tenso, então desviei o olhar, encarando Marcela, que encarava Pedro, que me encarava. O italiano até parecia comer mais devagar, como se tivesse receio de engolir e receber uma bronca.

Ficaram em silêncio por cinco segundos.

– Então… - Comecei, encarando o italiano. - Seu lanche parece bom…

– E tá mesmo… - Ele me respondeu, estendendo o cachorro quente para mim. Peguei-o sem cerimônia, dando uma mordida e observando a reação desesperada do Jonas. Então o garoto se levantou, puxando o jogador de basquete pelo braço.

– Vamos resolver isso… Em outro lugar… - Nos deu um olhar embaraçado, continuando a puxá-lo. No fim, me surpreendi com a diferença de altura de ambos, enquanto deixavam o refeitório a passos rápidos.

– Vai rolar tchêtchêtchê ao ar livre… - Acabei deixando escapar, provocando uma risada dos dois.

– Só espero que eles fiquem bem… - A oxigenada suspirou, relaxando os ombros.

– É claro que vão… - Tentei dizer com a boca cheia. - Nenhum dos dois é idiota o suficiente para perder essa oportunidade. E, caralho, foi você quem fez isso aqui, Pedro? Tá bom mesmo.

O italiano soltou um “pff” convencido.

– Mas é claro! Só o seu namorado para fazer uma coisa tão boa quanto essa! - Disse, pegando a mania de enfatizar bem o “namorado” e “namorada” quando tinha oportunidade de dizê-los; parecia que o termo ainda não fora absorvido completamente por seu cérebro, sendo surreal demais.

Olhei para ele, sorrindo forçadamente.

– Que engraçadinho.

Pedro então, por baixo da mesa, enroscou suas pernas nas minhas com força. Eu estava de short, e ele de bermuda, já que estava fazendo um calor do caralho. Senti os pelos de suas pernas roçarem na minha pele, o que me fez ter uns calafrios. Tentei me afastar, mas só acabei por bater meu joelho com força na mesa, me fazendo grunhir.

Ele riu da minha reação.

– Pare com isso! - Rosnei, puxando minhas pernas.

– Ih, megera… - Pedro tentou me irritar, travando meus calcanhares. - Tá precisando raspar direito essas pernocas, olha só como seus pelinhos são grossos… - E acabou por demonstrar, esfregando-as com intensidade.

– Cala a boca! - Me exaltei, querendo socá-lo. - Eu raspo se eu quiser e quando eu quiser, e se você reclamar, raspo seu saco enquanto você dorme!

Pedro acabou por se surpreender com a minha reação, gargalhando logo depois, enquanto Marcela engasgava do nosso lado com saliva, nos olhando de forma estranha. Percebi que algumas pessoas nos observavam de longe, rindo por causa do meu momento de exaltação.

– Dá para ser mais indiscreta, Katrina? - Marcela resmungou do meu lado.

– Dá sim. - Garanti, erguendo a voz consideravelmente. - Vai ser difícil raspar o Pedro, vai que, sem querer, eu acabe cortando seu pê- - fui impedida de continuar por Marcela, que tapou minha boca com a mão rapidamente.

– Tá, tá. Já entendemos que você não tem vergonha na cara.

Comecei a rir junto com Pedro, que não parecia muito incomodado com o citamento de suas genitálias.

Quem se incomodaria, não é verdade?

*

O sinal de fim de aula tocou, e, novamente, corremos para fora da sala. Encontramos com Pedro no caminho, que, ousadamente, passou seu braço sobre meus ombros, me apertando contra ele e me beijando na cabeça. Lancei-lhe um olhar ferino, já que não gostava nada de afetos em público.

Descemos as escadas com Marcela reclamando do calor, e acabamos por nos encontrar com Jonas, que sorriu para nós de maneira feliz.

– Alguém viu o passarinho azul… - Marcela cantarolou, empurrando-o com o ombro.

Jonas não negou, apenas riu.

– Talvez… - Falou arrastado quando pisamos na calçada, dando alguns pulinhos. O Sol sobre nossas cabeças não poupava ninguém; estava ali para castigar. Até ouvia ele gritar “QUEIMEM, DESGRAÇADOS, QUEIMEM!!”. - Bom… - Jonas disse num momento, abanando o rosto. - Eu posso dizer o que aconteceu para vocês hoje…

Suspirei, passando a mão na testa, querendo logo chegar em casa e tomar um banho. Pedro havia me largado na esquina passada, pois também estava suando. Então ele parou de repente, chamando a atenção de todo mundo. Ele tirou a mochila e me pediu para segurá-la.

– O que tá fazendo? - Perguntei confusa.

– Algo que sempre senti vergonha de fazer, mas tá extremo… Desculpa… - Pediu, tirando a camiseta pela gola logo em seguida. A correntinha que ele usava no pescoço oscilou bruscamente.

– Oh, Senhor… - Jonas resmungou do nosso lado, olhando fixamente para as paradinhas legais que Pedro tinha no abdome. - Desejo muita saúde para você, muita alegria, muita paz, que continue sendo essa pessoa maravilhosa

Comecei a rir, gargalhando depois, quando Pedro soltou um “eu sei, eu sei…”, guardando sua camiseta na mochila que eu segurava. Ele pegou-a e jogou-a nas costas, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos.

Continuando… – Jonas pigarreou, tentando desviar o olhar e continuar. - Nós fomos para o pátio logo em seguida, e ele acabou por me prensar naquela arvorezinha que tinha lá fora…

– Olha! - Pedro exclamou, cortando completamente o outro. - Sorveteiro! - Berrou, abanando o braço livre e começando a andar na direção do homem, me levando junto. Estava na cara que o italiano estava super a fim de ouvir o Jonas, claro. - Alguém quer sorvete? - Perguntou antes de ir; ambos sinalizaram que não, o que eu achei uma loucura: não se nega sorvete. Nunca. - O.k., então. Vamos, megera.

– Depois você vai me contar tudo em casa! - Falei para o Jonas, apontando para ele.

– Vou nada! - Ele rebateu, andando e dando de ombros. - Te dei duas opções: eu e sorvete, você escolheu o sorvete! Perdeu, querida! - Explicou, dando um tchauzinho e nos deixando de lado.

Mas não adiantava, eu iria fazê-lo falar, querendo ou não.

Depois de analisar as opções que o homem nos deu, acabei pedindo uma casquinha mista com mel, e Pedro pediu um sorvete de limão com calda de chocolate. Nós dois estávamos completamente suados; não havia nem um ventinho para amenizar a situação.

Dei risada quando, em um momento, Pedro fez um movimento bem estranho com o sorvete. Não resisti: tive que alfinetá-lo.

– Você tá tomando um sorvete ou fazendo um boquete? - Perguntei, ondulando as sobrancelhas de maneira maliciosa.

O garoto engasgou com o comentário, não resistindo e começando a rir. Ele me empurrou com o ombro, divertido e não ofendido. Foi quando dobramos a avenida que Pedro me puxou para perto, me dando um selinho gelado.

– Não vou poder te acompanhar até em casa hoje, meu chefe pediu para eu entrar mais cedo. Te vejo mais tarde? - Perguntou, mesmo já sabendo da resposta. Éramos vizinhos, não tinha como não nos encontrarmos, oras.

– Aham. - Respondi, dando um tapinha em seu braço, local que eu sabia que doía, já que levara uma mordida de Duque. Pedro fez uma expressão de dor repentina. - Você quer que eu fique com seu gato sarnento de novo?

É, tínhamos essa novidade. Como Pedro trabalhava e praticamente toda a família estava fora, não tinha ninguém para cuidar daquele gato sarnento. Então Pedro pediu para que eu ficasse e cuidasse de Duque, até pelo menos ele chegar.

– Por favor. - Respondeu, rindo e acariciando seu braço. - Tá bom então, megera, até.

– Até. - Me despedi, já me virando para ir embora, dando uma mordida na casquinha.

– Katrina? - O garoto me chamou, me fazendo virar novamente para ver o que ele queria. O italiano sorriu largamente, jubiloso. - Eu te amo.

Fiquei encarando-o, pressionando os lábios. Eu não estava completamente pronta para dizer “olha, eu também te amo, beijos de luz”. Mas Pedro sabia que o sentimento era mútuo.

– Você sabe que eu também. Agora vai. - Falei, fingindo descaso, abanando o nada, mas a verdade era que a) eu estava envergonhada e b) não queria que ele se atrasasse.

Pedro podia ver claramente através da névoa. Me mandou um beijo, risonho, e sumiu do meu campo de visão. Suspirei, não deixando de revirar os olhos quando percebi que sorria também; odeio essa parte dos relacionamentos: você fica rindo que nem um retardado por motivos idiotas, como um beijinho voador.

Assim que eu estava a mais ou menos cinco metros de casa, vi uma cena que me retirou todo o ar dos pulmões. Camila estava sentada no quintal de casa, pertinho da piscina, brincando com um brinquedo de morder do Hércules. Isadora estava sentada numa cadeira, um pouco afastada, provavelmente estando ali para ficar de olho na criança, mas ela estava no décimo quinto sono, a bocona escancarada e a cabeça pesando para trás.

Comecei a andar rápido, praticamente correndo, com medo de que ela caísse na piscina e ninguém ao menos visse. Camila me viu se aproximando, e abriu um sorriso inocente.

– Katina! - Exclamou, abrindo os braços para mim. Ela estava usando um macacãozinho obviamente doado, rosa (argh), sem camisa por baixo. Em seus braços, manchas brancas deduravam que passaram protetor solar nela de maneira desleixada.

Já estava quase chegando para tirá-la de perto daquele perigo e botá-la dentro de casa quando Hércules apareceu todo serelepe, chegando perto dela como quem não quer nada. Suspirei quando pisei na calçada de casa, vendo o cachorro abocanhar seu macacão na altura de seu cangote e levantá-la. Camila soltou uma exclamação de protesto, mas fora completamente ignorada e levada até o outro lado do quintal, com direito à sombra do telhado da nossa casa.

Ele parecia uma mãezona preocupada.

– Binquedo! - Camila pediu, apontando para o bicho de morder que era do Hércules. O cachorro correu na direção do bichinho, pegando-o com a boca e levando-o até ela, disputando um cabo de guerra completamente fajuto, sem ele nem se esforçar.

Eu obviamente estava com cara de tapada, encarando aqueles dois como se fossem duas batatas falantes. Hércules cuidava da Camila melhor que Isadora. Quando me lembrei dela, virei a cabeça para ver como ela estava, e percebi que praticamente tombava da cadeira, dormindo. Abri um sorrisinho e fui cutucá-la para acordá-la.

Mas no fim não precisei, por Isadora roncou tão alto que acordou assustada, olhando para os lados.

– É ladrão? - Murmurou, inclinando-se para ver se alguém se escondia atrás de mim. Comecei a rir, sinalizando que não. Isadora suspirou e se levantou, pressionando os olhos por conta da claridade. Ela andou devagarinho até Camila, pegando-a no colo e entrando em casa.

Entrei em casa também, seguida por Hércules, que se jogou no piso gelado de casa. Joguei minha mochila no sofá, ouvindo um falatório na cozinha. Não me importei. Subi minhas mãos até as costas e desabotoei o sutiã; tirei meus tênis e minhas meias, deitando-me no chão também, ao lado de Hércules.

Gemi em êxtase, sentindo todos os meus músculos relaxarem. Só não fechei os olhos porque vi Duque descendo as escadas da minha casa, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

– Mas o… O que raios você tá fazendo aqui, seu sarnento? - Perguntei realmente surpresa; como ele havia entrado? Pela janela? Mas ele tinha medo de altura! O gato me ignorou completamente, pulando a cauda de Hércules e depois pulando minha cabeça, deitando-se também no chão, aproveitando geladinho. - Mas que bicho folgado… - Resmunguei, sem forças para dar uns tapas nele.

– Olha só! - Jonas vinha vindo da cozinha, todo risos, olhando para nós de maneira ácida. - Um gato, um cachorro e uma cadela!

– Olha só! - Devolvi a piadinha, vendo-o pular nós três. - Um gato, um cachorro, uma cadela e um viado!

Jonas riu pelo nariz, sentando-se no sofá e ligando a TV.

– Ei, me conta o que rolou entre você e o-

Na na ni na não!– Ele me cortou completamente, virando-se para mim, colocando seu antebraço sobre as costas do sofá. - Você me ignorou completamente para ganhar um sorvetinho, aproveitou para dar uma rapidinha na moita e agora quer que eu te conte? O trem já passou, querida! - Concluiu, estralando os dedos de maneira dramática.

Estralei a língua, fitando-o diretamente nos olhos.

Querido– comecei fingindo escárnio - eu não preciso dar uma rapidinha na moita porque eu não tô desesperada, já que não sou você! - Jonas levou a mão ao peito, falsamente ofendido. - E agora, trate de contar logo o que aconteceu, antes que a cabeça deste gato - apontei com o polegar para o Duque - pare dentro da sua bunda!

– Ui, Hancock!– Debochou, mas logo sorriu e apontou para o sofá. - Senta aqui, rápido, antes que eu mude de ideia!

Suspirei, me erguendo penosamente. Assim que sentei no sofá, Jonas começou a contar toda sua aventura no pátio. Ele me disse que Davi começou a peitá-lo, dizendo que gostava de verdade dele e que era para parar de fogo na bunda. Então ele começou a contar uns detalhes estranhos que me recuso a reproduzir - era como ouvir um pornô gay.

Então, resumindo: todo mundo nesta casa, tirando bebês, velhas e cachorros, está namorando.

Malditos hormônios.

– Sabe, Katrina, tem um cara chamado Wilson que faz vídeos gays, até tenho uns DVD’s dele em casa, e eu e o Davi combinamos de usar umas posições dele, se quiser eu te empresto para você usar no Pedro… - Jonas alfinetou, levantando as sobrancelhas de maneira sugestiva.

Olhei-o, chocada.

– Desisto. - Falei, me levantando e indo para as escadas enquanto o garoto gargalhava, sem se importar.

*

Dormi como uma pedra. Hércules deitou-se comigo, a cabeça apoiada no meu quadril enquanto Duque se embrenhava no fino lençol de Marcela. Estava quente para caralho, e Hércules não ajudava em nada ressonando baixinho e soltando sua respiração quente contra meu corpo.

Eu usava apenas uma calcinha velha e toda furada para dormir por conta daquele calor de satanás (e, foda-se, calcinha velha é quem faz naninha boa - desenterrei para caralho agora).

Só sei que acordei por causa de algo quente e peludo em cima da minha cara. Gemi a contragosto, tateando essa “coisa” e sentindo minha mão afundar por conta da maciez. Obviamente era o Duque. Mas que felino filho da puta, descansando na cara das pessoas desse jeito.

Agarrei-o por sei lá onde, tirando-o de cima da minha cara. Encarei aqueles olhos âmbar por dois segundos, raivosa.

– Bem íntimo, não? - Sussurrei, encarando-o desafiadora. Ele miou, e eu sabia, do fundo do meu fígado, que queria dizer “não acho, sua puta”.

Estralei a língua. Apertei o toque, acomodando-o melhor na minha mão e, sem cerimônias, o atirei para o outro lado do quarto, ouvindo o baque surdo de suas costas contra o guarda-roupa, miados indignados vindo de bônus logo em seguida.

Sorri satisfeita, me virando de lado e me acomodando melhor no travesseiro.

Foi quando o despertador tocou. Abri os olhos novamente, encarando-o mortalmente. Quase o joguei pela janela, mas resquícios de sanidade apitaram e disseram que custaria caro outro e que não tínhamos dinheiro o suficiente para comprar.

Marcela gemeu algo sobre “tá muito calor para levantar”, enquanto eu me arrastava para fora da cama penosamente, abrindo meu guarda-roupa e tirando de lá a calça do uniforme - meu short tava lavando -, um sutiã qualquer e a camiseta. Senti Duque nas minhas pernas, querendo me arranhar, mas acabei por empurrá-lo com o pé enquanto vestia a camiseta.

A oxigenada se sentou no colchão, o cabelo completamente bagunçado e espetado, os olhos fundos e a expressão de sono absoluto. Sorri e peguei sua camiseta, jogando-a em sua cara. Ela riu e se arrastou para fora, pegando seu sutiã às cegas.

Me vesti rapidamente, dando uns pulinhos para conseguir caber na calça - não tá fácil para ninguém. Desci as escadas antes de Marcela, o que era um completo milagre. Tomei café da manhã calmamente, ouvindo Jonas e Serena conversarem sobre casamentos e coisas aleatórias. Arrumei minha bolsa, escovei os dentes e tentei prender o cabelo.

Acabou por ficar apenas um tufinho vermelho, com alguns fios escorrendo do elástico e caindo nos meus ombros. Jonas disse que estava “style” e Marcela começou a rir, dizendo que estava fofinho.

Pedro provavelmente já tinha ido ou estava atrasado, por isso optamos por ir sem ele. Jonas foi o caminho todo me empurrando, insistindo para que eu tirasse uma foto do meu namorado pelado para que ele pudesse bater uma no silêncio da noite.

– Caralho, você já beijou ele, tem o Davi, e agora quer uma foto do Pedro pelado?! Você vai criar um harém ou algo do gênero? - Obviamente eu recusava todas suas aproximações.

– Quanto mais bofe, melhor! - Ele estava obviamente feliz, muito diferente de há um mês, quando apanhou daquele nojentinho de merda (que, quando eu passava por ele, fazia uma cara de “caraleomeualguémmesocorreporqueeumecaguei” - era muito engraçado).

O que, de certa forma, me deixava feliz também. Suspirei, sentindo que essas últimas quatro semanas estavam sendo bem legais. Pressionei o botão do pedestre e fiquei encarando-o. Às vezes, o semáforo demora para ficar vermelho porque, quanto apertamos este botão, todos os semáforos perto precisam ser reprogramados para antecipar o fechamento do sinal (olá, palestras em sala do pessoal da CET).

Parei de ter pensamentos sobre semáforos quando ele abriu, os carros parando para que nós passássemos. Admito: adoro semáforos. É estranho, mas, porra, a porcaria de milhares de carros pararam porque eu apertei um botãozinho.

Eu sou a poderosa aqui.

Chegamos na escola bem no horário correto, com alguns alunos obviamente enrolando para entrar. Nos despedimos de Jonas na escadaria, com ele saltitando animadamente pelas pessoas, recebendo alguns olhares nojentos, mas discretos - não queriam receber o mesmo tratamento que Luiz recebeu.

– Ai! - Marcela exclamou, animada. - Seu aniversário está chegaando!

Revirei os olhos.

– Nós estamos em março, meu aniversário é em agosto.

– Não importa! Já sei o que eu vou te dar de presente… Você vai simplesmente amar! - Falou com convicção, toda animada, me chacoalhando.

Sorri e continuei a andar.

– Se você continuar nesse assunto, vou ficar curiosa e te obrigarei a contar.

Quando estávamos prestes a entrar em nossa sala, a vice diretora correu em nossa direção, gritando meu nome. Levamos um susto quando seu salto deslizou pelo piso, ela se apoiando em mim para se manter em pé. Marcela e eu nos entreolhamos.

Ela ofegou, arrumando o paletó para tentar manter sua dignidade e ajeitou os óculos.

– Olá, meninas, bom-dia. - Falou como se não tivesse quase caído há pouco.

– Hm, bom-dia… - Eu e Marcela murmuramos ao mesmo tempo, desconfiadas.

– Vocês, por acaso, viram algum professor hoje?

Pera, OI?! Meus olhos começaram a refletir uma luz de esperança que veio de dentro do meu peito.

– Hm, acho que vi o treinador… - Marcela comentou, apontando para a escadaria.

Quando a diretora suspirou com um “ah, ele eu sei”, dei um berro de felicidade.

– Eles estão protestando, não estão?! - Comecei a adivinhar, animada.

A mulher revirou os olhos, jogando as mãos para a cintura. Marcela nos olhava, confusa.

– Sim, Katrina, estão…

– EU OUVI UM ALELUIA?! - Gritei para o vento, vendo algumas pessoas que estavam por perto me encararem. Joguei as mãos para cima. Nada melhor do que chegar em casa, sua mãe te encarando com um olhar mortal de “por que não está na escola?” e responder que “os professores estão de greve!”.

Marcela começou a rir, surpresa com tudo aquilo. Óbvio. Ela era rica, podia pagar um colégio de alta classe que tinha os melhores professores com uns salários recheados. Mas aqui, não. Eles ganhavam uma merreca para que os alunos ficassem felizes com suas partidas.

– Mas não se anime. - A vice diretora logo cortou minha felicidade, me olhando feiamente. - Nós iremos nos virar. Qual é a primeira aula aqui?

– Matemática - Marcela respondeu prontamente.

– Sim, ele faltou. - A mulher murmurou a contragosto. - Mas tudo bem… Treinador! - Ela chamou o homem ranzinza que eu não gostava nem um pouco. O treinador veio resmungando, olhando mal-encarado para nós.

– O que é? Tenho uma aula para dar.

A vice diretora obviamente não gostava dele também; dava para ver nos seus olhos castanhos.

– Então, esta sala está sem professor… - Disse, apontando para a nossa sala. Alguns alunos estavam xeretando, apoiados na porta e rindo um para os outros, como retardados.

– Claro, porque meus queridos amigos não estão presentes para dar aulas a estes adoráveis estudantes… - Falou cheio de ironia, me lançando um olhar entrecortado. - Mas eu posso dar uma aula dupla, sem problemas. Posso fazer uns sessenta alunos fazerem uns exercícios bem difíceis para que eles fiquem cansadinhos pelo resto do dia. - Terminou com um ar sádico.

Meu pau de peruca.

– Ah, ótimo. - A vice exclamou, dando um riso incrédulo. Ela nos lançou um olhar de ‘boa sorte’. - Deixo em suas mãos. Até mais tarde.

E saiu andando de fininho. O treinador olhou para nós, indicando a sala.

– Vamos, cambada! - Ele gritou para a sala. - Quadra!

A maioria - principalmente os garotos - saíram felizes e saltitantes por estarem tendo aula de educação física sem dia de ter. Para mim era a mesma bosta, só que duplicada, porque eu iria ter de suar logo na primeira aula.

Marcela e eu deixamos nossas mochilas em cima de nossas mesas e descemos junto com a sala. Quando estávamos lá embaixo, apareceu um “combo surpresa”: a sala do Jonas iria fazer educação física conosco. O garoto veio saltitando na nossa direção, trazendo de brinde o namorado.

Não sei se já falei isso, mas porra, aquele cara era alto. Eu tive que olhar para cima para poder olhar em seu rosto. Davi sorriu para mim e para Marcela, parecendo ser uma boa pessoa.

– Bom-dia. - Cumprimentou-nos com sotaque, andando juntamente conosco, enquanto Jonas enlaçava seus braços em torno do braço direito do jogador. - Pega uma algema que fica mais fácil. - Riu-se, divertido, parecendo não achar que o “Jonas-chiclete” fosse algo ruim.

Entreolhei Marcela, que estava com o mesmo olhar que o meu do estilo “ah, danados”. Descemos as escadas que levavam à quadra, com o treinador parado na nossa frente, o apito na boca. Ele estava com aquela cara de “eu não me importo com esses caras, quero que eles morram”.

– Tudo bem, turmas, vamos acalmar aí. É o seguinte, prestem atenção: se lembram daquele trabalho que eu passei semana retrasada que quase ninguém fez sobre flexibilidade e contornos da estrutura muscular? - Todos ali gemeram um ‘sim’ enfraquecido. - Vou dar uma oportunidade a vocês. Quem participar da aula hoje vai ganhar uns pontinhos aí para encher o vazio da minha pasta.

Há duas maneiras de subornar um adolescente: diga que irá pagá-lo depois ou diga que, caso ele fizer determinada coisa, irá ganhar uns pontos escolares. A maioria do pessoal que estava sentado na arquibancada se levantou, descendo-a e correndo para participar da aula.

Dei de ombros, indiferente, subindo a arquibancada - Jonas, Marcela e eu já havíamos feito o trabalho, então fomos os únicos a se sentarem por razões nobres; o resto estava sentado porque estava com preguiça mesmo.

Enquanto o treinador judiava daquelas pobres almas, Marcela teve a brilhante ideia de, novamente, tirar uma foto. Ela estava praticamente o mês todo pedindo por uma foto nossa juntos. Jonas e eu recusamos umas milhões de vezes, mas ela ainda insistia.

– Vamos, por favor! - Pediu, erguendo sua mão para mim. - Juro de dedinho que não vou postar em nenhuma rede social!

Jonas riu, olhando-a por cima do meu ombro.

– Ah, Katrina, chega, estamos fazendo a menina sofrer mais do que o treinador está fazendo a Carmen suar, olha aquilo no cangote dela, gente do céu. Bom, não é por menos, eles tão jogando a porcaria de um handebol. Sala contra sala, tá hard. - Jonas riu, me enlaçando pelo pescoço e olhando para a oxigenada. - Vai, tira logo.

– Nunca concordei com isso. - Protestei, olhando para ele. - Odeio fotos.

Jonas e Marcela reviraram os olhos. A oxigenada se aproximou de mim, mirando seu celular para cima e produzindo um bico de pato, enquanto Jonas fazia um paz e amor.

– Não sobraram sinais para mim… - Brinquei, vendo nossas caras aparecerem na tela. O sol estava rachando sobre nossas cabeças, por isso agradeci por ter uma árvore filtrando vários raios solares. Suspirei, erguendo uma sobrancelha e fazendo cara de mafiosa.

Marcela tirou repetidas fotos, rindo depois.

– Ficaram lindas! - Disse toda cheia de nhenhenhém, apreciando as fotos como se fossem um filhote gordo de labrador.

Eu ia dizer alguma coisa, mas acabei sendo interrompida por causa de uma bola mais perigosa que eu com uma arma, já que passou a centímetros do meu rosto numa velocidade que se igualava a um guepardo. Engoli em seco, reprimindo um berro de susto.

– Espero que você não tenha se cagado, Katrininha… - Uma voz debochada, fina e irritante atravessou meus tímpanos, e logo meu cérebro assimilou aquela voz como a de Carmen.

Estiquei a mão para trás, tateando a terra às cegas para achar a bola; peguei-a e me ergui, encarando-a desafiadora. A garota, por conta do calor, enrolou a barra de sua camiseta e a enfiou na gola, formando uma espécie de “top”, mostrando toda sua barriga magra e cheia de… Ossos, credo. Prefiro a minha, que tem sustância, licença.

Ela estava suando, o peito subindo e descendo. O cabelo chanel grudava na nuca e os olhos faiscavam, me encarando e quase soltando veneno. Percebi que suas órbitas estavam praticamente vidradas…

Suspirei, segurando a bola como se fosse uma jaca; o plano inicial era fazê-la cair em frente a Carmen e quicar em direção a sua mão - estava calor demais e eu não estava com saco para ser expulsa, porque, caso eu não estivesse entre a cruz e a espada, sentar a mão naquela cara pálida seria rejuvenescedor.

Lancei a bola, vendo-a cair bem na frente dela e quicar. Só que Carmen, muito tontamente, a deixou voar sobre o ombro, sem se mover. Era como se ela estivesse hipnotizada, os olhos vidrados e a respiração compassada. Já ia soltar uma piada venenosa, como “se olhou no espelho hoje, é?”, mas a única coisa que fiz foi boquiabrir a boca quando a garota caiu no chão com baque surdo.

Suas amigas gritaram, em pânico, e foram até ela. Jonas e Marcela também estavam surpresos, os olhos arregalados.

– O que você fez, Katrina? - Marcela murmurou perto de mim, assustada.

– Não fiz nada, caramba! Tenho cara de Xavier para controlar as coisas com a mente?! - Exaltei-me, semicerrando os olhos e vendo todos aqueles estudantes fazerem um bolinho em volta de Carmen.

– SAIAM! - O treinador, com toda sua sutileza, berrou, empurrando alguns alunos e dando passagem. Daquele ângulo dava para ver a situação: a garota estava estirada no chão, os olhos fixos para cima, o corpo tremendo enrijecido. - O que diabos?! - Ele obviamente parecia desnorteado, sem saber o que fazer.

Mas eu sabia exatamente o que estava acontecendo ali. Era meio estúpido pensar no assunto, mas era o que estava rolando: Carmen, é, a vadia do tipo três, estava tendo um ataque epilético. E eu sabia disso porque havia lido aquele maldito livro de biologia.

Algumas crises podem acontecer por causa de mudanças súbitas de luminosidade ou de temperatura corporal - parecia pertinente, já que fazia um calor do caralho -, privação do sono, álcool, febre, ansiedade e vários outras situações. Não era muito difícil encontrar alguém com epilepsia, afinal é “um dos distúrbios neurológicos graves mais comuns do mundo” - é o que estava escrito lá, pelo menos -, mas ver alguém tendo uma crise com convulsão era raro, já que existiam medicamentos para controlar.

Era raro e assustador.

Mas o fato ali era que o treinador estava segurando-a de uma maneira completamente errada: seu corpo estava virado para cima, a cabeça pendendo para um lado onde provavelmente engasgaria com seu vômito (porque, num ataque epilético, as pessoas vomitam por causa da contração de seus músculos, novidade do dia).

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Um lampejo forte atingiu todo o meu corpo em formas de espasmos; minhas veias bombeavam informações contrárias ao meu cérebro.

Você sabe amparar alguém que está tendo um ataque epilético, Katrina.”

“Ela é uma merda, você a odeia, se lembra? Só se sente aí e aprecie sua derrota.”

“Há pessoas filmando. Vão postar em redes sociais. Acho que ninguém gostaria de ser humilhado desse jeito.”

“Ah, pelo amor, olha só, o decote dela tá aparecendo, deixa ela.”

“Não é engraçado. E, mesmo assim, tem gente rindo.”

– Se eu pudesse fazer alguma coisa! - Marcela berrou desesperada, erguendo-se e correndo para lá, os olhos lacrimejando.

Carmen havia feito coisas cruéis a Marcela, como simplesmente usá-la para chegar perto de seu irmão, ser “popular” e se aproveitar de suas riquezas… E ela ainda se importa?

Eu não sabia o que fazer.

Talvez eu sentaria e ficaria quieta, simplesmente olhando, mas, quando dei por mim, já estava lá embaixo na quadra, meu nome sendo gritado por Jonas, que ficou mais confuso que eu mesma. Agarrei a barra da minha camiseta, minha presença atraindo vários olhares atravessados, e levei o tecido à boca, mordendo-o (e, admito, revelando minha sustância adquirida por conta dos pratos que meu vizinho e namorado vivia fazendo) e rasgando-o com uma força brutal que eu sabia que tinha.

Cuspi um pedaço de linha no chão, empurrando todo mundo para passar, inclusive o João, que só estava ali de Zé. Minha gengiva doía forte e minha camiseta estava sem barra, mas who cares?

Enrolei o pano nos dedos, olhando para o treinador.

– Sai daí. - Falei bem simples e direta, me agachando e vendo-o se levantar, provavelmente sabendo que eu manjava. Carmen espumava e grunhia, os olhos vidrados e o corpo mais rígido que uma tora. - Caralho, é mais perturbador de perto… - Murmurei para mim mesma, vendo-a revirar os olhos e se contorcer. Já que toda sua barriga estava de fora, percebi quando seu estômago se contraiu, e logo arregalei os olhos, não conseguindo me desviar a tempo e levando uma bela de uma vomitada nas calças e um pouco na camiseta. Todo mundo que estava vendo fez um “aaargh!

Filha da…

Não desisti no meio do processo porque sabia que ela não estava fazendo de propósito. Mas, com um pouco de raiva contida, peguei-a pelos ombros e virei-a de lado, meu antebraço sob sua cabeça para que ela não machucasse uma área importante. A garota não parava de tremer, os membros chacoalhando e se chocando contra o chão. Ela grunhia como se estivesse com dor, o que fazia sua saliva deslizar por sua boca e cair no meu antebraço.

Com cuidado, já vendo que aqueles dentinhos afiados iriam estraçalhar sua língua que não servia para nada senão espalhar fofocas, enfiei a barra da minha camiseta em sua boca, vendo-a morder como se aquilo fosse uma barra de chocolate simplesmente deliciosa e irresistível.

Ajeitei sua camiseta, vendo que alguns garotos olhavam, de uma forma simplesmente nojenta considerando sua situação, aqueles limõezinhos que ela chamava de seios. Estiquei o braço que estava sob o seu corpo com a mão livre, impedindo-a de se arranhar no ataque, que duravam, em média, três minutos.

Meu cotovelo que estava sob sua cabeça doía com o contato áspero da quadra, provavelmente arranhado e machucado, já que Carmen se debatia e se movia.

Suspirei, vendo que tudo o que eu tinha de fazer, já estava feito. Ergui o olhar, encarando aqueles sessenta pares de olhos que, diferentemente do habitual, não me olhavam como se quisessem me torturar. Me olhavam com surpresa.

Marcela estava bem na minha frente, pressionando a boca, chorando como uma desequilibrada. Tinha um cara lá atrás, filmando tudo na maior cara de pau, um sorriso no rosto que entregava o fato de que ele fazia parte da equipe do “Pérolas de Fevereiro”.

Olha só, que ótimo, agora eles tinham uma notícia fresquinha me envolvendo, de novo. Ainda bem que o Pedro não estava aqui, porque aí sim o bagulho ia ficar louco, com mais especulações do casal “peka” - malditos sejam todos eles.

Notei que o povo estava perto demais de nós duas, o que tornava a situação meio desconfortável, já que estava ficando sufocante. Mandei-os saírem educadamente:

– SE AFASTEM, PORRA! - Berrei, olhando ferozmente para todos ali. - SE QUEREM FAZER ALGO DE ÚTIL, LIGUEM PARA O SAMU, PARA A MÃE DA CARMEN, PARA UMA LAVANDERIA QUE FAZ FIADO, DEEM A BUNDA, MAS NÃO FIQUEM PERTO, TÁ ABAFADO PARA CARAMBA AQUI!

Todos se afastaram, os olhos levemente arregalados.

Viu, com a educação você consegue tudo.

*

O SAMU chegou junto com a mãe da Carmen, que estava desesperada, a filha adormecida pós-convulsão no colo do médico. A levaram para dentro da ambulância, onde a deitaram numa maca. A mãe da garota me deu uma braço sufocante, repetindo palavras que não consegui entender, já que ela chorava mais do que falava.

A única coisa que eu entendi era que Carmen realmente era epilética, mas sofria para tomar seus remédios, já que eles lhe causavam espinhas e insônia - por isso tanta maquiagem -, então ela desistia, periodicamente, de tomá-los.

Ela se despediu com um “obrigada por socorrer minha filha” e foi embora junto com a ambulância. Enquanto eu suspirava e passava a mão na minha testa para limpá-la, alguém me de um tapinha nas costas.

Me virei junto com uma sobrancelha levantada, olhando com ceticismo para um garoto da sala do Jonas, já que nunca o tinha visto na minha vida. Ele hesitou por um instante, como se o fato de me tocar pudesse fazê-lo congelar.

– Você, ahm, fez bem, Katrina. - Disse quase gaguejando.

Quê?

Sério que tinha alguém, completamente avulso ao caso, me parabenizando?

Analisei-o de cima a baixo, suspeita.

– Só fiz o que eu podia...

Ele assentiu, sorrindo logo depois e passando por mim para voltar à sala de aula. Marcela estava no banheiro, repassando a maquiagem, porque tinha borrado tudo chorando as pitangas há alguns minutos. Não via o Jonas desde que corri para ajudar a Carmen.

– É a primeira vez que vejo alguém confraternizar com o inimigo desse jeito. - Davi apareceu, rindo e bagunçando meu cabelo, jogando-o todo para frente. Ele parecia ser aquele gay modesto, que anda com garotas porque se sentia mais à vontade. - Sabe, já vi aquela luta que você teve com a Carmen… Devo dizer, foi badass. – Falou sincero. - Mas também, o que cês têm é uma leseira sem fim, viu?

– Tá, tá… - Me desviei do assunto, arrumando meu cabelo para que ele não ficasse na cara. - Ah, você sabe onde o Jonas se meteu?

Davi deu de ombros.

– Ele me disse que iria à diretoria, mas fazer, ele não me disse. - Deu de ombros, olhando o povo subir as escadas da quadra e virem, cansados, pelo pátio. - Oh, Katrina, vou indo, tá bom? O professor da segunda aula veio, então o melhor é se apressar. - Se despediu.

Acenei para ele e, quando sumiu do meu campo de visão, abaixei o olhar para encarar minhas calças. Se o seu vômito é algo desagradável, o vômito dos outros em você é algo que deveria dar crime.

– Oh, Katrina, daora, hein? - Uma pessoa que eu nunca vi na vida disse mais do que rapidamente, passando por mim e me dando um tapinha hesitante no ombro.

– A megera não é tão megera assim… - Duas garotas comentaram, rindo logo depois, como se achassem que tinha sido algo ousado demais para elas, correndo até o banheiro.

Tomei um susto a cada vez que um grupinho de alunos passava por mim, a maioria deles me tocando no ombro e nas costas de maneira hesitante e rápida, deixando alguns cumprimentos para trás.

O

Quê.

Está.

Acontecendo.

Ali?

Marcela saiu do banheiro depois de séculos, renovada. Ela sorriu para mim, carinhosa, me dando de braços. Ela conseguiu chegar a tempo de ouvir o último cumprimento, um “foi bem legal o que você fez lá, Katrina”, deixado por um garoto alto de cabelos enrolados. Ela me encarou, depois encarou o garoto, estranhando.

– Hã? - Perguntou por fim.

– É porque você não ouviu nem um terço. - Resmunguei, vendo Jonas sair da diretoria, parecendo frustrado. Ele veio batendo o pé na nossa direção.

– Ah, menina, cê nem sabe. Tentei pegar umas mudas de roupas para você, mas só liberam se você vir junto… - Disse, pegando na minha mão livre e me puxando. - Só que, pelo amor, se mantém distante de mim, você já me sujou demais de vômito, obrigado. - Exigiu, obviamente traumatizado depois daquele dia na festa da oxigenada.

Ri, Marcela se grudando nos meus braços, nós três indo para a diretoria. Me sentei num sofazinho de couro que tinha por lá, em frente à porta, vendo aquela correria de professores substitutos e de papéis, Marcela e Jonas se afastando para pedir algumas roupas emprestadas.

Mas obviamente eu iria roubar a camiseta “emprestada”, já que a minha estava toda rasgada, e devolver a fodida para a escola, ninguém nunca vai saber.

Ah, qual é, a rasguei por motivos puríssimos, não pulando muros para cabular.

Assobiei, tediosa, olhando para os lados e vendo o treinador descendo as escadas que davam para as salas, seguido por apenas uma sala… Oh, shit

A sala do Pedro todinha, sem faltar nenhum aluno desceu as escadas fazendo algazarra, todos olhando para a diretoria e ficando boquiabertos ao me ver lá, sentada no sofazinho de couro de frente para eles, a camiseta rasgada, cabelo desarrumado e roupas sujas de vômito.

Ma-ra-vi-lha.

Pedro foi um dos últimos a descer, rodando uma chave no dedo enquanto assobiava. Ele olhou de relance para a diretoria, distraído, passando reto sem se abalar. Mas, quando percebeu quem estava ali, virou-se de supetão, quase caindo porque seus pés escorregaram no piso. O garoto arregalou os olhos, surpreso de verdade, andando rápido na minha direção.

– Katrina?! - Exclamou abalado, entrando na diretoria e olhando a minha situação. Provavelmente ele imaginou o pior, já que disse: - não me diga que aquela ambulância do SAMU tem a ver com você… Ai, meu Deus, você se envolveu numa briga, é isso? Tá machucada?!

– Seus pelos pubianos são mais escuros que seu cabelo ou são da mesma cor? - Perguntei avulsa, encarando seu rosto. Era uma dúvida que eu sempre tive, admito.

Pedro ficou avulso também, o rosto mais despreocupado.

– Os meus são escuros, geralmente é assim… Somente os pelos mais expostos é que são claros… E você, ruiva, seus pelos pubianos são ruivos ou são mais escuros?

– São mais escuros… - Respondi, olhando para cima. - Castanhos, até...

Pedro sorriu, como se pensasse em algo agradável, mas logo ficou sério, me encarando.

– Não mude de assunto, megera… - Me censurou, suspirando e se jogando do meu lado. O sofazinho gemeu e vacilou um pouco. - O que aconteceu? - Seu tom era de quem realmente se preocupava.

Nem eu sabia. Como começar a contar?

– Para início de conversa, você sabia que a Carmen é epilética? - Tentei, vendo-o levantar uma sobrancelha.

– Não, não sabia… - Falou surpreso, pressionando os lábios. - Eu tô imaginando o final dessa história...

– Bom… - Sorri, afundando no banco. - Ela teve um ataque em quadra. Quando eu fiquei suspensa por bater nela, digamos que eu reforcei umas matérias que eu estava afundando, como biologia, e acabei por saber como socorrer alguém que está tendo um ataque… - Apontei para mim mesma. - Fiquei assim porque ela vomitou em mim e porque eu tive que arranjar um pedaço de pano para fazê-la não quebrar os dentes e nem arrancar a língua…

Só quando eu contei isso a ele, notei uma coisa: que irônico. Principalmente a parte da suspensão. Então, no fim, valeu a pena dar uns tabefes na cara dela. Revirei os olhos, rindo baixinho.

– Tá passando dos limites, universo… - Sussurrei para o vento, encarando o teto.

Ainda risonha, virei o rosto para encarar o italiano. Pedro estava com o braço apoiado no encosto do sofá, me olhando, um sorrisinho crédulo em seus lábios. Ele me encarava como se estivesse encantado com alguma coisa.

– Sério isso? Tipo, Carmen, a garota que consegue te tirar do sério de todas as formas possíveis? - Eu sabia que ele acreditava, mas também sabia que ele queria uma confirmação.

– É. Estranho, né? Admito que grande parte de mim está pouco se lixando para ela, mas uma parte estranhamente menor e estranhamente mais eficiente me mandou ir lá e fazer aquilo. Eu poderia ficar sentada e vê-la sofrer, mas não consegui. - Apertei meus dedos, sentindo novamente aquela sensação de tranquilizante para animais selvagens. - Talvez… Parte de mim nunca tenha concordado com os termos que estabeleci… Só sinto que tem algo de diferente.

Pedro assentiu, deslizando uma mecha minha para trás da orelha.

– Eu sinto vontade de te beijar mesmo você estando coberta de vômito de outra pessoa, isso tem que significar alguma coisa… Não é? - Gracejou, me fazendo rir. Eu não iria deixá-lo me beijar porque seria desconfortável, qual é. Então, para não deixar rolar um clima meio tenso, apertei a bochecha dele. Era tão macia quanto a bunda de um neném.

– Deixa sua barba crescer um dia desses para eu ver como é. Aposto que vai combinar. - Opinei, acariciando sua bochecha. Pedro fez que não com a cabeça.

– Vou é parecer um mendigo. Melhor é deixar assim, lisinho. - Disse sorrindo e se inclinando na minha direção. Pedro, inesperadamente, me beijou um pouco acima da orelha, praticamente na testa. - Vou para minha aula antes que notem meu desaparecimento.

– Tá, vai lá… - Falei, ainda grogue com o gesto carinhoso demais até para ele. Dei um tapinha em sua perna quando se levantou, vendo-o sorrir e andar para fora da diretora.

Suspirei, afundando mais no banco e observando-o enquanto corria em direção à quadra. Nunca pensei nisto antes, mas Pedro tinha uma bunda que, gente. Dava vontade de apertar - coisa que eu podia fazer, já que era a namorada dele.

Obrigada, Deus.

Marcela apareceu depois de alguns minutos, seguida por Jonas. Ela segurava uma muda de roupas novinhas e sorriu gentil para mim.

– Pegamos roupas masculinas, já que pensamos que você ficaria mais confortável… Tudo bem?

– Aham. - Falei, pegando a muda e me levantando. - Vão para a sala, já, já eu tô lá.

Eles assentiram e eu me encaminhei para o banheiro feminino. Me enfiei numa cabine e tirei as minhas roupas com alguma dificuldade, colocando a muda em cima da porta.

As roupas emprestadas ficaram largas e eu me sentia como se estivesse em casa. Meus seios não ficaram esmagados e até suspirei em alívio quando pude enfiar minha mão pela gola e coçá-los sobre a renda do sutiã sem esforço - porque, sim, as bolas de todas as garotas coçam no verão, só aceite.

Virei a minha calça do avesso, de maneira a evitar que suje outras coisas com o vômito da Carmen. O tecido estava fedendo e eu não sabia onde colocá-lo. Dei de ombros; pensaria nisso depois.

Voltei à sala arrastando os pés, sem vontade de encarar mais algumas aulas vagas. A porta estava entreaberta, por isso apenas a empurrei com o pé e vi todos aqueles alunos amontoados em diferentes grupos; somente Marcela estava em seu lugar habitual, rindo sozinha e encarando a tela de seu celular.

– Oi - cumprimentei-a, sentando-me no meu lugar, atraindo instantaneamente sua atenção.

– Você não vai acreditar! - Ela exclamou animada, se ajoelhando na cadeira e se inclinando na minha direção, mostrando seu celular. - Essas pessoas da internet não perdem uma oportunidade, Katrina, e não seria diferente para espalharem coisas boas… Veja, veja!

Semicerrei os olhos, imaginando o que seria, e peguei o celular, Marcela deslizando os dedos para baixo, subindo a tela.

Ah, novamente, meu inimigo mortal: Pérolas de Fevereiro. Juntei as sobrancelhas, começando a ler o texto.

“Sabe o que é melhor do que ter um dia sem professores, só com aulas vagas?

É começar um dia desses com uma Pérola maravilhosa da nossa víbora preferida que, vira e mexe, sempre vem parar aqui na página: Katrina Dias. Só de ler esse nome, as pessoas já pensam “é tretaaaa!” com um sorriso no rosto - porém discreto, já que têm medo de apanhar da garota.

Se você pensou que a notícia seria sobre mais uma treta da ruiva, está muito enganado, jovem padawan.

O que é muito estranho, certo? Ainda mais se adicionarmos o combo: Carmen. É óbvio que todos a conhecem por sua fama duvidosa, mas a conhecem mais por causa das brigas que vive tendo com a Katrina. Elas já deixaram bem claro para a população que se odeiam e, na minha opinião, Carmen é masoquista, porque sempre arranja briga com a Katrina e a gente sabe o resultado disso: alguns dias em casa sem mover o maxilar.

Katrina é fácil de adivinhar: não mexa com ela que ela não mexe com você.

Agora, vamos para a parte engraçada da história: hoje, em plena primeira aula, duas salas se reuniram numa única quadra. Não sou perita no assunto, mas, por meio de fontes confiáveis, descobrimos que Carmen é epilética. Ela teve um ataque em público, seguido por uma convulsão. Ninguém sabia disso e nem mesmo o treinador soube como socorrê-la.

E é aí que a megera entra na história.

Sim, Katrina Dias socorreu sua arqui-inimiga, aplicando uma tática que socorristas utilizam quando alguém está tendo uma convulsão.

Não acredita? Confira o vídeo:”

Meu queixo nessa altura já estava despencado e, consumida pela curiosidade, cliquei no vídeo. As cenas eram claras: muita gente em volta, o treinador ali também, me encarando, cético, e eu ali no meio com Carmen sob um dos braços. Eu estava ajoelhada, as pernas já cheias de vômito, e enfiei um pedaço de pano na boca da garota, que tremia violentamente, os olhos se revirando.

Apoiei minha cabeça num dos punhos, encarando aquilo, cética. Marcela sorria, cautelosa, e me mandou descer a tela porque a melhor parte estava no final. Continuei a leitura:

“Admito que fiquei chocada quando vi o vídeo, mas é a verdade. Não duvido que tenha um dedo da víbora enfiado no caso do Luiz, sabe, aquele do carro. Nossa equipe ainda irá descobrir.

E é assim que termino essa notícia.

Talvez Katrina Dias não seja tão má ou fria quanto imaginamos que ela seja, já que, mesmo odiando Carmen, a socorreu.

Vou experimentar cumprimentá-la qualquer dia desses.”

– Puta. Que. Pariu. - Balbuciei, segurando chocada o celular. A oxigenada riu, feliz.

– Essa página tem uma grande influência sobre o colégio, Katrina. Se a escritora terminou o texto dizendo que você não é tão má assim, as pessoas irão acreditar! - Falou animada, batendo palmas. - Sua fama se tornará positiva!

Coloquei o celular sobre a mesa.

– Não vai dar, Marcela. Na boa, eu não gosto desse papo de ter uma “fama positiva” ou qualquer merda dessas. Prefiro todos me odiando e espalhando coisas ridículas. - Falei, mas nem eu acreditei direito.

Marcela balançou sua cabeça negativamente.

– Ih, mudanças de plano, Katrina. “Quando você muda, as coisas mudam também” - citou, poética. - Olha, esse vídeo retirou toda a imagem negativa que tinham de você. Agora, as pessoas irão se perguntar: “o.k., se Katrina não é um monstro de sete cabeças, quem é ela?”. Não interessa se irão te amar ou te odiar, só continue sendo quem é. E eu sei que você não é uma megera. Antes, te odiavam e se afastavam porque espalhavam coisa ridículas e sem sentido. Agora, se alguém te odiar, irá ser porque sabe que tipo de pessoa você é. - Ela inclinou a cabeça. - Não concorda?

Fazia sentido. Caramba, fazia muito sentido. Quer saber? Foda-se. Minha consciência, depois de um banho, estava limpa.

– Até que saem coisas inteligentes dessa cabeça de bague, hein… - Cutuquei-a, fazendo-a me dar língua.

Continuamos a conversar sobre coisas aleatórias, até que chegamos no assunto ‘shopping’s’.

– Tava pensando, vamos sair nesse sábado? - Perguntou animada. - Eu, você e o Jonas. Aí a gente come alguma coisa por lá, assistimos a algum filme… Que cê acha?

– Pode ser… - Falei, desenhando coisas aleatórias na mesa. - Mas vocês têm que pagar porque eu não tenho grana. - Citei os termos. Marcela revirou os olhos e murmurou um “tá, tá”. - E também tem que ser um filme de terror ou comédia, de preferência com gordos. E tem que ter muita pipoca com manteiga.

– Sim, sim…

– Não pode ser nem de manhã, nem à noite. Tem que ser à tarde, tipo umas uma hora… - Fui alfinetando-a de propósito. - E tem que ser shopping de pobre, porque esses de gente rica nem pensar, ricos me dão enjoo. E tem que ser de pobre mesmo, daqueles que têm gente com marmita no cinema.

– Tá bom, Katrina… - Marcela riu nasalado, revirando os olhos. - Aí a gente aproveita e compra umas bolachas lá no mercado perto do shopping e vai comendo durante a sessão…

– Boa ideia. - Ri também, cruzando os braços sobre o peito. Marcela começou a falar de gente farofeira, mas não pude ouvi-la porque minha cabeça estava em outro lugar.

“Não é tão má quanto imaginamos”, hm…

É, talvez não seja tão ruim assim.


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Notas finais do capítulo

É AGORA QUE EU INFARTO EHUEHUEHUEHUEHUEHUE xDD (autora tão coruja, afferson)...
ENFIM, vamos às explicações da super novidade, hihi! Se lembram daquele questionário que eu decidi fazer há, hm, trezentos anos? *cof, cof* é, não deu para fazê-lo, infelizmente... Eu achei que seria uma super mancada com vocês, já que fizeram aquelas perguntas legais para mim e tal. Com o coração na mão, decidi compensá-los de alguma forma...
E a forma que eu achei para isso, foi criando uma fic contando como o Pedro e a Kat se conheceram, yaaaaaaaaaaaay ~comemora~ aqui o link, meus lindos: http://fanfiction.com.br/historia/557842/Sobre_Ruivas_e_Loiros/ (título improvisado ehuhhuehehue) espero mesmo que gostem dessa fic, ela tá lianda!
Foi por isso que eu demorei para postar o capítulo, espero que eu esteja perdoada HUAAHUAHUAHUAHUHAU Falando nisso, não se esqueçam de me avisar se houver algum erro, o.k.?! *u*
Comentem bastante! o//