Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 56
Quase Pego o Autógrafo do Monstro do Pântano


Notas iniciais do capítulo

Geeeeeeeenteeeee, como é de praxe: desculpem a demora ;-; Eu tive dificuldades para escrever esses dias, mas gostei do resultado do capítulo. Raridade, mas gostei. UAHSSAHUAS
Olha, tenho que confessar: eu estou viciada em colocar imagens no capítulo. É. HUASUHSAUHASHAUS Não sei se vocês gostam, mas eu estou viciada. UHASHSAHUASUAHSSA
Bom, é isso. Espero de coração que vocês gostem,
Boa Leitura s2
PS: FELIZ SEXTA-FEIRA TREZE ATRASADO OO/ (pensei em fazer um especial, mas não deu tempo. E aí, o que vocês acham de um especial Sexta 13?)



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Olha, eu realmente não tenho nada contra florestas assustadoras, moitas que se mexem sozinhas e sons estranhos. Até aceitaria uma caixa de chocolate deles. Mas os bichos que vivem ali quase me mataram do coração.

Guaxinins, esquilos voadores, lebres, tatus, mariposas, besouros gigantes e outros tipos de coisas de Satanás.

O mormaço estava horrível, e minha roupa já estava grudando no corpo. O suor escorria como água pela minha testa, e eu estava com dificuldade até para respirar.

Precisava de tempo, precisava de água, precisava de uma banheira enorme com o Josh Hutcherson dentro. A última em questão era a prioridade no momento.

Meus passos começaram a ficar mais lentos por conta do cansaço, e a minha respiração ficou em poucos segundos descompassada. Me apoiei em um tronco de árvore, arfando.

– Mas que merda! - Falei, irritada.

Eu pensei que seria mais fácil, já que de cara eu tinha achado um ovo. Mas não. Aquilo estava muito difícil.

Fiquei pensando se os meninos estavam passando pela mesma dificuldade que eu.

*

Eu estava andando em uma trilha da floresta. Me senti uma Chapeuzinho Vermelho da vida. Só que sem a parte do Lobo. E sem a vovó. E sem todo o resto. Nem as guloseimas. Essa parte foi triste.

As árvores estavam balançando em um ritmo tenebroso, como se elas estivessem se inclinando para me pegar. Um calafrio invadiu a minha pele, e eu senti que estava sendo perseguida por um rato gigante.

Parei bruscamente minha caminhada e olhei para trás. As sombras das árvores faziam um efeito horripilante, e torci para que fosse o Jason, me perseguindo de fininho. Me virei novamente para começar a andar, e percebi que começava a ficar mais frio nessa parte da floresta. Agradeci internamente.

Tinha que acabar com essa merda toda, ganhar logo de uma vez e ir dormir. O meu sutiã estava me matando de tanto apertar meus seios doloridos. Além disso, o meu machucado estava realmente me incomodando. Lancei minha mão para trás das costas enquanto andava e tateei o feixe do sutiã.

O abri e logo senti a incrível sensação de estar livre. Eu poderia tirá-lo e jogá-lo dentro da cesta, mas estava frio, então meus seios ficaram alegrinhos.

Continuei a andar, dessa vez observando com mais atenção as coisas. Eu provavelmente já passei por uns quatro mil ovos diferentes. Com certeza havia pelo menos metade em diferentes barraquinhas com uma placa: ovos aqui cheia de brilho, tocando funk alto e setas vermelhas. Mas eu não vi. Normal.

Eu estava tão perdida em pensamentos completamente complexos e extremamente importantes que não percebi quando cheguei em um pedaço estranho da floresta, onde era um espaço aberto, com vários troncos caídos e musgo. Ah, tinha uma tora escalando uma árvore também.

Não, espera.

Chacoalhei a cabeça, imersa naquele pensamento nada convencional, e espremi os olhos para encarar aquela cena direito.

Um garoto. Um garoto muito grande estava grudado numa árvore. Ele tentava ir cada vez mais alto nela, para tentar pegar um ovo verde. Gemidos de frustração se soltavam de sua garganta. Ele conseguia ser maior que o Otávio.

Sua cesta estava praticamente nos meus pés. Nela, os ovinhos de cor: amarelo, roxo e azul sorriam para mim. Ele não tinha me visto ainda. Sorri maleficamente.

Cheguei de fininho para perto da cesta e a peguei. Coloquei-a atrás de um arbusto e me agachei ali. Eu nunca joguei limpo; desculpa, sociedade. Não, mentira. A sociedade merece uns tapas na bunda.

É, isso mesmo que você está pensando. Eu usurpei do bem alheio. Eu subtraí os ovos dessa tora; me apropriei de seus bens; enriqueci por meios ilícitos; desviei. Use todos os meios técnicos possíveis, passei mesmo o bonde.

Coloquei devagarinho os ovos que eu anda não tinha dentro da minha cesta - com cuidado para que ele não me visse -, e os embrulhei no meu paninho.

Ouvi um estrondo de coisa caindo antes que eu pudesse colocar a cesta no lugar. Engoli em seco e ouvi passos pesados vindo na minha direção.

A coisa só complicou.

Quem estava me seguindo era uma garota que eu já tinha visto antes. Elizabeth, ou Liza, uma menininha bonitinha do primeiro ano. Ela usava uma flor enorme na cabeça para prender o cabelo. Liza vinha com passos lentos na nossa direção, assobiando.

Quando ela me viu, acenou devagarinho.

– Olá, Kat-

Mas, antes de que ela estragasse meu disfarce, movi os braços com brusquidão para que ela não falasse comigo. Não, não, não!, fiz com os lábios, incluindo isso nos movimentos.

Liza tapou a boca e logo ligou as coisas.

– Quem pegou os meus ovos?! - Gritou o moleque Tora. Elizabeth deu um passo para trás, assustada.

Bom, eu não queria estragar os sonhos dele, mas acho que ninguém quer pegar seus ovos não, rapaz. Mas isso é outra história.

– Ei! - Ele gritou na direção dela. - Você viu quem foi?

Está na cara que este rapaz é desprovido de inteligência. Liza me lançou um mini-olhar de reprovação, e olhou para os lados.

– Foi um… Hã… Gambá! Isso, foi um gambá. - Ela assentiu. Liza apontou para frente. - Ele foi naquela direção. Não tem erro. Você o encontrará, tenho certeza.

O garoto resmungou alguma coisa, e eu ouvi os passos pesados dele se tornarem cada vez mais distantes. Liza permaneceu acenando para ele, e quando o garoto provavelmente saiu de suas vistas, ela fez sinal para que eu me levantasse.

Soltei um suspiro pesado enquanto me levantava, e limpei minhas pernas, que no caso, estavam cheias de terra. Lancei um olhar agradecido a Liza.

– Acho que você salvou meu couro. Te devo um bombom. - Falei, rindo. - Escolha o mais barato, tá?

Ela conseguiu abrir um sorriso, ainda em reprovação, e chacoalhou a cabeça.

– Não deveria ter feito isso, Katrina. Se tiver de ganhar, que ganhe com sua própria força de vontade. - Ela fez uma careta. - Foi muito feio o que você fez. Não deveria ter te dado cobertura. Me sinto uma marginal.

Eu comecei a dar risada. Isso era extremamente ridículo, mas verdade.

– Ah, Elizabeth, pare de ser paranóica. Isso não tem valor nenhum. São apenas ovos.– Enfatizei as três últimas palavras.

Ela deu de ombros.

– Já que insiste…

Olhei sua cesta. Eu quis soltar um grito de puro espanto. Ela conseguiu todos os ovos. Inclusive o rosa.

Minha cara definitivamente ficou engraçada, pois Liza começou a dar risada. Eu não estava acreditando ainda. Ela conseguiu achar absolutamente todos os ovos numa floresta com corujas drogadas, árvores querendo te pegar, sons de galhos sendo pisados e o Jason por aí. Eu tive que roubar para conseguir fazer o mesmo feito que ela.

Meu Jesus.

Liza me olhou e estralou seus dedos na frente do meu rosto. Chacoalhei a cabeça, livrando-me de pensamentos sem nexo.

– Ei, Katrina… Você está dormindo acordada. Algum problema?

– Qual foi o pacto? - Perguntei; coloquei a cesta no chão, e uma leve vertigem me atingiu. Massageei as têmporas. Uma sensação estranha me pegou de surpresa, rondando pelo meu corpo enquanto eu dava um passo para trás. Era mais ou menos como ficar de porre.

Ela sorriu.

– Nenhum pacto. Sou acostumada a fazer Caça aos Ovos na Páscoa com o meu irmão… Só é uma questão de treino. - Liza segurou meu antebraço com delicadeza. - Ei, algo errado?

Chacoalhei a cabeça feito um cachorro molhado e bati na minha cara.

– Não é nada. - Falei, estralando o pescoço. - Estou apenas… Cansada.

*

Liza tinha que voltar ao acampamento, mas não sabia como fazê-lo. Então, ela simplesmente decidiu me acompanhar na minha própria caça, aumentando assim as chances de sucesso. Se eu ganhasse, nós duas voltaríamos, já que eu tinha um ótimo senso de direção.

Caminhamos por mais ou menos trinta minutos, conversando sobre coisas banais enquanto procurávamos um possível local de esconderijo.

Fiquei surpresa ao ver que tínhamos chegado numa margem de rio, do outro lado do acampamento. Estávamos perto do recomendado, já que não era possível ver a nascente do rio. Deduzi que ele fazia parte daquela lagoa na qual montamos uma barraca próxima.

Caminhamos mais um pouco pela margem, e descobrimos uma depressão na terra, fazendo com que a água invada parcialmente ali.

E aquele lugar definitivamente era muito estranho. Estava lotado de algas. Elas boiavam, todas verdinhas ali.

Olhei em volta. Era um lindo lugar para se acampar, se não estivesse anoitecendo. O céu estava pintado de púrpura em certas áreas, e eu sentia que já eram cinco horas.

Liza soltou um grito agudo e penetrante, enquanto agarrava meu braço com força e se escondia atrás de mim.

Levei um susto por conta de seu grito; recuei, atônita. Fiquei observando um possível motivo de tal grito, e não precisou demorar mais para que eu descobrisse.

No meio daquela depressão cheia de algas e outras coisas não identificadas, emergiu uma forma medonha. Estava todo coberto por algas e sujeira aquática. Liza não parava de apertar meu braço com força, enquanto choramingava para corrermos.

O Monstro do Pântano, é claro!, pensei, nostálgica. Vou pegar um autógrafo mais tarde.

Quando ele se ergueu por completo, eu e Liza fizemos uma cara de espanto provavelmente engraçada.

Fomos se afastando, e eu não sabia quem eu dava um chute: na Liza, por gritar feito uma gazela desenfreada, ou naquilo na minha frente.

O Monstro do Pântano começou a se mover, e nesse mesmo instante eu percebi que Eliza tinha ficado mais pesada. Olhei para trás, e vi que a coitada tinha desmaiado. Eu não sei lidar com esses problemas sociais complicados.

Porque claro, é super normal você encontrar um Monstro do Pântano numa floresta tomando banho de boas e ter uma colega desmaiada com uma flor gigante na cabeça. Acontece isso com muita frequência com todo mundo, que eu sei.

O-Monstro-não-tanto-do-Pântano-assim começou a retirar de sua pele as algas. E foi aí que eu percebi que sua mão esquerda estava embrulhando alguma coisa de aparência amarela. Ele tirou as algas da cara, e uma saiu de sua boca.

Era um aluno, é claro! Ah, Katrina, sua tonta, como você realmente pôde acreditar que o Monstro do Pântano te daria um autógrafo? Por favor! Acorda, queridinha.

O aluno começou a tossir. Ele enfiou o dedo na boca e tirou de lá outra alga. O coitado cuspiu umas coisas estranhas no chão, e tentou pentear os cabelos, mas eles estavam todos cobertos por sujeira aquática. Quando eu percebi quem é, minha teoria ficou concreta.

Eu tenho um imã colado na testa. E nesse imã está escrito: “só atraio italianos”.

Comecei a dar risada vendo a situação do coitado. Pedro estava obviamente sofrendo. Ele tossia, tentando limpar a garganta. Me aproximei dele e dei tapinhas em suas costas, tentando fazer com que ele libere o que tem de liberar.

Pedro fez um barulho estranho, e ameaçou vomitar. Ele puxou algo da boca novamente. Sua cara era de repulsa e nojo. Eu nem sabia identificar o que era aquilo.

Ele jogou o objeto não identificado no chão e olhou, com uma sobrancelha arqueada, para mim.

– Este foi o pior banho da minha vida.

Assenti, compreensiva.

– Imagino. Mas… O que raios você estava fazendo ali?

Pedro colocou um ovinho amarelo em minhas mãos com delicadeza. Enquanto eu observava o ovo, Pedro pegou a barra de sua camisa e a torceu, fazendo com que muita água e outras coisas caíssem. Ele enfiou a mão dentro da gola e tateou algo em suas costas. Pedro deu um gemido, como se estivesse sendo atingido por cócegas, e tirou de lá mais algas.

Eu comecei a dar risada. Suas calças estavam inundadas dessas plantinhas verdes. Nem queria saber como estavam dentro delas. Me estiquei e peguei uma que estava em seu cabelo.

É, seu aspecto já esteve melhor. Eu dei um espirro.

Pedro começou a pular. Juntei as sobrancelhas e o encarei, perplexa.

– Está frio. - Ele explicou. Pedro apontou para aquela “piscina” com algas. - Este ovo estava fincado em um galho no meio daquela depressão. Me estiquei para pegar, mas acabei caindo. - Ele deu de ombros. - No fim, o ovo caiu na água também, e eu tive o maior sufoco para achá-lo.

Ele pegou o ovo da minha mão, e só depois de um belo tempo que eu fui perceber que tinha uma cesta no chão, um pouco mais afastada. Pedro estava no mesmo barco que eu. Faltando apenas o ovo cor-de-rosa para ser achado.

Ele estava ensopo. Se eu que estava seca já estava com frio, imagino ele. Comecei a dar risada de novo.

Meu Deus. Esse dia foi louco. Liza desmaiando, quase peguei um autógrafo do Monstro do Pântano, eu roubei… Quer dizer, hã… Eu enriqueci por meios ilícitos... Espera… Estou esquecendo de algo.

Elizabeth! Como pude esquecer dela?

Me virei de forma bruta e encarei a garota estatelada no chão. Dei um tapa no braço do Pedro, e ele se assustou.

– Ai! O que eu fiz?

Apontei para a menina.

– Olha o que você fez com a garota!

Ele juntou as sobrancelhas.

– Eu não fiz nada!

– É claro que fez! Você apareceu do nada com essa fantasia natural de Monstro do Pântano! A menina não aguentou. Desmaiou aqui mesmo. - Falei, cerrando os punhos e apontando para ele.

– Estou fazendo muito cosplay ultimamente. Não gosto disso. - Ele passou a mão no queixo, intrigado. - Qual será o próximo cosplay? Tartaruga ninja? Deadpool? Chikorita? - Ele deu um risinho.

Essa última parte provavelmente era para ser engraçada, mas eu não entendi. Eu só fiquei confusa e intrigada. Por que ele quer fazer mais cosplay?, pensei. Ele é um otaku incubado?

Pedro percebeu minha confusão. Ele arqueou os cantos da boca.

– Esqueci que você nunca viu Pokémon. - Ele cruzou os braços. - Uma vez perguntei o que você via quando era menor. Você respondeu que via vídeo pornô.

Dei risada.

– Via mesmo. E de gays ainda. Tem mais saliência.

Ele deu uma gargalhada. É ótimo você estar com alguém que não é necessário pensar para falar ou fazer alguma coisa. Você pode simplesmente ser… Você mesmo. Acho que isso acontece entre nós dois. Pelo menos para mim.

Pedro passou por mim, ainda rindo, e pegou Liza com delicadeza. Ele a colocou sobre o ombro, e eu tive dó da coitada por estar deitada em um ombro duro e molhado. Você faria objeções?

Peguei a cesta dela e a acomodei no meu braço até então livre. Expliquei para Pedro sobre sua situação. Ele assentiu.

– Uhm… Entendo. Deveríamos levá-la de volta ao acampamento?

Fiz que não com a cabeça. Era a melhor escolha.

– Já está ficando tarde, e se caso nós levássemos ela, nossa chance de encontrar o ovo diminuirá drasticamente por conta do tempo.

Ele franziu os lábios.

– Hum, nerd.

Nerd. É isso que me chamam após eu fazer uma boa análise da situação. Cadê o meu bombom?

*

Ficamos caminhando lado a lado por alguns minutos. Liza estava mais para estou dormindo do que para estou desmaiada. Pedro não estava falando nada, e eu estava realmente desconfortável. Lembrei do momento do nosso beijo, e aquilo ficou vagando pela minha cabeça. Eu estava envergonhada, é, e esta a verdade.

Eu estou ficando muito mole ultimamente. Na realidade, eu me peguei sentindo saudades de Hércules. Ele é o único daquela casa que provavelmente estava sentindo saudades de mim também. Meu Deus. Em que nível eu cheguei?

– Megera. - Pedro quebrou o silêncio. - Você está avoada. No que está pensando?

– Uhm… Estou pensando em comida, como de costume. Sinto falta da Isadora. Ela sabe fazer um frango assado muito bom.

Ele assentiu. Era um tanto quanto estranho você conversar com alguém na nossa situação. Seria até romântico: andando pela floresta mais ou menos tenebrosa, o céu pintado de azul escuro lá em cima, com uma Lua bonita sorrindo para nós. É claro, senão fossem os detalhes: Pedro estava carregando uma garota desmaiada e estávamos falando sobre frango assado.

Ah, é claro: ele estava ensopo porque decidiu fazer cosplay do Monstro do Pântano. Acho que algumas pessoas preferem ele ao Alec Holland.

Pedro estava parcialmente tremendo. Sua camisa estava completamente colada ao corpo, e seus sapatos faziam um barulho engraçado por causa das algas. Seus pelos do braço estavam eriçados, e o cabelo estava uma bagunça e com um tom mais escuro.

Então, do nada, eu me lembrei de uma coisa. Eu estava com o feixe do sutiã aberto. Katrina… Nossa, vai dormir. Olhei para baixo.

Minhas bolas estavam dançando ali. Elas continuavam alegrinhas. Me xinguei no meu subconsciente até não der mais, coloquei as cestas no chão, saí da trilha e me embrenhei no meio das árvores. Pedro parou, assustado, no meio do caminho e ficou encarando o lugar onde eu fui me ajustar.

– Ei… - Ele começou. - Você está bem?

– Sim! - Falei, recolocando meus seios no lugar. - Só preciso reajustar minhas bolas. Sabe como é, né?

O ouvi dar um riso.

– Não, não sei. Boa-sorte, eu acho.

Dei um risinho e tateei novamente o feixe, dessa vez fechando meu sutiã por completo. Àquela altura eu já tinha esquecido do meu machucado, por isso não notei quando ele ardeu ao meu toque.

Pronto, sem malabarismos desnecessários.

Saí do meio do mato e encarei-o. Pedro abriu um sorriso e me olhou de forma suspeita enquanto eu pegava novamente as cestas.

– Reajustou o que tinha que ser reajustado?

Assenti.

– Ah-hã. Vamos logo.

Pelo meu senso de direção, suspeitei que estávamos indo para o oeste. Pedro dizia que estávamos indo para o sul.

– Como tem tanta certeza? - Perguntei, suspeita.

Ele apontou para um tronco quebrado ao meio num canto.

– Eu passei por aqui. Eu acho que sei onde está o último ovo. - Ele me olhou de forma estranha. - Caso nós dois o visualizemos, creio que será cada um por si.

Dei de ombros.

– Mas não está sendo agora?

Ele fez que não com a cabeça.

– Estamos numa trégua momentânea.

– Momentânea. - Repeti.

– Correto. - Enfatizou ele.

Então, Pedro fez algo estranho. Ele enganchou a cesta no seu cinto, e pegou a minha mão livre, já que eu estava segurando as duas cestas em um único antebraço. Sua mão estava gelada e macia. Só que uma onda de calor se espalhou pelo meu corpo, e eu me lembrei do nosso momento íntimo anterior novamente.

Engoli em seco e tentei tirar sua mão da minha, mas ele só entrelaçou nossos dedos. Eu não queria tocá-lo porque…

– Katrina. - Pedro começou.

– O quê? - Falei, seca.

Ele abriu um sorriso.

– Sua mão está quente.

É, é isso mesmo! Eu estou quente, e aí? Eu poderia enfrentar a coisa dessa forma, mas isso estava além da minha compreensão. Ou seja: que cu.

Pedro apertou mais os meus dedos. Uma gota de água escorreu pelo seu braço e foi parar na minha mão. Queria me livrar dele. Mas era impossível. Pedro é trezentas vezes mais forte que eu quando quer. Isso, quando ele quer.

– Olha… - Ele começou. - Isso seria extremamente romântico se eu não estivesse carregando uma garota desmaiada.

Comecei a dar risada. Ele tinha lido meus pensamentos.

– É, bem, sim. Mas você não faz parte do grupo dos “românticos”, sinto lhe dizer. - Cutuquei.

Ele se virou para me encarar.

– Você acha? Faço parte de qual grupo, então?

Eu não tinha parado para pensar sobre isso antes. O Pedro é extremamente controverso. Uma hora ele é de um jeito, outra hora ele é de outro. Não dá para colocá-lo em um grupo. Apenas no: estranhos-italianos-atrevidos. Provavelmente ele é o único do grupo inteiro.

Continuamos nossa caminhada. Já era de noite. Liza ainda estava desmaiada, e a mão de Pedro tinha esquentado bastante desde então. Eu estava com frio nos braços e nas pernas, e meu nariz começou a escorrer.

Eu estava - provavelmente - com gripe. Que maravilha. Você já me viu com gripe? Não, né. É porque eu tenho uma imunidade quase que perfeita. Quase, mesmo. Espirrei e limpei meu nariz com as costas da mão.

Pedro parou de repente, e olhei para ele. Liza começou a acordar e se espreguiçar. Provavelmente estava confortável no ombro dele. Pedro largou minha mão e deixou-a de pé no chão, e ela encarou tudo com os olhos foscos. Ela os esfregou com os dedos de maneira preguiçosa. Ela nos olhou, parecendo perdida.

– Acho que desmaiei. - Ela falou simplesmente. - Desculpem.

Dei de ombros e estiquei sua cesta.

– Pega.

Ela se assustou, mas não pegou a cesta.

– Hã… Não lembro de mais nada depois que vimos o… - Ela parou bruscamente de falar, parecendo horrorizada. - Aquele bicho enorme! Onde ele está?

Apontei para Pedro.

– O Pedro é o monstro. Agora pega logo essa cesta que eu não sou burro de carga.

Ela encarou Pedro, estupefata. Acho que isso não soou muito bem, porque eu vi seus olhos rolarem e ela cair, estatelada de novo no chão. Olhei para ele.

– A culpa é sua.

*

Caminhamos por mais alguns minutos - dessa vez sem o lance das mãos - e levei um susto quando chegamos perto de uma… Casa na árvore.

Ah, não. Estão de brincadeira com a minha cara.

– Quem faria uma casa na árvore no meio de uma floresta? - Perguntei, cética.

Ele deu de ombros.

– Sei lá. Mas iremos descobrir, e talvez achar o último ovo. Passei por ela antes de fazer cosplay natural.

Deixei as cestas no chão e fiz movimentos frenéticos com os braços e com a cabeça.

– Não, não, não e não. - Falei olhando aquilo. - Eu não entro aí nem ferrando. Vai que é uma casa de macumba ou outra coisa assim. Sai pra lá.

Pedro deu um riso e ignorou completamente minhas objeções. Ele colocou Liza sentada em um pé de árvore juntamente com sua cesta.

Ele passou por mim e agarrou a ponta da escada.

– Não é você que gosta de coisas sobrenaturais?

Assenti freneticamente. Eu adoro coisas de terror. Mas tinha uma coisa errada ali. Uma bola de golf no meu cérebro - o que sobrou do meu juízo - estava apitando. Ela gritava o mais alto possível: NÃO ENTRA AÍ! FOGE, SE MANDA, VAI EMBORA. MANDA PARA AS CADELA MAS VÁ EMBORA DAÍ!

Pois é, meu juízo tem alguns probleminhas mentais. Porém, quando ele grita - coisa que é rara de acontecer - é melhor eu ouvi-lo. Prefiro sair como um “Uh, amarelou!” do que com uma perna faltando e minhas tripas saindo para fora.

Expliquei essa situação para ele. Pedro franziu os lábios.

– É só uma casa. - Ele apontou para si. - Eu vou estar com você o tempo inteiro. Se algo acontecer, você grita.

É só uma casa, ele disse. Não vai acontecer nada com você, ele disse. Foi esse gênero de encorajamento que fez com que eu jogasse pela primeira vez o jogo do labirinto. Se você errar, a menina do exorcista aparece. Eu tinha sete anos. Agora, se eu jogar, lambo a cara dela.

O.k., talvez eu estivesse de fato exagerando. É apenas uma casa numa árvore em uma floresta. No meio do nada.

Talvez meu juízo estivesse errado.

Pedro balançou a escada, como se estivesse me chamando. Ele me olhou como se dissesse: vai, sobe.

Engoli em seco e andei até ele, logo, apertei o quarto pauzinho - isso não soou muito bem - da escada. Fitei Pedro, lançando-o um olhar fulminante.

– Se minha perna for arrancada por um morcego e eu morrer numa banheira de sangue sem minha cabeça, puxarei sua perna todas as noites. - Aproximei meu rosto do dele. - Farei você ter pesadelos comigo. Nunca te deixarei dormir.

Pedro também aproximou seu rosto do meu, tocando nossos narizes. Então, ele sussurrou:

– Se eu ver você nos meus sonhos, Katrina, isso definitivamente não será um pesadelo.

Pensei por um instante.

– Estarei vestida de zumbi. Arrancarei seu cérebro e comerei com miojo.

Ele deu um sorriso.

– Depois discutimos como você irá me comer. Por enquanto, vamos nos concentrar em achar esse ovo.

Ele botou o duplo sentido na frase de propósito. Ele gosta de destruir meus neurônios. Fiquei pensando até chegar na entrada da casa como seria comer o Pedro. Meu Deus. Não, espera, pensar em Deus nessas horas é feio.

Tentei pensar em coisas banais. O corpo de um adulto produz, em média, quatrocentos e trinta e dois trilhões de células por dia. E eu não sou uma porta.

Quando eu finalmente alcancei lá em cima, dei de cara com aquela casa medonha. A porta era uma tábua rústica cheia de cupins. As janelas estavam quebradas e quando eu pisei na madeira de suporte, ela rangeu.

Aquilo não era seguro. Engoli em seco e esperei o Pedro subir. Ele se apoiou na madeira de suporte e ficou de pé, na minha frente.

A árvore era grande, e os galhos eram bastante grossos. Mas eu ainda estava me sentindo insegura. Pedro agarrou aquela tábua e fez força para tirá-la das dobradiças enferrujadas.

Os músculos do seu braço se retesaram, e ele grunhiu alguma coisa. Levei um susto quando a tábua saiu de repente, quase fazendo-o cair. Se ele caísse de uma altura de seis metros - a que estamos agora - seria “tchau, Pedro. Para sempre”.

Não gostei desse pensamento.

Pedro jogou a tábua lá embaixo com violência.

Ele se apoiou no batente da porta e olhou lá dentro. Espiei por baixo de seu ombro. Estava tudo escuro. O vento arrepiava os pelinhos do meu braço, e ele entrava sorrateiramente pela janela.

Pedro entrou naquilo. O segui com passos receosos, e parei na entrada. A madeira rangia sob os meus pés, e não pude distinguir nada dentro daquela casa além da figura do italiano. Ele tateou algo na parede ao meu lado, e uma pequena lamparina se acendeu.

Agora eu pude ver o semblante sorridente dele. Pedro pegou a minha mão, e dessa vez eu o agradeci.

– Vem. - Ele me chamou.

Então, eu definitivamente entrei na casa do caralho.

*

“Eu vou matar você. Vou te estripar até não der mais, e arrancarei o coração desse menino que está com você. Sabe de uma coisa? Eu odiei seu cabelo. Arrancarei ele também.”

Era isso que aquela boneca de porcelana altamente macabra estava pensando, olhando para mim com aqueles olhos vidrados.

O dono da casa definitivamente tinha algum problema com alguém, porque olha. Ela já estava ficando consumida por cupins. Baratas faziam a festa num punhado de panquecas mofadas em cima de uma cadeira. A casa era pequena, mas cabia duas pessoas com folga.

A madeira do chão não estava em bom estado, por isso rangia feito louca sob nossos pés. Eu e Pedro estávamos procurando aquele ovo com dificuldade, mas eu parei por causa daquela boneca. Fiquei encarando-a, pensando em quanto ela queria me matar.

Pedro apareceu atrás de mim e ficou fitando a boneca também.

– Não toque nisso. - Ele falou. Seu tom estava sério.

Uma lesma saiu de dentro da boca dela.

Ahahahaha, claro, pode deixar.

Pedro começou a fuçar em algumas coisas que estavam do lado da boneca. Um jarro de flores murchas, uma meia, um copo cheio de uma coisa que eu deduzi que era chocolate quente.

Fui para o outro lado do cômodo, onde havia uma caixinha de jóias em cima de uma mesinha. Não, não abra. Deixa isso aí, vai embora, pega o Pedro e voa, mas vai embora, dizia a bolinha de golf dentro do meu cérebro. Mas eu não escutei o juízo.

Peguei aquela caixinha e a abri.

Aquilo foi a coisa mais terrível que eu já fiz.

Centenas de mariposas saltaram dali. Elas voaram na minha cara, e eu soltei um grito afobado.

Vi tudo em câmera lenta.

Dei vários passos para trás, ficando perto da janela. Meu pé esquerdo afundou na madeira frágil, que rangeu feito uma louca. Toda a madeira que estava em minha volta caiu, me levando junto. Minha perna esquerda raspou por inteira na beirada do chão, e eu gritei histericamente por conta das farpas que entraram na minha carne.

Fechei os olhos. Eu estava realmente caindo de uma altura terrível. Eu iria morrer. Eu iria quebrar o pescoço e morrer. Não tinha nenhum galho no caminho, ou seja, a batida seria direto no chão.

Crack!

Esse foi o som que me fez abrir os olhos com força. Eu fiquei muito assustada. Em parte porque algo viscoso estava escorrendo pelo meu braço. Algo transparente. E, em outra, porque Pedro estava me segurando pelo pulso.

Agarrei o braço dele com a mão livre e fiquei fitando-o, sem ar.

– Katrina… - Ele começou. - Respira.

Eu percebi que não estava respirando. Todo meu ar sumiu dos pulmões, e eu o soltei com um gemido afobado. Balancei minhas pernas, tentando achar um apoio para os pés.

Pedro apertou ainda mais fortemente meu pulso.

– Não se mexa. Você está fazendo com que seu peso aumente.

Percebi que ele me segurava pelo braço recém-quebrado. Na realidade, o braço dele não sarou completamente. Pedro estava segurando um peso de cinquenta… Ah, quem eu estou querendo enganar? Engordei cinco quilos esse mês, mas não espalha.

Eu ia morrer. Eu ia morrer e levar o Pedro junto. Não fiquei mais calma com isso, já que nossos caminhos serão muito diferentes. Eu vou para baixo, e ele irá para cima.

– Não me larga. - Falei, olhando para baixo.

Não estou com muita vontade de encontrar meu avô.

– Isso não passou pela minha cabeça. - Ele respondeu.

Agarrei ainda mais forte seu braço. O seu braço livre era responsável por não fazer ele cair. Ele estava agarrado numa perna de mesa.

– Calma. - Ele disse para mim.

Pedro começou a me erguer. Não sei que tipo de força sobrenatural brotou nele para que isso ocorra - eu não sou uma garota leve, como dito anteriormente; culpe as minhas bolas.

Mas ele não conseguiu. É, está na hora de fazer um regime básico. E eu não estava calma.

O meu corpo inteiro estava tremendo. Minha garganta ficou seca de repente, e percebi que Pedro estava suando. Ele largou o que estava segurando - a perna da mesa - e lançou a outra mão para baixo. Meu coração estava descompassado. Um suor frio escorria pela minha pele, e a minha vida estava - literalmente– em suas mãos. Se ele quisesse me matar, era só me soltar.

Já que meu pulso estava escorregadio - ainda não descobri o que raios era aquilo - eu deslizei para baixo. Dei um grito de puro pavor, e Pedro segurou a minha outra mão com força. Quando ele largou a minha mão viscosa, casquinhas cor-de-rosa caíram ao meu lado. Abri a boca, completamente pega de surpresa.

– Você… - Comecei, rouca. - O ovo…

– É. - Ele falou, como se tivesse lido minha mente.

Com o braço bom é outra história. Ele me puxou de supetão para cima, soltando um gemido rouco. Pedro, num movimento ágil, me pegou por baixo dos braços como se eu fosse uma boneca de pano maleável e me trouxe de novo para dentro daquele negócio que não era de Deus.

Ele se sentou no chão, parecendo perplexo, cansado e louco para me dar umas chacoalhadas. Eu desabei do seu lado. Nós dois estávamos idênticos de aparência. Suados, com os pelos dos braços eriçados, arfando e o cabelo bagunçado. Minha perna estava dormente, e quando eu a observei, vi-a inundada por farpas.

Eu queria gritar, chamar o Jason, fazê-lo derrubar essa casa a machadadas e matar com marteladas no rosto o dono disso.

Além do fato que: nossa visita foi completamente inútil.

Eu quase morri por nada, porque o bonito aqui do lado estourou o ovo no meu pulso. Olhei para ele.

– Você é um filho da mãe.

Pedro coçava o cabelo molhado, os olhos fechados e o peito fazendo movimentos rigorosos. Ele abriu os olhos e se virou para mim. Uma expressão de êxtase no rosto.

– Pode me xingar do que quiser. Eu não ligo. O mais importante é que você está bem.

Semicerrei os olhos e apontei para mim mesma.

– Pedro. Eu não estou bem. Eu quase morri duas vezes hoje. Duas vezes.– Enfatizei bem as últimas palavras. - Minha perna está sangrando e eu não estou a sentindo. Tem uma boneca macabra me encarando bem agora. Eu estou com fome, eu estou com frio, e eu não tenho o Chris Hemsworth sendo o meu caça-

Mas eu fui interrompida. Pedro me agarrou pelos ombros e me abraçou de um jeito que eu nunca fui abraçada antes.

Ele apertou a minha cabeça e as minhas costas, e eu fiquei espremida, com a boca apoiada em seu ombro.

– Não, Katrina. - Ele falou, afagando a minha cabeça. - Fui eu que quase morri duas vezes hoje.

Pedro cheirava a suor e algas. Mas isso não me incomodou nem um pouco. Arrisco dizer que até gostei. Apertei sua camiseta - já que minhas mãos ficaram prensadas entre meus seios e o peito dele -, e fechei os olhos.

Mesmo que uma boneca do mal estivesse nos encarando, mesmo que tivesse uma barata desfilando do nosso lado, mesmo que eu tivesse me esquecido completamente de Liza, eu não me importei.

Eu não me importei nem um pouco, para falar a verdade. A única coisa com o qual eu me importei era a certeza de que eu estava completamente segura, embrulhada naquele abraço quente que eu nunca havia experimentado antes.


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Notas finais do capítulo

Olá, onigiris *u*
Esqueci de falar para vocês, mas eu estou de fériaaaas o/ ~comemora
Agora sim eu posso escrever bastante ;)
Gente, agora vamos a uma perguntinha: vocês têm um livro preferido? Recentemente eu terminei de ler "Alma?" e eu fiquei viciada *¬*
Bom, é isso. Espero de coração que vocês tenham gostado,
Comentem Bastante!