Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 52
Árvores são Fabulosas


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :3
Antes de começarem a atirar em mim, quero dizer minhas razões u-u
Primeira: o computador NÃO é meu, então não posso ficar o horário que eu quiser mexendo nele. Sofri para arranjar um tempo para escrever o capítulo
Segundo: tive lição de casa, então tive que fazer.
E terceiro e menos importante: o capítulo era para sair hoje cedo, mas, eu estava assistindo "Ela é o cara", e eu amo/sou aquele filme. UHSAHUSUHAHUSAU Razões? Channing Tatum.
Não se conhecem? Lhes apresento, sem problemas:
http://media.tumblr.com/tumblr_maqrmlHLGg1qkdght.gif
Minha mãe ama ele, é.
Gente, eu não gostei desse capítulo ;-; Achei que ficou frouxo e sem ação, mas está aí.
Espero que gostem,
Boa Leitura ♥
PS: Tem uma "mensagem subliminar" nele, duvido vocês acharem, hehe. E, quando sacarem, vão levar na malícia, como sempre. -n UHSASHUSAHU
PSS: Um onigiri pediu com amor, então eu faço com amor u-u
Ela quis que eu "fizesse propaganda" da fic dela, então, aqui, leiam e pá:
http://fanfiction.com.br/historia/430312/Te_Odeio_Por_Te_Amar/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401604/chapter/52

Bom, só quero dizer que eu estou mais confusa do que camaleão em frente de um arco-íris.

“Ah, Katrina, você só tá fazendo draminha! Vira macho!”

Primeiro: o cara que arruinou a minha vida está sendo o meu guia;

Segundo: Pedro, um cara problema, está andando bem atrás de mim, e eu posso sentir seu olhar perfurar a minha pele;

Terceiro: Marcela, a desgraçada que está andando ao meu lado, está falando com o Jonas pelo telefone… Sobre “a relação sexual” que o desgraçado teve no ônibus;

Quarto: minha dor de cabeça está se alastrando para um nível colossal, e eu estou irritada.

E, como todos vocês sabem, quando eu estou irritada, eu posso simplesmente arrancar as bolas de Marcos com uma espátula. Se bem que não tem muita coisa para arrancar ali, mas tudo bem.

A realidade é que: eu estava torcendo, bem lá no fundo do meu coração, para que Pedro tirasse os olhos de Marcos e me desse para comer. Eu colocaria chantilly, chocolate e cerejinhas para ficar bonitinho.

Ficaria uma delícia.

Nós estávamos andando em um pedaço de estrada com pedras, onde as árvores eram abundantes. Elas requebravam e se balançavam, completamente débeis e entregues ao vento.

– Hum-hum… - Marcela assentiu ao meu lado. - E você fez o que depois? - Ela arregalou os olhos e sorriu. - Não brinca! Vocês estão namorando agora? - Ela ficou olhando para o céu e deu risada. - Isso não é fofo. - Ela estreitou os olhos. - Como assim, quebrou o seu coração? Ele fez você o quê? Meu Deus! Isso é sério?

Não aguentei.

Agarrei o telefone e o coloquei próximo a orelha, enquanto Marcela se assustava.

– Jonas… O que você está dizendo a Marcela? - Eu indaguei.

Um som de cachoeira emanava do aparelho. Era como se ele estivesse debaixo de uma queda d’água.

– Uhm… - Ele começou. - Minha experiência sexual com um garoto do time de basquete. Foi excelente, Katrina! - Ele gritou, animado.

Revirei os olhos.

– Não diga essas coisas a ela, idiota. - Eu praticamente grunhi. - Você sabe que ela é mais inocente do que uma pedra. Se você enfiar coisas desnecessárias na cabeça de bague dela, Marcela vai começar a espalhar palavras idiotas por aí. E a culpa vai cair em quem? Na Katrina, é claro. Porque todo mundo odeia a Katrina.

Ele riu. Jonas conversou alguma coisa com alguém, e um grito agudo surgiu.

– Já ouvi essa história antes. - Ele retomou. - Tudo bem, mas é só por ela que eu estou fazendo isso, hein. Porque você sabe que eu não daria um centavo por você. Katrina, meu amor, tenho que desligar! Bye!

E desligou. Joguei o telefone para Marcela, e ela o pegou assustada.

– Eu não sou inocente como uma pedra. - Ela resmungou enquanto guardava o aparelho no bolso de sua jaqueta.

Eu ia rebater, mas o grupo inteiro parou, então nós paramos também.

Marcos olhou para nós, depois sorriu e apontou para uma rua que parecia ser bem animada.

Quando eu digo “animada”, eu quero dizer: cheia de casas noturnas e bares… Gays.

Marcos pigarreou e todos prestaram atenção nele.

– Aqui… Nós temos uma árvore… Mas não é uma árvore comum. Ela é a nossa certeza de que as pessoas irão vir e visitar essa cidade. Um pinheiro vermelho. Elas são extremamente raras, e essa aqui está protegida pelas leis do país.

Até então, eu não tinha notado aquela planta. Quem notaria? Tem mais ou menos nove metros, tão vermelha quanto o meu cabelo e é mais linda do que eu.

Ninguém notaria.

Fiquei encarando a árvore, e eu tive a certeza que ela balançou, como se estivesse se exibindo, tentando dizer: olhem aqui, vadias, eu sambo na cara de todas vocês! Sou fabulosa!

Eu ri do meu pensamento idiota, fazendo com que a minha raiva murchasse por alguns instantes.

Uma lagarta laranja surgiu do meio do tronco, fazendo com que várias garotinhas gritassem, histéricas. Eu somente sorri e fiquei observando aquele pequeno animalzinho subindo lentamente o tronco, a procura de folhas secas para comer.

Imagina o estrago que seria se eu colocasse esse animalzinho dentro das calças de alguém, pensei.

Mas meus pensamentos foram varridos por uma onda de arrepios malignos - ruins - que me atingiram no estômago.

Me virei, pronta para encarar algo ruim, e eu acertei em cheio.

Marcos estava apoiado com o antebraço no tronco, me encarando com um sorriso horrível nos lábios, como se ele estivesse pronto para me estuprar de novo.

O gelei com o olhar, e voltei minha atenção para a lagarta.

– Olha… Eu não me lembrava que você tinha um sorriso tão bonito.

– Me dizem muito isso. - Eu resmunguei, sem olhá-lo.

Ouvi uma risadinha cínica vindo dele, e eu tomei uma decisão:

Mais uma frase idiota e… Ele vai levar uma voadora na cara.

– Uau, como você é cheia de si. - Ele falou, parecendo entediado. - Você era mais fofinha antes.

Estralei os dentes.

– Não me importo com o meu passado. Do mesmo jeito que eu não me importo com você. - Eu grunhi, agora fitando raivosamente a lagarta. - Sugiro que você saia de perto de mim antes que eu arranque o seu pescoço… - Olhei para ele e apontei para a minha boca. - Com os meus dentes.

Não duvide de mim. Faria mesmo.

Eu faria se ele não chegasse perto de mim e pegasse a minha mão.

Um relâmpago de pensamentos daquele dia se passou na minha mente, e eu gritei.

Ah, eu gritei.

Que beleza.

Eu gritei que nem uma menina assustada, aquelas de filmes de terror. Fiquei abrindo o berreiro, e todos nos olharam, perplexos.

Provavelmente encantados com o lindo tom agudo e penetrante que minha garganta tem.

Marcos me largou e fincou suas mãos em forma de concha nas orelhas, completamente cético e louco para sair correndo dali, com a minha voz penetrando sua pele.

Depois de alguns segundos, ele riu baixinho, enquanto eu me afastava.

– Uau. Belo timbre. - Ele disse enquanto fazia movimentos frenéticos com o dedo indicador no ouvido. - Ouvi por aí que você tem fama de ser fria. Não me lembro disso. Se você quiser passar o dia comigo, talvez volte a ser aquela garotinha sorridente e boba de antes.

Ah, eu queria chutá-lo. Eu queria tirar o sapato dele, o fazer o engolir e jogar a lagarta dentro de sua cueca, para ela devorar aquilo ali. Ah, eu queria dar um hadouken na cabeça dele. Na realidade, que queria fazer várias coisas com a cabeça dele.

Tipo arrancar ela fora.

Mas, todas as minhas perspetivas de “arrancamento de cabeças” foram jogadas no lixo quando eu comecei a ver tudo em câmera lenta.

Marcos ia dizer alguma coisa, mas sua boca entortou e ele arregalou os olhos. Não tive tempo para ver o que diabos era aquilo, mas alguém o acertou.

Bem na cara.

Sangue jorrou por todos os lados, - inclusive em mim - e eu fui obrigada a fechar os olhos.

O meu rosto e a minha camisa ficaram completamente molhados de sangue.

Depois de ouvir uma gritaria horrorosa, abri meus olhos devagar, e tive um treco, me jogando instintivamente para trás.

Pedro estava agachado, enquanto cutucava a testa de Marcos. O italiano tinha uma expressão estranha no rosto, mais especificamente, uma expressão divertida.

Era como se ele estivesse esperando para fazer aquilo há muito tempo. Escondia um "meio-sorriso" naqueles lábios fechados. Ele olhou para mim, e deu uma piscadela, como se dissesse: "De nada".

O nariz de Marcos sangrava muito, e provavelmente estava quebrado. Ele estava ficando inchado e vermelho. Pedro cutucava sua testa, como se esperasse ele acordar.

A professora chegou, completamente apavorada, junto com vários alunos e olhou feio para Pedro.

– O que pensa que está fazendo, Pedro? - Ela berrou.

Pedro olhou para ela, com um olhar de cachorro sem dono, e fingiu sua inocência jogando as mãos para cima.

– Eu quis matar uma mosca que estava em sua testa. Acabei acertando seu nariz, e no fim, a mosca fugiu. - Ele explicou, calmo.

Os alunos não se aguentaram, e uma gargalhada penetrou o silêncio.

Apertei o meu peito e o tronco da árvore ao meu lado.

Eu precisava de ar. Eu precisava de uma boa tequila. E eu precisava de um soco na cara.

Os meus batimentos cardíacos estavam descontrolados, e eu precisava respirar. Agora que a minha raiva havia passado, eu voltei a imaginar toda aquela cena em minha mente.

Imaginei seus toques brutos e sem amor nenhum em mim. Lembrei dos meus gritos e os tapas que eu lhe dava, e até mesmo da dor incondicional do meu coração naquela hora. Aquele foi o momento mais horrível que eu presenciei.

Me afastei três passos do local antes de pegarem na minha mão. Me virei, assustada, e vi Marcela tão apavorada quanto eu.

– Você está bem?! - Ela perguntou, balançando minha mão. - Olhe só o seu rosto! Todo sujo! - Marcela começou a vasculhar alguma coisa em seu bolso, e quando achou, o estendeu na direção das minhas bochechas. Me afastei por instinto. Ela sorriu. - Calma, gata assustada. É só um paninho para limpar essas manchas em seu rosto, não uma metralhadora.

Essa frase conseguiu tirar um sorriso de mim.

Olhei para os bares e espremi os olhos quando li em um cartaz vermelho:

Fast Kiss, tenha iguarias com bebidas alcoólicas!

Preços variados e baratos!

Gogoboys 24h por dia!

Entre, aproveite e tenha o respeito que você merece!

– Bar gay… - Resmunguei. - Com iguarias com tequila… Uhm…

Marcela me deu um chute.

– Não resmungue. Você parece uma velha. - Ela explicou, limpando minha testa. Ela sorriu quando guardou o paninho de estampa de vaca de volta no bolso. - Bem melhor agora.

Sorri e dei mais uma olhada no bar.

– Marcela… Fique com as minhas coisas. Vá aonde tem que ir e me espere, ou venha me buscar, não sei.

Ela piscou, confusa.

– Vai aonde?

Mordi o lábio.

– Vou dar uma volta para refrescar.

*

E, quando eu entrei naquele aposento, logo quis casar.

O lugar era enorme, e havia vários gays conversando, nada de “potarias”, como eu tinha imaginado. Um balcão com um barman estava disposto bem perto da entrada, com vários banquinhos vazios.

Me arrastei para um deles e me sentei ali, batucando no balcão, enquanto observava um cardápio solto.

O barman pigarreou e sorriu para mim.

– Está procurando uma parceira, boneca?

Assenti, ainda olhando para o cardápio.

– Já achei. A bebida, é claro.

Uma risada esganiçada surgiu de sua garganta, cobrindo o salão.

– Sua mãe sabe disso?

– Foi a minha mãe que me ofereceu o meu primeiro copo de vodka. - Expliquei, escolhendo com dificuldade entre: onigiris com tequila ou lasanha com vodka.

Ele riu novamente, dessa vez mais suave.

– Escolha os onigiris. São iguarias exóticas e muito saborosas. - Ele sorriu.

Assenti e bati com o cardápio no balcão.

– Então vai ser esses.

Fiquei observando o movimento no bar, e encarei minhas unhas por três minutos antes que ele volte com um prato.

No prato, haviam dois bolinhos branquinhos. Um garfo e um suco de uva estavam ali perto.

Espetei o bolinho e comi.

Aquilo era bom. Muito bom.

Devorei o primeiro bolinho em segundos, sentindo a tequila descer pela minha garganta.

Eu nem notei quando alguém se esparramou ao meu lado, virando as pernas para me fitar.

Ergui o olhar, mastigando, para encarar a pessoa.

Quase desmaiei.

Pedro estava ali, com o queixo apoiado na mão, me fitando. Ele sorriu ao ver a minha cara de perplexidade.

Achei você, ele fez com os lábios.

Engasguei e olhei o bolinho com cara de feliz na minha frente. Tudo, menos encará-lo.

– Katrina… - Ele começou, com a voz suave. - Você está me evitando.

– Não me diga. - Resmunguei.

– Isso dói. Dói muito, para ser sincero.

Tossi e olhei para cima, para ver a reação do barman. Ele estava sorrindo presunçosamente, enxugando copos com um pano imundo.

– Você… - Pedro pegou a minha franja e a jogou para trás. - Você pensa que eu ligo para o que aconteceu com você, não pensa? - Ele deu um suspiro. - Você nunca esteve tão enganada.

Peguei o copo de suco e tomei um gole, sentindo meu sangue esquentar.

– Katrina… Eu realmente não me importo de como você era. Eu só me importo de como você é. Hoje. Agora.

Eu não aguentei. Minhas pernas começaram a esquentar, e eu tive a certeza de que algumas pessoas nos encaravam. Espetei o bolinho restante e o enfiei na boca.

– Sabe… Nós temos que aproveitar os momentos bons do presente. Porque o passado não importa mais. E agora, o que eu quero aproveitar... - Ele passou o indicador no meu braço, fazendo uma linha imaginária. Arrepiei quando ele passou o dedo no meu pescoço, e apertou o meu queixo de leve. Ele puxou a minha cabeça delicadamente para olhá-lo, e Pedro ficou olhando fixamente para os meus olhos. Ele passou o polegar nos meus lábios, fazendo com que eu estremecesse. Logo depois, ele me soltou e colocou o polegar na boca, o lambendo. - É aproveitar um onigiri.

Dei um riso nervoso, ainda de boca cheia, e senti todo o meu corpo ficando mole. Fiquei mastigando com dificuldade aquele pedaço de massa gigante, enquanto Pedro ria, olhando fixamente para os meus lábios. Ele deu um suspiro e passou a mão na cabeça.

– E agora… Hã… Nós estamos bem? - Ele bateu de leve no balcão. - “Bem”, quer dizer: não me evite mais. Só que implicitamente. - Ele bateu a mão na testa. - Por que eu disse isso? - E começou a dar risadinhas.

Não me aguentei. Ri também, só que com o triplo de dificuldade, porque não é ele que está com uma massa colossal dentro da boca.

Depois que ele parou de rir e ficou me olhando, Pedro deu um salto do banquinho e plantou um beijo na minha bochecha.

– A gente se vê. - Ele sussurrou na minha orelha.

Uma onda gigante de calor fez com que a temperatura do meu corpo aumentasse um grau.

Abanei o ar com as mãos e - finalmente - engoli o bolinho de arroz. Encarei o barman, que olhava tudo com um sorriso nada discreto no rosto.

– Me dá uma tequila. - Eu lhe disse.

*

Olhei no relógio do bar.

Sete e meia da noite.

Mas eu não queria voltar para… Para… Na realidade, eu nem sei para aonde eu deveria voltar.

Fiquei conversando com o barman, que eu nem sei o nome ainda, e decidi ficar com ele para sempre.

Ou era isso, até que Marcela e Jonas aparecessem ao meu lado, com as caras mais carrancudas e bicos do tamanho de uma concha.

– Katrina… - Jonas começou. - Saiba que você é a garota da pior espécie.

Pisquei.

– Existe espécies de garotas? - Indaguei, olhando para eles.

– Os inspetores quase nos enforcaram por sua causa. - Marcela acrescentou, empurrando seu indicador na minha testa. - Se não fosse o Pedro, nós nunca a acharíamos!

Eles se sentaram de modo que eu ficasse no meio.

Jonas pediu um copo d’água e Marcela me fitou, parecendo triste.

– Marcos está na enfermaria. - Ela disse. - O nariz está quebrado.

– Eu não queria saber. - Eu falei, fazendo círculos no balcão com o indicador. - Mas… Já que você disse… Bem feito, trouxão. - Eu comemorei.

Jonas riu, bebericando o copo.

– Já decidimos onde dormiremos hoje. - Ele me informou.

Olhei para ele.

– Você vai dormir na barraca em que eu e Marcela estamos dormindo? - Indaguei.

Ele balançou a cabeça.

– Em situações normais, eu estaria proibido. Mas… Digamos que eu expliquei alguns detalhes para a professora.

Assenti.

– Tá. Onde vamos dormir?

– Nos campos. - Respondeu Marcela. - Eu que decidi. Porque vamos dormir sob as estrelas. - Ela suspirou. - Não é romântico?

– Não. - Eu e Jonas dissemos ao mesmo tempo. - Brega.

Ri e olhei para o meu prato.

– O Pedro veio falar comigo. - Confessei para os dois. Marcela e Jonas levaram um susto e se endireitaram no banco, me encarando, como se dissessem: tá, continua! - Ele… - Continuei. - Disse que não se importava com o meu passado.

Os dois deram um gritinho agudo.

Jonas bateu na mesa, completamente eufórico.

– Sabia! - Ele grunhiu, mordendo os lábios. - O Pedro é um pão, isso sim!

Ri, com a reação exagerada dos dois. Jonas colocou o copo na boca e olhou pelo canto do olho para mim.

– Sabe… - Ele colocou o copo sobre o balcão, fazendo teatrinho. - Tem um ponto positivo nessa sua história sobre… Ser estuprada.

Tossi.

– Ah, nossa. - Revirei os olhos. - Que ponto deve ser esse, hein?

Ele riu e fez círculos em volta do copo.

– Quando você e o Pedro transarem, ele não precisará ser gentil, afinal, você não é virgem, mesmo. - Ele disse, simplesmente.

Marcela abriu a boca, cética. Eu bati na minha testa e olhei para ele.

– Jonas… Para de falar merda. Obrigada.

Ele mexeu os ombros.

– É sério! Não estou dizendo abobrinhas. - Ele colocou a mão no peito, parecendo ofendido.

– Sim, está. - Eu e Marcela o cortamos.

Ele começou a resmungar, e eu balancei a cabeça levemente enquanto ria.

Ah, meu Deus. Esses dois ainda me matam.

*

Chegamos à mansão branca e um inspetor nos olhou por cima dos óculos.

– Ah… - Marcela pigarreou. - Sei que todos os alunos já foram se acomodar em seus pontos… Mas… Nós ainda estamos aqui, como você pode perceber. - Ela me deu um chute na canela.

O inspetor mascava um chiclete enquanto digitava algo em um laptop. Usava óculos grandes demais para sua cara e seu rosto era coberto por espinhas. Ele não nos olhou.

– Bem… - Ele disse. Sua voz era idêntica a minha, quando eu fiquei pequenininha. - Vocês perderam os jeeps. Vão ter que passar a noite aqui, mesmo.

Marcela bateu no balcão onde ele estava sentado.

– Você pode fazer algo a respeito, não pode? Somos apenas dois adolescentes inocentes pedindo para acampar! - Ela bateu no balcão novamente.

– Três, Marcela. Três. - Eu sussurrei.

Ela olhou, furiosa, para mim.

– Eu não contei você.

Ah. Claro. Obrigada, Marcela. Amo você.

O inspetor apenas olhou, cinicamente, para ela. Ele deu um suspiro pesado e apontou para o crachá.

– Eu sou o inspetor. Não você. É melhor você ficar quieta e se conformar que vocês perderam essa noite. Durmam nos quartos, crianças.

Eu já ia dar um soco na cara dele, mas Marcela pegou o celular.

Ela começou a teclar e colocou o telefone perto da orelha. Depois de algum tempo, ela sorriu.

– Papi? É a Marcela. Papai… Eu estou enfrentando sérios problemas aqui. O inspetor do acampamento não quer nos dar uma carona até nosso ponto. Sim… Ele foi extremamente grosseiro e superficial. Até Katrina se sentiu ofendida.

– Mentira! - Gritei.

Marcela me deu um chute na perna.

Depois de alguns segundos, ela desligou o telefone com uma cara cruel.

– Sugiro que você nos leve em seu carro. - Ela disse.

O inspetor olhou para ela.

– Não tenho carro, gracinha. - Ele disse.

Marcela sorriu macabramente.

– Sério? Eu pensei que o seu carro era aquele Gol G4, vermelho, com quinze multas por excesso de velocidade, com o limpador de para-brisa esquerdo danificado. - Ela olhou para a porta. - Que está estacionado atrás do ônibus três. E, que nesse instante, está prestes a ser depredado.

A bola que o garoto estava prestes a fazer com o chiclete murchou, e ele ficou fitando Marcela, cético.

– É melhor você nos dar uma carona. - Ela sorriu angelicalmente. - Ou talvez queira seu carro completamente destruído, gracinha.

Meu queixo foi parar lá no chão, e Jonas colocou sua mão sob o queixo, cético.

O garoto levantou da cadeira e correu lá para fora. Marcela riu que nem uma vilã de desenho e o seguiu de mala e cuia. Olhei para Jonas, que olhou para mim.

– Gente. - Nós dois dissemos.

Marcela parou na porta da mansão e girou para nos encarar.

– Vão ficar aí, plantas?

*

O campo que Marcela escolheu estava pouco habitado. Apenas umas barracas aqui, outras lá. Tinha uma enorme, cheio de garotos. É óbvio que Jonas se jogou no meu colo para observar os seis garotos sem camisa correrem para fora e brincarem, batendo um nos outros.

Arregalei os olhos quando vi que Pedro estava ali no meio, também, jogando água em todo mundo com uma garrafinha.

– Amém. - Ele disse, encarando a barraca enquanto ela se afastava.

O carro parou na margem de um lago gigante, e ele refletia a Lua, que estava fabulosa no céu.

Não havia nuvens, só astros.

Admito que saí boquiaberta do carro, olhando aquele teto imenso de estrelas. Cada uma mais brilhante do que outra, enquanto o vento batia de leve no meu coque aninhado e horrível.

Eu me senti em um filme.

Olhei no relógio de pulso de Jonas.

Oito e quinze.

Tinha bastante tempo para que nós - se lê o garoto do carro - montássemos a barraca, fizéssemos uma fogueira e comêssemos marshmallows - nunca comi, mas Marcela jura que é bom - enquanto eu contava estórias de terror.

Enquanto o garoto do carro montava a barraca, Jonas acendeu uma lanterna e apontou para uma mata ao nosso lado.

– Eu vou pegar uns galhos para a fogueira. - Ele sorriu. - Já volto.

E andou até a mata rebolando e se enfiou ali.

Ri e olhei as outras barracas, que estavam longe.

Apalpei o meu coque ridículo e olhei para a barraca exageradamente grande de Marcela, que o garoto lutava para poder montar.

Já que é Marcela, lhe dei um desconto.

Marcela abria um pacote de batatinhas, enquanto sua Coca respingava em cima de um tronco. Ela deu um gole na latinha e chacoalhou o pacote na minha direção.

– Quer?

– Não. - Respondi com um sorriso, olhando para a situação precária de seu cabelo. Estava cheio de folhas verdes e terra. - O seu cabelo está uma merda. - Eu ri.

Ela olhou para mim.

– Só porque tem um cabelo perfeito, não precisa esfregar essas coisas na minha cara. - Ela falou enquanto mastigava.

Olhei para o céu.

A Lua brilhava sombria, como se soubesse segredos de pessoas por aí. Pisquei, olhando as estrelas que pareciam me chamar.

Só se enxergava pontinhos luminosos, de fogueiras, e ouvia-se as cantigas mal cantadas de alunos com o tom de voz não perfeito - pelo menos não como o meu.

Me espreguicei e pensei em me trocar, mas eu não estava com vontade suficiente para andar.

Me joguei ali mesmo, no gramado, e apoiei minha cabeça no tronco.

Olhei a mata.

– Cadê o Jonas? - Perguntei.

Marcela se virou para encarar aquele matagal, e deu de ombros.

– Não sei. Mas não preocupa. Já, já ele aparece. O pior que pode acontecer é ele ser sequestrado pelo Tarzan. - Ela parou de falar e fitou o chão. - Ou não.

Ri histericamente e olhei para os pontinhos luminosos.

– O que será que estão fazendo? Uma… Fogueira gigante? Ah, falando nisso, viu o tanto de garotos que estavam aprontando mais para lá? - Gesticulei preguiçosamente em direção aos campos atrás de mim.

Ela assentiu.

– Estavam fazendo arte. - Ela piscou. - E que arte, hein.

Assenti.

– Que delícia, cara. - Brinquei.

Nós começamos a dar risada e o menino olhou para nós duas.

– Terminei de montar. - Ele gaguejou. - Posso ir agora?

Marcela olhou para ele.

– Sim. Obrigada pelos seus serviços.

Ele assentiu e entrou dentro do carro correndo. Deu marcha ré e foi embora a toda a velocidade.

Observei o lago atrás de mim. Ouvimos passos vindo da mata e olhamos. Jonas chegava, todo suado e cheio de galhos.

Ele jogou tudo no meio de nós duas e se sentou, todo acabado e ofegante, em um tronco.

– Senhor… - Ele sufocou, limpando a testa com a camisa.

Marcela sorriu e abriu sua mala, tirando um isqueiro de lá de dentro. Ela arrumou os gravetos com o pé e ateou fogo em tudo.

Uma chama vermelha incandescente irradiou dali. Ela fustigou o ar e começou a balançar, como se estivesse dançando. Os dois rostos ao meu lado ficaram sombrios, e eu sorri, imaginando a ótima oportunidade de contar historinhas de terror.

Marcela abriu um saco de marshmallows e jogou para nós três palitos de churrasco. Peguei um marshmallow e espetei ele ali, o colocando sobre o fogo.

Não demorou para que ele estivesse torradinho, e eu o enfiei na boca. Mastiguei, mastiguei, mastiguei e mastiguei, e nada daquela peste desgrudar do meu dente.

Sem a menor educação - como sempre - enfiei meu dedo dentro da minha boca e tirei o marshmallow grudado, e os olhares se voltaram para mim.

– Que é? - Perguntei.

– Isso é nojento. - Eles disseram.

Dei de ombros.

– Então não olhem.

Eu ia dizer mais alguma coisa, mas o céu ficou repentinamente mais claro, e um barulho horrível se deu.

Levantamos a cabeça em tempo de ver os fogos de artifício se estourarem no céu, e eu arregalei os olhos pela intensidade das cores.

Aquele seria um dos meus melhores passeios.

Ou não, dependendo do meu humor.

Mas eu não queria dar uma voadora em alguém.

Pelo menos, não por enquanto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, gente :3
Como perceberam, o capítulo está ruim. UHASHSUHUHUAHUSA ~chora no cantinho
Eu esperava que saísse mais sangue, mais pancadaria e umas tretas lá, mas irei deixar isso mais para frente, então, se contentem com isso, apenas u-u
Espero que vocês tenham gostado, me perdoem pela demora, mas acho que vocês me compreendem.
Comentem Bastante! ♥
PS: Dlayla, Akemi, WolfBlack, cadê vocês? Ç^Ç Estou com saudades de seus comentários!
PSS: E aí, acharam a "mensagem"? HSASHUHUSAHUSHUSU