Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 31
Não Sei Contar Histórias


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :3 Desculpa não ter postado ontem, minha bisa fez aniversário, então uma penca de gente veio aqui em casa Ç^Ç
Mas bem, espero que vocês gostem,
Boa Leitura ♥



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Se você pensa que a confusão ficou por isso mesmo – para a minha alegria –, não ficou.

Enquanto Pedro descansava ao meu lado, os outros integrantes do time estavam discutindo.

Foi aí que um baixinho do outro time invadiu a parte da nossa rede e deu um soco em um garoto.

Pedro assustou e tentou levantar, mas eu peguei seu braço e o sentei.

– Deixa, deixa, deixa, adoro ver uma treta. – Eu disse, animada.

Ele riu e se soltou de mim. Ele pegou a minha mão e a beijou de leve.

– Sei que gosta de ver uma intriga, mas se brigarmos perdemos o jogo. Desculpe.

Ele se levantou e correu até os meninos. Ele pegou o baixinho e o jogou de volta na sua área de rede.

Cruzei os braços e as pernas.

– Ham, logo na melhor parte ele separa. – Resmunguei. – Que saco, odeio esses meninos certinhos que separam as brigas. Eu prefiro os que começam elas.

Me deram um tapa na cabeça. Eu estava pronta para dar um soco na pessoa, mas era apenas Marcela.

– Não resmungue. Você parece uma velha.

Sorri.

– Mas eu sou uma. Sou uma bruxa.

– Todos nós sabemos.

*

No fim, ganhamos o jogo por um ponto.

Eu fiquei muito triste a arrasada, queria ver os meninos dessa escola com a cara no chão de tão desanimados. Mas eles apenas saíram animados e cheios de vivas da plateia.

Odeio felicidade alheia.

Enquanto Marcela babava junto com milhares de garotas nos moleques da maldita escola, eu cruzei os braços e vi os meninos da nossa escola sendo banhados por champanhe e água. Ri quando a garrafa soltou da mão do treinador e acertou a cabeça de um menino.

Eu estava tão distraída que nem percebi a presença de certo italiano ao meu lado. Quando o vi, levei um susto e coloquei minha mão no peito.

– Não faça isso. Por favor, alguém me ensine. – Eu disse, com o coração apertado.

Ele riu e colocou seu antebraço na parede.

– Katrina, tenho um presente para você. – Ele tirou da jaqueta um pacote grande.

O encarei e peguei desconfiada o pacote. Desembrulhei e quase joguei o presente no chão.

– “Como cuidar de uma cobra, vida e passado das víboras”. – Eu li o título do livro.

Ele riu.

– Gostou? Sabia que tem várias fotos suas aí?

– Ah, claro. Amei. Agora vem aqui que eu vou enfiar isso aqui na sua goela.

*

Marcela e Pedro me acompanharam na jornada até em casa. Eu fiquei andando em cima da linha da calçada, com tédio.

Eles estavam falando sobre parentes.

– Minha família é meio a meio. – Disse Marcela.

– Na minha a predominância são as mulheres. Por isso sei cozinhar razoavelmente bem e sei lidar com crianças. – Ele sorriu.

Os dois olharam para mim.

– A família da Katrina é só de mulheres. Só que ela não se dá ao trabalho de aprender a cozinhar. – Disse Marcela.

Levantei o olhar para a encarar.

– Qual a necessidade? Tenho a Isadora. – Dei de ombros.

– Sabia que você não vai ter a Isadora para sempre? No futuro como você irá se virar?

– Não gosto de pensar no futuro. Gosto de pensar no agora. Afinal, adianta muito você pensar num futuro distante e viver lá do que mover o que você tem em mãos agora. – Bufei.

Marcela assentiu.

– Você tem razão. Mas está na hora de aprender a cozinhar.

Revirei os olhos.

– Meu Deus, vocês são tão insistentes como cabras. Nunca vi.

*

Chegamos em casa e eu vi uma cena não muito normal. Mamãe estava limpando a casa e Isadora estava assistindo TV.

– Eita. Trocaram? – Marcela perguntou com um sorriso.

Elas nos olharam.

– Sua mãe perdeu uma aposta, Katrina. – Sorriu Isadora. – Quer saber qual é?

– Não.

Eu subi para o meu quarto e já fui tirando a camisa. A joguei em qualquer canto e vesti minha camisa do Jason. Tirei minha calça e vesti um short jeans preto.

Joguei-me na cama e virei de bruços, pronta para dormir.

Não consegui porque as vadias ficaram cantando lá em baixo. Então comecei a imaginar uma cena que estou pronta para realizar: arrancar a cabeça de certo italiano.

Por motivos ainda desconhecidos por mim, esse feito não aconteceu. Forcei, forcei, mas tudo que consegui foi ver o Jason. Nada mais.

You had my heart, at least for the most part… 'Cause everybody's gotta die sometime. We fell apart, let's make a new start… 'Cause everybody's gotta die sometime, yeah, yeah… But baby don't cry. – Eu cantei.

Empurraram a porta. Bufei.

– Estou tentando dormir, inferno. – Eu resmunguei.

– Katrina, tem um italiano super desesperado aí na porta. – Marcela disse. – Está querendo te ver.

Ri.

– Se ele está tão desesperado, fala para ele pular na frente de um trem. Dói, mas passa. Na realidade, ele nunca irá sentir outra dor novamente.

Ela riu e bateu na minha bunda.

– Só vai lá.

Eu me apoiei em minhas mãos e a encarei.

– O que ele quer?

– Não sei. Ele quer falar com você.

Bufei e desci a escada. Abri a porta e encarei Pedro.

– Não tenho pão velho, não.

Ele riu.

– Katrina, que alívio te ver.

– Não digo o mesmo. O que você quer?

– Katrina... Eu... – Seus ombros ficaram tensos. – Preciso que você banque a babá.

– Hahahaha... – Eu disse. – Não.

Já fui batendo a porta em sua cara e entrando em casa, mas Pedro me pegou pelo braço e me trouxe para perto de si.

– Por favor. Eu faço o que você quiser. Mas me ajuda.

Sua expressão era de cortar o coração. Mas como eu não tenho coração, eu somente dei de ombros.

– Problema é seu. – Repensei por alguns instantes. – Espera... Tudo o que eu quiser? Tudo mesmo?

Ele assentiu.

– É. Só que não faz maldade, não, tá? – Ele ficou sem jeito.

Eu ri feito uma bruxa.

– Se não tiver maldade no meio, não sou eu. Vamos ver o que você irá fazer... Ah, claro... Você irá para a escola vestido de coelho. Vai fazer minhas refeições, e terá que pagar sete reais para mim... Para cada criança.

Ele riu.

– Meu Deus... Sério, socorro.

*

Depois de entrarmos em um acordo sério de: ficarei até às dez horas com aqueles demônios, eu entrei num carro Palio cinza. Sentei-me ao lado do motorista, o cara possuído pela Whitney Houston. O encarei.

– Quem é você? – Eu perguntei.

– O tio-avô do Pedro. – Ele disse seriamente.

Assenti.

O carro deu uma guinada para frente e lá estava eu: indo de encontro com crianças. Acredite, essa junção:

Katrina Dias + Crianças

Não dá nada certo.

Depois de dez minutos rondando por aí, com “I Don't Wanna Talk About It”, tocando no carro, nós paramos em frente a um prédio com três andares.

Ele tinha uma pintura marrom clara e as janelas cheias de desenhos. Já me senti enojada.

Eu abri a porta do carro e Pedro correu na minha direção. Ele pegou meu braço e nós dois entramos naquele prédio.

Havia um corredor enorme, todo branco. Tinha uma escadaria que subia para a direita e para a esquerda. Nós começamos a subir a direita.

Quando chegamos ao andar superior, eu comecei a ouvir vozes. Andamos pelo corredor e entramos na sala quatorze. Quando Pedro abriu a porta, eu fiquei cho-ca-da.

Duas... Quatro... Dez... Quinze monstrinhos estavam brincando alegremente. Eles provavelmente tinham por volta de cinco anos. Olhei Pedro.

Ele cerrou o punho e colocou na boca, tossindo.

– Pois é, deixo isso aqui com você. Boa sorte. – Ele deu um tapa nas minhas costas.

Pedro disparou pela porta feito um raio.

– DESGRAÇADO! – Eu gritei.

Quando me virei para olhar as crianças, todas elas estavam paradas na minha frente, me encarando. Eu fui para trás, com o susto.

– Até vocês sabem se teletransportar. Sério, isso dá medo. – Eu coloquei minha mão no peito.

– A tia falou palavrão. – Disse uma menininha loira.

A encarei.

– Desgraçado?

Ela assentiu.

– Desgraçado não é um palavrão. Cu, porra, caralho e foda são palavrões. – Eu disse.

Eles botaram a mão na boca, horrorizados.

– A tia não pode falar palavrão, Papai do céu não gosta! – A menininha exclamou.

Lancei minhas mãos para a cintura.

– Papai do céu não gosta muito de mim, sacas? Irritar ele mais um pouquinho não faz mal.

Ela assentiu.

– Qual o nome da tia? – Um gordinho exclamou.

– Katrina. Mas me chamem de rainha.

Katina? – Todos eles perguntaram com cara de interrogação.

– Não, KaTRIna... Tipo CoBRA.

– Katina. – Eles disseram.

Bufei.

– Droga, odeio crianças. – Resmunguei.

*

Eu somente consegui memorizar dois nomes: David e Mônica, mas não sei quem são essas pestes.

Eu me sentei em um pufe amarelo e mofei ali. As crianças não paravam de correr e se bater. Não fiz nada, adoro ver coisas que eu odeio sendo machucadas.

Eu peguei uma folha que estava em cima de uma mesa.

Tarefas do dia.

08:00 – Acordar

12:00 – Almoçar

15:30 – Parquinho

17:00 – Lanche da tarde

20:00 – Janta

22:00 – Ir Dormir

Olhei no relógio. Três horas em ponto.

Duas meninas chegaram perto de mim e ficaram me olhando.

– Que foi, perderam alguma coisa aqui? – Eu disse.

– Tia... Conte alguma história para a gente?

– História? Tudo bem.

Bora contar a história da “Carrie, a estranha”, para elas. Vão adorar.

Arrumei-me no pufe para começar a contar, mas todas as crianças chegaram e se sentaram no tapete, animadas. Desanimei.

– Pode contar agora, tia. – Eles sorriram.

Torci os dedos.

– Bom...

“Em um reino muito, muito distante, havia uma princesa... Lésbica. Ela definitivamente se apaixonou por sua camareira, mas... O que os outros diriam dela? O que sua mãe faria?

Foram essas questões que a manteve infeliz. Um dia, sua mãe lhe disse:

– Filha, querida, seu pai e eu decidimos lhe casar. O príncipe do reino vizinho irá lhe visitar amanhã.

A princesa ficou desesperada. Ela não queria se casar com o príncipe. Ela queria a camareira. Mas ela ainda se importava com o que os outros iriam dizer.

No fim, ela escolheu se casar com o príncipe. Os dois viveram infelizes, afinal, não eram um para o outro. No final, ele apenas a largou e fugiu com a cozinheira.

Por quê?” Ela se perguntava. “Por que eu não agarrei minha felicidade?”

No fim, a princesa envelheceu e morreu sozinha.”

Moral da história: Não se importe com o que os outros irão dizer, agarre sua felicidade.

Eu acabei a história e encarei rostinhos assustados, outros com lágrimas nos olhos e alguns boquiabertos. Sorri, satisfeita.

– E aí, vamos para o bolo agora?

– Tia, você não sabe contar histórias! – Eles gritaram, indignados.

Ri.

– Claro que sei. Só que eu não gosto de melodramas. Gosto de realidade.

As meninas emburraram.

– Tia, ela poderia ter ficado com a camareira. – Disse uma menina.

– Não, isso não é normal. – Rebateu outra. – Deus fez o homem para a mulher.

Eu comecei a dar risada.

– Deixa os outros serem felizes do jeito deles, pouca sombra. Gente feliz não enche o saco e muito menos fica chorando no seu ombro.

Um menininho se sentou no meu colo.

– Tia... Tó. – Ele me entregou uma flor.

A observei.

– Está me dando uma flor para quê?

– Gostei de você.

Engoli em seco.

Amassei a flor e a joguei no chão.

– Não preciso de flores, toco. Agora sai do meu colo que você está deixando minhas pernas quentes. – Eu o empurrei e ele caiu no chão.

Levantei-me e fui até a porta. Olhei no relógio. Três e vinte e sete. Abri a porta.

– Vai aonde, tia? – Eles me perguntaram.

– Vou até a cozinha pegar uma faca de peixeiro para estripar todos vocês. Depois eu vou comer os seus cérebros com miojo! – Eu disse.

Elas gritaram, desesperadas. Todas elas começaram e se debater, tentando sair da sala. Quando a última saiu correndo pelo corredor, eu comecei a dar risada.

– Ai, ai, vou adorar empurrar algumas crianças de cara na lama. Principalmente os gordinhos.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente :3 Haha, a Katrina é malvada, cara HUSAUHSAUHSAHU *Não tenho nada para comentar sobre o capítulo Ç^Ç*
Espero que vocês tenham gostado,
Comentem bastante! ♥