Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 3
Vou Para O Quinto Dos Infernos


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :3
Esse capítulo veio rapidinho, não?
Então meus onigiris, que vocês gostem do capítulo *w*
Boa leitura ♥



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Eu tive um sonho maléfico.

Eu corria sem parar por um túnel, estava ofegante. Meu cabelo cor de ferrugem estava preso em um rabo-de-cavalo. Eu estava suada. O túnel nunca terminava. Então eu ouvi uma voz.

– Katrina, eu vou te pegar! – Eu olhei para trás e vi um donut gigante. Ele tinha a cara do senhor José. – E eu vou te comer!

Eu gritei desesperada, mas ele me pegou. Levantou-me sobre sua boca e me jogou. Eu pude sentir o hálito detestável e ver os dentes podres.

E então alguém me chacoalhou.

– Katrina... Katrina! Acorda menina!

Eu abri os olhos. Eu vi uma dançarina. Pelo menos eu acho que era uma, a julgar pelo arquinho com uma pena amarela grudada.

Sentei-me na cama e a fuzilei com o olhar.

– O que está fazendo no meu quarto?

– Precisamos que você prepare nosso café da manhã! – Ela exclamou feliz, batendo palmas.

E então eu me liguei. Eu precisava chutá-las de casa.

– Fora daqui! – Eu gritei para a dançarina na minha frente.

Ela arregalou os olhos.

– Você é insensível Katrina! Você não era assim antes!

– Não me importo de como eu era! Só quero que você coloque essa sua bunda fora da minha casa! Vai!

Eu a empurrei. Ela correu para fora do meu quarto.

Eu verifiquei minha perna. O curativo ainda estava ali. Não estava mais dolorido. Eu estava pronta para outra.

Fui até o corredor e abri a dispensa. Não tinha nada que eu podia usar para tirá-las daqui. Eu podia usar palavras, mas palavras não é um jeito Katrina de fazer as coisas. Preciso de algo que crie impacto... Eu li os nomes dos potes.

– Mel, açúcar, sopa de beterraba enlatada com peixe... – Eu peguei o pote. – O que diabos isso faz aqui? Não deveria estar na coleção de objetos mortais que podem te matar em dois segundos da mamãe? Eu ganhei isso quando eu tinha seis anos. – O coloquei de volta na dispensa. Nunca se sabe quando o apocalipse irá chegar. Precisamos matar os inimigos. – Pimenta, pó de mico, néctar, feijão enlatado... Espera... Pó de mico?

Eu sorri triunfante.

O que eu fiz, definitivamente foi a coisa mais legal do universo. Fiquei no penúltimo degrau da escada e abri o pote. Nenhuma das meninas sabia o que era, então estava bacana.

Uma delas ainda estava deitada de bruços no colchão, mexendo no celular. Ao seu lado, o meu pacote de batatas fritas. Eu me aproximei dela e fiz um “carinho” em suas costas.

– Katrina me fazendo uma massagem? – Ela sorriu. – Que milagre.

Eu sorri inocentemente

– O milagre você verá daqui a pouco.

Aconteceu. Segundos depois ela ficou maluca e começou a gritar. Jogou o celular longe e começou a tirar a roupa. Ela se esbarrou em várias meninas, que começaram a gritar também. Eu sentei no sofá e comecei a dar risada.

– Katrina, sua bruxa! – Gritaram elas.

– Obrigada! – Eu peguei o pacotinho de batata e as comi.

Uma por uma, elas saíram de casa. Então ficou somente eu, uma bagunça fabulosa e mamãe. Como eu não limparia aquilo, me arrumei para comprar o presente dela.

Coloquei uma saia preta com gotas de sangue nas bordas. Peguei minha camisa com o Freddy, que é imensamente linda se você gosta de coisas de terror. Tem sangue, uma garota horrível sendo esfaqueada e ele com um sorriso triunfante. Eu também ficaria com um sorriso triunfante se eu acabasse com uma garota horrível. Qualquer um faria isso.

Peguei meus dez reais e coloquei no bolso da saia. Saí de casa e me deparei com a provável melhor cena do dia: As dançarinas continuaram a se debater e entraram na nossa piscina. Eu não resisti. Cheguei onde elas estavam se divertindo.

– Olha, Katrina, demos um jeito!

– Verão passado essa piscina serviu de banheira para sete mendigos.

E então deixei algumas dançarinas aterrorizadas para trás. Isso obviamente era mentira. Foram dez mendigos. Mamãe ficou enlouquecida, mas eu não liguei. É legal ver dez mendigos pelados compartilhar um espaço de seis metros cheio d’água. Só sei que eu nunca limpei essa piscina desde então.

O mercado de tudo é realmente de tudo. Eles vendem pulmões por dez reais. Eu sei, isso é horrível! Como assim dez reais? Isso é muito caro.

Eu entrei no mercadinho. Seu José não estava atendendo. Quem estava atendendo era a filha dele, Letícia, que é milhões de vezes pior.

– Oi, Katrina. – Ela me cumprimentou.

Eu acenei com a cabeça. Sabe aquelas pessoas que não mastigam chiclete, mastigam super-bonder? Ela parece uma lhama fazendo isso. E o pior é que ela cospe em você para falar. Eu tenho vontade de pegar uma linguiça e enfiar na goela dela, para ela aprender a mastigar direito.

Eu fui à seção escolar para pegar papel, uma caneta bonita e um adesivo.

Só que eu esqueci que a seção escolar fica ao lado da porta-de-carnificina. Não estou brincando. Juro que atrás dessa porta de metal está um centro de matança e central da máfia. Eu já vi sangue escorrendo por baixo da porta e vários homens de preto entrando ali. Meus pelos da nuca arrepiaram. Eu daria tudo para descobrir o que tem ali.

Mas isso não importava no momento. Eu precisava escolher entre uma caneta azul ou vermelha. E tinha outro problema também: Adesivo de porco ou de abelha feliz?

No meio das dúvidas, levei a caneta verde e um adesivo de cachorro. Peguei também um guaxinim de pelúcia, porque guaxinins são espertos, ágeis e ladrões. A última qualidade me encanta.

Fui até o caixa e fiquei esperando atrás de uma velhinha. Seus cabelos estavam tão ralinhos e tão brancos que eu não resisti. Peguei uma mecha de seu cabelo e enrolei em meu dedo. O cabelo dela era fino e gelado. O enrolei para cima. Tirei meus dedos e dei risada. Ela ficou parecendo o Nino.

– Próximo! – Chamou Letícia.

A senhorinha andou vacilante e colocou uma bolacha-água-e-sal, um saquinho de café instantâneo e uma colher de inox no balcão.

Letícia pegou os produtos e passou naquela maquininha que eu nunca sei o nome.

– Deu onze e oitenta e cinco.

A velinha fez algo que eu definitivamente já esperava. Ela pegou sua bolsinha de couro marrom e despejou tudo no balcão. Todas as moedinhas eram de cinquenta, dez e cinco centavos. Depois ela tateou os bolsos, e de lá tirou mais moedinhas. Eu dei risada ao ver a cara de Letícia.

– O que diabos a senhora está fazendo? – Ela gritou. Uma gota de saliva voou na minha cara.

Tudo perdeu a graça.

A velhinha não se importou. Começou a contar as moedinhas.

– Cinquenta... Setenta... Setenta e cinco... Oh não, eu pulei um. Vou começar de novo.

O rosto de Letícia começou a ficar vermelho. Eu jurei pelo meu peixe morto, o Luís, que se ela gritasse e saliva voasse no meu rosto mais uma vez, eu iria espancá-la.

– Minha senhora, chega! Você nunca irá terminar de contar! – Ela gritou. Saliva espirrou na minha blusa. Eu senti que o Freddy ficou bolado.

Eu bati na mesa. Letícia levou um susto e arregalou os olhos.

– O que foi, Katrina? Irá defender essa velhinha, logo você?

– Não estou defendendo essa velhinha! Estou defendendo o meu Freddy! – Eu apontei para a minha blusa. – E olha que ele nem existe! Eu não vou discutir com você, Letícia. Por que você vai começar a latir, e eu não entenderei bulhufas. – Ela abriu a boca para protestar. – Cala a boca!

Ela se calou. Todos da vizinhança sabem que não se pode discutir comigo sem ao menos levar um chute nas bolas. Seja em cima ou em baixo. Não discrimino.

Eu olhei para a velhinha.

– Você também hein... Pela sua carinha, você é danada, não? Olha isso. – Eu apontei para as moedinhas. Ela piscou para mim. Eu sorri.

Depois disso, eu a ajudei a pagar a Letícia.

A senhorinha foi embora segurando uma sacola verde.

– Deu... Cinco e doze. – Letícia me informou quando passou meus produtos.

Eu dei o dinheiro a ela e peguei minhas coisas. E saí do mercado avoada, como se eu acabasse de levar um soco de um urso falante, que no caso, estava usando calças jeans.

Foi ai que eu levei um susto. Alguém me segurou no braço. Na hora eu pensei que era um assalto, então eu ia gritar “olha a polícia!”. Mas eu me virei e vi que era a mesma velhinha. Eu confundi o toque de uma velhinha de uns oitenta anos com um assaltante de vinte. Essa velhinha deve malhar.

– O que a senhora quer? – Perguntei.

– A sacola está pesada. Poderia me ajudar? – Perguntou docemente. Para mim ela estava sendo falsa para poder poupar seus braços.

– Não. Tenho pressa. – Eu respondi ríspida. Tentei me soltar dela, mas essa velhinha definitivamente malhava.

– Ah, mas você é tão bonita, tão jovem... E tão forte! Poderia me ajudar, não poderia? – Ela sorriu.

– Elogios não enchem minha barriga, senhora. – Eu peguei a sacola. Estava leve. Muito leve. – Mas vou lhe ajudar por que eu sou um anjo.

Não disse mentiras.

Ela sorriu.

– Pelo jeito, você está mais dura do que pau de tarado.

Fiquei boquiaberta. Só tinha uma certeza: gostei dessa dona. Ela se virou e andou devagar, como se ela não dissesse absolutamente nada. Corri para alcançá-la.

– Gostei dessa. Vou usar. – Me decidi.

– Sim, use.

*

E aquilo definitivamente não foi uma caminhada normal. Andar de São Paulo para Minas Gerais, isso seria normal comparada a nossa caminhada.

– Dona, a senhora é o diabo? – Perguntei.

Ela arregalou os olhos.

– Não, por quê?

– Porque a senhora mora no quinto dos infernos.

O lugar parecia Hiroshima e Nagasaki depois do bombardeamento. Era uma vila, um bairro ou, o que eu acho mais apropriado, um buraco com madeira. Não casas. Sabe aqueles cenários de filmes de terror: Tudo parece marrom e triste.

Ela deu uma risada estranha.

– Todos que vieram aqui disseram que esse lugar é bonito. Gostei de você.

– Então eles são cegos. Isso aqui é tão feio quanto encoxar avó no tanque.

Ela deu uma risada jovial.

– Aquela é a minha casa. – Ela apontou para um monte de... Barro. Várias madeiras estavam fincadas no chão. Fios vinham de um lado para outro, cobrindo o telhado. Acho que era o varal.

– Dona, a senhora é um álien? Está se acostumando com a civilização ou algo assim? Quer dominar o mundo?

– Não, minha querida. Quanto mais simples, melhor. Não acha?

– Hã... Não.

Ela sorriu e caminhou lentamente para a casa.

Eu a acompanhei. Por dentro era menos pior. Havia uma cama simples, um fogão, uma mesa e uma televisão de doze polegadas sobre um banquinho de madeira. A iluminação vinha de velas. Coloquei a sacola no chão de barro batido.

– Eu vou indo. – Me despedi.

Escorreguei na entradinha e cai sentada no chão. Meu sapato voou por cima da minha cabeça.

– Olha só, agora minha bunda está suja de lama. Vão achar que é outra coisa... Ótimo. – Xinguei baixinho.

– Agora eu tenho certeza, Katrina. – Ela colocou sua mão no meu ombro.

Eu me virei. Não me lembro de ter lhe dito meu nome.

– Tem certeza de quê? – Ignorei esse fato. Ela deve ter ouvido de Letícia.

– De que um coração gélido e áspero, um dia, já foi um coração quente e palpitante. E mesmo esse coração tão frio, ainda guarda uma chama dentro de si. Você é a minha maior prova, querida.

Eu engoli em seco. Senti algo dentro de mim borbulhar.

– A senhora está bêbada?


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Notas finais do capítulo

Oi *u* Então meus doces, gostaram do capítulo? Quem é essa senhorinha, hein? Ela me parece suspeita ò-ó Mas como todos sabem, as aparências enganam u-u Katrina está aqui para provar isso >.<
Espero que vocês tenham gostado ♥