Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 14
Conto Uma História


Notas iniciais do capítulo

Mas... Mas... Gemt Ç^Ç
Leiam e fiquem revoltados como eu fiquei,
Boa leitura, eu acho ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401604/chapter/14

Foi em dois mil e nove que eu conheci Kátia. Uma menina alegre, bonita e muito sincera.

  Ela era quase igual a mim, só que eu sempre fui meio contida em dizer as coisas.

  Acredite, eu era muito gentil e inocente. Eu era bonita, cobiçada e muito esportiva.

  Nós duas estávamos comendo nossos lanches na hora do intervalo quando um garoto da oitava série se sentou ao meu lado.

- Oi. – Ele cumprimentou.

- Oi. – Eu sorri.

- O pessoal da oitava está combinando de ir a um cinema hoje. Quer vir comigo?

- Hã... Já tenho planos, me desculpe. – Eu me senti desconfortável.

  Ele abriu um sorriso forçado e foi embora.

  Eu era conhecida naquela época por sempre recusar os pedidos de namoro dos rapazes. Não queria acabar que nem a minha mãe. Estuprada e tendo um filho na adolescência.

  Nós duas já havíamos nos separados quando senti meu celular vibrar.

  Tateei meu bolso e vi que era uma mensagem de texto de Kátia.

  Katrina, soube que um aluno vai entrar na nossa sala :3 Já até sei o nome dele, é Marcos Rocha, tem 13, só 1 ano mais velho q a gente. Eu queria t mandar essa mensagem prq me convidaram para ir no cinema hoje. Como vc não quis, eu aceitei :3 N fica brava comigo!

 Bjo!

  Eu revirei os olhos.

  Comecei a digitar.

  Claro que não irei ficar brava contigo. Não tenho o porquê disso, tenho? Bom cinema ♥

  Eu guardei o celular de volta no bolso.

  Cheguei em casa e vi minha mãe fazendo as unhas.

- Oi, mãe. – A cumprimentei.

  Ela levantou o rosto e sorriu.

- Bem vinda, filhota. Fiz bolo para você.

- Ah, muito obrigada. Não precisava, mesmo.

  E subi para o meu quarto. Abri o guarda-roupa e tirei meu vestido com flores cor-de-rosa.

  Desci e comi o bolo. Bom, e assim passou o meu dia. Nada anormal.

  Na manhã seguinte é que as coisas começaram a desabar para o meu lado.

  Eu entrei na sala de aula e vi o aluno novo.

  Logo eu senti algo no meu corpo. Ele era alto, com cabelos marrons e olhos azuis incríveis. Tinha um sorriso sacana.

  Eu tremi e segui para o meu lugar. Joguei minha bolsa no banco e me sentei. Quando eu me sentei, o novato me olhou.

  Ele sorriu e veio na minha direção. Ele se sentou na cadeira à minha frente.

- Oi, você vem sempre aqui? – Ele sorriu.

  Eu ri.

- Sim, e você, vem sempre aqui?

  Conversa vai, conversa vem, eu e Marcos ficamos amigos... E algo a mais.

  Nos tornamos inseparáveis. Era uma das melhores coisas estar com o Marcos. Ele era gentil, cavalheiro, educado, bom nos esportes e muito inteligente. Ele combinava inteiramente comigo. Cada pedacinho dele era igual ao meu.

   Eu estava muito mais do que apaixonada. Chegava a ser idiota e débil o que eu sentia por ele.

  Estava combinado que no final de semana ele viria me buscar para passearmos no parque de diversões. Eu estava tão animada que não conseguia escolher minhas roupas. Tive que pedir ajuda para minha mãe.

  Ela entrou no quarto e passou a mão na blusa de seda cor-de-rosa que eu tinha. Ela a colocou na cama e buscou minha calça jeans preta. Coloquei também uma sapatilha preta.

  Depois que me arrumei, eu ouvi a campainha. Olhei para mamãe.

- Ele chegou. – Eu disse animada.

  Ela assentiu e correu lá para baixo.

  Eu fui ao banheiro e vi se estava mesmo nos trinques. Arrumei meu cabelo e desci as escadas depressa.

  Marcos estava com de jeans, uma camisa branca e botas. Ele sorriu quando me viu.

- Oi. – Eu disse.

- Oi.

  Eu parei no segundo degrau da escada, para poder alcançá-lo.

  Ele olhou para a minha blusa.

- Sabia que você fica um doce quando está de rosa? – Ele passou as mãos na alça.

- Obrigada. – Eu murmurei.

 Nós saímos de casa e chegamos ao parque.

  Eu não me divertia daquele jeito a décadas. Parecia que eu fui totalmente renovada.

  Quando andamos na montanha-russa, eu me agarrei em seu braço e fechei os olhos.

- Tudo bem, Katrina. – Ele me disse. – Eu estou aqui.

  Eu me senti confortável. O problema de se amar demais, é que você pensa que pode fazer qualquer coisa se aquela pessoa te apoiar. Mas não se sabe se ela pensa assim em relação a você.

  Eu consegui abrir meus olhos. Já estávamos quase perto do chão, então eu consegui me segurar a gritar.

  Nós saímos da montanha-russa e fomos a todos os brinquedos do parque. Já eram sete horas passadas e eu fiquei preocupada.

- Vamos embora agora, Marcos. Está tarde. – Eu lhe disse.

  Ele olhou em seu relógio.

- Tem razão. Quer vir a minha casa, Katrina? Você pode passar a noite lá. A gente faz pipoca e assisti a um filme.

  Eu, ingênua e idiota aceitei.

  Suas palavras eram aveludadas e macias, então não machucava. Mas no fundo, eu sabia que são essas palavras que mais machucam.

  Eu liguei para minha mãe, e ela aceitou normalmente.

  Nós fomos para sua casa e eu me joguei em seu sofá. Liguei a TV e me encolhi.

  Marcos se sentou ao meu lado.

- Katrina... Você não quer fazer algo mais divertido do que assistir a um filme? – Ele me perguntou.

  Eu me sentei.

- Como o que?

- Podemos fazer aquilo. – Ele passou a mão em minha perna.

- O que? É claro que não! Eu sou virgem! – Eu me levantei e tentei ir embora.

  Marcos me agarrou e me jogou no sofá novamente.

- Eu sei. – Ele sorriu. – Vamos, vai ser legal. – Ele se aproximou de mim.

- Não! Eu não quero!

  Mas quem disse que palavras eram importantes naquele momento?

  Sim, eu fui estuprada. Aquilo foi a coisa mais horrível que eu já vivi. Parecia que as mãos de Marcos eram feitas de gelo, entrando e apertando minha pele. Depois que ele acabou aquilo, eu fiquei me perguntando se a vida valia a pena.

  Sentei-me no sofá e abracei minhas pernas. Eu estava tremendo. Precisava de minha mãe. Mas não tinha coragem nem para me mover. Doía... Meu peito ardia feito fogo. Eu olhei para o lado.

  Ele estava esparramado no sofá como se nada tivesse acontecido. Estava assistindo o futebol e gritava com a televisão. Isso só serviu para mostrar o quanto eu valia para ele: nada mais do que um pedaço de lixo.

  Ainda, para destruir minha alma, ele me pegou nos braços e me colocou no carro do seu pai. Ele me levou até em casa e me desejou “bons sonhos”.

  Eu não sei se tremia de fúria, de tristeza ou de puro ódio. Só sei que nenhuma lágrima eu derramei. Ele definitivamente não merecia minhas lágrimas. Não iria chorar por ele.

  Naquele exato momento. Eu me transformei em metade do que eu sou hoje.

  Entrei em casa e encarei minha mãe. Ela se assustou e passou a mão no meu rosto.

- O que aconteceu, meu amor?

- Mãe... Estamos quites agora. Eu acabei de ser... De ser abusada. – Eu admiti.

  Seus olhos se arregalaram. Ela começou a gaguejar.

  Apertei sua mão.

- Não se preocupe, mamãe. – Eu beijei sua mão. – Meu coração foi mutilado, eu sei. Mas eu não vou me entregar tão fácil. Não vou desistir. Ainda tenho você e Kátia.

  Eu a abracei.

  Ficamos ali por um longo tempo. Eu pude sentir suas lágrimas quentes no meu pescoço, mas não comentei nada.

*

  Quando foi de manhã, eu recebi a notícia mais triste da minha vida.

  Eu estava passando pelo corredor quando ouvi alguns meninos gritando meu nome e o nome de Marcos. Cheguei perto deles e perguntei do que eles estavam falando. Ficaram sem graça.

- Ah, desculpa, Katrina. É que você é tão séria. Apostamos com o Marcos que se ele conseguisse te conquistar, ele ganhava cinquenta reais. – Um deles me informou.

  O meu corpo valia cinquenta reais. Meu coração tinha um valor.

  Eu fiquei sem chão.

  Meu cérebro pifou completamente. Fui até Kátia na quadra e me sentei ao seu lado.

  Ela abriu um sorriso quando me viu.

- Aconteceu alguma coisa, querida? – E passou a mão no meu ombro.

- Posso te contar algo? – Eu perguntei.

- Já perguntou, mas deixo fazer outra.

- Você irá me apoiar? – Eu perguntei, esperançosa.

- É claro que sim, pergunte. – Ela sorriu.

- Eu fui estuprada. – Eu disse sem rodeios.

  Kátia ficou branca. Tirou sua mão de mim e se levantou.

- Não me toque. – Ela disse.

  Eu comecei a chorar.

- Não faça isso comigo... Não me abandone... Eu preciso de você. – Eu me levantei e segurei seu braço.

  Ela fez um grunhido e me empurrou. Limpou seu braço como se eu tivesse uma doença contagiosa.

- Não me toque! Você é nojenta, Katrina! – E saiu correndo.

  Eu comecei a gritar. As lágrimas jorravam e jorravam.

  Eu me ajoelhei no chão e toquei minha testa nele. Eu estava completamente machucada.

  Meu coração, minha alma, meus sentimentos... E até o meu corpo. Todos esses estavam mutilados, como se não importassem para ninguém. E de fato, ninguém se importa.

*

  Eu fiquei uma semana sem ir para a escola. Minha mãe chamou um psicólogo para mim, que ajudou bastante. Mas encarar os dois de novo... Faltava-me coragem.

- Katrina... – Doutor Fábio pegou minha mão. – Você tem que ser forte agora. Eu sei que é difícil. Mas você é uma menina forte, determinada que irá encarar tudo isso de frente.

  Eu chacoalhei a cabeça.

- Não precisa dizer algo que eu já sei, doutor. Vou ir para a escola e esfregar na cara dos dois que eu estou bem. – Eu decidi.

  Ele sorriu e deu um peteleco na minha cabeça.

- Eu gosto de gente como você, Katrina. É bom que você esteja falando a verdade. Não se preocupe, minha querida. O futuro que te aguarda é grandioso. Você irá superar isso.

  Bom, e de fato eu superei.

  Quando eu cheguei à escola no outro dia, os dois haviam partido. Também descobri que eles namoravam em segredo e haviam me traído o tempo inteiro. Eu me senti tão mal, mas tão mal que eu não aguentei.

  Eu peguei todas as coisas cor-de-rosa do meu guarda-roupa e as coloquei em um latão. O meu celular, todas as minhas fotos e álbuns, até minhas cobertas. As coloquei no latão. Ateei fogo em tudo.

  Mamãe saiu de casa desesperada e me agarrou pelo braço.

- O que você fez, menina?

- Nada, mãe. Somente colocando minha vida em ordem.

  Bem, e assim eu virei a Katrina que todos nós conhecemos.

  Terminei a minha história e fiz um “tchanam” para Marcela, que já deixara a boca cair a muito tempo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fiquei pasma. Choquei .-.
Katrina, eu te amo. Faria a mesma coisa, flw.
E vocês, o que vocês fariam no lugar dela?
Comentem bastante u-u