Eu fui para casa de passos largos e rápidos. Entrei em casa e vi Isadora brincando com Camila no sofá.

  Quando Camila me viu, abriu um sorriso e veio na minha direção.

- Katina, eu fiz um barquinho. – Ela se esticou e mostrou um barquinho feito de papel.

- Nossa, que legal. – Eu me desviei dela e subi as escadas correndo.

  De relance, eu vi o relógio. Já eram 16h45min da tarde. Por quanto tempo eu havia ficado na casa de Pedro?

  Entrei no meu quarto e levei um soco.

  Marcela colocou um colchão que veio de Nárnia no chão, bem ao lado da minha cama. Em cima do meu criado mudo havia umas coisas cheias de coraçõezinhos cor-de-rosa e roxo. No teto, havia adesivos de corações amarelos, que serviam de luzinhas.

  Eu pude sentir uma aura-negra sob os meus pés.

- Marcela, você é idiota?! – Eu berrei.

  Ela se virou assustada para mim. Marcela estava pegando alguma coisa de uma mala preta enorme.

  Ela fez um som estranho, tipo um cachorro sendo sacrificado.

- Não ficou fofo? Só achei que estava tudo muito simples e... Preto. – Ela disse isso como se acabasse de resolver todos os meus problemas.

  Eu só não enfiei minha lanterna em seu nariz porque eu tinha assuntos mais pendentes e mais importantes.

- Preciso que você saia, Marcela. – Eu abri a porta e apontei para ela.

  Ela juntou as sobrancelhas.

- Por que, Katrina?

  Eu me movi de um pé para o outro, desconfortável.

- Porque sim. Agora vá.

  Ela se levantou e me encarou por alguns segundos.

- Eu estou aqui, se você quiser desabafar. Eu sou sua amiga, Katrina.

  E passou por mim.

  Eu fechei a porta e caminhei até meu guarda-roupa. O abri e peguei minhas camisetas do Jason e do Freddy. Os coloquei em cima da minha cama.

- Vocês dois acham que é normal eu sentir... Eu sentir um calor nas pernas? – Eu sussurrei para eles.

  Minha porta se escancarou e por extinto, eu peguei meu pente. Tirei as cerdas e apareceu uma lâmina. Esse foi um presente da minha tia.

   Marcela apareceu dando risadas, e quando olhou o pente, fingiu surpresa.

  Ela deu alguns pulinhos histéricos.

- Sabia que você estava estranha. Decidi xeretar. – Ela enrolou os cabelos. – Quer dizer que você sentiu um calor nas pernas?

  Eu coloquei as cerdas novamente e joguei o pente azul na cabeceira.

- É. Devia ser... Hã... Não sei. – Eu chacoalhei as mãos.

  Marcela começou a dar risadas e se jogou no colchão.

- Isso acontece quando você está perto de alguém tão intenso, mas tão intenso que ele é capaz de te controlar. – Ela ficou de bruços e pegou um lenço da mala.

  Eu senti um arrepio.

- Marcela, se eu te falar uma coisa... Você promete não contar a ninguém?

  Ela se virou rapidamente e se sentou no colchão.

- Seu passado? – Ela perguntou, com os olhinhos brilhosos.

  Eu me senti desconfortável. Sentei-me na cama.

- Pra quê quer saber tanto do meu passado? – Belisquei um pelinho do edredom.

- É que... Eu quero saber tudo de você, Katrina. Você foi a primeira pessoa que me... Que me aturou antes de saber que eu era rica. As pessoas vivem me tratando bem com as intenções de ganhar algo em troca depois. Você não. Para você, não interessa se é rico ou pobre... – Atirei um boneco na cara dela.

- É, eu odeio todo mundo do mesmo jeito. – Respondi.

  Ela ficou sem graça e apertou o boneco.

- É... Por isso... Eu quero que você goste de mim. Prometo te apoiar sempre. – Ela sorriu.

  Eu estremeci.

- Não sei se devo confiar em você.

- Katrina... Por que não tenta? Tenho certeza que seu passado não é tão terrível assim. – Ela deu uma risadinha. – Pode confiar em mim. Somos irmãs agora.

- Não... Não somos.

  Eu me levantei e andei de um lado para o outro. Fiquei pensando se devesse mesmo contar a ela.

  A encarei.

- Não me interrompa, não comente, não fale. Só fique quieta e ouça tudo. Se abrir a boca, você está fora dessa casa. – Eu fiquei séria.

  Ela se ajeitou no colchão e assentiu.

- Vou te contar meu passado. – Decidi.