Canção De Ninar escrita por Ayzu LK


Capítulo 3
Capítulo 2 - O violinista.


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo chegando!!
Agradeço os comentários, espero dicas (adoro), e acompanhem. ^-^



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No dia seguinte Sasuke foi liberado. Enquanto seu irmão cuidava de sua ficha da recepção, estava sentado no quarto olhando pela grande janela de vidro. Reparou no balanço solitário lá fora, no meio do pátio. Mas haviam algumas coisas diferentes de que lembrava, e a ala próxima ao parque estava em reforma. Olhou para o lugar e lembrou de novo do menino.

— É a ala infantil de oncologia. Eles têm um parque para as crianças. 
Levou um susto com a voz. Era o mesmo médico de ontem que entrava no quarto. Sasuke o ignorou. O homem não se importou. Seu irmão entrava no quarto também. 

— Olá Dr. Kabuto! – sorriu simpático. –Vamos Sasuke, o que está olhando aí?

O irmão foi até a janela curioso: - Estão reformando?

— Houve um acidente há três meses. A tubulação de gás, e a ala inteira incendiou. Foi uma coisa triste. – Kabuto respondeu. Ele não parecia triste, foi o que Sasuke pensou.

— Isso é... – Itachi olhou assustado. – Muitas pessoas morreram? 
— Alguém conseguiu remover quase todas as crianças, mas sim, houveram algumas mortes.

— Entendo.

Sasuke ficou olhando para o novo prédio. Haviam marcas do incêndio ali ainda, mas o parque parecia intacto, como ele lembrava. 
Quando saíram ele deu mais uma olhada fixa pela janela do carro.

O irmão mais velho reparou no menor:

— É horrível, não é? Fizeram um memorial para as vítimas, talvez devêssemos ir lá olhar um dia desses.

—Hum. – respondeu simplesmente, colocou os fones de ouvido e deixou o silêncio cair.

Os irmãos Uchiha estavam morando em um apartamento que ficava perto da escola onde Sasuke estudaria, e perto do trabalho de Itachi.

Itachi era formado em psicologia, e recebera um convite de seu melhor amigo, Shisui, para dividirem o trabalho em uma clínica. Além disso o Uchiha mais velho iria trabalhar no hospital, segundo ele, o mesmo de onde acabavam de sair.

Até Itachi se formar, moravam com o tio, Madara, mas agora que ganharia seu próprio salário o moreno fizera questão de morar sozinho com o irmão e sustenta-lo, até que Sasuke pudesse se virar sozinho.

O lugar onde morariam não era exatamente grande, mas era habitável. E Sasuke teria um quarto só para si, o que para ele já estava muito bom. 
Quando chegaram Sasuke foi repousar, e quando deu o horário de trabalho do irmão, recebeu tantas recomendações que estava para expulsá-lo.

— Não esqueça de me ligar se sentir qualquer coisa ouviu Sasuke?

—Hum.

— Seus remédios estão na mesa, já pedi para a farmácia trazer.

—Hum.

— Se for sair de casa, tome cuidado, Konoha não é mais uma cidade pequena.

— Hum.

— E Sasuke? – o outro virou no instante em que abria a porta. – Só tome cuidado tudo bem?

—Uhum.

Itachi riu do irmão e saiu. Sabia que podia ser protetor demais, mas aquele garoto era um ímã para acidentes horrível. Sasuke achava que já sabia fazer tudo direito, e não tomava cuidado com nada. Mas no fundo, era um bom menino. Só precisava expressar mais o que sentia. Ele nunca falava nada. Tinha que interpretar “hum e uhum”. Sorriu para si mesmo e ganhou as ruas frias.

.........

A canção não saia da sua cabeça desde que a ouvira do hospital.

Quando entardeceu, perdeu a paciência de ficar de molho e sem conseguir focar atenção em nada e foi dar uma volta em seu novo bairro.

O corpo ainda reclamava. Mancava um pouco, mas era teimoso demais para obedecer ao irmão e ficar em casa.

Passou pelas calçadas úmidas da chuva recente e viu que o sol do entardecer banhava as calçadas. Era um lugar bonito, apesar de tudo. Passou por cafeterias e lojas que nunca vira antes, tudo muito mudado. Quando a perna começou a incomodar muito parou em um café ao ar livre, com mesas na calçada em estilo francês.

Uma garota de estranho cabelo rosado veio lhe atender e lhe lançou um sorriso simpático. Até demais. Sasuke era um rapaz bonito, o bastante para ter esse tipo de atenção, mas o seu jeito fechado atraia e repelia ao mesmo tempo. Ele possuía uma muralha para expressar sentimentos desde criança, e quando os pais morreram, foi pior ainda. Ele desconfiava que o único que poderia conviver com ele era mesmo Itachi, que por ser psicólogo, entendia a dificuldade do irmão.

A menina sorriu timidamente e ele pediu um café puro sem nem olhar direito para a garota. Era bonita, percebera, mas ainda assim...

Tomou um gole de café e olhou o entardecer.

A rua descia em uma ladeira gigante, e no fim se via um parque e um lago. Estava assim, olhando sua nova velha cidade quando ouviu a música pela segunda vez.

Era diferente.

A melodia parecia ser incrementada com algum instrumento de corda. Um violino? Por um instante pensou se estaria louco, mas ao olhar ao redor notou que o som vinha de uma pequena loja, espremida entre dois prédios. Parecia um lugar antigo, de arquitetura que diferia de tudo ao redor.

—A loja de instrumentos do Sr. Bee.

O som da voz da garota chamou sua atenção.

Ela estava de pé ao lado da sua mesa, olhando para a loja com um pequeno sorriso.

— Esse som... – falou mais para si mesmo. A garota estranhamente estremeceu por um momento e o encarou com a testa franzida.

— Você está ouvindo?

— Claro. – falou com rispidez. – Não sou surdo.

A menina corou e ele se arrependeu um pouco: - Tem razão.

Sasuke tomou o café e pagou. A menina acenou e ele mal respondeu. Foi até a loja e abriu a porta, ouvindo um som de sinos. Ainda podia ouvir o violino tocando, e se preparava para seguir o som quando um velho moreno apareceu:

— Yo!

Sasuke deu um pulo assustado e o homem riu. Usava óculos escuros redondos estilo John Lennon e estava sentado do outro lado do balcão com um violão na perna.

—Bem-vindo a loja de instrumentos Tio polvo meu irmão. O que desejar, vem com fé que ta na mão.

Ok. Ele era estranho. E Tio Polvo?

O homem sorriu e ele percebeu que o encarava. O som do violino havia parado. 
— Quem estava tocando violino ainda há pouco? – perguntou de supetão. O homem coçou a cabeça, colocou o violão de lado e ficou encarando Sasuke por um tempo.

Aquilo deixou o menino desconfortável, pensou se o homem era louco e se não era melhor sair da loja antes que as portas de trancassem ou algo do tipo. Mas o homem ao cabo de instantes apenas riu e pegou o violão de novo.

— Esse som que você diz “eu escuto”, quem está fazendo é meu amigo Naruto. – O homem falou e continuou a afinar o violão o ignorando.

Naruto! Então era ele mesmo.

— Eu posso entrar para olhar... – perguntou hesitante.

— A vontade, amizade.

Revirou os olhos e entrou por uma cortina lateral. Para loja de instrumentos, parecia mais um antiquário. Viu um piano de canto antigo, violões e outros instrumentos pendurados. A loja era bem grande para os fundos. Sentou no banco do piano. Madara lhe pagara aulas, mas ele batera o pé e abandonara. Mesmo assim não podia não se sentir fascinado. Passou os dedos pelo teclado e ouviu o som.

Era limpo, diferente.

Testou umas notas.

— Maybe, Yiruma.

A voz o pegou desprevenido, dizendo a música que tentava tocar. Virou para o lado depressa e o sol filtrado pela janela bateu em cheio na figura loira que o olhava em pé na sala, segurando um violino na mão e lhe sorrindo.

E pelo sorriso Sasuke soube que era ele.

— Naruto.

O outro franziu a testa, e reconheceu a expressão de curiosidade que não havia mudado:

— Conheço você?

Sentiu uma sensação estranha de desânimo.

Ele não lembrava.

Claro, faziam dez anos afinal... Mas Sasuke lembrava de tudo.

— Acho que não. – Se acovardou. – Ouvi você tocando ainda a pouco, é uma música linda.

O outro sorriu de forma aberta e se aproximou dele até chegar a seu lado.

— Você acha? Minha mãe fez, ela era uma musicista. Eu sou Naruto, mas você já sabia. – riu. – E você?

—Sasuke.

Viu o outro franzir a testa quando pegou sua mão e por um instante pensou que ele lhe reconhecera.

A mão de Naruto era quente, calorosa, apesar de menor que a dele. E sentiu calos nos dedos batendo em sua palma. Demorou bastante para soltá-la, e ficou sem graça.

—Você toca há muito tempo? – o loiro perguntou voltando a expressão que parecia ser comum sua: sorrindo.

—Eu não toco. – Sasuke falou sem graça. – Só sei essa música.

O outro riu e sentou ao seu lado no banco sem cerimônia. Ele parecia fazer tudo de forma espontânea e o moreno se sentiu estranhamente fascinado por isso.

— É uma pena, acho que você leva jeito. – Começou a deslizar os dedos de forma ágil no teclado, tocando a música que Sasuke tentara antes. Quase fechou os olhos para escutar melhor, mas se controlou. O loiro tinha muito talento.

— Está me humilhando Naruto. – Replicou.

O outro parou e o olhou surpreso. Mas Sasuke sorriu e ele soltou uma risada cristalina. Sasuke gostou daquele som.

— Você não é daqui. – Naruto continuou deslizando os dedos no teclado sem olha-lo. Sasuke arriscou e começou a acompanha-lo. O outro o incentivava com gestos e ele tentou alguns dedos enquanto conversavam.

— Sim e não. Eu morava aqui quando era criança. Mas passei dez anos longe.

— Dez anos! A cidade mudou muito não?

— Bastante. Estou morando com meu irmão agora, ele veio trabalhar. – Não era acostumado a falar tanto de si. O que estava havendo? O loiro continuava tocando e o olhando sorridente de vez em quando.

— E seus pais? – o loiro perguntou o incentivando a falar.

— Morreram.

— Que chato.

Nenhuma cara de pena, nenhum sinto muito? Ele era mesmo diferente. 
— Minha mãe morreu também, há uns quatro anos. Ela era dona dessa loja junto com tio Bee. Você o conheceu né?

Sasuke assentiu e o outro fez uma expressão triste: - Desde então venho aqui toda tarde afinar os instrumentos. Eu recebo algum dinheiro e de quebra mato a saudade. 

Sasuke não soube o que falar sobre isso. Então apenas continuaram tocando. Até que a música acabou e ficaram olhando para a cara um do outro. Sasuke ficou nervoso e falou a primeira coisa que lhe veio na mente: - Onde você estuda?

— Eu já terminei o ensino médio. – falou sereno. Sasuke o olhou surpreso.

O jovem Uchiha, geralmente tão frio, estava se surpreendendo com a quantidade de sentimentos novos tão de repente.

—Quantos anos você tem?

—16 anos. Eu tenho uma cabeça boa. – o outro sorriu e coçou a nuca sem graça.

Isso era um eufemismo. Ele era bastante adiantado.

— Faculdade?

—Hum... ainda não. – Esse pareceu um ponto delicado e menor suspirou. - Eu estou entre música e medicina, não consigo me decidir e dei um tempo para pensar.

Música e medicina. Duas coisas bem diferentes.

— Meu pai é médico, minha mãe... você já sabe. Então acabei me influenciando. Gosto dos dois, mas meu pai fica me pressionando as vezes. – Suspirou. – É chato.

Sasuke se sentiu mal com a expressão triste do Naruto. Não gostou. Preferia o Naruto sorridente. E ela logo veio, como se o garoto não tivesse tempo para tristeza: - Mas e você Sasuke?

Gostou do som do seu nome na voz dele. Parecia certo. Que pensamentos estranhos eram aqueles?

Olhou o outro garoto de lado. Ele tinha o cabelo loiro bagunçado e a pele tinha um tom bronzeado diferente, como se ele vivesse ao ar livre. Era mais baixo que Sasuke, e um pouco mais esguio, mas ainda assim seu corpo bonito, mas de uma forma mais suave. Vestia uma calça bege e uma blusa branca com um desenho laranja, todas cores claras. Ele todo era claridade, leveza. Era como se ele iluminasse cada canto escuro. Era diferente. Passou o olhar para o rosto de modo disfarçado. Os olhos muito azuis fitavam o teclado, ele tinha umas marquinhas estranhas nas bochechas, e seu sorriso o desarmava por completo...

Era fascinante... Era...

— E.eu tenho que ir. – falou de repente e se levantou. 
— Que pena. Pode vir quando quiser, gosto de conversar, nem sempre alguém vem aqui.

Assentiu depressa e ficou parado olhando para o loiro que ainda estava sentado. 
— Venho sim.

— Eu posso te ensinar piano. – o loiro falou lhe estendendo a mão. – O que acha?

Sentiu uma felicidade estranha no peito. Pegou a mão e a segurou. Nenhum dos dois parecia querer soltar. Foi o moreno que largou sem vontade.

Os dedos quase não largando.

Saiu da loja e o velho estranho lhe deu um aceno. Quando passou pela cafeteria a menina de cabelo rosa também lhe acenou. Dessa vez Sasuke respondeu, com o humor estranhamente melhor.

Quase não acertou o caminho de volta e quando chegou caiu na cama com um sorriso no rosto. Ficou lembrando da imagem do loiro com o reflexo do sol sobre ele. Da mão calorosa, mas suave. Nunca se sentira daquele jeito.

Quando Itachi chegou em casa de noite estranhou o irmão. Sasuke nunca sorria, a não ser quando por ironia. Mas não comentou nada.

Deixasse estar. Ele lhe contaria se quisesse. 


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Notas finais do capítulo

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