Horrorizada, me pus ao lado dela. Emilia não tinha mais que vinte minutos de vida.

–O que aconteceu? - Perguntei incrédula.

–Aquele garota– Henrrique, que estava ao lado de Emilia quando cheguei, apontou para uma menina inconsciente, mas não morta, a alguns metros de onde estávamos - Nos atacou. Ela estava sozinha, foi fácil apaga-la. Mas... - Os olhos dele se encheram de lagrimas - Bem, ela foi rápida. Emilia foi pega de surpresa.

–Rose? - Emilia tentou abrir os olhos - Minha visão está falhando. - Afirmou ela - Você está ai?

–Estou - Segurei sua mão - É claro que estou.

Ela quase abriu um sorriso.

Logo depois abriu uma careta de dor.

–Eu já sabia que isso ia acontecer - Lamentou ela - Aproposito, hoje é meu aniversario. - Disse ela casualmente, como se não estivesse morrendo. Quero um presente.

–Um presente? - Henrique sorriu em meio as lagrimas - Podia ter nos dito antes...

–Na verdade, eu não ia contar. Planejava morrer daqui a alguns dias. - Até morrendo aquela menina era palhaça.

–O que você quer de presente? - Perguntei, tentando não me descontrolar.

–Hum... - Pensou ela com mais uma careta de dor.

E então ela fez uma coisa inesperada.

Ela beijou Henrique.

Que para minha surpresa retribui, até um pouco feliz.

–Achei que iria pro céu sem receber isso. - Falou Henrique com os olhos já vermelhos - Você sabia que eu estava afim de voce desde o desfile, não sabia?

–É. - A voz de Emilia era fraca - Sou uma garota esperta.

–Voce não vai querer que eu te beije, vai? - Perguntei a Emilia, brincalhona.

–Ah - Emilia virou a cabeça lentamente para mim - De voce eu quero outra coisa. - Ela vez um gesto para que eu me aproxima-se e então sussurrou no meu ouvido: "Seja esperta e pegue 'ele de jeito. ok?"

Por incrível que pareça eu sabia exatamente do que ela estava falando. me lembrei do sorriso sacana que ela havia me dado naquela mesma manhã.

–Podexá. - Sussurrei em seu ouvido.

–E mais uma coisa. - Emilia tossiu - Ganhe os jogos. Algum de voces. Diga que eu falei isso para Jason e Haymitch. - Ela fez uma pausa - Encontro vocês do outro lado. - Murmurou ela.

Os olhares de Henrique e Emilia se encontraram, e eu podia jurar de ouvido um "Eu amo você".

Então o som do canhão ocupou a arena.

Desesperada, comecei a gritar. Era como se alguem apertasse meu coração. A dor era mil vezes pior que a facada que eu levara no braço. Eu queria morrer.

Uma onda de culpa preencheu minha mente. Se eu não estivesse aqui, Emilia nem teria sido escolhida para os jogos.

De alguma forma eu era sua assassina.

Esse pensamento abandonou minha cabeça quando me virei para Henrique. Ele estava pior que eu.

Outro canhão soou e eu olhei para a menina inconsciente no chão.

Ela estava esquartejada.

A raiva de Henrique era demasiada.

Fui até ele com cuidado para não levar uma facada e coloquei a mão em seu ombro. Henrique me abraçou forte, sem se importar em chorar.

–Ela morreu Rose - Pareceu mais uma pergunta.

–Ela prometeu encontrar a gente do outro lado, não prometeu? - Tentei acalma-lo.

Ele se soltou de mim e foi até o corpo morto de Emilia.

–Eu podia ter sido mais rápido - Ele resmungava - Desculpe.

–Não foi culpa sua.

–Mas ela poderia estar viva.

Então, eu desmoronei.

Sim ela poderia estar viva se eu ficasse quieta no meu canto.

Sim ela poderia estar viva se eu não estivesse aqui.

Por um momento cogitei a ideia de me matar.

Tudo seria melhor não seria?

–Ah meu Deus... - A voz de Jason e o som das armas em sua mão retinindo no chão me fizeram voltar mim - Quem...Fez isso? - Ele perguntou com as veias pulsantes.

–Ela. - Henrique apontou para a garota esquartejada no chão.

Os olhos de Jason se encheram de lagrimas e ele foi até Emilia. Segurando sua mão ele chorou silenciosamente.

–Ei, Jason, eu peguei um... - Haymitch interrompeu-se. Ele levou alguns minutos para raciocinar o que acontecia - Não...

Vagarosamente ele chegou mais perto.

–Não. - Ele afirmou - O canhão... O canhão foi dela?! - Ele perguntou ofegante - Não. - Então se ajoelhou para checar seu coração, ainda com esperanças de que ela vivesse - Não!

Levantando-se do chão, ele gritou e chutou uma arvore.

–Roberta! - Matheus Zabini, o garoto dos galões da água estava parado olhando para o corpo esquartejado da assassina de Emilia.

–Matheus? - Perguntei confusa, por um momento me esquecendo de Emilia.

Ele me olhou, depois olhou para o corpo em partes da garota no chão.

–Ela era minha aliada.