Rose gritara. Scorpius e Lysander pareceram ou simplesmente ignoraram sua voz. Pois continuaram a distribuir socos e pontapés um no outro, ignorando completamente sua presença no local.

A garota não sabia se ficava feliz por Scorpius ter vindo até ali, ou se se desesperava pela cena que ocorria na frente de seus olhos. Sabia que tinha que fazer algo, pois uma garota frágil e pequena como ela, não seria capaz de impedir o furacão que se formava á sua frente. Então permanecera imóvel e atemorizada.

–Faça alguma coisa! –Lillian sussurrou em um tom espavorido. Empurrara Rose para frente, e recuou.

A garota então avançou lenta e receosamente, e parou á frente dos dois. Seus pais haviam recém cruzado a lareira em direção ao ministério, e Lillian certamente não moveria um palmo do lugar onde estava. Oque significava que se quisesse resolver isso, teria de resolver sozinha.

Scorpius cambaleara para trás ofegante, apalpando a costela. Lysander sorrira vitoriosamente, ajeitando as vestes amarrotadas, pronto para dar o golpe final e certeiro.

–Scorpius! –gritara Rose.

–Não se meta garota! –Lysander empurra Rose no chão, que cai com um baque surdo na grama.

Scorpius então atingira seu ápice de fúria. Seus olhos ficaram negros de ódio; Ele retirou a varinha do bolso esquerdo do sobretudo lentamente, e apontara para Scamender.

–Petrificus Totalus!

O garoto atingiu o chão estatelado, com os braços e pernas juntos ao seu corpo, como se uma corda invisível o envolvesse.

Scorpius se ajoelhou ao seu lado, e sorriu diabolicamente, transmitindo todo o seu prazer de vê-lo deitado e indefeso á sua frente.

–Nunca mais ouse toca nela, ouviu bem? – dissera completando com um soco no nariz de Lysander, que se deslocou com um estalido surdo, e prazeroso, que soou como musica aos ouvidos de Malfoy.

–Você está bem? –ele pergunta segurando o rosto de Rose em suas mãos, que ainda observava o garoto caído á sua frente, completamente imóvel, com um filete de sangue escorrendo de seu nariz oblíquo.

Sua voz havia desaparecido, então balançou sua cabeça com um aceno vigoroso e exagerado.

–Vamos para dentro. –ele disse envolvendo os ombros encolhidos de Rose.

–Você não pretende deixa-lo aqui fora imóvel e quebrado, pretende? –a voz de Lillian se fez ouvir pela primeira vez. Por mais que Lillian detestasse Lysander tanto quanto os dois, era demasiadamente altruísta para deixar o garoto ali.

Rose e Scorpius se entreolharam. Se dependesse dele, Scamender permaneceria ali até o anoitecer.

–é verdade, não podemos deixa-lo aí. –Scorpius franziu a testa descrente ao ouvir o que Rose havia dito. Ela prosseguiu rapidamente. –Se meus pais virem o garoto jogado no pomar sobre o efeito do feitiço do corpo preso, e ensanguentado, adivinha a quem eles vão culpar? Vamos, me ajudem a carrega-lo para dentro da casa.

Scorpius revirou os olhos e suspirou, erguendo o corpo débil de Lysander com dificuldade, carregando-o por uma ponta, e Rose, sustentando seu peso precariamente.

–Opa! –ela disse quando derrubou o garoto, que rosnou. Scorpius gargalhou.

–Tudo bem, Lillian, ajude Rose ali. –A garota que antes somente observava a cena, dividiu o peso do corpo de Scamender com Rose, tornando a tarefa mais fácil de executar.

–Pronto. –Scorpius disse arfante largando Lysander sem nenhum cuidado no sofá da sala de estar. –Oque esse idiota está fazendo aqui?

Lillian e Rose se entreolharam.

–Ele... Passará as férias aqui em casa. –Rose disse amarga por relembrar o fato. –Os Scamender estão viajando para a América do Sul, então meu pai se ofereceu para hospedá-los aqui durante as férias de Natal.

Scorpius fechou os olhos. É claro que havia obra do pai de Rose nessa história. A simples ideia de imaginar Rose na presença de Lysander durante uma semana inteira o deixava possesso. Voltou a abri-los para seguir em direção á poltrona de couro de dragão.

– Que noticia ótima... Ai! –ele gemeu apalpando novamente as costelas. Rose franziu a testa se aproximando do garoto, que agora visto de perto, parecia muito mais machucado do que aparentava estar.

Sua testa tinha um filete de sangue seco sobre a pele, assim como um hematoma arroxeado do lado esquerdo do rosto. A garota levantou a blusa lentamente de Scorpius, onde percebera um leve relevo do lado esquerdo perto de seu abdome.

–Como conseguiu fazer isso? –ela dizia analisando a pequena saliência. Malfoy havia conseguido uma costela fraturada durante a briga.

–Devo ter me machucado quando cai de lado. –ele disse observando.

–Lill’s, você pode cuidar do Scamender, por favor, enquanto eu cuido dos ferimentos dele? –ela dizia ajudando Scorpius a se levantar, sendo que carregar Lysander prejudicara ainda mais sua lesão.

Lillian olhou para Rose, e logo em seguida para Lysander.

–Já vou dizendo, não sou muito boa nisso. Então tenha paciência e fique paradinho. –ela riu da própria piada solitariamente. –Episkey!

***

–Oque o trás aqui, Malfoy? –ela dizia enquanto colocava uma compressa de gelo na testa de Scorpius, que recuava ao toque frio. –Espero que não tenha vindo apenas para brigar com Scamender.

–Bom, é um ótimo motivo, mas... Não. –ele disse negando com a cabeça.

–Então porque foi? –ela disse o fitando com atenção.

–Sei lá, fiquei com vontade de te ver... Ai! Cuidado! –ele reclamou quando Rose pressionara a compressa vigorosamente contra seu hematoma.

–Me desculpe. –ela disse corando e baixando os olhos para o piso de carvalho.

Ele sorriu observando-a pousar a compressa na bancada oposta, evitando olhar em seus olhos.

–é um motivo... Plausível. –ela disse arfando.

Ele se levantou da bancada onde estivera sentado, e avançou sorrateiramente até a garota.

–Isso significa que eu senti sua falta. –ele envolveu sua cintura. Ela sorriu de olhos fechados. Havia esperado por esse momento o dia todo, mas apesar disso, havia prometido á si mesma que esqueceria esse desejo insano, que acendia como fogo em brasa todas as vezes que sentia o toque de Malfoy em seu corpo. Que se empenharia.

Com muito esforço, se desvencilhou dos braços de Scorpius, que se surpreendeu. Seu corpo pareceu esfriar e enfraquecer gradualmente quando a garota escapou de seus braços. Lembrara-se então do que havia prometido á si mesmo, sobre não se envolver demais. Não queria sofrer por deixá-la quando finalmente conseguisse ser expulso de Hogwarts. A ideia o deixou ligeiramente dolorido quase que fisicamente por dentro.

Não sabia se suportaria deixa-la. Não agora. Não suportaria guardar esse sentimento que o estava sufocando. Ainda mais a vendo á sua frente, sem poder dizer tudo o que estava trancado em sua garganta impedindo-o de respirar. Tinha certeza absoluta que ele não conseguiria. Scorpius era fraco. E egoísta. E ela... Ela era irresistível. Um dia disseram á ele, que se você não tentar, nunca saberá como é ter aquilo. E ele certamente enlouqueceria se não tentasse.

–Eu estou... Apaixonado. –ele disse com um sorriso bobo brincando em seus lábios tensos.

Se antes o coração da garota estava á mil, agora ele parecia ter parado de vez. A dúvida que a garota não tinha ideia de onde e porque surgia, invadira seu coração fazendo-o pulsar á velocidade da luz. Rose observava Scorpius com a boca levemente escancarada, e com um olhar intenso, cogitando se havia mesmo ouvido as palavras do garoto direito.

–Essa seria uma ótima hora para você dizer alguma coisa, sabe. –ele disse se balançando nos calcanhares com as mãos no bolso do, sobretudo ansiosamente.

–Está encrencado. –foi tudo oque ela conseguiu dizer. Ele riu da resposta inesperada da garota, quebrando a paralisia de Rose que suspirou sacudindo a cabeça quase que imperceptivelmente temendo que aquilo fosse um delírio provocado em sua mente.

–Eu estou apaixonado por você. –ele explicou caso não tivesse sido suficientemente claro.

Ela o olhou por alguns segundos pousando as mãos na cintura.

–Está mais encrencado ainda. –ela disse sorrindo.

–E posso saber o porquê estou encrencado? –ele disse chegando perto da garota novamente, sem se conter.

–Porque sem querer acabei me apaixonando por você também.

Nenhum dos dois precisou dizer mais nada. Scorpius a beijou ferozmente, coisa da qual tinha certeza que nunca se cansaria de fazer. A levantou enganchando suas pernas em sua cintura, e a colocando em cima da bancada de mármore, que apesar de fria, não era capaz de interferir no fogo que surgia entre os dois. Ele afagava suas costas distribuindo beijos ardentes na garota, que arfava. Elevou um pouco a blusa de Rose para que pudesse sentir a maciez de sua pele, enquanto descia e subia suas mãos pelas costas da garota.

A cozinha poderia pegar fogo, e os dois não perceberiam. Estavam tão entretidos em finalmente entregar seus sentimentos –e corpos – um ao outro que não se importavam com mais nada.

–Ai! –Scorpius gemeu quando a garota pressionou seus quadris contra sua costela, que a garota não tivera “tempo” de curar.

–Me desculpe - ela disse rindo.

–Ai meu deus! –os dois se sobressaltaram. Rose derrubou uma frigideira que estava pendurada acima de suas cabeças na cabeça de Scorpius que praguejou baixinho.

Lillian estava parada á porta da cozinha com as mãos tampando o rosto que visivelmente estava corado.

–Me desculpem, hum... Interromper os dois, mas... Eu queria avisar que já terminei de cuidar dos ferimentos do Scamender, e ele... Está bem agora. Era só isso. –ela disse dando uma meia volta que quase deixou marcas de derrapada no chão.

Rose e Scorpius riram da reação da garota quando ela deixou o ambiente ás pressas.

–Onde estão seus pais? –ele perguntou colocando a frigideira que atingira sua cabeça novamente no gancho.

–Estão no ministério. Mas já devem estar voltando. –ela se virou para trás para checar o relógio da família Weasley. O relógio invés de possuir ponteiros, possuía uma foto de cada membro da família, que funcionava como um tipo de rastreador de cada membro da família Weasley.

O ponteiro de Rose apontava para Casa, o de Hugo para Estudando, e os de seus pais apontavam para Trabalho.

–Hugo é realmente muito esperto aquele fedelho. –Rose disse estreitando os olhos. –Enfeitiçou o relógio para que ele mostrasse á mamãe e papai que está estudando, e para que não soubessem que está infernizando a vida de pessoas alheias.

–Temos que concordar que é uma ideia brilhante. –disse Scorpius travesso.

–Ele tem ideias brilhantemente tocas, isso sim. Poderia utilizar a inteligência que herdou para outros fins, mas ao invés disso, gasta seu precioso tempo atrapalhando o curso de vida de outras pessoas. –Rose dizia tentando mover o ponteiro que sequer se movera do lugar.

–Não vai conseguir movê-lo manualmente, pode ter certeza. –disse Scorpius sacudindo a cabeça com uma sobrancelha levemente arqueada. –Palavras de um expert em ideias brilhantemente toscas.

A garota riu. Ele baixou os olhos para o chão.

–é melhor... Eu ir embora. –O interior de Rose pareceu desinflar como um balão de gás. Ao ver a reação da garota, que transparecera em sua expressão de desapontada, ergueu seu queixo obrigando-a a olhar para ela. –Já discuti com Scamender, já lhe vi... Meu trabalho por aqui está feito.

Ela deu uma risada tristonha.

–A não ser que você queira que fique mais um pouquinho e discuta com o outro Scamender. Falando nisso, onde ele está? –ela sorriu. A ideia não era tão negativa quanto parecia.

Então franzira a testa. Ao ouvir Scorpius mencionando Lorcan, Rose se perguntou onde o garoto estava. Uma briga violenta e excessivamente turbulenta havia acabado de acontecer, o que certamente não era algo que se pudesse ignorar. Ainda mais Lorcan que sempre defendera o irmão com garra.

–onde está indo? –perguntou Scorpius quando a garota o deixou e subiu as escadas lentamente enquanto tentava pensar, com Malfoy logo atrás dela um pouco confuso.

–Não acha estranho que depois de toda essa discussão Lorcan ter sumido e não interferido sequer uma vez? – a garota dizia enquanto abria todas as portas do andar á procura do garoto.

Scorpius começou a compreender.

–é, vendo por esse lado, é realmente estranho. O garoto geralmente é o que segura à fúria do esquentadinho do Lysander. Talvez ele também achasse que o irmão idiota dele merecesse uma lição.

–Não. –Rose negou com a cabeça. –Há algo estranho nisso, e eu... Ah!

A garota recuou e tampou os olhos. Estava prestes a escancarar a porta do banheiro quando Lorcan o fez. Somente de toalha.

O nevoeiro branco de gotículas envolvia seu corpo. Se antes Rose Weasley não havia reparado na beleza do corpo do velho colega, agora certamente, não havia como negar. Lorcan Scamender tinha um corpo escultural e bronzeado, algo decididamente atípico de se encontrar em um país como a Inglaterra.

Scorpius tinha em seu rosto uma expressão carrancuda, que certamente teria dificuldade em se dissolver. Lorcan encarava os dois com uma calma excessiva, ignorando completamente a reação da garota que ainda tampava os olhos com uma das mãos, e a expressão de poucos amigos que se difundia cada vez mais no rosto de Scorpius.

–Posso ajuda-los? –Lorcan perguntou com uma inocência na voz que fez Scorpius revirar os olhos.

–Estávamos procurando você. –disse Rose se voltando lentamente para o garoto com os olhos ainda oclusos.

–E posso saber o porquê?

–Não se faça de santo, Scamender, agora sei muito bem que você não é. –disse Scorpius rispidamente ao garoto. –E muito menos de surdo. Ou vai me dizer que não ouviu a discussão?

–Discussão? –ele perguntou soltando a mão que antes permanecia na maçaneta dourada e cruzando os braços.

–Eu sabia que você era retardado, mas não á esse ponto. Acha mesmo que vamos acreditar que você permaneceu esse tempo todo tomando banho e que não ouviu nada? Faça-me o favor!

–Scorpius! –Rose o repreendeu. Ele se calou cruzando os braços e dando meia volta no lugar onde estava.

–Do que estão falando? –perguntou Lorcan novamente. Rose se adiantou a explicar antes que Scorpius prosseguisse.

–Uma pequena discussão... –ela mentiu. –Nada demais.

–Envolvendo Lysander eu posso imaginar.

Ela assentiu. Scorpius praguejou alguma coisa que ela não conseguiu identificar.

–Exato. E... Scorpius.

–Ele se machucou? –perguntou o garoto. Rose estava começando a ficar constrangida por dialogar com Lorcan praticamente despido.

–é... Não. Não, ele está bem. Só, achamos estranho o fato de que depois de todo esse tempo você não ter aparecido.

–Pois eu estava aqui o tempo todo. –Rose assentiu, enquanto se esforçava para silenciar o garoto que praguejava atrás dela palavras feias dirigidas á Lorcan. -Como conseguiram deter Lysander?

–Feitiço do corpo preso. E... Um soco. –Rose corou.

–é melhor eu lançar um obliviate nele. Ou do contrário terão problemas depois. –Ele disse.

–Eu adoraria resolver esses problemas mais uma vez. –Scorpius retorquiu.

Lorcan balançou a cabeça.

–Bom, era só isso. –disse Rose virando de costas para Lorcan, que recebera um olhar de repugnância vindo de Scorpius.

Mesmo depois de ouvir a justificação de Lorcan, Rose concordava parcialmente com Scorpius sobre o fato de ele não ter percebido e nem ouvido nenhum tipo de tumulto, e ter desaparecido por tanto tempo. Se não estivesse se referindo á Lorcan, certamente Rose desconfiaria de algo por trás desse desaparecimento repentino.

Os dois desceram as escadas em um silencio incomodo. Que Scorpius não resistira em quebrar.

–Agora vou ter que me preocupar com esse aí também? –ele disse cruzando os braços como uma criança birrenta.

Rose franziu a testa e sorriu. O garoto a encarava aborrecidamente.

–é isso mesmo o que estou vendo? Scorpius Malfoy está com ciúmes? –ela insinuou.

Ele fez um muxoxo exagerado, balançando a cabeça vigorosamente.

–Eu? Com ciúmes? Poupe-me, Weasley! –ele revirou os olhos sem muita autenticidade.

Rose arqueou umas das sobrancelhas sem acreditar em nenhuma palavra que o garoto havia dito. Ele suspirou, se entregando ao olhar da garota.

–E daí se for ciúmes? –ele disse corando levemente.

–E daí que eu acho isso muito fofo. –ela disse se aproximando do rapaz que franziu a testa.

–E eu acho constrangedor demonstrar isso. Garotos como eu não demonstram ciúmes por uma garota. Muito pelo contrário. Garotos como eu fazem as garotas sentirem ciúmes. –ele disse se rendendo.

– Não se vanglorie tanto seu convencido!- ela deu tapinha leve no braço de Scorpius. -Não há nada de constrangedor em proteger o que é seu. –ela disse roçando seus lábios no de Scorpius.

–E você é minha? –ele perguntou segurando seu rosto em uma das mãos para olhá-la nos olhos.

Ela não precisou dizer. Ele já sabia pelo modo como ele a beijou apaixonadamente, como nunca imaginou beijá-la antes. Aliás, nunca se imaginou beijando Rose Weasley antes. Queria se beliscar para ter certeza de que aquilo que ocorria naquele exato momento era real. Ele sabia que era. E não sabia o quanto duraria porque sempre que os dois se aproximavam alguém tinha a audácia de interromper. Por isso se agarrara aquele beijo como se fosse o último. E talvez em poucos dias fosse.

Por mais que quisesse negar, ele sabia que tinha um impasse á sua espera. Seguir seu sonho de se tornar um jogador profissional de quadribol, coisa da qual sonhava desde que era pequeno, ou permanecer ao lado de Rose, a garota que o fazia sentir que poderia desistir de tudo aqui e agora.

Naquele momento, ele não tinha ideia do que fazer.