A Verdade escrita por mybdns


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos reviews! Espero que gostem do capítulo.



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Entrei sem fazer barulho. Parecia que não havia ninguém em casa, pois o carro de Adam não estava na garagem. Já passava das oito da noite e a casa estava escura. Fechei a porta com cuidado e alguém acendeu a luz do abajur.

- Oi mãe.

- Sente-se aqui. – disse.

- Mãe, eu estou cansada e triste. Me dá um tempo, vai.

- Não, Annelies. Eu quero saber de tudo. Como o Mac soube de você.

Tirei meu sapato e sentei-me no sofá.

- Encontraram o corpo do Luke de manhã, lá no jardim da escola. O Gabriel fez a gente se levantar porque os detetives estavam lá no salão principal. Eles fizeram perguntas, colheram digitais, DNA...

- Não enrole, Annelies.

- Você pediu para eu contar, eu estou contando. E pare de me interromper.

- Olha o jeito que você fala comigo, menina. Não foi essa a educação que eu te dei.

- Se o meu PAI tivesse te ajudado a me criar talvez eu não fosse mal educada.

- Annelies Marie Evans.

- Okay. E então as minhas digitais estavam no armário do Luke, porque eu estava ajudando-o a passar em História. E assim eu me tornei a primeira suspeita do assassinato. – contei toda a história para minha mãe e ela me pareceu um pouco surpresa.

- Eu não contava com isso.

- Cedo ou tarde Mac e eu iríamos nos encontrar.

- Eu não quero te perder.

- Você não vai me perder. Eu só quero recuperar o tempo perdido. Só isso.

- Eu não suportaria que você me trocasse por ele.

- Mãe, eu nem consigo chamá-lo de pai ainda. E eu não vou te trocar, pelo amor de Deus, relaxa ai.

- Tudo bem, então. – disse me dando um abraço. – agora vá tirar esta roupa e tomar um banho que o jantar está quase pronto.

- E o Adam?

- Teve que voltar para a Flórida.

- Mãe, já que ele não está aqui, você pode me contar como conheceu o Mac?

- Claro.

Dei um sorriso e subi para tomar banho. Coloquei um pijama de verão e desci.

- Querida, venha jantar. – disse minha mãe tirando uma lasanha do forno.

Fui até a cozinha e me sentei. Peguei um pouco de Coca Cola e a ajudei com os pratos. Enquanto jantávamos, ela me contava como Mac e ela se conheceram.

- Meu pai tirou férias do hospital e nós decidimos ir para o Havaí. Eu estava ansiosa, porque eu estava precisando descansar, estava no último ano da faculdade, fazendo residência e essa viagem havia chegado na hora certa. Iríamos ficar o mês inteiro no Havaí.

- E a vovó?

- Ela adorava aquele lugar. Por sua vontade, moraríamos lá. Então: um dia, eu saí sozinha para aproveitar a noite na praia quando eu o vi, jogando futevôlei com uns amigos. Eu estava sentada na areia tomando uma Coca Cola bem gelada quando a bola veio em minha direção e acertou minha cabeça. Ele veio correndo para ver como eu estava, já que tinha sido ele que havia jogado a bola. Eu fiquei muito brava com ele na hora, porque ele tinha jogado a bola muito forte. Ele me convidou para ir tomar alguma coisa no dia seguinte pra se desculpar. Foi ai que tudo aconteceu.

- Que bacana. E ai? Como foi?

- Como foi o quê?

- Como foi tudo.

- Nós entramos na aula de dança, chegamos até participar de um concurso.

- Nossa sua história está mais parecendo “Ritmo Quente”. – ri

- Você consegue pelo menos por alguns segundos ficar sem fazer piadinha das coisas que eu falo?

- Desculpa mãe. Só estava descontraindo.

- Só estava descontraindo. – ela me imitou. – mas continuando... Nossa paixão foi tão avassaladora, eu nunca senti isso por ninguém e que o seu padrasto nunca saiba disto.

- Então você o ama ainda?

- Não. Eu não o amo. Eu sinto carinho por ele. Porque ele me deu o melhor presente que alguém poderia me dar: você.

- Ah, não fala assim que eu fico sem graça...

- Annelies...

- Tá. E quando você descobriu que estava grávida o que fez?

- Eu descobri que estava grávida uns dois meses depois. Nós ainda mantínhamos contato, nos falávamos por telefone e por carta eu resolvi não dizer nada a ele porque ele estava iniciando a sua vida no NYPD e eu tive muito medo dele não nos aceitar.

- Ele nunca faria isto.

- Por sua reação quando soube que tinha uma filha, eu também acho que não. Mais eu era jovem, boba, medrosa. E o meu pai nunca iria me deixar ir para Nova York atrás dele. Foi ai que o Adam entrou na historia. Eu o conheci quando estava com sete meses. A mãe dele passou mal e eu estava de plantão na emergência naquela noite. Nós saímos, nos conhecemos e nos casamos.

- E ele não se importou de você estar grávida de outro?

- Não. O maior sonho dele era ter um filho. Ele é estéril, Anne. Por isso que nunca tivemos outro bebê. E ele me prometeu que além de te dar seu sobrenome, iria fazer de tudo por você.

- Nossa, eu acho que eu vou me deitar. Muita informação para o meu cérebro processar. Boa noite, mãe.

- Boa noite, Annelies. Eu te amo.

- Eu também te amo, mamãe. – disse, subindo o primeiro degrau da escada. – mãe! – me virei. – você pode me dizer qual é a cor do seu cabelo natural? – disse gargalhando.

- Você não tem jeito menina! Meu cabelo é castanho claro, como o seu. Satisfeita?

- Hum, agora sim. – disse subindo o restante das escadas correndo.

A história que a minha mãe acabava de contar me deu um nó na cabeça. Agora, tudo fazia sentido. Fiquei triste por Adam ser estéril e eu finalmente entendi porque ele sempre me protegeu tanto e sempre fez tudo o que eu queria. Ele deve ter ficado tão assustado quanto minha mãe quando Mac surgiu na minha vida. Nunca pude reclamar de Adam, ele era um cara sensacional que fazia muito bem a minha mãe. Nunca os vi discutir, por motivo algum. Ultimamente, ele estava muito estranho. Vivia falando ao celular com uma pessoa desconhecida, fazia viagens aparentemente sem motivo nenhum e sempre que eu me aproximava, ele e minha mãe começavam a cochichar. Eu achava tudo aquilo muito estranho, mas não me importei muito.  Mal sabia eu que a tranquilidade daquela casa estava por acabar.

Quatro semanas haviam se passado após tudo isso. Fiz minha entrevista na Universidade de Nova York e aparentemente, eles haviam gostado de mim e principalmente das minhas notas. A formatura seria na próxima semana e eu pensava na possibilidade de ser rainha do baile, mas eu sabia que ninguém votaria em mim por quatro motivos: Maya, Naomi, Lucy e Monica. O quarteto mais popular da escola, as meninas mais lindas do NY Academic. Eu não teria chance alguma. E o que mais me deixava irritada era que Allan seria, com certeza votado, por ser um dos meninos mais populares da escola. Estávamos em mais uma aula de matemática quando o Sr. Gandia anunciou os indicados para a realeza do baile:

- Crianças! – disse, no alto falante. – atenção aos indicados a rei e rainha do nosso baile!

- Lá vem... – reclamou Safira, que estava sentada do meu lado.

- Os indicados para rei são: Sam Russell, Allan Hudson e... Caleb Lopéz.

Virei para trás e escutei alguns meninos reclamarem.

- E as indicadas a rainha são: Naomi Santos, Maya Martin e Monica Haze.

- Eu já sabia. Disse Monica.

- Você não consegue ficar um minuto sem se achar? – perguntei virando para trás.

- Você está com inveja porque eu vou concorrer à rainha do baile junto com o Allan.

- Eu vou quebrar a sua cara. – disse, me levantando. Eu sabia por que Monica pegava tanto no meu pé. Quando eu entrei no colégio, ela era a namorada de Allan e ela ainda gostava dele.

- Ei! Não liga para essa vadia, Anne. – disse Safira, puxando meu braço.

- Pelo menos eu não pareço a Free Willy.

- Eu vou quebrar a cara dessa vagabunda. – agora quem disse isso foi Safira.

- Calma Safira.

- Você sabe que eu não suporto que me chamem de gorda, Anne.

- Meninas! – gritou a Srtª Muller. – se vocês quiserem brigar, vão lá fora. Aqui dentro da minha sala não.

- Desculpe, srtª Muller.

- Vamos voltar à aula. Porque vocês precisam se formar, não é mesmo? Por isso, abram seus livros na página 245. Polinômios.

- Isso é muito chato. – Phill murmurou, lá do fundo da sala. Ele tinha uns dezenove anos já. Era um rapaz bonito. Possuía muitas tatuagens pelo corpo, usava dreads e roupas hippies. Vivia pelos cantos da escola ouvindo Bob Marley, Tupac entre outros. Era um menino muito inteligente, mas muito preguiçoso também.

- Phill, você tem que se esforçar, meu bem. Ou quer reprovar mais uma vez? – disse a Srtª Muller.

Ele ficou quieto e balançou a cabeça negativamente.

- Então, vamos estudar polinômios! – disse com animação. – os polinômios se encontram em um âmbito da matemática denominado álgebra e eles são compostos de inúmeras expressões algébricas, contendo apenas números ou números e letras assim por diante. Iremos começar com a adição de polinômios. Copiem o que eu irei escrever. – ela se virou para o quadro e escreveu uma equação, explicando passo a passo até chegarmos numa resposta. O último sinal soou e nós saímos da sala.

- Finalmente! – os meninos do futebol comemoraram.

– Agora é só tomar um banho e ir treinar para as semifinais. – disse Caleb.

- Estou confiante. – disse Allan.

Fui andando na frente até chegar ao meu armário. Nem percebi que Allan havia me seguido.

- Você está chateada? – perguntou.

- Pelo quê, exatamente?

- O baile, as provas finais, o Luke, o baile, seu pai, o baile.

- Você disse “o baile” três vezes.

- Foi de propósito.

- Não. Pelo Luke, sim. Só estou chateada por você estar concorrendo com a Monica.

- Eu não sinto nada por ela.

- Não sei se eu acredito.

- Acredite. Você é a única na minha vida.

- Sou mesmo? – disse virando as costas.

- Claro. E outra: a Monica não tem olhos azuis. – ele riu.

- Eu não estou para gracinhas hoje, hein.

- Você? Você sempre tem alguma piadinha pra fazer de todo mundo.

- Tem tanta coisa acontecendo comigo que eu estou estafada de tudo.

- Isso vai passar.

- Tomara. Bem, já que eu sou única na sua vida, que tal você ir até a minha casa hoje à tarde pra me ajudar a escolher a roupa que eu vou jantar com o Mac?

- Você tem certeza que eu tenho que fazer isso?

- Claro.

- Tudo bem.

Nós fomos para casa e Allan me ajudou com a roupa.

- O que você acha? Essa saia com essa blusa?

- Eu prefiro que você tire toda a roupa. Que tal?

- Eu estou falando sério. Que merda!

- Olha, você vai ficar linda com qualquer roupa que você for. Mais eu gosto muito desse vestido amarelinho e aquele sapato azul escuro. – disse apontando.

- Eu sabia que você iria me ajudar! Eu te amo! – disse dando-lhe um beijo. 

- Eu entendo de moda.

- E eu vou me trocar. Pode sair agora.

- Anne, esqueceu que eu já te vi...

- Com licença. Eu preciso de privacidade. Vai lá para baixo e liga a TV. – disse expulsando-o do meu quarto. – e se o Mac chegar abra a porta okay?

- Não, eu vou deixá-lo lá fora.

- Sem graças, por favor.

Finalmente ele saiu e eu pude me arrumar em paz. Coloquei o vestido, o sapato e fiz uma maquiagem leve. Estava contente por finalmente jantar com o meu pai. Escutei a campainha tocar e esperei um pouco para descer. Peguei minha bolsa e fui de encontro com Mac.

- Oi Mac. – disse dando-lhe um abraço. – estou vendo que já se conheceram.

- Oi querida. Sim, o Allan é um rapaz muito bom.

- Valeu, Detetive Taylor.

- Vamos?

- Claro.

- Eu vou embora também. Divirtam-se. – Allan saiu e me deu um beijo.

Mac me levou em um restaurante italiano muito agradável. Nós pedimos a comida e ficamos em silêncio um pouco.

- E então, Anne. O que você está achando disso tudo?

- Eu não sei o que imaginar, Mac. Sabe, o Adam é um cara muito legal, mas ele não é o meu pai. Eu não posso reclamar dele, porque ele fez muito por mim. Ele me criou e eu sou grata por isso.

- Eu acho que... – ele foi interrompido por um bipe.

- Algum problema, Mac?

- Eu sinto muito, mas eu tenho um chamado.

- Tudo bem. – disse decepcionada.

- Olha, eu sinto muito mesmo, mas...

- Pode ir. É o seu trabalho, afinal.

- Eu te deixo em casa.

- Tudo bem.

Ele me deixou em casa e eu me surpreendi, pois minha mãe e meu padrasto já haviam chegado.

- Oi mãe. Oi Adam.

- Oi querida. Você não tinha um jantar com o seu pai?

- Ele teve um chamado, mãe.

- Eu sinto muito.

- A família é a coisa mais importante do mundo. – resmungou Adam.

- Como? – perguntei.

- Eu não te deixaria por causa do trabalho.

- Ele precisou. Nós teremos muitas oportunidades mais.

- Se é assim que você pensa.

Subi as escadas e deixei Adam falando sozinho. Coloquei um pijama e deitei. Fiquei pensando nas coisas que Adam disse e cheguei à conclusão que ele tinha razão. A questão era: será que o Mac saberia conciliar o seu tempo com o trabalho e comigo? Mal sabíamos que uma desgraça faria nós nos aproximarmos mais.  


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