A Verdade escrita por mybdns
Notas iniciais do capítulo
Oi gente. Tudo bem? Bom, a história está caminhando para o seu final, mas vamos ter um pouquinho mais de drama. Beijos e bom capítulo. May.
Um ano se passou depois de tudo isso. Eu tinha uma vida boa: um homem que me amava de verdade, uma filha linda e saudável de um ano e seis meses, um bom emprego. Mais nada pode ser perfeito. Todos têm problemas. Don e eu brigávamos, como todo casal, mas logo nos resolvíamos.
Certa noite, Don havia levado Lívia a casa de Sam e como eu não estava de folga, eu não fui. Fui para o trabalho e o dia foi cansativo, o que me rendeu uma terrível enxaqueca. Quando estava voltando para casa, aproveitei para passar na farmácia para comprar um remédio. Paguei a compra e saí. Andei até meu carro e quando estava pronta para dar partida, escutei uma discussão vinda de um beco do outro lado da rua. Desci novamente e fui ver o que era. Aproximei-me e tentei ouvir a conversa. Estava muito escuro e eu não conseguia enxergar nitidamente o rosto dos dois:
– OLHA AQUI SUA DESGRAÇADA FILHA DE UMA MÃE, EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ ESCONDENDO O DINHEIRO. CADÊ? – disse o homem, puxando seus cabelos.
– EU NÃO ESTOU ESCONDENDO DINHEIRO NENHUM, CARL! QUE DROGA! – a moça respondeu, com medo.
– EU SEI QUE VOCÊ ANDA ME ROUBANDO! SUA PUTA! VOCÊ SABE QUE EU POSSO TE MATAR, NÃO SABE? – disse tirando uma faca da cintura.
– POR FAVOR, NÃO FAÇA ISSO! – ela implorou. Liguei para a central para pedir reforço.
– Aqui é a detetive Flack. Preciso de uma viatura aqui na Broadway, na altura do número 1462.
– Estamos, indo detetive. – disse a atendente. Eu desliguei o telefone e peguei minha arma. Os dois continuavam a discutir quando adentrei o beco, em silêncio.
– EU NÃO ME IMPORTO DE CORTAR ESSA SUA GARGANTA. SERÁ IUMA HONRA, PORQUE DESDE QUANDO VOCÊ SE TORNOU MINHA, SÓ TEM ME DADO TRABALHO.
– EU NÃO SOU SUA PROPRIEDADE.
– Solte ela agora. – disse apontando a arma em sua direção.
– Graças à Deus. – ela suspirou.
– E quem é você? A polícia? Ahá.
– Você acertou. Agora solte a faca e coloque suas mãos atrás da cabeça. Ande! Eu não tenho a noite inteira. – ele fez o que eu mandei.
– Você me paga...
– Cale a boca. Todo o que você disser será usado contra você no seu julgamento.
– Julgamento? Você vai me prender? Eu não fiz nada!
– Eu vi você a agredindo, okay?
– Maldita.
– Como é seu nome? – ela me perguntou.
– Annelies. Mais pode me chamar de Anne. E o seu?
– Brenda. Sabe, eu estudei com uma Annelies no colegial, mas eu acho que ela não gostava de mim. Aliás, ninguém gostava de mim naquela escola. Ainda mais depois que...
– Depois que?
– Eu me envolvi com o pai do meu namorado. E ele acabou matando o próprio filho por minha causa. Pobre Luke. Eu me arrependo tanto...
– Você poderia ser melhor do que isso tudo, Brenda. Você iria ser modelo, lembra?
– Eu não acredito que é você!
– Sim sou eu. E ele? É o seu cafetão?
– É. – escutamos a sirene da viatura.
– Levanta ai bonitão. – ordenei e fui levando-o para os outros policiais.
– Ele de novo?
– Ah, você é conhecido da polícia?
– Acho que ele já foi preso umas quatro vezes, só por mim. Vamos, entra ai. – Carl entrou na viatura e os policiais o levaram para a cadeia.
– E ai, você quer uma carona? – perguntei.
– Acho que a noite acabou pra mim. Eu aceito sua carona. – nós entramos no carro e ela me explicou onde morava. – e ai? E o Allan?
– Eu não sei.
– Como não sabe?
– Nós nos separamos há um tempinho.
– Que droga! Mais você se casou de novo. Está de aliança.
– Sim.
– Como é o nome dele?
– Don, ele também é detetive.
– O mesmo que estava no caso da morte do Luke? O dos olhos azuis?
– Ele mesmo.
– Ele é gato. Quantos anos tem seu bebê? – disse olhando para a cadeirinha no banco de trás.
– Temos uma menina de um ano e seis meses. Tem uma foto dela no porta luvas.
– Ela é linda. Se parece com sua mãe.
– Eu também acho. – olhei para o braço dela e havia algumas marcas de agulhas. – o que são essas marcas, Brenda?
– Nada de importante.
– Você usa heroína?
– Eu não consigo largar.
– Você vai morrer Brenda. Procure ajuda.
– Você não entende. Nunca vai entender.
– Brenda, eu conheço uma clínica... Se você quiser...
– O dinheiro que eu ganho nas ruas mal dá pra eu sustentar meu vício, você acha que eu vou conseguir pagar uma clínica de reabilitação? Faça-me rir, Annelies.
– E os seus pais?
– O que eu tinha não pode ser chamado de “pais”. Eles eram monstros. Depois da morte do Luke, eles só esperaram eu me formar e me colocaram no olho da rua.
– Como?
– Isso que você ouviu gata. Eles disseram que eu era a vergonha da família. Tiraram-me do testamento. Eu fiquei sem nada. Agora, os dos devem estar queimando no inferno. Eles morreram num acidente de helicóptero.
– Eu sinto muito.
– Não sinta. Eu não senti. Posso acender um cigarro?
– Aqui dentro?
– Tudo bem, eu espero chegar em casa.
– Você comeu alguma coisa?
– Não tive tempo, mas em casa eu como. Atendi quatro clientes esta noite. Minha casa é aquela ali. A segunda à direita. – estacionei o carro e ela desceu. – valeu pela carona, Anne.
– Não foi nada. Hey! Vem cá! – disse quando ela já estava na porta.
– O que foi?
– Toma meu cartão. Qualquer coisa, me liga. – disse entregando-lhe meu cartão.
– Valeu. – dei partida no carro e fui embora.
Foi a última vez que eu a vi. Viva. Alguns dias depois, recebi a notícia que Brenda havia sido encontrada morta em sua casa. A causa foi overdose. Ela fez a mistura letal de álcool, heroína e antidepressivos. Fiquei chateada, pois convivi quatro anos da minha vida com ela, apesar das nossas diferenças, nunca desejaria que ela tivesse um fim desses.
Num dia frio de outono, tirei o dia de folga. Lívia pegou no sono e eu aproveitei para fazer uma limpeza no meu closet. Tirei algumas roupas que eu não usava mais, sapatos também e coloquei numa sacola. Na última prateleira, vi uma caixa preta que não via há anos. Abri e encontrei algumas raras fotos do tempo que eu era menor. Podia ver a alegria no rosto de minha mãe e de Adam. Estávamos na praia, provavelmente Saint Tropez. Eu gostava muito de lá. Revirei mais e vi algumas cartas que o Allan me mandava quando estávamos começando a namorar. Não tive vontade de lê-las. Depois, vi o álbum de fotos do nosso casamento. Abri com cuidado e comecei a passar as páginas. Todos tão felizes. Mal sabíamos que estávamos cometendo um erro. Fechei rapidamente e peguei o álbum, as cartas e mais coisas que Allan tinha me dado, como ursinhos e fui para a sala, junto à lareira. Joguei as cartas, uma por uma no fogo. Senti um vento gelado nas costas. Olhei para trás e vi Don.
– Oi amor. O que está fazendo? – ele perguntou.
– Me livrando do passado.
– O que são estas coisas?
– O passado. São as coisas que o Allan me deu quando nós namorávamos. Estou me livrando delas.
– Até o álbum de casamento?
– Sim. – disse jogando o álbum.
– Você é corajosa.
– Tirei um peso de cima das minhas costas.
– Que bom. Cadê a minha princesinha?
– Está lá em cima, dormindo como um anjinho.
– Há essa hora?
– Sim.
– Ela está bem?
– Está sim.
– Tudo bem então. – nessa hora, a campainha tocou.
– Quem será?
– Deve ser a Sam. Ela ficou de passar aqui pra ver a Lívia. – disse Don indo abrir a porta.
– Oi Don.
– Oi Sam. Entre, está muito frio.
– Oi Anne.
– Oi Sam, como você está?
– Bem, obrigada. Onde está a Lívia? Comprei essa bonequinha pra ela.
– Está dormindo, mas já ela acorda. Ela vai adorar. – nossa conversa foi interrompida pelo toque do meu celular. – só um instante. Anne.
– Oi, é a Simone. Eu queria te avisar que eu não vou poder cuidar da Lívia amanhã. Minha avó está doente no hospital e não tem ninguém pra ficar com ela, pobrezinha.
– Tudo bem, Simone. Nós damos um jeito.
– Obrigada.
– Melhoras pra sua avó.
– O que aconteceu?
– A Simone não vai poder vir amanhã. A avó dela está internada e não tem ninguém pra ficar com ela no hospital.
– E agora?
– Eu fico com ela. – disse Sam.
– Você? – Don ironizou.
– O que tem? Não confia em mim?
– Na verdade, não.
– Don! – exclamei.
– O que foi, Anne? Ela já provou o bastante que não é de confiança.
– Ela é sua irmã.
– E daí?
– Eu sei que eu nunca fui uma boa pessoa, mas poxa! Me dá um voto de confiança.
– Tá, Sam. Apenas uma chance, okay?
– Tudo bem. Amanhã cedo eu estarei aqui. – disse com empolgação.
– Ótimo. Agora, vou fazer um café pra gente. – eu disse.
Ela ficou um pouco em casa, tomou café e brincou com Lívia. Mais tarde, foi embora.
– Estou orgulhosa de você. – disse, já na hora de dormir.
– Eu ainda não confio nela, mas...
– O importante é que você lhe deu uma chance.
– Vamos ver...
Apagamos as luzes o fomos dormir. Mal sabíamos que os dias que se seguiriam seriam os piores das nossas vidas.
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